10º Capitulo – Viagem

2305 Words
Enquanto eu, Laila e Eric caminhava-mos pelos corredores, a minha prima contava-me o que encontrara, deixando-me feliz por descobrirmos como bloquear as nossas mentes. - Então só temos de ser alvo do feitiço? - Não propriamente Emily, primeiro têm de beber isto. – Eric estendeu-me um copo com um líquido roxo e fez o mesmo a Laila. – Quando acabarem concentrem-se em só ouvir os vossos próprios pensamentos enquanto eu lanço o encantamento. - Veja-mos se resulta. – Engoli o conteúdo do copo de uma só vez, pois tinha um gosto ácido, e tentei abstrair-me dos pensamentos da minha prima. - Acabei. Então? Resultou? - Não oiço nada. - Eu também não – retorqui Laila. - Ainda bem, agora o que têm a fazer é o inverso. Tentem dizer alguma coisa uma à outra. Ouvi Laila me perguntar se pensava mesmo atacar o Dylan, pelo que lhe respondi afirmativamente. A minha prima sorriu, não me deixando entrar novamente na sua cabeça. - Está tudo bem. Obrigado Eric. – Depois de uns minutos de conversa, despedi-me dos dois e fui ver Melody antes de me deitar. O dia seguinte amanheceu quente e solarengo. m*l tomei o pequeno-almoço dirigi-me ao quarto de Laila, que já continuava a busca por mais respostas. - Bem, pelo menos já sabemos como não estar sempre a ouvir os pensamentos uma da outra. - Só que continuamos sem saber o que aconteceu. Tudo começou quando eu te passei a minha energia… – Tens mesmo a certeza que o feitiço de protecção funciona? - Continuei a desfolhar o livro, enquanto Laila se deixava cair na cama. - A barreira nunca esteve tão forte – assegurei. – Faça o que fizer, o Dylan não a conseguirá ultrapassar. - Adiámos esse problema, mas ainda não resolvemos nenhum. Procurar só nos registos reais não me parece ser a única opção, Emily. Já passámos por isto com a Brook e o Keith e vê onde isso nos levou. – Tinha esperança que estes livros me explicassem alguma coisa sobre a rápida aprendizagem da Mel… - Será que existe mesmo uma explicação para o que aconteceu à Melody? - Onde queres chegar? - Primeiro ela não andava nem falava, depois em segundos corria e em dias tagarelava sem parar, aprendeu a ler de um momento para o outro... Achas que a tua filha segue algum padrão conhecido? - Não – sussurrei. – Por mais que eu queira ela nunca será uma criança normal como eu fui. - Tu nunca foste normal… - Mas não sabia disso, o que fez com que crescesse feliz e sem medo de ser morta a cada instante. Eu só preciso de saber se posso fazer alguma coisa para a proteger. - Disseste que a barreira é impenetrável, basta não deixarmos a Mel sair do reino. - Por quanto tempo? Um dia? Um ano? Até que ela seja rainha? – A calma abandonava-me, fazendo-me falar alto e andar às voltas pelo quarto. – Quando soube o que a minha mãe me tinha feito não percebi totalmente o que ela sentia no momento, agora eu faria a mesmíssima coisa se soubesse que a Melody nunca teria de enfrentar este destino. - Nós vamos protegê-la – respondeu, segurando-me as mãos. – Juntas. Elliot regressou, completamente estafado, no final da semana. Ainda não acabara de lhe contar o meu plano quando soubemos de mais desaparecimentos, pelo que ele teve de se ausentar novamente. Melody andava triste com a falta do pai e eu repreendia-me mentalmente por não lhe dar tanta atenção quanto queria e deveria. Os seus treinos de magia não estavam a resultar, ao contrário do que se passava comigo e com Laila: descobrira-mos alguns feitiços extremamente complexos e difíceis de decorar mas, ao contrário do que era esperado, conseguíamos efectuá-los de uma forma perfeita, memorizando-os em menos tempo que o previsto. Não sabíamos se valeriam alguma coisa contra o Dylan, mas pelo menos apaziguavam-nos um pouco a alma. Os dias foram passando, assim como os nossos progressos. A arte de duelar com espada era algo que eu e Laila dominávamos, porém um encantamento para nos deixar mais velozes tinha alterado tudo o que sabíamos. Ao ficarmos mais rápidas o nosso treino tivera de regressar à estaca zero, pois não era fácil para nós habituarmo-nos ao peso das armas em tal situação. - A vossa rapidez é inebriante – exclamou o meu marido assim que parámos. – Ninguém vos consegue atingir a essa velocidade. - Se isso fosse verdade Eliot, não achas que era o suficiente para derrotarmos o Dylan? Além disso só suportamos o feitiço por uns dez minutos… - Pelo menos é um começo – adiantei, antes que começassem a discutir. – Tens notícias? - Mais desaparecimentos a norte, mas desta vez foram alguns guardas que se perderam no caminho de volta. Já estão todos em casa. - Felizmente. E a Melody? - Voltou a surpreender-nos. As habilidades mágicas dela continuam a não se desenvolver, mas o mesmo não podemos dizer do seu intelecto. – Os olhos do meu marido brilhavam de admiração, apesar de, para mim, aquilo significasse que a minha filha estava a crescer demasiado depressa. – A Mel decorou todos os feitiços básicos e, quando saí da sala, estava a tentar escrevê-los. - Então está na hora de fazer uma pausa – declarei. – Partimos daqui a três dias, devemos passa-los com a nossa filha. – Sorri para Eliot sabendo que ele pensava tal como eu: iriamos em três dias, mas voltaríamos sequer do confronto? Melody ria e saltava no roseiral, alheia a tudo à sua volta, atrás de borboletas, enquanto Eliot e eu caminhávamos de mãos dadas, demasiado assustados quanto ao futuro do nosso rebento. Embora tivéssemos decidido ter uns momentos de descanso antes de nos ausentarmos tudo parecia frustrar-nos os planos, sendo que os ataques começaram a aumentar e a espalhar-se pelo reino. O jantar dessa noite foi estranhamente calmo e divertido, o que levou algumas pessoas a perguntar-se se havia acabado o perigo. Eu não queria admitir que a diversão tomava conta de mim a cada minuto que passava, fazendo-me esquecer por momentos algumas preocupações, voltando à dura realidade apenas quando Eliot levou Melody para o quarto. Passei ainda algum tempo a falar com os meus pais e com Jennifer sobre Nathan, e lidando com a extensa lista de preparativos de Eileen. Assim que tive um momento dirigi-me ao quarto da minha filha para lhe contar uma história, encontrando-a a olhar pela janela com uma expressão triste. Como ela não notara a minha presença li-lhe a mente e percebi que ela sabia mais do que se passava do que eu me atrevera a acreditar. - Melody – chamei docemente, - o que se passa querida? - Vocês vão regressar? Quando forem à procura do homem mau… - Claro que vamos, meu amor. Nós sempre voltaremos para ti – prometi com um nó na garganta, ao mesmo tempo que a petiza corria para os meus braços, abraçando-me. Embalei Melody durante muito tempo até ela adormecer, só a deitando na cama quando Eliot apareceu à minha procura. Contei-lhe todos os receios da pequena assim que fechei a porta dos nossos aposentos, deixando algumas lágrimas correrem-me pelas faces enquanto o fazia, pelo que o meu marido me abraçou, também ele deprimido. Mal dormi ao pensar na minha filha, levantando-me várias vezes durante a noite para a ver, acabando por adormecer sentada no sofá perto da sua cama. O meu marido acordou-me horas depois, já com a petiza nos braços e pronta para descer para o pequeno-almoço, sorrindo. O dia da partida amanheceu solarengo, com uma ligeira brisa refrescante, ideal para cavalgar. Entreguei Melody à minha mãe, despedi-me de todos e dirigi-me às cavalariças, juntamente com Eliot. Eric e Richard aguardavam-nos junto das esposas, visivelmente preocupadas, e dos respectivos filhos, fazendo-me ficar com um nó na garganta. Laila apareceu poucos minutos depois, carregando o mapa que Holly desenhara e dando instruções a alguns guardas. Uma centena de guardas acompanhar-nos-ia, porém nem todos viajariam connosco pelo reino, encontrando-nos apenas na fronteira com o reino de Erell, onde vivia, actualmente, Dylan. Despedi-me de Jennifer e Holly, montei no cavalo e segui Eliot para fora do recinto do palácio. Algumas horas depois comecei a notar o silêncio de Laila, que seguia ao meu lado sem dizer uma única palavra, deixando-me inquieta. - Está tudo bem? - Claro – respondeu a minha prima, sorrindo. – Porque não havia de estar? - Estás demasiado calada, não costumas ser assim. – Laila encolheu os ombros e começou a ir mais rápido, distanciando-se de mim e do meu marido. – O que achas que se passa com ela? - Deve estar a relembrar tudo aquilo pelo qual passou… Tu não viste o estado dela quando chegou, não sabes como estava afectada pelo que o Dylan lhe fez. - Achas que ela não devia ter vindo? – Eliot negou, abrandando e deixando os guardas passar, até ficarmos sozinhos atrás da comitiva. - Por muito que lhe custe, a Laila precisa disto. Enquanto o meu irmão não estiver morto ela nunca vai conseguir seguir em frente com a sua vida. – Recomeçando a andar, o meu marido continuou: - fui a primeira pessoa a quem ela contou tudo o que Dylan lhe fez, e eu nunca a vi mais vulnerável. Não faço ideia se a Laila vai conseguir chegar perto dele, mesmo que seja para o fazer pagar por tudo. Seguimos viagem, parando apenas para os cavalos descansarem e para dormirmos, chegando à fronteira de Cyon com Erell em menos de uma semana, o que fez com que tivéssemos ainda dois dias inteiros para chegar ao castelo que era agora a moradia de Dylan. Durante esse período fomos passando por várias aldeias, todas elas com um aspecto degradante e visivelmente pobres. Crianças doentes e idosos a trabalhar nos campos era o que não faltava naquele reino tão diferente de Cyon, comandado durante anos pelos gémeos e por Sloan, deixando-nos a todos desconfortáveis com tal visão. - Não os podemos deixar assim, é desumano. - Que sugeres que façamos Eliot? – Tinha-mos acampado para passar a noite antes de nos dirigirmos ao nosso alvo, mas dormir era a última coisa em que pensávamos. – Nada nos garante que amanhã estejamos vivos para ajudar. - Mesmo que nos aconteça alguma coisa a Aurora vai assumir o controlo do reino até que a Melody tenha idade para se tornar rainha, e penso que ela também não quisesse todas estas pessoas a passarem dificuldades. - Eu também não quero, mas não estou a ver o que possamos fazer para as ajudar… - Levamo-las para Cyon. Após falarmos sobre os prós e os contras do plano de Eliot, abri a tenda, deixando entrar a brisa fresca que se fazia sentir, e fui ao encontro de Laila, que estava deitada a observar as estrelas. – O céu visto daqui é lindo – comentei. A minha prima não me respondeu, levando-me a sentar ao seu lado até que ela desse pela minha presença. – Fala comigo Laila, eu sei que não estás bem. - Eu pensei que ia ser fácil enfrentar o Dylan, mas tremo só de pensar em vê-lo. – Os seus olhos começaram a encher-se de lágrimas, que depressa lhe escorreram pelas faces. – Por muito que eu aparente estar melhor, não consigo ultrapassar tudo aquilo que ele me fez. - É compreensível… - comecei por dizer, sendo imediatamente parada pelo olhar de Laila. - Não devia ser! Não foi assim que fui treinada! Não devia ter medo dele! - O que o Dylan te fez é mais que justificação para que tenhas medo Laila. Um sofrimento como o que ele te infringiu não é algo que se apague tão facilmente. – Peguei-lhe na mão, sentindo-a estremecer. – Se não te sentes preparada para o enfrentar não o faças, fica aqui e espera que voltemos ou regressa a casa. - Emily… - Vi o ar de indecisão tomar-lhe conta das feições, embora ela o tenha expulsado rapidamente. – Eu não vou fugir. Posso ter receio de o encontrar, mas tenho ainda mais v*****e de acabar com ele. – Limpando as lágrimas, a minha prima pôs-se de pé. – Amanhã vamos pôr fim a este pesadelo – afirmou, antes de se dirigir à sua tenda. Continuei a observar as estrelas enquanto pensava em Melody e em todos que haviam ficado no palácio. As preparações para o meu aniversário no dia seguinte deveriam estar quase prontas, deixando todos a pensar quando nós regressaríamos do passeio às aldeias mais distantes, desculpa que demos para o caso de Dylan ter espiões no castelo. A lua já começava a decrescer no céu estrelado, apesar de a sua luz ainda iluminar suficientemente bem o campo em que me encontrava. Alguns guardas entretinham-se a conversar a algumas dezenas de metros de mim enquanto outros mantinham-se de vigia, apesar da calma que se fazia sentir. Passei a noite estendida na relva com o pensamento a quilómetros de distância. Preocupava-me que o plano que tinha traçado corresse m*l, que acontecesse alguma coisa a todos os que deixara ou que simplesmente fosse tudo em vão. Sabia bem que era uma hipótese remota que Dylan se encontrasse ainda onde Laila o havia visto pela última vez, porém não tinha outra opção senão tentar encontrá-lo antes que ele fosse atrás de nós. Com o nascer do sol dirigi-me até Eliot, que ainda dormia, embora o seu sono estivesse agitado. Acordei-o ao mesmo tempo que um guarda chamava por mim, m*l me dando tempo de lhe dar um beijo. Laila já estava de pé junto ao guarda e dava-lhe instruções precisas de como entrar no edifício. Fui até ela, sendo rapidamente alcançada pelo meu marido e, juntos, caminhámos lentamente até ao local onde o nosso futuro podia ser decidido.
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