PT. II E agora?

1897 Words
Ficamos estonteados por ela questionar isso a nós, meros ignorantes que dependia de seu conhecimento e sua prática para sair dessa situação, pensar que ela mesma não tem ideia para tomar iniciativa – assim como nós –, era mais assustador e trazia à tona ainda mais meus pensamentos obscuros que quer desviar dessa luta exaustiva. Caio fitou-me confuso e atônito ao escutar indagação quase que profana para nosso desespero, nossa única resposta ao terror. Não a estressei bombardeando de perguntas, apenas suspirei e caminhei até ela um pouco titubeante, sem saber o que fazer. Ofereci um abraço e disse para tentar acalentá-la: - Não sei o que seria necessário nesse momento, mas..., caso queira, ofereço de bom grado. Às vezes ajuda mesmo. Cecília apenas abraçou-me sem dizer sequer uma palavra. Seu abraço ficava mais apertado e mais aconchegante, era o único lugar que ainda ousaria dizer “estamos seguros” ou “estamos bem aqui”. Abraçava, apertava para fugir a aterrar todos aqueles ou os nossos demônios que sondavam nosso melhor. Afinal, ainda estava certa tendo em vista de como estávamos: com nossas energias drenadas a ponto de questionar a realidade das coisas, graças a ele... Victor, os olhos mortos! Caio levantou-se agressivamente e estirou seus braços enquanto arremessava suas palavras feito ventos cortantes: - É assim?! Tipo..., “e agora?”, depois um abraço de consolo porque estamos mortos, é isso? Isso não ajuda em nada! - Caio..., pensar só nisso está nos deixando cansados, você não vê? Desde aquela noite é..., Victor, olhos mortos, Seteálem, mundos dos quais nem imaginamos que existia. – Cecília desprendeu-se do meu abraço e caminhou lentamente até a cozinha, enquanto eu discutia com Caio. - Acontece, está acontecendo e não temos escolha, assim como não tivemos por ter a vida medíocre como estudantes e operadores de telemarketing! - EU SINTO FALTA DESSA VIDA MEIODCRE PORQUE NÃO PENSAVA O TEMPO TODO EM ACABAR COM TUDO! – Bradei explodindo feito estopim soltando toda aquela sobrecarga naquelas palavras, mesmo que tenha sido resumido. Caio mudou subitamente seu semblante e engoliu suas palavras naquele momento, sentou-se e pôs se coçar sua cabeça por estar nervoso e entender como eu estava. O silêncio tomou conta, o silêncio mais eloquente que nossas palavras de alguns minutos atrás. Este silêncio estava carregando todos os segredos, sentimentos e dúvidas sobre o que dizer, o que não devia ter dito, o que fazer. Sentimentos e ressentimentos..., tudo! E nada. Inesperadamente, chega Cecília com uma bandeja de chá, ainda caminhando até a mesa para se sentar. Cecília não demonstrava, mas víamos o quanto estava afetada, por mais tranquila que demonstrasse estar. Ela nos serviu, assim que terminou, deleitou-se de seu chá com aroma agradável. Caio ainda impaciente, se sentou na mesa fitando cada um nós, esperando alguém falar alguma coisa. Sua notável inquietude me incomodava cada vez que eu olhava, mas tentava pensar em outra coisa. Depois de alguns minutos em silêncio, Cecília disse algo ainda cabisbaixa: - Victor sabe como nos rastrear, pelo visto. Mesmo com o selo e descobrimos isso ontem. Nossos avanços são isso e a pedra do sol. Caio libertou finalmente sua inquietude: - Sim, então temos como lutar. Talvez o único o mistério seja o seu “e agora?” - Não é um mistério – Cecília pegou seu bule e derramou mais chá em sua xícara e prosseguiu –, realmente devemos pensar tantas vezes caso algo daquele gênero aconteça, você acha que ele simplesmente deixará acertar ele? Outra coisa! Aquilo não foi suficiente para matá-lo. - É só usar mais. – Retrucou prepotentemente Caio. Cecília soltou sua gargalhada, desdenhando do que Caio disse, como se fosse uma criança conhecendo alguma novidade e apresentando a mais inocente solução: - Você conseguiu mudar meu dia com algo tão i****a. Se é tão simples, por que não faz? - Você é a bruxa. - Isso mesmo..., e você não é nada. – Retrucou rispidamente Cecília a fim de colocar Caio no devido lugar, o que de fato o silenciou. A seguir, Cecília retomou sua fala com os planos que esteve pensando até agora, mas antes que prosseguisse, fiz um questionamento sobre seus pingentes: - Aquilo nos faz viajar para outros universos ou coisa assim? Cecília sorriu como se eu tivesse falado algo i****a, mas logo respondeu gentilmente: - É tipo um talismã. É necessário muito mais para fazer uma viagem entre os 6 mundos ou afetar dessa forma o Cosmos. O que eu tenho nos leva somente para casa porque é o único item com apego emocional que me liga aqui. - Ah..., achei que fosse algo mais elaborado – disse enquanto sorria. - Na próxima, fique com isso na mão – bradou Caio ainda aborrecido, mas Cecília perdeu seu olhar, perdida em seus pensamentos lembrando de alguma coisa que a afetou. Talvez uma doce lembrança, uma saudade que jamais seria sanada por alguma ocasião que jamais ousaria perguntar. Ela apenas tossiu de forma descontraída e continuou o que estava falando sobre as melhores soluções para o que estávamos lidando. - Existem duas formas de a gente sair dessa, e uma delas..., bom, na verdade TODAS, são complicadas e terríveis. Uma delas é m***r Victor. Usaria tudo que eu tivesse por aqui, nos equiparíamos com tudo; desde ensinamentos até materiais que nos ajudariam na hora. Seria uma missão suicida, não sei dizer se todos poderíamos sair com vida e tampouco como seria. Vocês teriam que saber o mínimo para poder ir até o Seteálem e entender como funciona. - Tem algo mais suicida do que ir em um mundo sobrenatural e m***r o chefão? – indagou Caio sarcasticamente. - Marcos se antecipou ao mencionar viagem entre mundos, mas basicamente, poderíamos nos selar em outro local e separados; onde Victor não teria acesso. O problema é que não temos ligações com outro mundo fora Seteálem, então usaríamos o Seteálem ainda como nossa fronteira para outro local. – Cecília se levantou, mudou seu rosto de algo relaxado, mas deprimido, para preocupação: - Deem ênfase em não termos ligações com outros mundos, o que resultaria no fato de cairmos em qualquer lugar, tais quais como: o inferno, um lugar frio e cheio de raiva, o mundo dos animais, que é o lugar dos ignorantes, o mundo dos fantasmas famintos repleto de desejo de comida e bebida, o mundo dos asura, um reino com seres poderosos em guerra e frustrações eternas com os deuses, o mundo dos humanos, o nosso e o mundo dos deuses. Podemos cair em qualquer um de acordo com nossa essência ou o que pensamos. Mas o poder maior será nossa essência. O fato é que ficaremos separados e podemos sofrer ou nos livrarmos disso. - Isso é loucura... – Caio olhou para baixo frustrado, e incrédulo ao ouvir aquilo, mas Cecília ainda tinha o que falar: - E a 3ª opção seria nos entregarmos a Victor e selar tudo isso. - Nunca. – Retruquei sem titubear. - Sabe que de um jeito ou de outro passaremos por Seteálem e corremos riscos, não é...? - O que devemos saber para lutar e colocar um dos planos em prática? – Perguntei a Cecília. - Primeiro, devemos fazer uma incursão experimental até lá e descobrir o local que se conecta a tudo, e esse local é o ponto de ônibus. São raros de se encontrar e sempre estão mudando. A pista que temos até agora é que onde mais estiver concentrado espíritos, é onde ele está..., isso também é perigoso. Infelizmente, muitos espíritos estão sedentos por vida, então já sabem... - Merda..., - Caio bateu com força na mesa em que estava balançando até nossas xícaras na mesa – quanto mais você explica, mais difícil fica. Ficamos em silêncio pensando sobre as alternativas que temos, algumas vezes minha inquietude proporcional aos meus pensamentos agitados, faziam com que eu andasse sem rumo pela casa, batucasse meus dedos em algo, batesse meu pé contra o chão ou fazia eu sentir uma coceira repentina. Cecília soltou sua doce voz e sugeriu o que achou mais bem baseado em fatos e na nossa segurança: - Fugir para outro lugar é melhor do que tentar a sorte tentando matá-lo. Temos chances para duas investidas: a 1ª deve ser exploratória para saber o que podemos usar e a 2ª será nossa saída pra tudo. Devemos escolher sabiamente porque o que tenho aqui é escasso. - Podemos sair durante o dia e comprar mais. - Ele conseguiu levar Marcos para o outro lado em plena luz do dia, só com uma ligação. Ele também sabe como nos encontrar. - Nem tentamos fazer isso agora, de repente podemos evitar falar com ele – Retrucou Caio mesmo sem saber de algo, mas Cecília até considerou essa hipótese e completou ainda: - Farei os preparativos para nossa incursão (caso aconteça hoje). Se der certo, podemos tentar matá-lo ou fugir. Quando estava pronto para concordar, lembrei de uma informação sobre o que Cecília comentou a respeito de nos preparar e indaguei: - Espera, mas você disse que ainda iria nos preparar. - Era só aquilo, o resto é com a bruxa aqui, amores. Caio sorriu como se desdenhasse, mas concordou. Enquanto Cecília se preparava com os materiais necessário, Caio se aproximou para conversar com dois copos d’água, com um sorriso tímido e sem ideia de como conversar. Todo enrolado, ainda fez esforço para falar: - É..., então..., pode ser um finalmente. - Sim. – Retruquei com frieza. - Olha, sei que não estamos nos dando ultimamente e tudo porque você se dispõe a defender ela. Você acredita e eu respeito isso – Caio olhou para todos os lados e se preparou para contar algo, como se fosse um segredo: - Mas isso não deve impedir seu verdadeiro propósito, o seu DEVER! – Disse enquanto pressionava meu peito com o dedo indicador. Você é meu melhor amigo, somos praticamente irmãos e noto o quanto isso o afetou agora..., por isso quero compartilhar isso com você. - O quê...? - Temos uma outra opção e essa seria entregar a Cecília para os olhos mortos. Fiquei abismado! Aquilo parecia alguma brincadeira de mau-humor, porém notei a seriedade em cada aspecto de seu rosto, e fiquei imediatamente enojado. - Você ficou louco, p***a? Perdeu o que restava de humanidade em você?! - Shhhhhh! Pensa comigo: podemos fazer um acordo para que ele fique com ela e a gente fique livre. Talvez ela valha muito mais do que possamos saber. Diga AGORA: quem Victor ia m***r; você ou ela? - Você é um monstro..., como não percebi isso. - Estou sobrevivendo, estou só dizen...! – antes que Caio terminasse sua fala inescrupulosa, movida a ganância, mentira e covardia, o interrompi: - Guarde isso para você e espero que não interfira com nosso plano. Não destrua o que tanto estávamos ansiando. Cecília apareceu de repente e disse alegremente, despreocupada com tudo como se fosse uma simples viagem, e não um risco de sermos mortos ou aprisionados. - Vamos comprar os ingredientes! Sua determinação destruiu qualquer tipo de atmosfera pesada e plantou a esperança que precisávamos para agir naquele momento desvairadamente como loucos e suicidas. Ela deu o poder que seria a resposta para aquele momento sufocante, aquele momento de estresse e ansiedade. Jamais esqueceria que naquele dia, enquanto me sentia morto, que o vislumbre da vida estava em você...
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