CAP. 1 - A TROCA

2344 Words
Wictoria Attenezi — O seu pai está generoso hoje! — mamãe entra animada no meu quarto, cinco minutos depois de eu acordar. — Qual é a generosidade dele, mãe? — pergunto, me espreguiçando, depois me sento na cama. — Algo que compense um ano de sacrifício da minha vida? — dou um sorriso sarcástico. — Você sabe nada pode compensar o que você está fazendo, querida! — ela senta na beirada da cama, e acaricia o meu rosto. — É muita gentileza da sua parte, se casar para salvar a empresa dele. — Não segundo ele! — respondo, então engrosso a voz, tentando imitar o meu pai falando, e faço gestos, semelhantes aos dele. — A empresa é da família, Wictoria! Se eu tenho que me sacrificar pela empresa, todos nós temos! E você é a herdeira! — vejo mamãe tentando segurar o riso, então me levanto rapidamente, fazendo mais imitações de papai. — Você tem que mostrar o seu compromisso com o futuro da empresa. Um ano não é nada! — enrugou a testa, mostrando as mãos espalmadas. — Teremos um investidor para o resto da vida, e esse será por mérito seu! O que me diz, filha? Coloco as mãos para trás, e inclino o meu corpo para a frente. Minha mãe não consegue mais segurar o riso, e a sua gargalhada explode, com ela jogando a cabeça para trás. — Achei que você estaria nervosa com o casamento. — ela diz, limpando as lágrimas, que o seu riso provocou, quando para de gargalhar. — Não tenho motivos para estar nervosa, mamãe. — falo carinhosamente, enquanto me aproximo dela, e me agacho na sua frente. — Já me precavi, para que ele não me toque, então, eu vou ficar bem! — sorrio, e ela acaricia meu rosto mais uma vez. — Mas você ainda não disse, qual é a generosidade de papai. — Vamos passar o dia num spa de luxo! — eu a olho boquiaberta, enquanto ela fica cada vez mais entusiasmada. — Até as maquiagens, serão feitas lá! Depois vamos para o atelier, onde nós duas seremos vestidas! — O que aconteceu com o Senhor Pão Duro? — pergunto, franzindo as minhas sobrancelhas. — Ele costuma sempre optar pelo que for mais barato… — Pelo que eu pude perceber, ele só quer agradecer, e te deixar mais calma. Ele disse ontem à noite, que estava realmente achando, que você estaria stressada hoje. — E foi por isso, que ele mandou você vir ao meu quarto, no horário em que eu costumo acordar, não é? — aperto sua mão suavemente, e sorrio. — Tem que parar de deixar que ele te manipule desse jeito, dona Aurora! — Ele não me manipula, meu amor. — ela me dá um sorriso largo. — Ah! É claro que não! — falo com sarcasmo. — Ele apenas faz com que você se preocupe, aponto de querer resolver os problemas dele comigo! Sempre! — termino de falar, me levanto, e começo a caminhar para o banheiro. — Querida… — Deixa isso pra lá, mãe! — eu a interrompo, parando e me virando para ela, com um sorriso. — Vamos para o spa de luxo, gastar o dinheiro do avarento! Se é que não foi o meu querido noivo, quem pagou por esse mimo, e o senhor Edoardo, apenas esteja usurpando da atitude alheia! Pisco um olho para ela, e entro no meu banheiro. Mamãe ainda está esperando quando eu saio, e já fez uma bolsa, para eu levar para o spa. Descemos para a sala de jantar, e tomamos juntas, o café da manhã, antes de sairmos. Papai passa por nós, enquanto ainda estamos à mesa, pega uma fruta, beija a minha testa e a testa de minha mãe, nos dando bom dia, e vai para o seu escritório, que mantém em casa, alegando que tem que checar se todos os preparativos para a festa, estão sendo feitos. Eu disse, desde o começo, que há necessidade de fazer uma festa, dadas as circunstâncias do casamento. Tanto que nem fiz uma lista de convidados. Na verdade, não fiz nada, em prol desse casamento! Ele e meu noivo, Pietro, fizeram tudo. Mamãe e eu, chegamos no spa, e nos surpreendemos! Luxo é pouco para descrever o lugar! E, mais uma vez, tenho uma séria desconfiança, de que não foi meu pai, quem pagou por tudo isso! Mas esse fato, não me impede de aproveitar o meu dia de rainha! Nossa! Banhos, massagens diversas, esfoliações, manicures… em algumas horas, pareço nem ter ossos! Um minuto melhor que o outro, aqui dentro! E tem até um almoço com todos os pratos que eu mais gosto! Tudo bem! Meu pai pode até ter programado esse dia, mas ele, com certeza, não pagou por nada disso! O casamento será às sete e meia da noite, então, começam a nos maquiar e pentear, por volta das quatro e meia da tarde. Às seis, com os cabelos e maquiagens prontas, a gerente do spa, vem pessoalmente, nos dizer que um táxi veio nos buscar, para nos levar para o atelier. Claro que isso foi uma surpresa pois, normalmente, meu pai deixaria que nós mesmas conseguíssemos um carro. Mas essa não foi a maior surpresa… — Desculpe, mas esse não é o meu vestido! Falo para a mulher, que coloca um vestido em cima da chaise longue, dentro da sala em que estou me trocando, e arrasta um manequim de rodinhas, com uma enorme anágua de armação. Ela olha para mim, depois para a etiqueta do vestido, e sai da sala, sem abrir a boca. Eu me aproximo do vestido, e passo os dedos sobre o tecido macio, que eu não quis escolher. Seria um desperdício por um mero teatrinho de um ano. Escolhi tecido e vestido muito mais simples. Esse é um vestido de princesa, e de muito bom gosto, por sinal. Talvez eu o escolhesse, se fosse para um casamento real. Nem que eu tivesse que fazer meu pai o engolir por goela abaixo. Rio baixinho, e ouço a porta se abrir. — Não gostou do vestido, senhorita? — ouço a voz da dona do atelier, atrás de mim. — É lindo! — sorrio ao me virar para ela. — Mas ele não é meu, madame. — Ah! — ela se aproxima sorrindo. — Ele é seu, sim! — ela me mostra a etiqueta presa no vestido, por um alfinete, com o meu nome. — Seu noivo pagou o upgrade há dois dias! Eu trabalhei dia e noite nele, para que ficasse pronto a tempo. — ela franze as sobrancelhas. — Não gostou? — Sim… — murmuro, também franzindo as sobrancelhas, me aproximando de minha bolsa. — mas ele não me disse nada! — pego meu celular. — Vou mandar uma mensagem para ele, perguntando. “ — Por que não me contou sobre as mudanças, Pietro?” “ — Não gostou?” — ele responde rapidamente. “ — Está tentando me seduzir com dinheiro? Não vai dar certo!” “ — Não! Eu apenas quis que você tivesse o melhor! Está fazendo muito, para uma pessoa tão jovem!” “ — Vou fingir que acredito em você! Continuamos sem sexo, e não será mais do que trezentos e sessenta e cinco dias!” Começo a abaixar o celular, mas ele vibra com uma nova mensagem. “ — Te vejo no altar?” Reviro os olhos, mas respondo. “ — Fazer o que, não é? Eu dei a minha palavra, então eu estarei lá.” — Podemos te ajudar a colocar o vestido? — a mais velha pergunta, com um sorriso indeciso. — Claro! Dou um sorriso simpático para ela, que alarga o seu sorriso, e vem em minha direção, com a anágua. Mamãe entra na sala, quando a senhora está começando a fechar os botões do meu vestido. — Como você está linda! — vejo seus olhos se encherem de lágrimas, olhando para mim. — Seu pai está se superando! — Não foi ele, mamãe! — digo suavemente, com um sorriso para ela. — Foi o Pietro. — aponto para as duas mulheres. — Elas disseram, e ele confirmou. — Não deixa de ser um gesto bonito! — ela seca o canto dos olhos delicadamente, para não borrar a maquiagem. — Sabe o que ele quer, mamãe! E ele não vai conseguir! Pelo menos, não comigo… — Tudo bem. — mamãe ri baixinho. — Seu pai acabou de me ligar. Parece que está com problemas de comunicação com o buffet, e me pediu para ir o ajudar. — Que tipo de problemas? — pergunto, franzindo as sobrancelhas. — Estão colocando mais pratos no cardápio, além de trocar o bolo, e as bebidas. E parece que a organização, está trocando a decoração. — Tem certeza de que não foi o Pietro e seus upgrades? — torço a boca em desagrado. — Acha que ele mexeu nisso também? — ela me pergunta, franzindo as sobrancelhas. — Pega meu celular, por favor? Vou perguntar para ele. Mamãe me entrega meu celular, e eu mando uma mensagem para ele. “ — Você também mexeu no cardápio e na decoração? Papai está pedindo para mamãe ir ajudar ele no salão de festas.” “ — Sim! Mas deixe que ela vá, e peça que dê a opinião dela, por favor.” Mais uma vez, a resposta é rápida. É como se ele estivesse esperando que eu entrasse em contato. Respondo apenas com um “ok”. — Ele está mudando as coisas e não avisou… — falo entregando o celular para a minha mãe, ainda com a expressão de poucos amigos. — pediu para você ir dar a sua opinião. — Ele só quer te agradar, querida! — mamãe me dá um sorriso, tentando me acalmar. — Talvez peça para levar as amantes para casa… — ela diz encolhendo os ombros. — Como se eu fosse me importar com isso! — falo baixo, revirando os olhos. — Meu táxi está esperando. Você vai ficar bem? — É claro, mamãe! — sorrio e pego a sua mão entre as minhas. — É só entrar no carro, depois na igreja e dizer sim. Vá ajudar o papai a lidar as loucuras, de última hora, de Pietro Brassanini. — faço expressão, e voz, dramáticas. Todas rimos. — Vai ficar tudo bem! — beijo o rosto de mamãe, a abraçando, e ela retribui. — Te vejo na igreja! Te amo, filha! — Também te amo! Há bastante botões no meu vestido, o que leva mais alguns minutos, para que todos sejam fechados. Quando saio da sala, há uma outra noiva saindo de uma sala, quase em frente à minha. Ela me olha intensamente e sorri. Mas seu sorriso me dá uma sensação horrível! Chega a me dar calafrios! Abaixo a cabeça e respiro fundo, tentando me livrar daquela sensação, mas me sinto nervosa. — Está tudo bem? — a dona do atelier me pergunta. — Sim. Respondo suavemente, firmando meu pensamento em minha mãe. Mesmo de longe, ela sempre consegue me acalmar. Peço um copo de água, para esperar que a noiva loira vá embora, pois não quero sair daqui em sua companhia. Quando digo que estou pronta, as duas mulheres que me ajudaram a me vestir, me ajudam a entrar no carro. Até a pequena viagem até a igreja, é bem tranquila, e o motorista sério, me ajuda a sair do carro, quando chegamos. Subo os poucos degraus, com a certeza de que meu pai está me esperando na porta, do lado de dentro, e vai me guiar até o altar. Mas assim que coloco pé para dentro da porta, um casal, segurando velas acesas, se posiciona um de cada lado meu. Penso que é mais uma modificação feita por Pietro, e continuo procurando pelo meu pai, mas percebo que não conheço ninguém à minha volta. Tudo bem! Eu não chequei a lista de convidados, mas custava ele e meu pai incluírem alguns dos meus amigos da escola e da academia? Olho para o altar, e percebo que não é Pietro ali me esperando. Com certo alívio, e muito irritada, entendo que o motorista me trouxe para a igreja errada, então me viro para a porta, mas há dois homens armados, bloqueando a passagem. — Armas? — pergunto surpresa, olhando para eles. — Dentro da igreja? É sério isso? Vou me virando, olhando para os presentes, que parecem não se abalar com os homens armados, mas sim, com a minha atitude, pois seus olhares são recriminados em minha direção. Volto a olhar para o altar, e o noivo começa a vir em minha direção. Aquele homem alto, de cabelos ondulados escuros, até a altura dos ombros, barba bem desenhada e curta… ele veio em minha direção, me dirigindo um olhar profundo. — O que está fazendo? — ele pergunta baixo, a sua voz é bem grave, e tão profunda quanto o seu olhar, que ele estreita levemente. — O motorista me trouxe para a igreja errada. — explico a situação, e lhe ofereço um sorriso. — Eu vou sair, antes que a sua noiva chegue. — começo a me virar para a porta, mas sinto a sua mão grande, apertar o meu pulso com força. Olho para ele para protestar, mas seu olhar me paralisa. — Você não vai a lugar nenhum, que não seja aquele altar, atrás de mim! — Mas… — sinto o sangue fugir do meu rosto, e engulo seco. — Vai caminhar até lá suavemente, repetir as promessas que o arcebispo disser, e vai afirmar que é de livre e espontânea vontade que está fazendo isso! — Me desculpe, mas eu tenho um noivo me esperando. — a minha voz é quase inaudível. — Está apaixonada? — ele usa um tom sarcástico. — Não, mas… — Então não há motivos para você querer sair correndo! — ele me interrompe. — Mas você não é o meu noivo… — Fo.da-se! — a sua voz é ainda mais severa. — Se você está aqui, vai se casar comigo!
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