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2996 Words
Manhattan, Nova York; Dias atuais E pra variar Mark me chamava pela quarta vez em sua sala naquele dia, e não era nem meio dia ainda. - Sim Mark; já estou aqui – disse com as mãos cheias de papeis, enquanto fechava a porta com um dos pés. - Savana; preciso que mande um e-mail pra filial em Massachusetts. Eles disseram que não receberam o e-mail de contrato com Adidas. - Mas enviei ontem – disse de modo, explicativa. - Bem – disse ajeitando os óculos e subindo a vista para mim, que ate o momento estava em seu computador – parece que eles não receberam. - Tudo bem. Irei enviar e-mail, fax e ligarei para o responsável de lá. Aqui estão ás três edições que você me pediu; 1990; 1999 e 2003. - Ótimo! Fiz um sinal de licença com a cabeça, mas ele não viu, estava concentrado demais com o trabalho, saí pela porta de fininho para não incomodá-lo. - Ele ama mesmo você hein?! – disse Jerry sarcasticamente, com aquele sorriso insinuante que deixaria qualquer garota aos seus pés; bem quase todas. Ele tentara varias vezes sair comigo, e a única coisa que conseguiu foi que eu aceitasse seu convite para a festa da empresa, o que pra mim estava de bom tamanho. - O que posso fazer – disse aproximando-me de seu ouvido e falando baixinho – sou irresistível. - E como... – respondeu ele de uma forma nada convidativa, seus olhos diziam algo que não conseguia decifrar. - Eu só vos digo uma coisa – disse Kori intrometidamente – queria que ele me chamasse mais vezes na sala dele. - Meu Deus, Kori – adverti sentando a cadeira, que por sinal ficava ao lado da mesa dela. - O que foi? – indagou de forma incrédula, como se o que tivesse dito, não fosse nada de mais – apesar de ter um pouco mais que minha idade – fiz uma careta para ela, apesar de não ser tão velha, Kori usava um tom loiro que fazia questão de retocar sempre, para deixá-lo brilhante e chamativo, e isso acabava com sua beleza, era branca demais para usar um tom claro daqueles – nem venha – disse recolhendo uma papelada – ele é bem charmoso, aqueles fios grisalhos começando a aparecer, aquele jeito durão, o modo sexy que ele fica quando tira o terno e fica só com o colete – mordeu os lábios e continuou – pago vinte dólares para saber qual seu segredo para passar mais tempo na sala dele, do que na sua mesa. - Talvez – disse rodando a cadeira para ficar em frente ao computador – eu só faça meu trabalho e não perca meu tempo, tentando conquistar meu chefe casado. Jerry riu baixinho do comentário e levou uma canetada, das mãos hábeis dela. - Bem – disse ela ajeitando o decote e puxando a saia que estava um pouco amarrotada – se me derem licença, irei entregar esses formulários para meu querido chefe. Kori saiu rebolando e bateu na porta, Mark a respondeu e ao entrar ela virou-se e deu uma piscadela. - Olha isso – disse rindo para Jerry, que virou sua cadeira para assistir á mais uma cena de Kori, dando em cima do chefe. Era sexta-feira, e desde o começo da semana, sem contar ás vezes que ela foi á sala de reuniões com algum pretexto para vê-lo, ela se fez presente ao lado dele, exatamente vinte e cinco vezes. Não entendia direito o que ela queria com ele, mas numa coisa ela tinha razão; Mark era mesmo um homem interessante e instigante, tenha lá seus charmes, era rico e muito bem sucedido, mas principalmente, era casado e tinha um lindo casal de gêmeos, que acabara de nascer. Continuamos a assistir ao show de Kori; ela usava uma blusa tão justa e decotada, que podia ouvir praticamente o choro dos botões dizendo “socorro, nos ajude, vamos explodir”. Ela ficou bem encostada em seu ombro, fazia questão de se esfregar nele; Mark parecia mais concentrado no que ele tinha a dizer e não nas suas roupas, vendo que ela nãotinha nada a dizer; ele fez um gesto para que saísse, ela até tentou fisgar sua atenção com sua “rebolada fatal”, mas de nada adiantou, ele continuou fitando os papeis á sua frente. - Viram?! – indagou chegando perto de minha mesa e jogando-se em cima dela, fazendo seus enormes silicones quase saltarem na minha cara. - Sim. Vimos o baita fora que ele lhe deu; mais um fora na verdade. Jerry não se conteve diante do próprio comentário e caiu na gargalhada, tentei me segurar, mas a injuria já havia tomado conta do rosto de Kori. - Tudo bem – disse ajeitando-se em sua cadeira – só por conta desse seu comentário m*****o, senhor Jerry, o almoço hoje é por sua conta. Jerry fitou-a com ar incrédulo, mas Kori não viu. Soltei um risinho, enquanto terminava de enviar o e-mail que Mark havia pedido. Depois de enviar e-mail, fax e fazer uma ligação rápida, mandei um e-mail para Mark, confirmando que tinham recebido a mensagem com sucesso. Faltando pouco para a hora do almoço, Mark sai de sua sala com o terno no ombro, e para ao lado de Kori. - Senhorita Sherman – disse com uma voz grossa. - Sim Sr. Williams – respondeu com uma voz sedosa, como quem quer amenizar algo de errado que fez. - Esqueceu sua caneta – disse colocando em sua mesa, antes de dar-lhe as cotas e sair. Olhei para Jerry por um breve momento e tentei conter o riso, mas escapuliram algumas risadinhas. - Ele com certeza esta na sua – disse Jerry. - Cale a boca e vamos logo almoçar – respondeu m*l humorada. Decidimos deixá-la ir á nossa frente, não queríamos correr o risco de que nos pegasse ainda rindo da situação. Seguimos para uma parte mais afastada do centro. Pegamos um taxi e fizemos o contorno no bairro Chelsea, que por sinal era onde morava. Demos as “coordenadas” para o taxista, que uns vinte minutos depois, parou o carro e o taxímetro marcava doze dólares. Descemos e demos de cara com a placa do Hell's Kitchen, o melhor restaurante da cidade na minha opnião e na de Jerry; Kori preferia os mais caros, aqueles que servem uma porção que é menor que uma colher de chá e cobram os olhos da cara. - Vou querer uma salada com alcachofra e brócolis, acompanhada de vinho branco – respondeu Kori pro garçon. - Vou querer o sempre Albert – respondi pro garçom, que era o que sempre me atendia. - Pra mim, um bife ao molho com aspargos e um sucode groselha – disse Jerry. Albert recolheu os cardapios e deu um sorriso rapido e uma piscadelo, que não passou desapercebido. - O que foi aquilo? – indagou Kori, insinuosamente. - Um garçom anotando pedidos?! – tentei desviar a atenção dela. - Sei... se todo garçom atendesse as clientes desse jeito, esse lugar seria o alvo da mulherada – disse ela seguindo o garçom com os olhos ate a cozinha. Jerry permaneceu calado, parecia desconfortável. Sabia que ele era afim de mim, desde quando entrei no New York Times. Ele sempre fora muito prestativo, sempre se oferencendo para ajudar. Sempre deixou claro que queria algo muito alem de amizade. Jerry era um cara muito atraente; ele era alto, corpo atlético, não tinha musculos muito definidos, mas quando não estava de terno no trabalho, ele fazia questão de exibir sua boa forma com camisetas justas; tinha olhos escuros, cabelos negros que pendiam um pouco na testa, seu sorriso era totalmente perfeito, apesar de ele ter me contado que usara aparelho em toda sua infancia e adolescencia. Ele era o homem perfeito, o homem que toda mulher teria o prazer de ter como marido. Ele tentara de todas as formas chamar minha atenção, mas algo em mim não deixava que ele chegasse perto demais da barreira que criei em torno dos meus sentimentos. Houve uma epoca em que saí com alguns caras, mas não passou disso, primeiro porque não me sentia muito a vontade para dar um passo á mais na relação, e segundo por conta da criação que minha tia me dera. Passei a morar com ela em Nova York ainda criança, logo após a morte de minha mãe, que até hoje não consegui uma explicação eficaz e verossímia do porque de ter acontecido. Papai nunca me dissera muito sobre, e como sabia que isso o deixava triste, a cada vez que ele ligava falava menos no assunto, até chegar ao ponto de nem mais mencionar algo sobre isso. Algo na morte dela, abalou meus sentimentos, abalou minha estrutura emocional, por mais que eu tentasse, não conseguia; não conseguia amar um homem de verdade, não conseguia nutrir um sentimento mais forte que atração física por eles, era como se eles não tivessem o que eu precisava. - Então Savana? – indagou Jerry sobre algo que não prestara atenção. - Desculpa, pode repetir o que disse? - Estava falando sobre a promoção – disse ele – ouvi boatos de que ele vai promover o Rooby. Ele conseguiu fechar contrato com Adidas no final do ano passado. - E acha que isso é o suficiente para ele conseguir?! – exclamou Kori. - Bem, não queria que fosse, mas é – respondeu Jerry com desdem e indignação – trabalhei tanto naquele projeto da Microsoft, quase consegui um furo com o co-diretor e dono de 12% da empresa, mas Mark resolveu me enviar para aquele fim de mundo do Saara de leões, pra cobrir a reportagem que o Rooby deveria ter ido fazer. Sabem o quão ridiculo me senti, em ter que escrever sobre leões quase extintos e que cruzam 20 vezes por dias, para que todas as fêmeas fiquem grávidas ao mesmo tempo, para que o numero de extintos sejam menor?! Aquilo foi ridiculo. Ao terminar a frase, Albert voltou com nossos pratos, Kori aproveitou para dar mais uma piscadela para ele, que retribui com um sorriso que parecia maid de incomodo e vergonha, do que de acolhimento diante das investidas dela. Terminamos o almoço e voltamos a nossa rotina, não demorou muito, para que Mark me chamasse mais uma vez em sua sala. - Sim Mark – disse ao entrar. - Sente-se por favor. Sentei e esperei alguns minutos, até que ele terminasse de responder á alguns e-mails. - Como deve saber – disse tornando seu olhar para mim – hoje terá um jantar de negócios. Na verdade, está mais pra uma festa vip. Queria que me acompanhasse, claro se não tiver nada para esta noite. Fite-o por um momento sem resposta, e me correu á mente de que Kori nem teria deixado ele terminara frase e já estaria dizendo sim. Hesitei um pouco diante do convite, ele nunca havia me convidado para o que quer que fosse, nem mesmo para um café, e mesmo que ele demonstrasse total orgulho de meu trabalho, não passava disso, de uma pequena admiração profissional da parte dele. - Bem... acho que não tenho nada pra esta noite. - Ótimo – respondeu como se não fizesse muita diferença – mandarei o carro pegá-la as 19h30min. -Tudo bem – disse levantando e indo em direção a porta. - Savana – parei quando chamou – use algo sensual, mas não vulgar como sua amiga. Assenti e saí. - Ele me convidou pra uma festa – disse incrédula. - O que?! – indagaram Kori e Jerry ao mesmo. - Vai ter uma jantar de negócios e ele quer que eu vá. - O que você disse? – indagou Jerry apreensivo. - Aceitei. Para minha surpresa, eles não fizeram mais perguntas, mas de vez em quando pegava Jerry me fitando discretamente. A tarde transcorreu calmamente, e logo deu 17h30min. Me despedi de todos e saí. Tomei um taxi na porta da empresa e desci duas quadras antes. Passei na barraca de churros de uma velha conhecida e tomei o rumo de casa. Na hora marcada, o carro chegou. Decidi não exagerar na produção, coloquei um pretinho básico com uma f***a na perna. Motorista abriu a porta do carro e fomos em direção á tal festa. Ao chegarmos á frente do casarão onde seria a festa, pensei que estivessemos no lugar errado, para quem disse que seria uma festa vip, devia ter ali, mais de cem pessoas. Adentrei na casa receosa de esta realmente no local errado, mas logo um rosto familiar me chamou atenção. - Aqui está a moça de quem vos falava – disse Mark passando a mão em minhas costas e a acomodando lá. - Boa noite – disse educadamente, mas acanhada. - É uma moça realmente bonita – disse um dos homens que estava com ele antes de chegar – se ela for tão competente quanto sua beleza, você é um homem de sorte Mark. Algo no comentário me incomodou, mas deixei de lado e o segui, enquanto me guiava pela multidão. A noite passou rápida; ele me apresentou a inúmeras pessoas, por sorte levei uma pequena bolsinha, pois pelo tanto de cartões que recebi, não caberiam nas mãos. Após uns drink’s e muito conversa ao som da música, Mark me chamou para um canto isolado da casa, disse que queria falar algo importante. - Então – disse enquanto chegava com dois drink’s nas mãos – o que está achando? - Esta sendo... – hesitei por um momento, não sabia o que dizer, não curtia muito festa, e as unicas que ia, era quando Kori me arrastava pra ir – interessante. - Só isso? – indagou entregando-me o drink. - Não estou mutio acostumada á essas coisas... - Entendo – disse tomando um gole do seu drink – mas bem que poderia se acostumar... Durante toda noite, ouvi comentarios que me deixaram com a orelha em pé, ele me apresentara de uma forma nada formal para os convidados, principalmente aos seus amigos homens. - Não preciso me acostumar á esse tipo de vida, até porque não poderia bancar. - E se alguem fizesse isso por você. - O que? – indaguei tentando não acreditar no que estava acontecendo. - Savana – disse aproximando-se insinuosamente de mim – posso te mostrar um mundo novo – ajeitou meu cabelo atras da orelha – um mundo em que poderemos prosperar juntos... - Já estamos fazendo isso – respondeu nervosa e desajeitada, enquanto me afastava dele – trabalhamos todos os dia isso. O New York Times, só chegou ao que é hoje, por sua causa... - Não estou falando disso – disse aproximando-se novamente – sabe muito bem do que estou falando – ele aproximou os lábios dos meus e beijou-me. Sentia o gosto da tequila que ele acabara de tomar. Empurrei-o e sai sem olhar para trás – qual problema Sav? - Savana! Meu nome é Savana. Não lhe dei este direito a tanta i********e e nunca darei! – disse dando- lhe as costas. Ele correu atras de mim a agarrou-me pela cintura. - Me larga – disse enquanto tentava não escutar as coisas sordidas que ele dizia. Felizmente o som estava alto e abafava seu hálito quente em meu ouvido. - Sabe que você faz jus ao nome – disse acariciando meu pescoço – savana me lembra algo selvagem... Ele virou-me contra si, percebi que não estava totalmente bêbado, sabia o que estava fazendo, o que serviu mais ainda para me enojar dele. - Me solta, senão vou gritar! – ameacei, mas ele apenas riu. Pegando pelo braço, arrastou-me até uma mesa que tinha na sala que estavamos, derrubou o que tinha em cima dela e jogou-me nela. Quanto mais me contorcia, mais ele ria de satisfação. - Me solta seu imundo desgraçado – disse tentando acertar seu rosto, mas ele segurava fortemente meus punhos. - Como você sabia que adoro algo bem selvagem? Ouvi-lo falar aquelas coisas, dava-me um embrulho no estomago. Como um homem casado e com filhos, podia esta fazendo aquilo. Comecei a me contorcer mais ainda, consegui dar alfguns arranhões, ate que finalmente consegui acertar sua genitalia. Ele caiu aos meus pés de dor, ajeitei a alça do vestido e saia correndo. Passei por todos correndo, alguns me chamaram, perguntaram o que tinha acontecido, mas não parei. Ainda pude reparar na música que tocava na hora da minha “fuga”; era Classic do MKTO, adorava a música, em outro momento com certeza dançaria e curtiria, mas a partir daquele momento, aquela música me traria memorias nada boas. Cheguei na frente da casa e tirei os saltos, corri até não poder mais ouvir os sons que depois de alguns quarterões ficaram cada vez mais abafados, até sumirem totalmente. Estava exausta e o relógio marcava 03h30min da manhã. Meus pés doiam tanto que nem conseguia ficar em pé. Ainda faltavam uns 6 quarterões ate minha casa, decidi sentar num banquinho e descançar um pouco. Olhei para meus pés, as solas estavam vermelhas e ardiam muito. Joguei a cabeça pra tras e fitei aquela enorme bola brilhante no ceu. A lua estava linda naquela noite, e olhar pra ela, me fez esquecer por um momento, o que de terrivel acabara de acontecer. Mas, tambem me fez lembrar da noite que vi minha mãe morta, ela parecia estar com aquele mesmo brilho, como se estivesse me dizendo algo. De repente senti uma pontada forte em meu peito, como se uma faca tivesse sido cravada nele; algo estava errado, algo havia acontecido, sentia um vazio enorme dentro de mim, como se o que tudo que me restava, tivesse sido tirado de mim. Fitei a lua por mais um tempo e tive a leve impressão de ver aqueles enormes olhos brilhantes pairando sobre mim; algo nessa sensação me confortava, me fazia sentir em casa novamente, fazia em meu sentir nos braços de minha mãe mais uma vez.
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