Herdeiros da Coroa

CAPÍTULO II

A madrugada na floresta se encontrava tranquila, Janne estava atenta, pronta para atacar ao mínimo ruído que fosse suspeito. Sua mente fervilhava com inúmeras preocupações, seu lar estava sob ataque e ela estava longe de casa, sua maior preocupação era com seu pai, embora ele fosse o melhor guerreiro que ela já havia conhecido, Janne ainda assim, temia pela vida de seu pai.

-Você parece angustiada, está preocupada com Aurum? Caleb perguntou enquanto se espreguiçava.

-Sim majestade, não posso deixar de me preocupar! Janne respondeu sem perder seu foco na vigília.

-Por Deus, já pedi para não me chamar de majestade! Caleb bufou.

-Perdão senhor, não irei me dirigir ao senhor como majestade, se é assim que deseja! Janne cravou sua espada na terra por alguns minutos e foi pegar lenha para que a fogueira não se apagasse.

-Pode me chamar apenas de Caleb, é uma ordem do Príncipe! Caleb disse com um sorriso.

-Como quiser majes... Caleb! Janne pegou sua espada novamente e retornou à sua posição de guarda.

-Me conte, quando foi que começou a trabalhar no castelo? Perguntou ele.

-Eu sou filha do Capitão da guarda Real, cresci no castelo! Explicou Janne.

-Impossível, eu vivi naquele castelo desde que nasci e aquela manhã nos corredores do castelo, aquela foi a primeira vez que te vi em todos os meus vinte e três anos! Exclamou Caleb.

-Sempre estive nos campos de treinamento do castelo, o príncipe nunca apareceu para as aulas de manuseio de espadas, mas eu estive lá em todas! Janne apontou sua espada para a fogueira. -Eu era a melhor de todas! Ela sorriu orgulhosa.

-Não gosto dessa violência, por isso fugia das aulas! Caleb deu risada ao lembrar das broncas que seu pai lhe dava a cada aula que ele fugia.

"Será que Aurum estará em boas mãos? Ele não me parece capacitado para ser rei!" Janne pensava consigo mesma, ao ouvir as histórias de Caleb. Ele não era uma pessoa r**m, tinha muito que aprender para se tornar um Rei tão bom quanto Edmond havia sido e Janne sabia que teria que cuidar dele, assim como seu pai agia com o rei.

-Quer que eu lhe mostre uma de minhas canções? Caleb perguntou animado pegando sua pequena Harpa que havia trazido consigo.

-Seria uma honra! Janne se aproximou um pouco e Caleb começou a tocar.

Janne ficara impressionada com tamanho talento do Príncipe, ele tocava harpa tão bem e sua voz aveludada era semelhante a de um anjo. Agora, Janne também havia notado que o Príncipe era realmente belo, além de tudo era talentoso e seu modo calmo de falar era de certa modo, um pouco charmoso.

-Você poderia me ensinar a utilizar uma espada, não poderia? Caleb guardou sua harpa e virou-se se lado para ter uma visão melhor de Janne.

-Posso, mas quando encontrar um lugar mais seguro, ainda estamos nas terras de Aurum, então seremos localizados rapidamente! Respondeu ela.

-Verdade, eu nem perguntei antes, mas agora que tocou no assunto, para onde está me levando? Questionou Caleb.

-Vamos até Emeralds, pedir apoio do Rei e voltar para que você assuma o trono! Explicou Janne.

-Por que Emeralds nos forneceria apoio? Caleb ficou curioso.

-Depois de Zafír o reino de Emeralds é o mais próximo de nós, além do mais o Rei Edmond e o rei de Emeralds sempre tiveram um bom convívio! Disse ela.

-Nossa, Você sabe muito mais das coisas do meu reino do que eu! Caleb suspirou um pouco desapontado consigo mesmo, ele sentiu que deveria ter se interessado mais pelos assuntos do reino antes.

-Meu pai sabia muito, pois o Rei comentava tudo com ele e ele me contava! Janne se levantou e foi até o cavalo, abriu uma trouxinha e retirou de lá um pedaço de pão e carne, depois ofereceu ao príncipe que aceitou de bom grado.

-Não vai comer Janne? Perguntou Caleb.

-Ainda não estou com fome, além do mais, você precisa mais do que eu! Janne sorriu e Caleb sentiu seu rosto enrubrecer, realmente Janne possuía um belo sorriso e ele não conseguia parar de olhar.

-Algum problema majestade? Por que me olha assim? Questionou ela.

-Não é nada, apenas achei seu sorriso bonito! Caleb disse baixo.

-Perdão eu não entendi, pode repetir? Janne se senta ao lado dele para o escutar melhor.

-Eu disse que o seu sorriso é muito bonito! Caleb abaixou sua cabeça com vergonha.

-Obrigada majestade! Janne sorriu tímida.

Sem que eles notassem, o dia raiou e logo os pássaros começaram a cantar e os demais animais diurnos deixaram suas tocas e deram início as suas pequenas vidas.

-O tempo passou que nem percebemos! Caleb sorriu.

-Melhor darmos continuidade a nossa jornada, o Rei Jhoseph logo vai perceber que tem algo errado quando seus soldados não retornarem! Janne apagou a fogueira e jogou terra por cima, depois desamarrou o cavalo e Caleb montou.

-Em quantos dias chegamos em Emeralds? Perguntou ele.

-Se não perdemos tempo, talvez em uns Vinte ou Vinte e três dias!

-São muitos dias, temos comida o suficiente? Caleb ficou preocupado.

-Trouxe o suficiente para dez dias, eu posso caçar algum animal para garantir comida nos demais dias! Janne começou a puxar o cavalo para darem continuidade a longa caminhada.

-Você também caça? Pensei que só Homens gostavam dessas atividades, caçar não é nada feminino! Resmungou Caleb.

-Com todo o respeito majestade, mas o senhor gosta de caça? Janne perguntou.

-Não, Eu não gosto! Respondeu ele.

-Então seguindo sua linha de raciocínio, o senhor não é um homem! Disse Janne.

-Mas é claro que eu sou, não gostar de algo que a maioria dos homens gosta, não me torna menos homem! Retrucou Caleb.

-Não gostar de caça, não é algo muito viril! Comentou ela.

-Quem disse isso? É a coisa mais estúpida que já ouvi, não se pode falar que um homem não é viril apenas por ele não apreciar uma atividade masculina como a caça! Argumentou ele.

-Então me responda majestade, por que então o senhor diz que uma mulher que gosta de caça, não é feminina? Janne parou o cavalo e encarou Caleb.

-São casos diferentes Janne! Caleb ficou um pouco nervoso com a maneira que Janne lhe olhava.

-Me diga quais são as diferenças, pois não percebi nenhuma! Ela cruzou os braços e começou a bater o pé no chão, enquanto Caleb tentava encontrar algo para justificar seus argumentos.

-Bom, tem diferenças sim, eu só não sei como falar ou explicar quais são! Disse ele.

-Não há diferenças majestade, há apenas preconceito da sua parte! Janne revira os olhos e volta a andar guiando o cavalo.

-Janne, você não deveria ficar irritada com essas coisas, deveria estar acostumada com isso não?! Caleb tentou resolver as coisas, mas foi ingorado.

O sol já estava em seu ponto mais alto no céu, o calor estava insuportável e Caleb estava se sentindo cansado, Janne por outro lado parecia ainda ter muita energia, pois não continuava firme. Algumas horas depois, eles pararam perto de uma cachoeira, para que o cavalo pudesse beber água.

-Janne vamos ficar aqui por hoje, estou cansado e vamos acabar queimando com este sol todo! Caleb desceu do cavalo e jogou um pouco de água no rosto.

-Como quiser majestade, mas partiremos durante a noite, para compensar! Janne disse enquanto olhava ao redor para ver se o local não oferecia risco.

-Tudo bem, então eu vou dormir um pouco para juntar energia! Caleb se recostou em uma árvore e fechou os olhos para descansar.