O Reino de Vidro: Princesa do Caos

O rei impetuoso e a serva arrogante

Tudo à sua volta só ficava mais e mais sufocante. Sentiu que ia desmaiar.

Sentiu a boca seca. Queria água. Engoliu a própria saliva. Lisa pensou sobre o que responder, sentindo uma tensão se alastrar por seu corpo e a fazer tremer. Ela tentou conter o tremor em seus membros do corpo.

Era como mergulhar num lago onde a profundidade te surpreende e mesmo sabendo nadar é arriscado se afogar por ter subestimado a profundidade inicial.

Afinal, que categoria de servo de prazer nunca teria se deitado com um homem?

Ela queria rir de puro desespero.

Entretanto, Castor a ajudou antes de se retirar dizendo que ela era selvagem demais.

Isso. Poderia dizer que nenhum homem a queria por isso, porque era uma serva r**m. Sim, desculpa perfeita. Homens se enjoam dela mesmo, por isso, nunca recebeu uma proposta de casamento. O único que a suportava era Desmond porque eram amigos de infância.

Podia mentir já ter se deitado com vários. Todavia, e se o fizesse e o rei tirasse a prova de que ainda era virgem? Ele ia perguntar por qual razão mentiu e uma vez que ela mentiu sobre um assunto tão simplório por que não mentiria sobre algo mais grave? E a confiança já tênue que ele cedeu seria desfeita.

— Não, majestade…— Respondeu Lisa, tomando uma decisão no desespero, mas julgando ser a mais sabia, sondando a expressão do rei o mais atentamente que podia.

Ela aprendeu a ler as pessoas para nunca irritar com sua presença indesejada por sua família, cujas cabeças agora residiam no muro da cidade, mais do que o necessário.

— nunca me deitei com homens. — Completou tentando soar tranquila mesmo que sua voz tenha vacilado um pouco.

— Mulheres então? — Acusou ele interessado e indecifrável a ela.

Lisa arregalou os olhos pela acusação, pirragueou atordoada e negou com veemência. Claro. Desmond também pensava que ela gostava de mulheres, mas ela gostava dele. Só que eram amigos e ela nunca iria se declarar. Ele parecia vê-la como uma irmãzinha que o seguia de um canto a outro.

O rei achou ligeira graça, a estudou, o monarca acabou dando um ligeiro sorriso c***l por notar as bochechas dela rosadas e a menina bonita a sua frente e de sexo indefinido num primeiro olhar perdida em pensamentos.

Ele cedeu um ligeiro curvar de lábios a ela que irritou Lisa profundamente.

— Ora… uma serva de prazer que ninguém quer? Isso é novo. O que? Eles não gostam de garotas que se vestem como rapazes como você? Isso os desestabiliza? — Provocou m*****o, apoiando o queixo na mão, com o cotovelo apoiado no braço do trono de vidro, interessado. — Preferem as mulheres mais femininas de cabelo longo, pele macia, que abrem as pernas deitadas e que não tentariam ficar por cima numa relação porque eles não têm competência para dominar éguas indomáveis como você e as ensinar? Eu sei que mulheres independentes como você uma vez que elas se permitem ser calvagadas são as mais lindas quando se entregam.

Você saberia dizer t**o pomposo. Parece mais uma mulher que eu, seu maldito.

Pensou Lisa, ofendida por ser comparada a uma égua, fechando a mão algemada em punho e mordendo a própria língua para não responder o rei como gostaria. Tinha um temperamento deveras ousado para seu próprio bem. Mesmo agora diante do assassino de sua família, parentes por quem não tinha muito afeto, mas eram tudo o que conhecia, não conseguia controlar sua impetuosidade.

Lisa apenas assentiu para a justificativa que ele deu, rangendo os dentes, porém. Sem se importar muito com a humilhação no fim, já blindada contra palavras cruéis sobre não ser bonita. Já estava acostumada mesmo.

— Estranho que seja tão rebelde e não tenha nenhuma marca no corpo. Contudo, creio que seja de bom tom Castor não estragar o belo produto bruto que tem em mãos com marcas de chicote. Me pergunto como ele te pune por sua evidente rebeldia…

Lisandra sabia que era um teste do rei por algum senso de sobrevivência que sempre teve. Um sino ecoou em sua cabeça avisando “ muito cuidado aqui”. Ela sentiu que entrou numa dimensão onde cada passo seu era avaliado por ele.

— Ele pune. — Respondeu Lisa calma na mentira.

— Como ele te pune? — Exigiu o rei, lambendo os lábios e cruzando as pernas, arqueando a sobrancelha.

— Chicote. — Respondeu-o depois de puxar da memória o método de punição de Castor com os escravos desobedientes.

Ela assistiu o rei tocar o próprio pescoço.

— Ah… e você grita?

— Quando são mais de dez, sim, majestade. — Respondeu Lisa.

— que garotinha durona. Aguentando até 10 chicotadas, calada. Caso me irrite te punirei com quinze apenas para ouvir os gritos.

Ela percebeu que o rei gostava de coisas estranhas que a mulher ao lado dele no trono não devia ceder.

Se tornou uma mentirosa nata para sobreviver no ninho de cobras que era sua família. O que de certa forma a treinou para este momento impensável e insano. Conhecia outro louco como ela.

Ele gostava de causar dor e queria saber se ela gostava de sentir. Lisa o leu de imediato. E sim, ela gostava. Porém, nunca diria isso a alguém, era vergonhoso. Talvez pessoas iguais se reconhecem e o rei viu em sua rebeldia, sua ânsia por encontrar alguém capaz de dominá-la.

— Contudo, as marcas… Não há alguma que me indique…— Protestou o rei inconformado.

— Meu amado mestre me discilplina, mas compra o elixir de cura de um mago e passa nas minhas costas para que o produto que eu sou não fique danificado. Não sei muito sobre os magos, mas sei que as poções são muito eficazes. — Argumentou esperta se lembrando de conversas que capturou de servas de prazer.

— Realmente. Mas agora, eu sou seu novo mestre. — Respondeu Dantalian, o coração de Lisa virou uma bagunça. — se eu punir você, esteja ciente, não te ajudarei só porque é bonita e tem minha atenção. Pelo contrário, se eu te punir quero que a marca fique na sua pele para que saiba que é minha.

Lisa estremeceu ao notar a crueldade dele. Contudo, percebeu que respondeu certo quando o rei saiu da pose avaliativa e cautelosa. Ela nem sabia que prendia a respiração até agora que finalmente sentiu que podia respirar e o fez desesperada.