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1552 Words
Quando os primeiros raios solares despontaram no horizonte, Anne Walch já estava acordada. Ela m*l dormiu. Se olhou no espelho e tudo que viu foi um semblante apagado que se assemelhava à uma ressaca forte prestes a derrubá-la. Saiu do sótão vestindo a mesma roupa, ainda de calça jeans e com aquela blusa verde musgo, os pés descalços descendo as escadas em silêncio, onde a porta do quarto jazia entreaberta. Anne preferiu bater levemente apenas para escutar a voz de Mary mandando-a a entrar.             ― Acordou com o sol? ― Lucia amarrava o cabelo.             ― Vocês também. ― Respondeu sem conseguir evitar o bocejo.             ― E Charles?             ― Já foi. ― Disse e as gêmeas se entreolharam para depois encararem Anne.             ― Como assim já foi?             ― Ele vai trabalhar bem cedo. ― Ela deu de ombros, tentando parecer o mais natural possível.             ― E ele trabalha no que?             ― Ajuda um fazendeiro aqui perto, com os cavalos.             ― Nossa... ― O tom de Lucia foi malicioso e Anne fez uma expressão desaprovadora.             ― Parem com isso.             ― Eu tirei uma foto de vocês ontem. ― Mary soltou, fazendo a escritora arregalar os olhos.             ― O que?             ― Desculpe, eu não me contive...             ― Quando, que eu não vi?             ― Quando ele subiu as escadas com você no colo. ― Ela já estava com o celular na mão, procurando a imagem e não demorou nem meio segundo até mostrar a tela para a morena.             Ela pôde ver as costas largas de Charles, seus cabelos vermelhos. Pôde ver as próprias pernas que ele segurava e um sentimento arrebatador circundou seu coração. O homem podia ser fotografado, afinal.             ― Posso ficar com essa foto...? ― Pediu timidamente depois de alguns segundos.             ― Eu mando pro seu e-mail. ― A amiga piscou divertidamente.             ― Juro por Deus que estava tentando me controlar para não falar, mas Anne...             Os olhos azuis miraram os castanhos de Lucia curiosamente.             ― O que?             ― Seu marido é enorme... E ele quase botou Peter pra correr ontem... O que aconteceu?             ― Obrigada Lucia, eu estava com vergonha de perguntar. ― Mary confessou com um suspiro aliviado enquanto Anne ficava um pouco paralisada.             ― Charles é ciumento... ― Sussurrou, lembrando-se dos olhos dominantes sobre ela. ― Achou que Peter estava olhando para mim ou algo assim... E aí ele foi lá em cima, dizendo que Charles tinha me arrastado até lá.             ― O que de fato aconteceu. ― Lucia fez o adendo.             ― Sim, mas não contra minha vontade... ― Ela deixou claro, deixando um suspiro cansado escapar. ― E Peter realmente...             ― Estava olhando para você. Eu percebi. ― Mary guardou o celular depois de enviar a foto para o e-mail da mais nova amiga.             ― Percebeu? Quando? ― A mulher foi pega de surpresa.             ― Quando chegamos, eu estava falando com você na biblioteca... E ele estava olhando... fixamente. Eu não quis falar nada, Anne, porque nem sabia do Charles também. Pensei até que pudesse rolar al-             ― Nem se o Charles não existisse ia rolar alguma coisa. Esqueçam isso. ― Havia firmeza em sua voz e as duas amigas começaram a rir.             ― Assunto esquecido. Vamos descer? ― A mais velha das irmãs indagou e todas concordaram, descendo para o térreo e encontrando um jornalista carrancudo e Juarez ainda cochilando na mesma cadeira.             ― Eu vou ligar pro guincho. ― Anne anunciou. ― Se quiserem podem comer, tomar café, fiquem à vontade. ― E depois de receber um aceno de Mary, ela saiu da sala de jantar e rumou até a biblioteca.             O telefone estava em cima da mesa e apenas apertou o redial para que o aparelho ligasse para o último número discado. O som da ligação chamando não durou muito.             ― Guinchos do Joe, bom dia.             ― Quem fala?             ― Lucky. Quem é?             ― Oi Lucky, aqui é Anne Walch, da casa-             ― Da casa branca, sei quem é, tudo bem Sra. Walch?             ― Tudo ótimo, e com você? ― Ela tentava ser simpática.             ― Tudo bem também. O reboque pedido pelo repórter já foi mandando, se foi pra isso que ligou.             ― Foi pra isso mesmo, Lucky, eles têm que estar no trabalho logo e seu rebocador vai ser de enorme ajuda.             ― Deve estar chegando em uns vinte minutos aí. Algo mais que posso te ajudar?             ― Apenas isso. Obrigada!             ― Disponha, tenha uma ótima tarde.             ― Para você também! ― E desligando, Anne estava sorrindo com a educação que lhe fora oferecida de bom grado.             ― E aí? ― Mas congelou quando ouviu a voz masculina.             ― Já estão chegando. ― Ela respondeu, colocando o telefone sem fio em cima da mesa. ― Vinte minutos, ele disse.             ― Certo...             Um breve silêncio foi feito e ela continuava de costas, apesar de ter certeza que estava sendo observada fixamente. Podia sentir o peso do olhar de Peter sobre os seus ombros.             ― Desculpe por ontem, Sra. Walch. ― O jornalista disse depois de um tempo e viu os ombros femininos se encolherem levemente. A silhueta de Anne estava acentuada com aquela vestimenta e ele simplesmente não conseguia tirar os olhos das costas da mulher.             ― Tudo bem. ― Foi seca.             ― Eu admito que fiquei interessado. ― Com aquilo, Anne se encolheu um pouco mais.             ― Senhor Donavan...             ― Estava pensando seriamente em chamar você pra sair hoje de manhã. Mas isso foi antes de eu ficar sabendo do seu marido, claro... ― Ele foi irônico. ― Porque depois de conhecer ele, a única coisa que passa pela minha cabeça é... Quem diabos é aquele cara? Ele parece um monstro, fazendo você de-             ― Acredito que você deveria considerar calar a boca. ― Anne virou-se, os olhos cintilavam irritação. ― Nós nos conhecemos ontem, Senhor Donavan, você está dentro da casa do homem que está chamando de monstro, e falando isso para a esposa dele. Por favor, retire o que disse.             ― Eu não vou retirar palavra nenhuma, Anne. ― Peter cravou os olhos nos dela e começou a andar em sua direção. ― E daí que te conheci ontem? Por que preciso te chamar de Sra. Walch? Só porque você é casada com aquele brutamontes?             Anne bateu as costas na mesa, firmando os orbes na figura como se fosse capaz de afugentá-lo como Charles fizera.             ― Eu estou te avisando-             ― Onde ele está agora? Por que saiu no meio da noite? Quanto tempo ele passa com a ‘esposa’ afinal? ― Peter não se amedrontou e só parou quando estava há um passo de colar o peito no dela. ― Isso é felicidade pra você?             ― Você está enganado, Senhor Donavan... minha relação com Charlie não é baseada em quantidade... E sim em qualidade... podemos passar pouco tempo juntos..., mas quando estamos juntos, somos felizes... minha felicidade está no Charlie, Sr. Donavan... por que ele é o homem que eu amo. E eu jamais lhe dei i********e suficiente para me assediar dessa maneira.             Peter Donavan ficou parado por pelo menos cinco segundos, como se fosse um computador em pane. Anne dizia aquilo com tanta firmeza... ela realmente sentia com cada fibra de seu corpo, com cada fração de sua alma, podia ver nos olhos azuis, estava escrito na cara dela... E não havia notado apenas agora. Simplesmente tinha se recusado a ver porque fazia anos que uma mulher o tinha rejeitado, tantos anos que nem se lembrava mais da cara dela. E agora Anne estava ali, esfregando em seu rosto que nem um caso queria ter.             ― Espero que ele seja um homem digno desse amor todo...             ― Ele é, pode ter certeza que ele é.... E se essa conversa não acabar agora... eu vou enfiar um processo em você.             ― Anne o guin... ― Mary imediatamente parou de falar quando entrou na biblioteca e viu o homem e a mulher bem próximos.             Peter se afastou no instante seguinte. Seu corpo inteiro estava latejando de nervosismo. Ele passou por Mary e sumiu da biblioteca quando a ruiva começou a andar em direção à Anne, que havia se escorado às prateleiras para não cair no chão.             ― O que aconteceu aqui?             ― Esse... ― Anne ainda estava um pouco assustada com aquilo tudo. ― Esse imbecil...             ― Anne, ele fez algo?             ― Nada além de ser enxerido e insistente...             ― Peter é um galinha. ― Ela murmurou. ― Não se irrite pela babaquice dele. Agora vamos, o guincho já tirou a van, acabaram de chegar aí na porta.             ― Isso é ótimo... ― Respirou profundamente, soltando o ar numa bufada impaciente. ― Vamos lá.             E ambas foram para fora, abriu o portão, e depois de se despedir das duas mulheres, de Juarez, e ignorar Peter completamente, viu todos entrarem no guincho que já tinha a van presa na passarela em cima. O caminhão manobrou no espaço do terreno e logo já tinha desaparecido pela estrada ainda enlameada. Era um dia nublado, apesar de o sol estar tentando persistir. Anne deixou outro suspiro escapar, dessa vez de alívio. Finalmente, aquele jornalista estava fora dali.             Voltou para dentro de casa e bebeu o leite direto da garrafa antes de voltar para o sótão e se jogar na cama, fechando os olhos para dormir um pouco mais. Não queria estar cansada quando a noite chegasse.              
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