— Eu te amo até o sol e de volta. Eu respondi, beijando o topo da sua cabeça, já sentindo a ardência das minhas lágrimas não derramadas no fundo dos meus olhos.
Depois que ele saiu, Amy se virou para mim.
— O que realmente aconteceu? Eu perguntei, sabendo muito bem que o hematoma de Caio não tinha sido causado por um acidente.
Ele suspirou, balançando a cabeça.
— As crianças têm sido duras com ele. Ela admitiu a contragosto. — Ser parente de... Ele estremeceu. É uma cruz pesada de carregar.
— Eu sei. Pretendo mudar o nosso nome assim que puder recuperá-lo.
Sentei-me em uma das desconfortáveis cadeiras cor de laranja que se alinhavam na sala de visitas.
Eu sabia que tinha que ir. Eu não precisava ficar aqui, o centro era Fechado ao público, mas precisava de alguns minutos.
Alguns minutos com alguém que me olhasse, não como cúmplice dos monstros que eram meus pais, mas como uma das suas vítimas.
— Não estou convencida de que esse dia chegará. Admiti, dizendo em voz alta. Doeu mais do que o esperado.
— Então eles se recusaram a aceitar você de volta? Ela perguntou, vindo se sentar ao meu lado, pegando a minha mão na dela.
Eu balancei a cabeça.
— Sim, embora eu não possa culpá-los. O hospital teve dificuldade em justificar a minha presença ali e a escola de enfermagem me expulsou. Dei de ombros. — Qual era o sentido de trabalhar lá?
— Podemos lutar contra a decisão deles, você sabe disso. Eu pesquisei e eles não tinham motivos para demiti-la.
Eu balancei a minha cabeça.
— Qual é o ponto? Ninguém me quer lá. Os alunos me olham como se eu fosse um monstro, e os professores também. E mesmo que me aceitem, preciso de treinamento hospitalar e nenhum hospital vai me oferecer.
— Sim. Ele assentiu com resignação. — E a sua situação da sua vida?
— Ainda dormindo no apartamento da Sra. Broussard. Nunca estive mais grata na minha vida.
A sra. Broussard trabalhava para meus pais desde que eu tinha cinco anos e, quando tudo deu errado, ela foi a única a me oferecer uma ajuda desesperadamente necessária, apesar dos conselhos dos seus próprios filhos.
— Eu tenho que dar a ela o seu espaço de volta e parar de comer a sua comida. Eu olhei para o céu. Ninguém está disposto a me contratar nesta cidade, mas... Olhei para a porta que dava para a casa onde o meu irmãozinho morava. — Não posso desistir, ele precisa de mim.
— Você se lembra da Sra. Lebowitz, não é?
Olhei para ela confusa com a sua mudança de assunto.
— A conselheira de carreira no instituto? Ela assentiu.
— Ela está aposentada, mas sei que trabalha meio período para a agência de empregos temporários ao lado da farmácia. Amy deu de ombros. — Ela sempre teve uma queda por seus ex-alunos. Por que você não vai vê-la?
A sra. Lebowitz era uma senhora idosa, uma hippie excêntrica, mas tinha um coração enorme. Quando ela soube que era eu quem estava cuidando de Caio. Ela quem sugeriu que eu estudasse enfermagem, ao ver a minha natureza bondosa.
— Eu gosto. Vale a tentativa. Olhei para o meu relógio, já passava da hora e eu não precisava que Amy tivesse problemas e tirasse Caio dos seus cuidados por causa do seu relacionamento comigo. E quanto a Caio e os seus hematomas?
— Não se preocupe, eu o mudei para um quarto com crianças menores. Ele já está bem. Ela respondeu aos meus pensamentos não ditos.
Lancei-lhe um olhar agradecida.
— Preciso ir agora. Eu tenho que pegar o ônibus. — Deixe-me levá-la para casa, por favor.
Eu balancei a cabeça. A viagem de ônibus até a casa da Sra. Broussard levaria mais de 45 minutos, e eu tinha de admitir que, depois do dia exaustivo que tive, estava mais do que grata por uma carona.
— Por que você é tão legal comigo? Perguntei a Amy quando começamos a descer a estrada. — Não é que eu não seja eternamente grato a você, mas... Encolhi os ombros.
— Chame isso de empatia. Já te vi no hospital antes, você realmente se importava com os pacientes, e com o jeito que o seu irmão fala de você? Você é o mundo dele. Já vi muitas pessoas más e cruéis no meu trabalho e você não é uma delas. Você é amorosa e carinhosa e obviamente você não sabia das monstruosidades dos seus pais. Você não merece ser tratada do jeito que eles merecem, então se eu puder aliviar um pouco essa injustiça... eu irei.
Eu desviei o olhar, piscando. As suas palavras me deram esperança. Talvez os outros também tenham notado. Talvez os outros me dessem um tempo e me ajudassem a trazer Caio de volta.
Sim, amanhã seria outro dia e a situação seria invertida, não importando os sacrifícios.
Por Caio.