Capítulo 87 MAQUINISTA NARRANDO O chão do morro tem um cheiro diferente à noite. Mistura de terra batida, perfume barato, churrasco e sonho. Fazia quinze anos que eu não pisava aqui, mas bastou fechar os olhos por dois segundos e tudo voltou. As batidas do som ecoando na caixa do peito, o povo gritando meu nome, as crianças correndo por entre as pernas da galera como se eu fosse herói de filme. Mas o peito… o peito tava apertado. É que a rua muda, os becos mudam, os rostos mudam… mas a dor do tempo perdido não muda nunca. Ficar quinze anos longe da minha filha foi o pior tipo de tortura. E agora ela tava ali, linda, crescida, os olhos da mãe e o gênio que eu bem conheço. Maitê. Minha filha. Ela correu pro meu colo assim que cheguei, grudou em mim como se os anos de ausência tivesse

