3º Capitulo – A Aliança

2567 Words
O silêncio imperou no quarto após a revelação de Laila. Aurora sentou-se na beirada da cama, segurando ainda a mão da sua prima, enquanto Jennifer e Holly se deixavam cair em cadeirões. A minha mãe ficara estática tal como eu, olhando para Laila com uma expressão triste. - Vocês tinham razão – comentou Laila com a voz fraca. – Eu nunca deveria ter ido atrás do Dylan. Se não fosse a minha ajuda ele poderia nunca se ter recuperado e não teria virado uma ameaça. - Nós não te culpamos – respondeu carinhosamente Aurora. – Seguiste o teu coração, ninguém sabia que iria acontecer isto. – Olhando em redor para os restantes presentes acrescentou: - vamos deixar-te descansar. - Obrigado. – Um a um abandonámos os aposentos de Laila que, totalmente exausta, adormeceu antes de eu fechar a porta. Holly tentou falar comigo assim que deixámos o quarto, assim como o resto das mulheres, mas sem sucesso. Dirigi-me para o quarto de Emily e dispensei Pauline, que se entretinha a costurar, sentando-me no cadeirão disposto ao lado da cama. A minha mulher continuava imóvel, deixando-me ainda mais abatido por saber que ela só se encontrava naquele estado por eu não ter sido capaz de derrotar o meu meio-irmão. No exterior a chuva caía em grossas gotas e Dezembro aproximava-se a passos largos. Eric e Richard haviam acabado de se mudar para o palácio, deixando as suas noivas cada vez mais nervosas com a cerimónia. Laila recuperara um pouco, porém ninguém lhe pedira que contasse o que se passara nos meses que permanecera com Dylan pois o médico avisara-nos que ela estava demasiado fraca e as lembranças poderiam agravar a sua condição. Jennifer e Holly ficavam a maioria do tempo com a amiga, alegrando-a e distraindo-a dos seus pensamentos sombrios. - Eu sei que estão animadas – comecei por dizer ao entrar no quarto de Laila, onde as três amigas estavam reunidas, - mas o Richard e o Eric estão à vossa procura. - O que foi agora? – Holly suspirava, enquanto se levantava e compunha a roupa. - Parece que deixá-los a tratar das decorações não foi a melhor das ideias… - Eu bem disse que era melhor tratarmos disso Holly. - Eles é que quiseram colaborar Jen. – Voltando-se para Laila, Holly concluiu: - voltamos mais logo, se aqueles dois não nos arranjarem mais trabalho. – As duas saíram, deixando-nos a sós. - Como te sentes? - Bastante melhor. – Laila sorriu, mas depressa o seu semblante mostrou a que lhe ia na alma. – Tenho estado a pensar Eliot… - Em quê? - Porque nunca mais falaram acerca do que aconteceu comigo? Eu sei que todos têm perguntas para me fazer, mas sempre que tento tocar no assunto alguém muda o tema da conversa. - Tens estado muito fraca Laila. – Aproximei-me da cama e sentei-me na borda, observando o quão triste ela estava. Expliquei-lhe as indicações do médico e vi a raiva a crescer nos seus olhos. - É isso que estão todos a pensar de mim? Que sou demasiado fraca para lidar com o que aconteceu? – O tom de voz de Laila elevava-se cada vez mais. – Depois de tudo o que eu suportei nos últimos meses vocês acham que era o facto de contar o que ocorreu entre mim e o Dylan é o que me vai magoar? - Tem calma Laila, não foi nada disso… - Então foi o quê Eliot? – As lágrimas começaram a escorrer pelas faces da minha amiga, deixando-me sem saber o que fazer. – Eu fui torturada e violentada por aquele traste! Eu fui levada aos meus irmãos para que eles me torturassem ainda mais! Fizeram-me escrava, obrigaram-me a dormir com o seu pai! – O horror estava estampado no meu rosto, enquanto Laila continuava a desabafar. – Tudo o que eles me fizeram n******e ser apagado da minha mente Eliot, e não vai ser a não falar no assunto que tudo vai melhorar. - Eu não fazia ideia Laila. Ninguém pensou… - Enganas-te. – Ao sentar-se na cama, Laila suspirou. – Só tu não pensas-te nisso porque és bom demais para fazer qualquer uma dessas coisas. A Aurora percebeu no exacto momento em que me tocou e me sentiu estremecer, assim como a tua mãe quando me veio visitar e me deu um beijo na bochecha. A Jennifer e a Holly conhecem-me demasiado bem para não terem entendido o que se tinha passado, mas também não quiseram deixar-me mais magoada. - Porque me estás a contar isto? De entre todos, porquê a mim? – Sentia-me enojado com a atitude de Dylan. Por muito que eu não gostasse dele e que soubesse que ele era capaz de tudo para chegar aos seus intentos, nunca pensara que utilizaria a sua melhor amiga de tal maneira. - Não sei. – Limpando as lágrimas com a mão sã, Laila esboçou um pequeno sorriso. – Acho que precisava de desabafar. - Como consegues sorrir Laila? – Eu tinha ficado imensamente triste ao saber tudo o que ela se dispusera a contar, e vê-la assim fazia-me confusão. - Consegui escapar do Dylan, os meus irmãos estão mortos, o Sloan está demasiado ocupado para se preocupar comigo, tenho-vos a todos aqui e sei que estou em segurança. Nunca vou esquecer o que passei mas não posso viver agarrada ao passado para sempre. - És muito mais forte do que eu pensava Laila. Não sei se aguentaria passar por algo assim e mostrar-me tão optimista. – Bateram à porta nesse momento. Estava na hora dos exames de Laila e o médico pediu-me para sair, deixando-me a vaguear pelos corredores enquanto os meus pensamentos se tentavam organizar. Fui em direcção ao salão de festas, encontrando Eric e Richard à porta a observar as suas futuras esposas enquanto estas decoravam a sala. Tentei passar despercebido mas os rapazes deram pela minha presença, acenando-me e indo ao meu encontro. - Estás com má cara Eliot. Passou-se alguma coisa com a Emily? - Está tudo na mesma Richard, ela não dá sinais de vida. Só nos resta esperar que ela acorde. - Então porque estás com tão mau aspecto? Pensava que já te tinhas mentalizado que não podes fazer nada. - Não posso, mas podia ter evitado tudo isto. – Antes que algum deles me perguntasse sobre o que estava a falar, acrescentei: - desculpem, tenho de ir. Estou atrasado para uma reunião. – Eric e Richard entreolharam-se, sem nada dizer. Continuei a percorrer o palácio até chegar à sala do trono, onde só se encontravam presentes os guardas que vigiavam a porta. Entrei e dirigi-me ao cadeirão que ficava mais perto da janela, continuando a pensar em tudo o que Laila me havia dito, sentindo-me e******o por não ter considerado o que ela podia ter passado durante o tempo em que estivera ausente. Já estava ali há algum tempo quando bateram à porta e a minha mãe e a minha sogra entraram na sala, fazendo-me prever que também elas tinham falado com a minha amiga. - A Laila contou-nos que falou contigo – começou Aurora calmamente. - Como te sentes querido? - Abalado. Nunca me passara pela cabeça que ela tinha sofrido tanto. - Ela tomou uma decisão errada e pagou por isso – acrescentou a antiga rainha. – Todos sabíamos que ela se tinha arriscado quando decidiu ir atrás do Dylan. - Como foi? - Como foi o quê, filho? - Como foi que ele se aliou aos gémeos? Tive de sair antes de poder perguntar a Laila o que se tinha passado, mas decerto que ela vos contou. - Não sabemos de nada Eliot. Não quisemos fazer mais perguntas enquanto o médico não der autorização. - Não é uma questão de licença mas sim de apurar os factos Aurora. A Laila está disposta a falar, posso afirmar até que ela necessita dizer tudo pelo que passou. – Levantei-me e, sem olhar para onde as mulheres estavam, encaminhei-me para a porta e conclui – vou descobrir a verdade. As duas amigas vieram ao meu encalço, apanhando-me já à porta dos aposentos de Laila. Assim que me deu permissão para entrar, verifiquei que ela estava à minha espera. - Perguntava-me quando virias Eliot. - Já sabias que eu ia regressar? - Mais que ninguém tens motivos de sobra para querer pôr um fim ao Dylan, é normal que queiras saber tudo o que aconteceu. – Laila suspirou e olhou para o tecto, começando a narrar os acontecimentos. – Quando chegámos à casa que a Emily arranjou o Dylan estava completamente louco e demorou semanas para que eu o conseguisse acalmar. Depois de o fazer ele tornou-se carinhoso e parecia outra pessoa, mas eu estava demasiado apaixonada para ver que tudo aquilo era demasiado estranho. Foi então que eu decidi entrar no reino e dirigi-me a uma aldeia próxima para conseguir alguns produtos, demorando dois dias na viagem. Quando regressei o Dylan não estava em casa e só regressou no dia seguinte, dizendo-me que não tinha dado pelo passar do tempo. Foi nesse dia que ele me pediu em casamento. - Tu casas-te com ele Laila? – Ela negou com a cabeça, e continuou como se não tivesse sido interrompida. - Quando fez o pedido, Dylan deu-me um anel feito de madeira com flores esculpidas. Obviamente fiquei feliz e aceitei, porém não me dei conta que o anel não me deixava usar magia e que me retirava as forças. Se o tivesse feito poderia ter fugido e solicitado a alguém que o retirasse, pois eu era a única que não o poderia fazer. – Preparava-me para voltar a interromper, mas Laila fez-me sinal para que a deixasse continuar. – Ele disse-me que tinha achado um lugar perfeito para a cerimónia e levou-me até lá, persuadindo-me a deixar a espada em casa o que fez com que eu não pudesse sequer me defender quando encontrei os meus irmãos. - Então ele já se tinha encontrado com os gémeos durante a tua ausência, estou certa? – Laila respondeu afirmativamente à prima, acrescentando que eles já se haviam conhecido algum tempo antes, quando ele desaparecia por várias horas. - Os três levaram-me para um sítio escuro e deixaram-me trancada lá por alguns dias, enquanto as minhas forças se iam dissipando. Dylan aparecia algumas vezes e depressa fiquei extremamente magoada. Perdi a noção do tempo e quando me libertaram já Brook tinha dado à luz. - Ela tem um filho? – Perguntou Aurora estupefacta. - Quem é o pai dessa criança? – Inquiriu a minha mãe de seguida. - Vocês ainda não sabiam? Pensei que a Emily o tivesse previsto. - Ela previu, mas não conseguiu descobrir do que se tratava. – Perante o ar incrédulo das três mulheres expliquei as minhas suspeitas. – A Emily falou várias vezes que via a Brook a segurar em qualquer coisa, mas não conseguia distinguir do que se tratava. Faz sentido que seja o seu filho. - Mas se é assim, o que aconteceu a essa criança? - Uma pergunta de cada vez Aurora, por favor. – A antiga rainha concordou e deixou Laila continuar. – Essa criança chama-se Cole e o seu pai é o Keith. Quando nasceu mandaram-me tomar conta dele, pois estavam todos muito ocupados a preparar a batalha. Eu não podia deixar um bebé morrer só por causa da crueldade dos seus pais, ainda mais sendo ele meu sobrinho. - Então o Dylan também devia fazer parte da batalha? - Era o que ele pensava Eileen, até que os gémeos trocaram-lhe as voltas e o encarregaram de ficar a cuidar do seu filho. Antes que o Dylan começasse a reclamar que não tinham combinado aquilo eles seduziram-no com poder, mas isso saiu-lhes caro. Quando transferiram o seu poder para Dylan, os meus meios-irmãos não contavam que ele soubesse um feitiço para roubar mais do que aquele que eles queriam passar. - Foi aí que os derrotámos e o Dylan entrou em coma – adivinhei. - Eu não sabia o porquê de ele ter ficado inanimado, mas pensei que seria o momento ideal para tentar uma fuga. Cole estava com Sloan, permitindo-me sair sem ser notada, e mesmo que ele estivesse comigo não o poderia ter trazido pois estava demasiado fraca para transportá-lo. - Quer dizer que o Dylan apenas é uma ameaça se o Sloan não decidir acabar com ele. - Assim seria Eileen, se ele não o tivesse enfeitiçado assim que os gémeos deixaram o seu esconderijo. Sloan foi encarregue de cuidar do neto e de tudo o que acontecesse naquele lugar. Não tenho a certeza que o feitiço fosse quebrado só por Dylan se encontrar em coma. - Os conhecimentos mágicos do Dylan são maiores do que os da maioria. Eu supervisionei algumas das suas aulas quando ele era pequeno e vi que os seus poderes estavam mais desenvolvidos, assim como o seu interesse em aprender mais. Penso que de tudo o que lhe poderíamos ensinar só não deverá saber os feitiços reais. – Aurora andava de um lado para o outro, deixando-me zonzo. – Não me parece que Sloan conseguisse escapar tão facilmente das garras dele. - Ele não parecia assim tão forte. - Isso é porque nunca demonstrou tudo o que sabia. Nunca te apercebeste Eliot porque eras apenas uma criança, mas o Dylan sempre foi cauteloso em r*****o a si mesmo. – A minha mãe acabou por se sentar perto de Laila, enquanto acabava a sua explicação. – Ele sempre pensou que seria rei e isso tornou-o a*******e, mas também o fez ficar mais perspicaz. Dylan começou a ter cuidado com o que demonstrava e era isso que o tornava perigoso já naquela altura. - Não sei se estou a perceber – comentou Laila. - No dia em que Dylan revelou o seu parentesco com Eliot não o fez por ciúmes como ele nos fez crer, ou pelo menos não totalmente. – Aurora instalou-se num cadeirão e suspirou. – Ele sabia que a Emily não queria estar perto dele então fez a única coisa que sabia que o deixaria retido no palácio. Naquele momento e com tudo o que estava a acontecer ninguém pensou que aquilo fosse tudo uma táctica para se aproximar mais de todos nós. - Acreditamos que já nessa altura ele pensara em se livrar de qualquer um que pudesse casar com a Emily. Dirigi-me à varanda com os punhos fechados, tal a raiva que me assolava. O vento frio acalmava-me, ao mesmo tempo que me arrepiava com os pequenos flocos de neve que derretiam ao baterem-me na face. As três mulheres tinham ficado em silêncio por um momento, mas rapidamente Aurora voltou ao interrogatório. - Laila desculpa-me por perguntar isto mas, e a Ebony? - Não sei. Nunca ouvi ninguém falar nela. - É estranho. Sempre pensei que ela estivesse a apoiar os gémeos. - Se ela lá estava, escondeu-se. – Voltei a entrar no cómodo, completamente gelado, ao mesmo tempo que batiam à porta. - Passou-se alguma coisa? – Jennifer perguntou, assim que ela e Holly transpuseram a soleira da porta. Despedi-me de Laila e saí do quarto, não querendo ouvir tudo de novo. Caminhei lentamente pelo corredor, certo de que os meus pés sabiam o caminho que tomavam. Ao entrar nos aposentos de Emily vi o médico acompanhado de Eric e o meu coração falhou uma batida.
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