A descoberta de Bella

2440 Words
Aconteceu um incidente estranho nos arredores de Forks, em uma cidade ainda menor que eu nem conseguia decorar o nome. Meu pai, como o honrado homem da lei que era, foi designado a investigar. - Eu preciso ir – Disse ele, já na porta de casa. – Os números de emergência estão na geladeira. Se precisar de mais dinheiro, sabe onde eu escondo, e caso aconteça qualquer coisa... - Pai, eu sei, você já me disse isso umas mil vezes – Falei, rindo. Sei que falei como se não quisesse mais ouvir nada, mas senti que não me incomodaria se ele falasse outras mil vezes. Sempre que repetia aquilo, eu via preocupação em seus olhos, e isso me fazia sentir protegida, e até mesmo um pouco querida. Minha mãe, por outro lado, me ligou apenas duas vezes desde que cheguei, há dois meses. Obrigado pela preocupação, mãe. - Eu só quero me certificar que você vai ficar bem – Meu pai falou. – As coisas andam muito estranhas ultimamente. - O que disse que aconteceu mesmo? – Perguntei. Não ouvi direito na primeira vez que ele mencionou, já que assim que ligaram avisando, ele teve de sair bem rápido e não pôde me explicar melhor. - Um homem foi achado morto não muito longe daqui. Parece que foi atacado por um animal, mas... - Mas? Ele sacudiu a cabeça, depois sorriu. - Não é nada. É só que é estranho um ataque assim. A maioria dos grandes animais foram extintos da área pelos nossos amigos índios muito tempo atrás. Hoje em dia você tem sorte se ver uma raposa na floresta. Ele afagou meu cabelo e beijou minha testa, mas eu pude notar que havia algo faltando ali. Meu pai parecia não querer me preocupar, pois embora ele estivesse indo garantir a segurança da população caçando o animal, ele também estava me deixando sozinha em casa. Eu era já adulta, mas acho que nenhum pai do mundo ficaria tranquilo sabendo que está deixando a filha sozinha perto de onde pessoas estavam morrendo. Dei um abraço nele e acenei enquanto ele partia. Tentei não pensar muito sobre isso, já que a direção para onde ele ia era no caminho da universidade. Ainda assim não consegui não me preocupar. Afinal, meu pai estava indo investigar uma morte, e acho que qualquer filha no mundo teria medo com o pai indo caçar um animal perigoso o bastante para m***r um homem. * * * Meu pai foi no sábado e voltaria na segunda. Pensei comigo mesma “veja, um fim de semana sem os pais em casa, vou convidar meus amigos e dar uma festa”, mas então lembrei que não tinha amigos. Claro, eu também não gostava de festas, mas eu precisava me entreter com minhas próprias piadas, já que não tinha ninguém lá para ouvi-las. As pessoas com quem mais gosto de conversar sequer existem. Gosto muito de ler, e não importa de fato qual tipo de livro seja. Gosto de dramas, ficção científica, suspense, romance e tudo mais. A história é importante, é claro, mas minha fraqueza é quanto aos personagens. Pensei em ir até a livraria, mas infelizmente Deus não estava indo com a minha cara e fez chover o domingo inteiro. Não era uma boa ideia sair na chuva em Forks, já que era tão frio que o chão congelava, e pneus desgastados e estrada lisa não era uma boa combinação. Foi um longo dia, e um daqueles bem chatos. Eu odiava a chuva, odiava o frio e não conhecia ninguém ali. A única coisa boa para mim em Forks era a oportunidade de estar mais próxima do meu pai. Obrigada, mamãe, obrigada querido padrasto, lembrem-me de mandar os dois para aquele lugar. E então, depois de muita chuva e de um bom tempo sem nada para fazer ou ler em casa, finalmente a segunda-feira chegou. Não estava exatamente ensolarado, mas eu sobreviveria. O dia mais quente em Forks era tão quente quanto o dia mais chuvoso e úmido em Phoenix. Meu arrumei para ir para a universidade, e minha esperança era de que minha querida abóbora derrapasse na pista de gelo, saísse da estrada e meu corpo só fosse encontrado vários dias depois, mas infelizmente eu tomei muito cuidado e cheguei lá sã e salva. Ou quase isso. Assim que estacionei, dei a volta na abóbora para ir até a entrada da universidade e vi um velho conhecido vindo na minha direção. Lembra-se do furgão preto do pessoal do time? Pois é, acho que ele me reconheceu e quis vir me abraçar. Princesinha estava ao volante, e vários membros do time estavam lá dentro. O excesso de peso em conjunto com a velocidade e a pista congelada fez o furgão derrapar e perder o controle. Saltei para o lado, escapando por pouco da batida, mas o infeliz acertou a minha pick-up, e fiquei surpreso de ela não ter virado purê de abóbora. Quando caí, bati com força no chão e tive dificuldades para levantar. - Ai, meu Deus! – Ouvi princesinha gritando, tentando desesperadamente tirar o cinto para sair do furgão. Sacudi a cabeça, um pouco tonta, depois senti alguém me ajudando a levantar. - Você está bem? – Alguém disso, mas nem consegui ver quem foi. Tive dificuldades de manter os olhos abertos, e então me ajudaram a andar até a enfermaria. O resultado foi que, quando eu pulei, meus incríveis reflexos ninja me fizeram dar com a cara no chão. Feri a testa, mas não foi nada demais, apesar de ter caído em cima do meu celular, que, veja só, foi destruído pelos meus incríveis e monstruosos 50 e poucos quilos. Fora isso eu estava bem, e minha abóbora saiu quase tão ilesa, tendo apenas alguns amassados na lateral, ao que parecia. Ainda assim, fizeram a gentileza de cobrir minha falta e me mandar embora, pois “ela precisa de um tempo para se recuperar do choque, melhor deixar ela ir para casa e ficar com os pais dela”. Como se eu fosse uma criança. Insistiram em ir comigo, mas eu já estava de saco cheio de tudo e todos, e depois de meia-hora, quando eu já estava me sentindo bem o bastante, bati a porta da minha abóbora com força e dirigi de volta para casa. Quiseram ligar para o meu pai, mas eu falei que não, que ele estava fazendo algo importante e eu não queria preocupá-lo. Princesinha tentou me pedir desculpas, mas eu não quis olhar na cara dele ou de qualquer outra pessoa naquele furgão. Eu não duvidava nada de eles estarem indo tão rápido assim por estarem chapados ou bêbados, o que já era de se esperar de uma universidade americana; o estereótipo dos membros do time que se drogavam, se achavam os maiorais, fodem as líderes de torcida loiras que só possuem 2 neurónios que deixavam em casa antes de sair e que só conseguem passar nas matérias importantes pela ajudinha do técnico com a falácia de “veja bem, professor, ele é um ótimo atleta e não pode ficar retido para não o atrapalhar nos esportes”. Eu me senti muito frustrada. Acho que não é muita arrogância minha dizer que eu não fui uma adolescente i****a nem estava sendo uma adulta que não saiu da adolescência. Em Phoenix, eu chamava poucas pessoas de amigos, e por eu não gostar de lugares agitados, não saía muito. Mesmo em um lugar onde o sol cuspia fogo dos céus o tempo todo, meu apelido era Branca de Neve. Afinal, ninguém fica bronzeado passando o dia todo dentro de um quarto fechado. Resumindo, amadureci bastante por ficar sempre sozinha, e estar sozinha parecia ser a melhor companhia que eu poderia ter. Mas Deus ainda estava chateado comigo, e, para completar meu dia, CRAC, ouvi um ruído metálico e o pneu da abóbora saiu voando, deixando o eixo solto e deslizando no asfalto. Tirei o pé do acelerador, mas fiquei tão assustada que não consegui me lembrar de pisar no freio. O eixo riscou alguns metros de asfalto, e o atrito me fez parar. Quando tudo se acalmou, consegui abrir os olhos e agradeci a Deus que eu estava de cinto. Saí do carro com as pernas bambas e fui olhar o estrago. Amaldiçoei princesinha silenciosamente quando vi que a roda que se soltou foi justamente a roda onde ele bateu com o furgão. Olhei de um lado para outro e suspirei. Estava no meio da estrada, não muito longe da universidade. Era uma distância de 2 milhas até em casa, mas eu não estava a fim de andar isso tudo e deixar minha abóbora para trás. O caminho era praticamente uma séria de curvas dentro da floresta, e praticamente só levava da cidade para a universidade e vice-versa. Ninguém passava por lá, a não ser que fosse para a universidade, e no horário do meio da manhã, absolutamente ninguém transitava por ali. Olhei para o céu, para além das grossas nuvens, e pensei comigo mesmo o que eu fiz para ofender tanto o cara lá de cima. Eu realmente não queria ir andando até em casa, mas também não estava nada a fim de voltar para a universidade. Minha única opção era me sentar e esperar as aulas acabarem e alguém passar por ali para me emprestar um celular, já que o meu estava quebrado. Tudo o que eu queria era um reboque ou o caminhão de um feirante para levar minha querida abóbora para um mecânico. Fiquei algum tempo lá, olhando para as árvores idênticas que me cercavam. Não tinha muito o que eu poderia fazer enquanto esperava, e então eu decidi procurar a roda que tinha se soltado. Eu não ia rápido quando aquela porcaria se soltou, mas era a d***a de um pneu, provavelmente tinha rodado para longe. Fui até a beira da estrada e comecei a vasculhar o lugar. Tive sorte, e não demorei muito para encontrar. Estava não muito dentro da mata, mas quando fui até lá para buscar, ouvi um som alto, como um longo lamento. Meu corpo congelou por um segundo, mas eu era desgraçadamente curiosa e me esgueirei um pouco mais à frente para olhar. Quando me aproximei do som, vi um cervo preso em uma armadilha. Uma de suas pernas estava amarrada, como se ele tivesse pisado na clássica armadilha com corda que lhe suspendia pelos pés e te deixava pendurado. Olhei para os lados, procurando qualquer sinal de um caçador, mas não havia ninguém ali. Andei até o cervo devagar, tentando não assustá-lo. Não sei bem o que passava na minha cabeça na hora, mas eu queria soltar o bicho. Quando me aproximei o bastante, vi ele ficar agitado, tentando inutilmente correr, mas consegui acalmá-lo um pouco, pelo menos o bastante para chegar na sua pata presa. Não seria fácil desatar aquele nó, principalmente com o cervo agitado, então voltei para a abóbora para pegar uma tesoura que eu tinha certeza que estava no porta-luvas – claro, aproveitando para levar o pneu que encontrei. Peguei a tesoura e voltei ao cervo, mas ouvi seu grito quando estava na metade do caminho. Foi diferente desta vez, um berro alto, desesperado, como se algo ainda mais sério tivesse acontecido. E então veio o silêncio. As árvores ao meu redor pareciam sussurrar alguma coisa para mim quando o vento soprou suas folhas, e um calafrio percorreu toda a minha espinha. Então, como se algo estivesse me procurando, ouvi um ruído mais à frente. Corri e me escondi atrás de uma árvore, abraçando a tesoura como se ela fosse o amor da minha vida. Infelizmente, estando longe da vista do que quer que fosse aquela coisa, eu também não conseguia vê-la. A imagem na minha mente era a coisa que matou o homem que meu pai me disse. Presas, garras e sangue eram as únicas coisas que eu conseguia imaginar. O som de passos surgiu e começou a se aproximar, e senti umidade na minha testa. Percebi que meu acidente com a abóbora abriu meu ferimento, e sangue agora escorria da minha testa. O cheiro deveria estar atraindo a coisa, pois mais e mais eu ouvia seus passos chegando perto. E então parou, mas parou muito perto de mim, logo atrás da árvore onde eu me escondia. Ouvi sua respiração forte e pesada. Ouvi ele inspirar fundo, farejando-me, e então deu mais um passo. Ele não devia estar nem mesmo a um metro de distância de mim, e esse pensamento fez meu coração palpitar. Apertei a tesoura com força e respirei fundo, pronta para fazer a única coisa que eu poderia fazer. Quando a coisa deu mais um passo, eu me virei e a ataquei com a tesoura. Foi apenas um segundo, mas pareceu durar bem mais. Olhei nos olhos dele e vi um tom vermelho indescritível em suas íris. Foi só um segundo depois que percebi que não era uma fera ou animal, era um cara. Ele parecia ter a minha idade, se vestia como qualquer um se vestiria no frio e tinha a pele bem pálida. Dei dois passos para trás, assustada com a tesoura cravada em seu peito, como se não tivesse sido eu quem a tivesse a enfiado nele. Por um segundo, fiquei apavorara, pensando que eu tinha matado ele, mas não foi o que aconteceu. Ele olhou para a tesoura, depois a arrancou e olhou para mim. Seus olhos estavam mudados, castanho-claros, em um tom mais real que o vermelho de antes. Ele deu um passo à frente, encarando-me, mas então parou. - Esqueça o que viu aqui – Disse ele, e deu dois passos para trás, ainda me olhando. Fiquei paralisada, sem saber o que fazer ou dizer, até que ouvi um grito atrás de mim, na estrada. - Srta. Swan! – Ouvi chamarem. Eu me virei por instinto na direção do grito, e quando olhei de novo para a frente, o cara tinha sumido. No chão estava a tesoura, mas não havia uma gota de sangue nela. Olhei ao redor, imaginando se eu estava tendo alucinações ou se estava ficando louca. - Srta. Swan! – Ouvi novamente o grito. Eu me abaixei para pegar a tesoura e voltei correndo para a estrada. Quem estava gritando era o diretor da universidade, e, assim que me viu, ele correu até mim. - Srta. Swan – Disse ele novamente, olhando para o sangue na minha testa. – O que aconteceu? Está tudo bem? Quis respondê-lo, mas não consegui formar palavras. Olhei novamente para trás, para a floresta, e me perguntei o que diabos tinha acabado de acontecer.
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