Capítulo 4
Pesadelo narrando
Meu rádio não parava de tocar, aquele som irritante me tirando a paciência.
— O que houve? — pergunto, mais por impulso do que por real interesse.
— Estamos aqui na casa da mulher do Rodolfo.
— E?
— A velha tá desmaiada e a filha não sabe da dívida, ela tá dizendo que não tem a grana. — Martin responde, a voz cheia de frieza.
— Mata a velha — eu falo, sem hesitar. — E a filha.
— Ela tem uma irmã pequena, deve estar na creche. — Martin avisa.
— Martin, não somos crianças, p***a. Esperança não vale nada, cara, passa a bala.
— Não dá, precisamos esperar a velha acordar pra ver se tem grana.
— c*****o! Eu tô indo aí!
Jogo o rádio longe com um gesto impaciente, pego minha arma e me preparo para a moto. O barulho do motor ecoa pela rua enquanto sigo até a casa. Desço rapidamente, invadindo o lugar sem pensar duas vezes. Ela estava lá, com os braços cruzados, os olhos arregalados de medo. A garota estava de shorts e uma blusa preta, as tatuagens se destacando pelo corpo magro e marcado.
— Cadê a grana? — Pergunto, já irritado, apontando para ela. — Tem a grana ou não, p***a?
Ela me olha com uma mistura de surpresa e pavor, não sabendo o que dizer.
— Desculpa, como eu vou ter dinheiro de uma dívida que eu nem sabia que existia? A minha mãe cuida do dinheiro que recebemos da pensão, eu achei que ela pagava tudo.
— Sua mãe é uma drogada, c*****o! — Eu a encaro, furioso. — Fica se drogando o dia inteiro, bebe feito uma c****a no cio, deve pra todo mundo e você não sabia da dívida? Seu mundo virou uma merda, sua vida é um lixo. E, além disso, você devia pro dono do mercado, não é?
Ela tenta manter a calma, mas é visível o desespero em seus olhos.
— Eu já paguei — ela responde, com a voz tremendo. — Eu recebi meu salário e paguei o mercado, mas não tenho como pagar essa dívida agora.
— Cadê a velha maldita? — Pergunto, com a raiva subindo.
— Ela tá lá em cima.
— Fazendo o quê?
— Desmaiada — ela responde, com um suspiro de frustração. — Bebeu demais, tá desmaiada.
Olho para Martin e Jk, que estão de pé ao meu lado.
— E a sua irmã pequena? — Eu pergunto, pensando em uma solução mais rápida.
— Tá na creche.
Respiro fundo, tentando manter o controle.
— Então, roda as duas, Martin e Jk — eu falo, com firmeza. — Ou eu faço isso: jogo a criança em um orfanato.
Ela se desespera, se aproxima de mim com as mãos tremendo, agarrando meu braço.
— Não, por favor, não! — Ela implora, com a voz quebrada. — Minha irmã é muito pequena, ela não pode ficar sozinha. Eu cuido dela, ela é tudo que eu tenho. Eu já disse, eu não tenho culpa de nada. Por favor, não faz nada com minha mãe, nem com ela! Eu não tenho dinheiro pra pagar a dívida, mas posso trabalhar, posso fazer qualquer coisa.
Ela parece desesperada, mas vejo uma chama de determinação nos seus olhos.
Jogo ela de volta no sofá, com força, empurrando-a para longe de mim.
— Sai todo mundo pra fora! — Eu comando, olhando de maneira ameaçadora para os dois homens.
— Como? — Martin pergunta, surpreendido.
— Eu mandei todo mundo sair! — Respondo, olhando diretamente para ela, avaliando cada movimento seu, cada palavra que sai da sua boca.
Eu já sei como ela vai começar a me pagar essa dívida.