5º Capitulo – Tempo de Alegria

2137 Words
A alegria instalara-se no palácio e no reino com o nascimento da próxima herdeira do trono. Melody era um bebé sorridente, fazendo as delícias dos adultos que a rodeavam, parecendo livrar todos das suas preocupações. O caso onde isso mais se verificava era o de Laila, que sorria sem parar enquanto embalava a pequenina. Eu não havia tido mais de dez minutos a sós com a minha filha, já que as suas avós pareciam nunca sair de perto do berço desde que lhe tinham posto a vista em cima. Laila também não se ausentava do quarto de Melody por muito tempo, mostrando-se sorridente a toda a hora, o que nos deixava extremamente felizes. Conforme o esperado, não tardou a que surgissem as questões relativas às tradições de Cyon. A primeira era relativa ao prometido da minha filha, a qual eu não respondi porque era um assunto que já havia discutido com Emily e estávamos de acordo que seria ela a fazer a escolha. Obviamente ninguém gostou da minha reacção, acusando-me de estar a quebrar uma tradição com mais de mil anos. A segunda coisa que me foi perguntada era sobre a apresentação de Melody ao reino, que fora marcada para o dia em que ela fizesse seis meses, obrigando-me a pedir a Laila que me ajudasse na tarefa. Enquanto eu recebia os convidados a prima da minha esposa tomava conta da pequena endiabrada, tentando mante-la entretida. Quando a cerimónia acabou a única pessoa que não estava cansada era a minha filha, que adorara toda a atenção que recebera ao longo do dia. O tempo continuou a passar e, com o aproximar do aniversário de Melody, uma última tradição era discutida entre mim e Aurora. - Eu percebo que queiras recuperar esse costume, mas não me sinto bem a fazer isso sem a Emily. - Também não era o que eu pretendia Eliot, mas gostava de voltar a ver os retractos da família real a ser pintados e era bom iniciar com um no dia em que a Melody completasse um ano. Nunca falei nisso antes porque os gémeos ainda eram uma ameaça e com tudo o que aconteceu depois achei que era melhor não tocar no assunto. - Mas porquê agora? No dia que a Emily acordar podemos fazer isso, afinal essa tradição já não é utilizada há anos. - A minha filha está em coma há um ano e oito meses, e pode continuar infinitamente – respondeu Aurora com um ar abatido. – Ninguém sabe quando ela vai acordar, ou mesmo se acordará. Eu gostava que pelo menos a minha neta vivesse uma vida normal e que isso ficasse registado para que um dia quando a Emily acorde possa ver como a filha era. - Talvez eu tenha outra solução – comentei enquanto me servia de uma xicara de café. – A Emily falou-me numa coisa chamada máquina fotográfica, que ela tinha antes de vir para Cyon, que fazia com que conseguíssemos um retracto apertando apenas um botão. Eu poderia contactar a Mirela e o Michael e pedir-lhes que enviassem uma com as devidas instruções. - E quanto às pinturas? - Faríamos isso quando ela acordar – conclui. Michael foi rápido na resposta, trazendo-me o requerido logo no dia seguinte. Ele e a esposa aproveitaram para passar uns dias connosco, ficando derretidos com a minha filha, tal como acontecia com todos. - Ela já anda? - Ainda não – retorquiu Laila. Mirela embalava Melody nos braços, hipnotizada. - Então deve gatinhar por todo o castelo – continuou, rindo-se. - Ela também não gatinha. - Como assim Eliot? Ela vai fazer um ano… - O pediatra examinou-a mas não encontrou nada de anormal. – Laila pegou na pequena e colocou-a no berço, voltando a reunir-se a nós no sofá. – Pelos vistos é uma questão de esperarmos que ela queira andar. - Ela deixa-nos estafados sem andar, quando o fizer não sei como aguentaremos – referiu Laila rindo. - Com muita paciência e amor – respondeu Mirela carinhosamente. As semanas foram passando e Melody crescendo. O seu aniversário aproximava-se e todos queriam dar o seu parecer sobre o acontecimento, deixando-me zonzo. Enquanto Aurora queria uma grande festa a minha mãe era da opinião que devia-mos organizar apenas um chá para as pessoas mais chegadas, Laila e Jennifer achavam que uma pequena celebração chegava pois Melody anda não tinha idade para se recordar de nada e Holly afirmava que deveríamos fazer um baile como era costume nos aniversários da família real. - Chega – gritei em um certo momento. Estávamos todos reunidos na sala do trono, assim como Richard e Eric, e eu já não aguentava mais. – Será que ainda ninguém percebeu que é a minha função tratar da minha filha? - O que te deu Eliot? Só estamos a tentar ajudar. - Mas não o estão a fazer Holly. A Melody é pequena demais para se lembrar do seu aniversário, tal como a Laila e a Jennifer disseram. Não vejo porquê tanta discussão acerca de uma festa que, a ser feita, será pequena. - O Eliot tem razão querida – adiantou Eric, enlaçando a esposa pela cintura. – Não há razão para se realizar um baile para uma menina com um ano. Ela não poderia sequer estar na festa, haveria demasiado barulho. - Além disso deve ser ele a organizar isso. – Laila olhou para mim, como se estivesse a medir o meu nível de irritação. – Nós todos gostamos da Mel mas ele é o pai, a decisão é dele. - Obrigado Laila, e é por isso que quero que sejas tu a ajudar-me. Não haverá baile nem uma festa com centenas de convidados, apenas um lanche para todos os que vivem no castelo. Deste modo não será cansativo para a Melody e celebraremos o seu aniversário com uma festa. O dia da celebração chegou assim como milhares de cartas de todo o reino, felicitando a pequena princesa. Melody brincava alegremente enquanto todos se reuniam num pequeno lanche que Laila organizara. A máquina fotográfica tornara-se um sucesso e rapidamente ficou lotada com fotos da minha filha acompanhada por todos os presentes. Embora já tivesse completado um ano Melody não andava, apesar de o pediatra dizer que não havia nada de errado com ela. As semanas continuaram a passar mas nada se alterava, o que nos levava a crer que teríamos de esperar que ela o quisesse fazer. Junho chegou e com ele um calor abrasador. Apesar de todo o trabalho que tinha para fazer ficar fechado no palácio não era uma ideia que me agradasse, assim como à pequenina que brincava aos meus pés. Pequei na Melody ao colo e fui procurar a minha mãe, que se encontrava, como sempre, com Aurora numa das salas de estar. - Estão muito descansadas – comentei ao entrar na sala. Melody estendeu os braços para as avós, pelo que a sentei no meio delas. - Também merecemos um dia de descanso – respondeu a minha mãe enquanto fazia cócegas na neta. – Estávamos a pensar em ir até ao lago nadar. - Vinha sugerir um piquenique no lago, já que também não me apetece ficar cá dentro hoje. – Sentei-me chão em frente a Melody que ria sem parar. – A diabinha também não pára de apontar para a janela. - Então que seja um piquenique e uma tarde de natação – adiantou Aurora. – Vou tratar da comida, vocês preparam o sítio. – Assenti, enquanto me levantava. Enquanto saía da sala acompanhado da minha mãe, que levava Melody ao colo, encontrei Laila, Jennifer e Holly muito animadas. - Ia agora mesmo à vossa procura. - Aqui estamos Eileen – respondeu Laila a rir. – No que podemos ser úteis? - Vamos passar uma tarde tranquila no lago, querem vir? – Melody esticou-se em direcção à prima, que logo lhe pegou. - Como posso dizer que não quando a Mel se atira assim a mim. - É uma boa ideia – disse Holly enquanto Jennifer assentiu. Encaminhámo-nos para o jardim, onde o calor se fazia sentir mais intensamente. Protegi Melody com um feitiço para que a temperatura não a atingisse, enquanto a minha mãe estendia uma grande toalha debaixo de uma árvore. Aurora apareceu pouco tempo depois carregando um autêntico banquete, que todos comemos com prazer. A minha filha acabou por adormecer, permitindo-nos um pouco de sossego. - Agora que a Mel dormiu tenho uma coisa a anunciar – começou Holly. - Também gostaria de dizer algo – acrescentou Jennifer com um grande sorriso. - Tantos anúncios… Não me digam que estão grávidas? - Como adivinhas-te Laila? – A resposta simultânea das duas apanhou todos de surpresa, até Laila que se limitara a brincar. - Tu também Jen? - Estamos as duas grávidas? – A gargalhada foi geral, ao que as duas amigas se uniram. Melody abriu os olhos, mas voltou a adormecer em seguida. – De quanto tempo estás? - Três semanas. Não me digas que tu… - Três semanas – concluiu Jennifer, rindo ainda mais. – Que grande coincidência. - Muitos parabéns! – Laila abraçou as amigas ao mesmo tempo, enquanto eu me levantava para fazer o mesmo. A noite chegara antes que dessemos por ela. Eric e Richard haviam-se reunido a nós ao final da tarde, felizes com a notícia e apanhados de surpresa por Jennifer e Holly esperarem ao mesmo tempo os seus filhos. A celebração durou bastante mais do que eu previra, o que me fez ter de levar Melody para o quarto, já que a pequena adormecera após o jantar, demasiado cansada pela brincadeira da tarde. O verão foi passando, Melody crescendo, e a felicidade no reino aumentando. Tudo o que os gémeos haviam destruído estava finalmente arranjado, as pessoas felizes e em paz, as crianças brincavam nas ruas sem a preocupação constante dos pais que passavam os seus tempos livres a relaxar, e eu trabalhava incansavelmente para que esse espirito continuasse o máximo possível. Com o mudar das estações fui ficando apreensivo em r*****o ao comportamento da minha filha. Já estávamos em Dezembro e Melody, com um ano e sete meses, não andava nem falava, embora continuasse a não existir razão para isso. - Não é normal – afirmava pela sétima vez naquele dia. – Tem de haver algo de errado com a Mel. - Já lhe fizemos todos os exames possíveis Eliot, ela está saudável. - Deve existir alguma coisa que possamos tentar Eric. - Sabemos que estás preocupado Eliot, mas nós também estamos. O Eric dedicou os últimos meses exclusivamente à saúde da Melody, não há mais nada que possa fazer. - A Laila tem razão. Pelo que sabemos a condição da Melody pode estar relacionada com o coma da Emily, mas até que ela acorde não podemos ter a certeza disso. - Pensei que a esta altura ela já tivesse despertado, nunca esperei que demorasse tanto. – Derrotado, sentei-me num cadeirão. A porta da sala de estar abriu-se nesse momento, revelando-me a minha mãe e a minha sogra. - Finalmente adormeceu – comentou a minha mãe ao sentar-se a meu lado. – É cada vez mais difícil fazê-la dormir. - E a Emily? - Na mesma. O médico não encontrou nenhuma alteração. – Depois de se servir de um pouco de chá, Aurora sentou-se no sofá ao lado da prima, que a abraçou. Levantei-me pouco tempo depois, dirigindo-me ao quarto. A esperança de que tudo se resolveria começava a abandonar-me novamente, mas eu não podia dar-me ao luxo de a deixar vencer-me. Esperando que o novo dia me trouxesse alguma paz de espirito enfiei-me na cama, caindo num sono intranquilo. O tempo continuava frio em Março, fazendo-me acender a lareira da biblioteca. Melody entretinha-se com as histórias que Laila lhe lia e que eu interpretava com fantoches, apontando para outro livro assim que o conto acabava. - Mas eu já li este Mel. – A minha filha apontou novamente para o livro que a prima pegara, tornando obvio que era aquele que ela queria. – Está bem, mas pode ser o papá a ler desta vez? - Já estás cansada Laila? – Agarrei no livro ao mesmo tempo que lhe passava os bonecos, perante o aceno afirmativo da pequenina. – Sabes que isto ainda vai durar várias horas. - Por isso mesmo podemos ir revezando. - Muito bem, vamos lá continuar… Melody? – Deslizando pelo sofá, a minha filha pôs-se de pé e andou até à porta, perante o nosso olhar incrédulo. – Ela andou? - Mamã – disse ela para a porta enquanto sorria. – Mamã. - Será que isto quer dizer… - Não sei, mas vou descobrir. Ficas com a Mel? – Perante a resposta de Laila, que prontamente pegou em Melody, saí da biblioteca, correndo o máximo que podia, em direcção ao quarto de Emily.
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