O quarto estava mergulhado em uma atmosfera de tranquilidade aparente. Linyin sentava-se diante do espelho, enquanto os raios de sol atravessavam as cortinas e dançavam sobre o véu branco cuidadosamente dobrado ao lado. Nos últimos dias, ela parecia outra — uma noiva apaixonada, sonhadora, com o olhar perdido entre lembranças e promessas. Mas, por trás daquele sorriso sereno, escondia-se uma tempestade.
— Está linda, minha querida — a voz suave de Kayo, sua madrasta, soou às suas costas, carregada de falsa ternura.
Linyin sorriu pelo reflexo. — Obrigada, mãe.
Kayo aproximou-se, pousando as mãos nos ombros da jovem. A pressão foi leve, mas firme o bastante para que Linyin sentisse o controle por trás do gesto.
— É um grande dia. Todos estarão olhando para você. — Ela ajeitou um fio de cabelo rebelde. — Lin é um homem admirável. Um futuro garantido.
“Um futuro garantido...” A frase ecoou na mente de Linyin, tão doce quanto venenosa. Ela baixou os olhos, disfarçando o desconforto. Kayo sempre soubera o que dizer para moldar suas decisões, e agora, mais do que nunca, parecia satisfeita com o rumo das coisas.
Linyin levantou-se, ajeitando o vestido tom perolado que se ajustava ao corpo com delicadeza. — Eu só quero que tudo corra bem. — A voz saiu baixa, quase um sussurro.
— E vai correr. — Kayo inclinou o rosto, depositando um beijo calculado na testa da garota. — Afinal, você foi feita para ser admirada, minha filha.
Por dentro, Linyin lutava contra a confusão. As lembranças recentes do Hotel Pier — as imagens que talvez a câmera tivesse captado — misturavam-se com o som dos preparativos ao redor. Flores, música, vozes... tudo parecia distante. Ela sabia que, em poucas horas, subiria ao altar com o homem que talvez a tivesse traído.
Kayo observava cada movimento da enteada com atenção. O sorriso dela não era o de uma mãe orgulhosa, mas o de alguém que via o próprio plano tomar forma. Casar Linyin com Lin significava consolidar poder, status e segurança. E se, no processo, a garota acabasse sendo usada... paciência.
— Os convidados já começaram a chegar — informou uma das empregadas, batendo à porta.
— Diga que estaremos prontas em dez minutos — respondeu Kayo, com autoridade.
Assim que ficaram a sós novamente, Linyin voltou a encarar o espelho. A mulher refletida ali era linda, sim — mas não a mesma que deixara uma câmera escondida no Hotel Pier. Atrás do olhar doce, havia vigilância. Atrás da voz suave, uma promessa silenciosa de vingança.
Ela tocou o colar em seu pescoço — o medalhão do orfanato — e sussurrou para si mesma:
— Que seja o começo... não do amor, mas da verdade.
Kayo, parada à porta, sorriu discretamente.
— Vamos, minha querida. O seu destino a espera.
E enquanto saíam, uma coisa era certa: nenhuma das duas confiava na outra.
O salão estava impecável — lustres brilhando, flores frescas, uma orquestra tocando um tema suave de casamento. Tudo parecia perfeito, exceto por um detalhe impossível de ignorar: o noivo não havia chegado.
Minutos se arrastavam, e o murmúrio dos convidados crescia. As senhoras cochichavam sobre o atraso, os empresários olhavam discretamente para os relógios, e alguns repórteres tentavam adivinhar o motivo. Linyin, no entanto, mantinha-se serena. Sentada diante do altar, era a imagem da paciência e da graça — embora, por dentro, carregasse o sorriso silencioso de quem aguardava o clímax de uma peça que ela mesma escrevera.
Kayo, sua madrasta, caminhava de um lado para o outro, os nervos visíveis em cada gesto. De tempos em tempos, aproximava-se da enteada e murmurava algo sobre “trânsito”, “imprevistos” ou “um m*l-entendido”. Linyin apenas respondia com um aceno leve.
O relógio marcava uma hora de atraso. Então, ela se levantou.
O som dos saltos ecoou pelo salão silencioso. Todos voltaram a atenção para ela, imaginando que fosse anunciar o adiamento da cerimônia. Mas o que veio não foi desculpa nem lamento — foi o início de algo muito maior.
— “Caros convidados…” — começou Linyin, a voz clara e doce, mas firme. — “Antes de tudo, agradeço por terem vindo celebrar este… grande dia.”
Ela pausou. Um leve sorriso curvou seus lábios.
— “Infelizmente, parece que meu futuro marido não virá hoje.”
Um murmúrio atravessou a multidão. Kayo empalideceu, e alguns convidados trocaram olhares constrangidos.
— “Mas, por favor, não pensem que ele se perdeu ou esqueceu a data…” — continuou Linyin, o olhar frio, calculado. — “Ele está apenas… ocupado. Com algo. Ou talvez… com alguém.”
O salão mergulhou em silêncio. Nenhum som além do leve estalar do microfone ecoava.
Foi então que Linyin ergueu a pequena chave de controle remoto em suas mãos delicadas. Um clique seco ressoou. O grande telão que exibia o brasão dos Mazaki piscou e, em seguida, imagens tomaram conta da tela.
O quarto de hotel. Lençóis amassados. Risos abafados. Os corpos entrelaçados de Lin Hayato e Minay.
O choque foi absoluto. Um som de taças caindo quebrou o silêncio, seguido por exclamações de horror. Kayo levou a mão à boca, incapaz de esconder o espanto.
Linyin observou tudo com frieza quase elegante. Quando o vídeo terminou, ela olhou para o público e, com a voz serena, disse:
— “O casamento está cancelado. Parece que o amor do senhor Hayato já encontrou um novo lar.”
Fez uma pequena reverência e caminhou pelo tapete vermelho até a saída. Nenhum aplauso, nenhum som — apenas os passos dela, firmes, impiedosos, quebrando o silêncio da vergonha.
Naquela manhã, Linyin não foi uma noiva abandonada. Foi a justiça vestida de branco.
O salão, antes elegante e cheio de boas maneiras, transformara-se num campo de caos controlado. Bastou o vídeo se apagar para que os murmúrios virassem gritos, e os flashes começassem a pipocar como tiros. Repórteres, convidados e curiosos avançavam com microfones e câmeras, cada um tentando arrancar uma frase da noiva que caminhava em direção à saída.
— “Senhorita Mazaki, o vídeo é real?”
— “É verdade que o noivo a traiu com sua própria irmã?”
— “Quem divulgou as imagens?”
— “Como descobriu?”
As perguntas cruzavam o ar como lâminas. Linyin manteve o olhar reto, o passo firme, o rosto impassível. Não respondeu a nenhuma. O vestido branco balançava com a leveza de quem acabara de se libertar, e não de quem fora humilhada.
Os seguranças tentaram conter a multidão, mas a cena já era manchete viva. Câmeras de todas as direções captavam cada expressão dela — o leve arqueio de sobrancelha, o sorriso controlado, o olhar quase indiferente. Aquilo, sabiam, era ouro puro para os jornais.
— “Ela parece nem sentir vergonha…” — murmurou uma das repórteres, fascinada.
— “Vergonha? Isso foi um golpe de mestre!” — respondeu outra. — “Você viu a calma dela? Isso é calculado!”
Enquanto o alvoroço se espalhava, do andar superior do salão, um homem observava em silêncio. Alto, de postura imponente, vestia um terno preto perfeitamente alinhado. O olhar, escuro e atento, não deixava escapar nenhum detalhe.
Era Kaito Renji, um magnata conhecido por controlar empresas de tecnologia, construção e mídia. Um homem acostumado a ver escândalos destruírem reputações — e a comprá-las em seguida. Mas ali, diante daquela mulher que caminhava pelo corredor de flashes sem tremer, algo nele se moveu.
— “Interessante…” — murmurou, apoiando o copo de vinho na borda da sacada.
A cena abaixo parecia um teatro cuidadosamente ensaiado, mas ele sabia reconhecer quando alguém estava no controle. E Linyin Mazaki estava. Cada gesto dela era medido, cada olhar carregava um propósito que poucos perceberiam.
Enquanto os convidados se dispersavam, Kaito continuou observando. O que o intrigava não era apenas a ousadia — mas o olhar dela. Não havia desespero, nem dor, apenas frieza. Um tipo de força que não se compra, e que ele raramente via nas pessoas ao seu redor.
— “Quem é você, garota?” — perguntou em voz baixa, como se ela pudesse ouvi-lo.
Linyin atravessou o portão principal, cercada por câmeras e microfones. Os flashes estouravam contra seu rosto, mas ela apenas ergueu o queixo e entrou no carro, deixando o caos para trás.
Kaito observou o veículo desaparecer na avenida, um leve sorriso surgindo em seu rosto.
— “Definitivamente… alguém que vale a pena observar.”
E naquele instante, o destino de Linyin cruzava com o de um homem que via o mundo como um tabuleiro. Ela acabara de jogar sua primeira peça — e ele estava pronto para mover a próxima.