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1178 Words
*Marielle narrando* — Marielle — a dona da casa onde faço faxina me chama. — Sim — eu respondo, largando o rodo. — Queria conversar com você. — Aconteceu algo? — eu pergunto, preocupada. — Eu quero te dispensar. — Me dispensar? — eu pergunto, sem entender. — Eu fiz algo de errado? — Você sabe, meu marido... ele é todo conservador, e as suas tatuagens... — ela diz, tentando se explicar. — Não está agradando. — As minhas tatuagens? — eu pergunto, surpresa. — Mas não são elas que faxinam a casa! Eu faço tudo com tanto amor e dedicação. — É, mas meu marido não se sente confortável. Aqui está o valor do seu pagamento do último mês. Boa sorte. Ela me dispensa e eu abro o envelope, vendo que pelo menos o meu mês e um pouco mais estavam ali. Termino de organizar, pego minhas coisas e volto para casa. Como sempre, é a minha mãe quem deveria descer para pegar a Isabela na creche, mas ela nunca faz, então eu faço isso depois das 16h. — Ei, Marielle — Helo me chama. Eu olho para o lado e abro um sorriso. — Oi, Helo. — Parece que você não me viu. — Estou atordoada — eu falo, tentando disfarçar a tristeza. — O que aconteceu? — Fui demitida. — O quê? — ela pergunta, espantada. — Eu não sei o que eu vou fazer... preciso arrumar um emprego logo. — Calma, eu vou te ajudar. Eu te ajudo a entregar os currículos — ela fala com empolgação. — Eu preciso ir, preciso pagar umas contas — eu digo, sem muita vontade de continuar a conversa. — Eu vou na igreja com a minha mãe e depois passo na sua casa. — Tá bom. — sorrio para ela, mas meu sorriso não alcança meus olhos. A primeira coisa que faço é subir até o mercadinho do seu Dante para pagar a conta dele. Quando chego lá, ele me encara, com uma expressão impaciente. — Veio pedir mais alguma coisa fiada? — ele pergunta, com sarcasmo. — Não, eu vim pagar a conta — respondo, tentando manter a calma. — Até que enfim! Vai dar 700 reais. — Tudo isso? — Tem juros — ele diz, com um tom seco. — Como assim juros? — Sua conta está atrasada há quase dois meses. Eu pago a mercadoria na hora, então é juros. Se eu atrasar os boletos, eles me cobram juros. — Eu vou ficar sem dinheiro — eu falo, desesperada. — Eu tenho que comprar as coisas para minha irmã. — 700 reais, Marielle — ele repete. Eu abro minha carteira, pego o dinheiro e entrego a ele. Quando saio do mercadinho, vejo JK e me aproximo dele. — Oi — eu falo, um pouco hesitante, e ele me encara de volta. — Oi — ele responde, com um tom impessoal. — O que você quer? — Eu vim te devolver o dinheiro — digo, estendendo o envelope. — Que você me emprestou ontem. — Eu não emprestei — ele diz, rindo. — Eu realmente comprei a caixa de leite. — Por favor — insisto, estendendo o dinheiro. — Não. Você vai precisar mais do que eu. Preciso ir — ele diz, já se virando para sair. — Obrigada — eu falo, sentindo um peso no peito. Chego em casa e encontro a casa revirada. O cheiro de bebida é forte. Começo a abrir todos os cômodos, procurando minha mãe. Encontro ela no quarto dela, com várias garrafas de bebida espalhadas pelo chão. No começo, até tentei entender, porque minha mãe entrou em depressão depois da morte do meu pai, mas agora, eu já não sei mais o que pensar. Começo a limpar a casa, descongelo o último pedaço de carne que tinha na geladeira para fazer um carreteiro. Pego a carne e começo a picar bem pequena, porque assim rende mais e a Isabela adora. — Ei, ei — eu viro para trás e vejo Martin e JK entrando. — Cadê a velha? — Martin pergunta, com a voz impaciente. — Tá lá em cima — eu respondo, desconfiada. — Chama ela — Martin fala, com uma autoridade que me assusta. — Ela está podre de bêbada, não vai nem acordar — eu falo, desanimada. — A gente já deu aviso a ela, viemos pegar nossa grana — JK diz, com um olhar severo. Eu encaro JK, sentindo um calafrio na espinha. — Que grana? — eu pergunto, ainda sem entender. — Da dívida da sua mãe, da casa de vocês — ele responde, de forma direta. — Como assim? Dívida? — eu questiono, surpresa. — Minha mãe paga o aluguel todo mês! — Sua mãe não paga nada faz seis meses — Martin diz, com um tom de acusação. — Não pode ser... — eu falo, sentindo meu coração acelerar. — Sua mãe gasta todo mês mais de três mil reais nas bocas — JK fala, com desprezo. — E ainda deve grana por lá. — E agora? — eu pergunto, quase sem forças. — Paga ou morre — Martin diz, com um tom frio. Eu fecho os olhos por um momento, tentando respirar fundo. — Por favor — eu imploro, desesperada. — Meu pai trabalhou para vocês! — Seu pai está morto. Não conta mais — Martin responde, impiedoso. — Não pode ser... fale com o Pesadelo, o dono do morro! — eu grito, sem saber o que mais fazer. — Ele que deu a ordem — JK fala, com uma frieza assustadora. — Estamos aqui porque ele deu a ordem. Eu olho para os dois homens, em pânico. Nunca me aproximei de nenhum deles e só via Pesadelo de longe. As histórias que escutava sobre ele eram horríveis. Olho para o relógio e vejo que está quase na hora de buscar a Isabela. Eu olho para aqueles homens armados na minha frente, sem saber o que fazer. — Eu não tenho o dinheiro — eu falo, quase em lágrimas. — E eu nem sei quanto é. — O problema é que já avisamos a sua mãe umas cinco vezes — Martin diz, impaciente. — E aí, como vai ser? — Por favor — eu falo, com a voz falhando. — Eu não tenho como pagar! — Você e sua mãe vão pagar pela vida — Martin diz, com um sorriso c***l. — Eu tenho minha irmã... — eu tento me justificar, mas eles não parecem se importar. — Ela é criança, não matamos — JK diz, sem expressão. — Não, por favor! Ela só tem a mim! — eu imploro, sentindo o medo crescer. — Eu não sei de dívida nenhuma, eu não fui cobrada nenhuma vez! — Sua mãe foi, e é a mesma coisa — Martin fala, com tom gelado. — Por favor — eu repito, sem saber o que mais fazer. — Me ajudem, eu não sei... eu não tenho como pagar! — Espera — Martin diz, olhando para JK. — Vou passar o toque para o patrão.
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