12.1

576 Words
― Isso é realmente muito bom... ― Abocanhando mais um pedaço diante da risada gostosa de Anne Walch, pela primeira vez, Charles sentiu que poderia morrer. Bem ali. Contanto que não voltasse para a escuridão. Que não fosse mantido refém por tantas horas antes de poder, rapidamente, provar centelhas do paraíso.             As nuances da felicidade.             ― Obrigado... ― O ruivo engoliu o que restava mastigado dentro da boca antes de dizer. Queria ter dito mais. Outras coisas. As palavras presas. As que corriam e dançavam em seu espirito.             Os orbes azuis lhe encararam com tranquilidade sem igual. Foi o suficiente para no peito, o coração falhar uma batida.             ― Não precisa agradecer... esse foi o melhor encontro que tive...             Ele não disse nada. Havia um sorriso levemente manchado de molho madeira nos lábios de Charles e Anne estava se controlando para não avançar e limpar aquela quase imperceptível mancha com um beijo.             ― O que? ― Engolindo em seco, diante do olhar penetrante, a escritora precisou perguntar. Não passou de um sussurro.             ― Essa foi a melhor hora que já tive em toda minha vida... ― Charlie confessou num murmúrio rouco. Ele a encarava fixamente e Anne não conseguiu mais impedir o próprio corpo. Atravessou a distância entre os dois e o beijou sustentando uma timidez sem igual. Os braços fortes lhe rodearam quase imediatamente. O hambúrguer caiu no chão, assim como todas as barreiras que ambos tentavam, imperceptivelmente, criar.             Artifícios para impedirem o amor, chegando tão rápido, tão abrupto.             Era um tiro à queima-roupa.             Separados pela falta de ar, a mulher recuou, sentada na calçada.             ― Desculpe... tinha molho na sua boca.             ― Eu vou começar a mergulhar a cara no molho a partir de hoje... ― O sussurro um pouco sem fôlego de Charles a fez cair no riso. Uma risada descontraída que obrigou Anne a ficar de pé antes que se visse presa em seus braços de novo. ― Vamos?             ― Vamos. ― Ele ficou de pé. A abraçou pela cintura e começaram a andar para a caminhonete vermelho cereja. ― Não pense que esqueci dos seus livros... já separou?             ― Já. Estão na biblioteca. Eu esqueci de avisar. Tanta coisa aconteceu, aquele jornalista-             ― Aquele filho da p**a. ― Charles retificou.             ― Isso isso. ―E ela só pôde rir. ― Ciumento...             ― Não posso evitar.             O único carro parado no estacionamento foi alcançado depois de alguns passos.             ― Ainda bem que não preciso...te dividir com mais ninguém. ― A escritora sussurrou, abrindo a porta do automóvel com bochechas coradas.             ― Ainda bem que você também é só minha. ― E o fantasma fez o mesmo, sem saber que a mulher do outro lado m*l era capaz de respirar. ― Desculpe. ― Ele se deu conta do quanto seu tom de voz soara selvagem. Possessivo.             ― Mas é verdade... ― Tentando se recompor, entrou no carro, vendo-o entrar também. ― Eu sou.             Mas assim que as luzes do painel se ascenderam, o coração da morena quase explodiu dentro do peito.             O relógio digital indicava 3h:59m.             ― Char-             E os tracinhos luminosos mudaram para 4AM ao mesmo tempo em que o homem se desfragmentava bem em frente aos seus olhos.             ― Até amanhã... ― Triste, Anne não permitiu que lágrimas chegassem a superfície.             A mão girou a chave na ignição e deu partida no motor. Arrancando de volta para casa.             Cada vez que ele ia embora, aquela estranha e sorrateira dor tornava-se maior.  
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