A vida universitária de Bella

3260 Words
Jacob estudou no colégio da reserva indígena de Forks, e acho que a tradição de sua tribo não permitia que ele fosse para uma faculdade de verdade ou qualquer m***a assim. Ele era pardo, tinha cabelo grande e era abobalhado. Sua família era nativo-americana, mas eram os famosos “índios de shorts adidas”, que não ligavam tanto para as antigas tradições. Com isso eu quero dizer que eles não passavam as noites contando as histórias dos antigos espíritos de seus antepassados enquanto fumavam um cachimbo em volta de uma fogueira, mas, sim, que tinham TV, cerveja e sofá para ver filmes à noite. Nada de caçar búfalos com arcos ou tirar escalpo dos caras-pálidas. Se por um lado era bom manter distância de um palerma que estava apaixonado por mim desde que pus os pés em Forks pela primeira vez, por outro seria um saco não conhecer ninguém na faculdade. A cidade era bem pequena, e dificilmente alguém se mudaria para lá para estudar. Todos se conheciam, e eu era a intrusa. Eu tinha que me lembrar de anotar isso na minha lista de coisas que minha mãe fez para estragar a minha vida. Como já era de se esperar, a primeira coisa que odiei em Forks foi o clima. Estava tão frio que a estrada congelou. Levei o dobro do tempo para chegar na universidade do que levaria se não precisasse dirigir como uma velha de 80 anos por causa do gelo. E cá estamos. “University of Washington”, localizada praticamente fora da cidade. A nona maravilha do mundo, depois do King Kong. Estacionei ao lado de um furgão preto com miçangas coloridas penduradas na porta lateral do lado de dentro. Universidade, jovens, maconha, faz sentido. Olhei ao redor. Muitas pessoas, e nenhum rosto com o qual eu quisesse fazer amizade. Li em algum lugar que “o m*l da adolescência é o próprio adolescente”, mas bem pior que isso é a fase em que o jovem se acha dono da própria vida e se torna arrogante e cheio de si. Quanto mais eu olhava aquelas pessoas passando, mais via casacos do time, cabelos cheios de gel, celulares do ano, p****s claramente com enchimentos e sorrisos falsos com direito a jogada de cabelo para o lado. Antes mesmo de pisar o pé fora da minha maravilhosa pick-up abóbora, senti vontade de dar meia-volta e desistir de tudo. Quanto de gasolina será que eu precisaria para fazer o caminho de volta à Phoenix de carro? Bati a porta do carro com força quando saí, talvez descontando um pouco da minha frustração nele. Desculpe, abóbora. Eu nunca fui muito o tipo de garota que conhecia de moda, e por isso estava vestindo o que me parecia mais confortável, sem ligar muito para a aparência. Eu me arrependi quase em tempo recorde, já que todo mundo por quem eu passava me olhava e começava a rir. Posso estar paranoica, todos ali estavam rindo, mas de uma forma estranhamente desconfortável parecia que todos riam de mim. O primeiro dia de aula foi realmente maravilhoso. Eu estava fazendo ciências biológicas, mas a universidade forçava todas as turmas participassem de atividades esportivas por exigência do ministério de saúdo em prol do combate a obesidade, pois os americanos são o povo com maior índice de obesidade e blá, blá, blá. Bom, não preciso dizer que ninguém gostava disso. Usar um shortinho de ginástica e uma blusinha colada para jogar vôlei antes das 10 da manhã não era exatamente o passatempo ideal para quem vivia em um lugar frio, principalmente se você estivesse acostumado com o calor. Nem preciso dizer que sou um desastre em qualquer esporte que tenha uma bola. Também sou um desastre em qualquer esporta que não tenha uma bola. Meus braços eram finos como um cabo de vassoura, eles realmente esperavam que eu e meus 1,65m conseguíssemos jogar uma bola de vôlei por cima da rede? Logo na minha primeira rebatida, eu fiz a bola voar para fora da quadra. Cidade pequena, universidade pequena, quadra pequena, espaço pequeno. Quero dizer que haviam 3 quadras de vôlei improvisadas dentro do ginásio, e consegui a proeza de logo de cara acertar um cara bem no rosto. Nem preciso dizer que ele caiu na hora. As pessoas costumam subestimar o peso de uma bola daquelas. - Meu Deus, eu sinto muito – Falei, levantando as mãos como se pudesse reverter o tempo com isso. - Ain... Está tudo bem – Disse ele. Curiosidade inútil do dia. Uma bola de vôlei tem aproximadamente de 260 a 280 gramas, e a pressão interna faz com que ela seja rígida para quicar fácil. Velocidade vezes aceleração é igual à força. Foi como dar um soco na cara dele. Não, ele não estava bem, mas que homem diz que não está quando uma garota está olhando? - Eu realmente sinto muito – Falei, ainda sem saber direito o que fazer depois de derrubar um cara com uma bolada. - Mike! – Uma garota loira gritou e veio desesperadamente até ele. – Oh, meu Deus. Mike, você está bem? Ela se abaixou ao lado dele, olhando a marca vermelha em seu rosto. - Amor, calma. Eu tô legal – Disse ele, ainda fazendo uma careta. A garota olhou f**o para mim, e eu soube que tinha feito uma inimiga. Parabéns, Bella, conquista adquirida: rival loira desbloqueada. - Olha, me desculpe mesmo, eu falei para não me colocarem para jogar – Comentei, já andado para trás para me livrar daquela situação constrangedora. - Está tudo bem, é sério – Disse ele, sorrindo para mim. A garota olhou f**o para ele, depois ele se levantou e começou a conversar com ela algo que eu já estava longe demais para ouvir. No vestiário, depois do jogo, a garota me encarou algumas vezes, e reparei que não era para o meu belo sorriso que ela olhava. Eu me virei e cobri meus s***s, como se estivesse protegendo os meus bebês dela. Eu não era exatamente uma modelo famosa com mais plástico que carne no corpo, mas também não tinha chegado atrasada na fila de distribuição de p****s. A loirinha estava me analisando, como se estivesse calculando a possibilidade de o namorado trocá-la por mim. Não sei se ela tinha algum problema ou se era só uma garota mimadinha. Já era absurdo a ideia de uma criança gorda com asas fazer alguém amar outra pessoa com uma flechada no coração, mas conquistar um completo desconhecido com uma bolada na cara? Tenho certeza de que ela não precisava ter ciúmes, e tive mais certeza ainda que o ciúme desnecessário dela me traria muita dor de cabeça. Depois disso veio minha incrível aventura no refeitório. E como foi interessante. Além de exercícios obrigatórios, tínhamos uma dieta balanceada, e isso queria dizer um delicioso prato de purê de batata, ervilhas e brócolis, e de sobremesa um pote de pudim de baixo teor de açúcar. Era tudo o que eu queria, comida saudável e sem gosto e um doce que não era doce. Por Deus, é a América! Onde estão os lanches à venda? Os hambúrgueres? Os milk-shakes? Os anéis de cebola? As fritas? Eu me isolei no canto mais remoto do refeitório. A última coisa que eu queria era chamar atenção. E adivinha o que aconteceu? Chamei atenção. Eu estava de costas para todos, já que não queria ver ninguém, e foi quando senti alguém tocando meu ombro. - Com licença, poderia sentar em outro lugar? Olhei para trás, vendo um asiático com uma câmera. Coreano, chinês, japonês, filhodaputonês, sei lá. Eu nunca conseguir diferenciar os povos asiáticos. - Por quê? – Perguntei, mais para saber do que como um protesto. Se havia pessoas indo ali, não era um lugar onde eu queria estar. - Eu sou do jornal da universidade, preciso tirar as fotos do pessoal do time para uma matéria. Olhei para além dele e vi um grupo de garotos com o casaco do time. Com eles estavam algumas garotas, provavelmente as líderes de torcida que chupavam as bolas deles depois dos jogos. Dei de ombros e levantei da mesa levando a minha bandeja. - Desculpe – Disse o asiático, e sua sinceridade foi tão grande que ele m*l esperou eu sair para organizar o time para tirar as fotos. Sentei um pouco mais distante, na única outra mesa vaga do refeitório, e fiquei olhando a mesa dos atletas. Eu realmente não me importava nem um pouco com eles, mas era difícil não ter sua atenção roubada por algo tão barulhento. Percebi que eles não sentavam isolados por serem os atletas do lugar, os outros que se isolavam deles por não suportarem a bagunça que eles faziam. Na mesa estava o cara que eu quase matei e a namorada dele. Eu me peguei rindo, um cara que era derrubado por uma bolada de uma garota franguinha como eu estava no mesmo time de futebol-americano que um bando de brutamontes. Ele era loirinho, de pele clara, com tanta cara de princesinha que seria a mascote do time da penitenciária fácil, fácil, se posse preso. Devia estar no time porque era o cara que cuidava do equipamento e era o motorista deles por ter um carro grande o bastante para o time todo. Provavelmente o furgão preto que vi mais cedo era dele, já vi acontecer antes. Clássico dos filmes adolescentes. O asiático estava entrevistando eles. “Quais são suas expectativas para os jogos desta temporada, princesinha?”, imaginei o asiático perguntando ao loiro. “Oh, espero agarrar muitas bolas”, imaginei o princesinha respondendo. Eu me peguei rindo, e achei a brincadeira divertida. Continuei olhando, entretendo a mim mesmo da forma mais estúpida e retardada possível. Um cara n***o colocou o braço sobre os ombros de princesinha e começou a bagunçar o cabelo dele, e todos na mesa riram. “Princesinha ganhou o prêmio boquinha de mel três anos seguidos no campeonato do vestiário masculino”, imaginei o cara n***o dizendo. “É, eu sempre cuido das bolas do time depois dos jogos. Bolas grandes e suadas”, imaginei princesinha respondendo. Ri feito uma retardada, e tive que cobrir a boca para ninguém perceber. Até que não tinha sido um dia completamente chato. E logo na aula seguinte, como se Deus tivesse escutado meus pensamentos, planárias. Tive uma longa e chata aula sobre as planárias. Desculpe, Deus, vou me comportar melhor da próxima vez. * * * Quinta-feira, metade da semana, e meu pai insistiu para que almoçássemos juntos no Carver Café, onde uma velha amiga do meu pai trabalhava, a Cora. E digo “almoço” apenas para chamar assim. Hambúrguer e batata frita, um bom complemento para dieta balanceada da universidade. Viva a América! Charlie era uma boa pessoa, mas não era exatamente o pai que toda garota queria ter. Vez ou outra ele tentava conversar comigo, mas tudo parecia ser uma conversa roteirizada de um cara que, se não fosse meu pai, eu diria que quer me comer, mas não sabe como me conquistar. Com o tempo isso ficou cada vez mais chato, até que passou a ser irritante. Ele realmente esperava que eu simplesmente fosse cair nos braços dele e esquecesse todos os anos que ele negligenciou como pai? - Ainda não estou conformado com o quanto você cresceu – Disse Charlie, como se não tivesse outro assunto para puxar. - É isso que acontece quando se passa anos sem ver uma pessoa. Elas mudam. Não olhei para ele quando falei isso, mas sei que ele ficou magoado. E para ser sincera, que bom que ficou. - Você sabe que eu não queria que tivesse sido assim, querida – Disse ele, tentando se justificar. - Oh, claro que sei. É tudo por causa do divórcio. A mamãe ficou com a minha guarda, com a casa, com o dinheiro e você ficou com seu trabalho de manter a ordem e a paz em uma cidadezinha do condado de Clallam. Eu entendo perfeitamente, pai, mas a pequena Isabella Swan de 10 anos que não pôde visitar o pai ficou se perguntando por que o pai não foi visitá-la naquele verão ou em qualquer outro verão até hoje. - Bella, eu... - Sim, eu sei, o crime não tira férias, e o xerife da cidade mais violenta e cheias de crimes do país também não. É uma pena que não existe qualquer outra pessoa na cidade que pudesse ficar no seu lugar por alguns dias. É uma pena também que a conta de telefone aqui seja tão cara que você não possa fazer sequer uma ligação por mês. Charlie abaixou a cabeça, derrotado. Suspirei, vendo que ele nem mesmo se dava ao trabalha de insistir em mim. - Perdi a fome – Falei, levantando e deixando metade do hambúrguer no prato. Ele nem tentou me impedir, não disse sequer uma palavra. Bem, pelo que eu podia ver, eu realmente não era tão importante para ele. - Bella, já está indo? – Disse Cora, a dona, parando-me na metade do caminho até a porta. - Sim, o meu pai vai pagar a conta. - Não vai querer a sobremesa? - Não pedimos sobremesa – Afirmei. - Por conta da casa. Charlie é um cliente fiel, e não é todo dia que a minha pequena Isabella vem para a cidade. Olhei para a bandeja que ela segurava. - Isso é... – Falei, interrompendo-me na metade da frase. - Bolo de frutas, o seu preferido – Disse ela, sorrindo. - Seu pai vem aqui toda quinta-feira e pede sempre a mesma coisa. Eu sempre pergunto “o que vai querer hoje, Charlie?”, e ele sempre responde “bolo de frutas, por favor”, e então ele abre um sorriso e olha para a foto que leva na carteira, depois sempre me paga adiantado. Fiquei sem palavras. - Bem, eu posso embrulhar para a viagem, se você quiser – Disse ela, ainda sorrindo. - Não, eu... Eu vou comer aqui mesmo. Ela assentiu e foi até a mesa, deixando as duas fatias de bolo. Charlie estava com o olhar voltado para a mesa, pesaroso, claramente sentindo o peso da culpa. Tal pai, tal filha, pois eu também me sentia igual. Levei um tempo para tomar coragem e voltar até ele. - Pai – Falei. - Bella? Bom... Algum problema com o carro? Havia todos os problemas do mundo com o carro, mas isso não vinha ao caso. - Não, eu só... Só queria dizer que sinto muito pelo que eu disse. Eu sei que não é culpa sua. Desculpe, pai... Ele suspirou, voltando a olhar para a mesa. - Não precisa se desculpar. Você está certa, eu fui um péssimo pai para você. Olhei para o bolo e sorri de leve. - Posso me sentar? – Perguntei. - À vontade. Fiquei imaginando se ele achou que voltei só por que vi o bolo, mas concluí que ele não pensaria algo assim. - Cora disse que você vem aqui toda semana – Comentei, pegando um pedado do bolo com o garfo e levando até a boca. Estava delicioso. - Sim, eu acho que criei esse hábito. - Por que sempre pede bolo de frutas? Ele me olhou e sorriu de leve, um pouco constrangido. - Eu detesto bolo de frutas – Disse ele, e isso me pegou completamente de surpresa. – Mas gosto das memórias que ele me traz. Você pode não se lembrar, mas quinta era meu dia de folga antes de eu decidir trabalhar a semana inteira. Eu sempre trazia você aqui e você sempre pedia a mesma coisa. Enquanto as outras crianças pediam bolo de chocolate, o de frutas era o seu bolo favorito. Eu sempre peço porque me faz lembrar de você Belo golpe... - Pai... - Bella, por favor, me deixe falar. Eu sei que fui um pai ausente esse tempo todo, e mesmo agora não sei como devo agir. Perdi toda a sua adolescência, perdi o seu crescimento, e não tenho como voltar atrás. Sei que não posso mudar o que já foi feito, mas posso tentar fazer as coisas darem certo daqui para a frente. Eu nunca deixei de pensar em você, nunca deixei de pensar em te visitar, mas as coisas não foram fáceis para mim. Sou um homem da lei, atuo tanto em Forks como em todo o condado e tenho... Deveres maiores aqui, mais coisa que posso contar... Isso acabou me fazendo negligenciar o meu dever com você, e quero que saiba que sinto muito. Ele fez uma pausa, olhando para o bolo de frutas como se não conseguisse ou não tivesse o direito de me olhar nos olhos. - A verdade é que eu tinha vergonha de ver você, depois de tudo. Dediquei toda a minha vida ao meu trabalho, e foi por isso que sua mãe me deixou. Eu só quis ser um bom marido para ela, mas foi justamente isso que me fez perdê-la. Com você foi igual. Eu não tinha nada para te oferecer, não tinha tempo o bastante para você, não tinha nem mesmo coragem de ir até você sabendo que seu novo pai é famoso e pode te dar tudo o que você quer. Eu fui um fracasso como marido e estou sendo um fracasso como pai. Isso me doeu muito, e ainda dói admitir, então achei melhor me afastar, deixar você livre. Ele me amava, sempre me amou, e mesmo que eu já soubesse disso, ouvir de sua voz mexeu comigo. Tudo o que ele quis foi ser um bom pai, e agora eu estava fazendo ele se sentir o pior pai do mundo. Muito bom, Isabella. - Eu não culpo você de verdade – Falei, tão baixo que m*l ouvi minha própria voz. – Phil pode ser o marido da minha mãe, mas não é o meu pai. - Ele seria um pai bem melhor que eu – Disse ele, rindo um pouco sem graça. – Afinal, ele tem dinheiro, sucesso e uma rebatida incrível. Ele é uma boa pessoa. Sem falar que sem ele o time não é nada. - Mas ele não é você. Charlie sorriu, esfregando o canto do olho como se quisesse esconder que estava emocionado. - Está tentando me animar. Ele te mandou para estudar em uma boa universidade e está cobrindo todas as suas despesas. Eu sou o cara que te deu uma lata-velha caindo aos pedaços de presente. Eu ri daquilo, mais do que normalmente riria. - Eu não trocaria aquela abóbora enferrujada nem por todas as ferraris do mundo. Ele ficou constrangido, tímido, e finalmente deixou escorrer uma lágrima. Ficamos em um silêncio constrangedor enquanto comíamos, mas era algo bom, pois era um momento em que palavras não precisavam ser ditas. Quando Cora veio para recolher os pratos, meu pai tirou a carteiro do bolso para pagar a conta. Quando ele entregou a nota para ela, assim que ela virou de costas, segurei a mão dele. Lá estava ela, a foto que Cora falou. Era uma foto minha de quando eu tinha 8 ou 9 anos. Eu estava nos braços do meu pai, gargalhando porque ele arranhava meu rosto com seu bigode enquanto me beijava. As memórias voltarem, e não consegui segurar meu sorriso. Segurei a mão de Charlie, do meu pai, e percebi que pela primeira vez desde que cheguei a Forks, havia alguém especial ali para mim. Olhei de relance para Cora, que sorriu de volta, rindo com satisfação. Obrigada, Cora.
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