PREFÁCIO
Pneus cantando, medo, gritos e dor... muita dor. Uma dor que eu pensei ser o pior que já experimentei, até que abri e fechei os olhos e encarei o seu olhar escuro sem piscar. Percebi, enquanto vagarosamente caía na inconsciência, olhando nos seus olhos sem vida e corpos mutilados, que eles estavam mortos, que haviam sido tirados de mim. Eu não conseguia me mexer, não conseguia falar, não conseguia respirar. A única coisa que a minha mente podia gritar era: -Por favor, deixe-me morrer com eles.
Eu deveria saber que eles não me dariam esse alivio.
Agora era a hora de viver no meu inferno, meu purgatório... a minha penitência.
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CASSANDRA
Dizem que todo mundo quer ser famoso e estar nas primeiras páginas dos jornais. Que qualquer imprensa é boa imprensa, mas isso é besteira!
A imprensa não passou de uma maldição para mim e o meu irmãozinho, Caio.
Éramos Cassandra e Caio West, os filhos do Assassinos de Rivertown.
Essas pessoas... Os meus pais usaram a sua pequena empresa de investimentos para desviar os fundos de aposentadoria de mais de quinze mil pessoas em dez anos e também assassinaram trinta e dois idosos na tentativa de encobrir os seus rastros.
Meu rosto, meio escondido atrás dos meus cabelos ruivos desgrenhados, ao sair do tribunal durante o julgamento, apareceu na primeira página do nosso jornal local e a partir daquele dia eu queria desaparecer. Eu não fui ao tribunal para apoiá-los.
Eu fui lá... não tinha certeza de por que estava indo para lá.
Talvez parte de mim esperasse que eles tivessem a decência de pedir desculpas a Caio e a mim por destruir as nossas vidas e nos tornar monstros, porque era assim que as pessoas estavam apontada para nós dois.
Dei um suspiro de alívio quando o meu pai foi condenado à prisão perpétua sem liberdade condicional e minha mãe a quarenta anos. Eu estava lá para garantir que todo esse pesadelo finalmente terminasse e eles terminassem as suas vidas atrás das grades.
Eu não perdia os olhares que as famílias das vítimas me lançavam toda vez que eu me sentava no fundo da sala. As pessoas não acreditaram que a filha de vinte e poucos anos daqueles dois sociopatas não sabia que algo estava errado e, mesmo que eu realmente não soubesse, não pude deixar de me sentir culpado. Será que eu perdi alguma coisa? Houve sinais?
Ao sair do tribunal, após o veredicto, olhei para o relógio e gemi. Eu só tinha uma tarde por semana com Caio, e este último dia de julgamento havia roubado duas horas preciosas de mim.
Quatro meses se passaram desde que a minha vida (nossa vida) se tornou um inferno. Não tínhamos outra família e o serviço social declarou que eu não era capaz de cuidar do meu irmão e não podia negar. Eu estava sem dinheiro, tive que abandonar a escola de enfermagem e agora dormia no colchão desconfortável da nossa velha empregada, uma das únicas pessoas que me mostrava alguma compaixão.
Corri para pegar o ônibus. Precisava chegar logo ao Lar, pois as visitas terminavam às cinco da tarde.
Ver o meu irmãozinho apenas uma tarde por semana estava me destruindo.
Ela sentia muita falta dele e estava muito preocupada, ela tinha apenas dez anos, era muito nova para ter que lidar com tudo isso.
Ninguém deveria ter que lidar com tudo isso.
Quando cheguei lá, Amy, a assistente social do Caio, estava andando na frente da porta.
— Achei que você não sobreviveria. Disse ela, empurrando-me em direção à sala de visitas.
— Eu sei. Eu engasguei sem fôlego. — Obrigado por esperar. Ele me deu um pequeno sorriso.
— Você merece alguém para te dar um tempo. Ela disse suavemente, fazendo os meus olhos se encherem de lágrimas.
Ultimamente eu não estava acostumada com gentileza. Eu tive sorte quando ela foi designado para o caso do meu irmão. Tínhamos estudado no mesmo colégio, embora ela estivesse no último ano quando entrei, e isso criou uma espécie de afinidade pela qual eu era grata.
Muito grata.
Ela abriu um pouco a porta lateral e conversou com alguém, a porta se abriu mais e o meu irmão entrou correndo.
— Cássia! Ele gritou, correndo para os meus braços.
Eu o abracei forte. Ele era tão baixo e frágil. Ele podia ter dez anos, mas não parecia ter mais de sete. No entanto, ele era meu homenzinho. Os nossos pais sempre foram emocionalmente distantes. Sempre fomos Caio e eu.
— Sinto muito. Eu não queria me atrasar. Eu disse a ele, gentilmente acariciando o seu cabelo loiro escuro.
Ele colocou os braços em volta de mim e olhou para cima, me observando com o seu grande, olhos verdes tristes, cansados demais para um menino da sua idade.
— Estamos bem agora? Ele perguntou baixinho. Eu balancei a cabeça.
— Sim, nós estamos. Eles não vão voltar. Eu fiz uma careta, observando o pequeno hematoma na sua mandíbula. — O que é isso? Eu perguntei, correndo os meus dedos sobre ele.
— Nada. Ele deu de ombros. — Caio!
Olhei para Amy, que nos olhava com tanta tristeza que partiu o meu coração ainda mais. Eu tinha que tirá-lo daqui.
— Vou levá-lo para casa assim que puder, homenzinho. Eu juro que vou te levar.
— Eu sei, Cássia. Sem problemas. Eu estou bem aqui.
Não, você não está. É miserável, mas você tenta ser forte para mim, quando você não você deveria ser. Pensei.
— Eu sei, mas estou com saudades de ter você comigo, então quero que volte o mais rápido possível. Forcei um sorriso que esperava que parecesse genuíno. — Quer me ajudar a provar os brownies agora?
Ele assentiu.
— Sim, eu sou um, espécie de especialista.
Eu deixei escapar uma risada. — Sim você é.
Amy suspirou.
— Desculpe, pessoal, mas Caio tem que voltar agora.
Olhei para cima e a vi muito abatida. Eu tinha certeza que ela gostava do Caio, mas quem não gosta?
— Vejo você na próxima semana e podemos conversar por vídeo ainda esta semana. Eu disse antes de lançar um rápido olhar para Amy, que assentiu. Ela fazia isso toda semana para nós, usando o seu próprio telefone para que Caio e eu pudéssemos conversar por alguns minutos.
Aquela mulher era realmente uma dádiva de Deus. Pelo menos nos ajudou a melhorar um pouco aquela situação horrível.
— Eu te amo até a lua e de volta. Disse ele, me abraçando forte novamente.