Capitulo I

1109 Words
Olho o vestido e faço careta. É vinho, justo e decotado demais. “Desse jeito serei a periguete trintona da festa”, penso. ― Não julgue pela capa, senhora. Experimente. Nem tudo que vemos fora do corpo é dispensável. Dê uma chance ― fala a vendedora da loja, observando minha cara de reprovação ao segurar o vestido. Resolvo experimentar e agradeço a Deus por ganhar bem. Só com um salário desses é que consegui colocar meus 400 ml de silicone nos s***s. Tiro minha roupa e o sutiã e coloco o vestido com decote em V que vai até quase o umbigo. Depois que o arrumo no corpo, percebo que é esplêndido. O vestido fez uma cintura que nem eu sabia que tinha. Ouço a vendedora bater no provador onde estou, ansiosa. ― E aí? Mostre-me como ficou. Saio da cabine, e quando ela e as demais mulheres que estão na loja me olham, noto os olhares de aprovação. ― Eu disse que não me engano. Você tem um corpo lindo e esse vestido só realça isso ― diz a vendedora otimista. Olho-me com certa admiração e digo a mim mesma: “É hoje que arrumo um namorado”. Saio do shopping confiante de que a noite promete. Olho no relógio e me assusto. Meu Deus! Já são duas da tarde e ainda preciso ir ao salão. Resolvo mudar a cor dos cabelos para dar um up no visual. Entro no salão do qual sou cliente há algum tempo, um salão caro, até por ficar no bairro Jardins, mas definitivamente vale a pena a fortuna que deixo por lá toda vez que entro. ― Mel, minha linda! O que vai ser hoje? ― pergunta meu cabeleireiro. ― Tiffany ― cumprimento-o, ― quero renovar o visual. O que acha de uma nova cor nos cabelos? ― Já era hora, não é Mel? No que pensou? ― Que cor combina com minha pele? Sou branca demais. ― Vermelho vibrante super combina ― diz, usando seu vocabulário habitual. ― Vermelho?! ― A princípio me espanto. Tenho medo só de me imaginar como uma beterraba ambulante. Só falta alguém me olhar na rua pensando que estou menstruando pela cabeça. É o fim! ― Mel, confie em mim! Vou deixá-la ainda mais bela ― responde todo confiante. ― Está bem Tiffi ― falo um tanto resignada. ― Faça o seu melhor. Entrego-me confiante. Ele me vira de costas para o espelho, e sem que eu consiga respirar, sua tesoura começa a trabalhar. Faz um corte mais curto na nuca e um bico na frente, não acredito que o deixei cortar minhas longas madeixas virgens. Depois veio a tinta, e nem quis olhar para não me apavorar ainda mais. Uma hora e meia depois de tudo e de uma escova, ele me vira e fico atônita. ― Não é possível ― digo, não me reconhecendo ao olhar no espelho. Parece que há alguém do outro lado do espelho me imitando. ― E aí, gostou? ― indaga, todo sorridente. ― Se eu gostei? Eu amei, arrasou bi! Fiquei irreconhecível! Sou uma nova pessoa, e esta cor é maravilhosa! Nunca me imaginei com cabelo vermelho cereja, estou até parecendo mais nova. Você é o máximo! ― Fico tão feliz com a surpresa que só falto dar pulinhos pelo salão. Vou pagar e a facada é assustadora, assim como o susto que tomei quando me olhei no espelho, mas valeu cada centavo. Corro pra casa e resolvo me depilar sozinha, já que gastei quase meu salário mensal todo hoje. Só espero não me tornar um scarface das pernas. Demoro quase duas horas no banho, tomando todo o cuidado para não me m*****r, e lógico que não posso molhar o cabelo, afinal, é uma obra de arte o que Tiffany fez. Sento de frente ao espelho e uso meus truques de maquiagem. Bendito curso! É muito bom quando sabemos o que fazemos. Esfumo os olhos com sombra preta e uso bastante rímel, dando realce aos grandes olhos jabuticaba que tenho. Na boca opto por batom nude, e nas bochechas um blush pêssego. Estou pronta, só falta me vestir. Calço meu par de scarpins pretos da Carmem Steffens e coloco o vestido. Pego o celular e me espanto quando olho a hora. Como já passa das oito da noite, corro para a garagem do prédio e aciono a chave do meu Honda Civic preto, entro e dou a partida. Passo pela Paulista. Ah, como amo a Avenida Paulista à noite! Tão iluminada, com prédios glamorosos, como o MASP e o antigo banco Safra. O coquetel será em um dos prédios Blue TrueTowers, em um grande salão que há no subterrâneo. Chego rápido, pois a essa hora o trânsito é menos intenso, dou a chave do carro para o manobrista e pego o comprovante do estacionamento. Mal vou entrando e já me divirto com os olhares curiosos ao meu redor. De repente avisto um dos diretores da empresa em que trabalho, e quando me vê, não disfarça, me olhando como se me despisse, chego a corar de vergonha. É quando percebo o homem com quem conversa. Nunca o tinha visto antes, mas sua presença me tirou de órbita. Alto, moreno claro, olhos azuis como o oceano, um rosto torneado, quase quadrado, e dava pra ver que era forte. Tudo de bom! ― Nossa, Melissa, caprichou hein! Está linda! ― exclama meu diretor geral. ― Obrigada, senhor Foller. Mulheres precisam ser surpreendentes ― agradeço, não deixando transparecer que estou um pouco sem graça. Dou um sorriso discreto e olho na direção do deus grego, que para minha surpresa deixa que nossos olhares se cruzem. O senhor Foller faz as devidas apresentações: ― Senhor Levinski, essa é nossa RP, Melissa Navarro. E Melissa, este é o senhor Fernando Levinski, dono das indústrias Factor Corporate. Quando ele estendeu a mão para me cumprimentar, fui recíproca, e ambos levamos um choque. ― Opa! Já vi que é eletricidade pura, senhorita Navarro ― O deus grego fala, sem desviar seus olhos de mim. Sorrio desconcertada. ― Desculpe. ― Não precisa se desculpar Melissa, o senhor Levinski está acostumado a causar boa impressão entre as mulheres solteiras ― fala Foller, tentando me provocar. ― Não diz que estou impressionada, só me desculpei pelo choque ― respondo à altura, não deixando transparecer o que eu realmente sinto. Ele me olha com um ar de interrogação. ― Prazer em conhecê-lo, senhor Levinski ― cumprimento-o, e me dirigindo ao Foller, falo: ― Os senhores vão me desculpar, mas preciso circular e ver se tudo está sendo bem feito. ― Está vendo só, senhor Levinski? Nem nas folgas ou comemorações ela deixa de trabalhar― fala o exibido. ― Que bom! Isso demonstra que veste a camisa da empresa. Olho nos olhos do deus grego, e ao ser retribuída, saio de perto. Se continuasse ali, acabaria nos braços dele. Preciso respirar.
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