capítulo 4

1360 Words
O elevador subiu silencioso, o som metálico apenas um eco abafado pelos pensamentos de Linyin. Cada andar passado era um lembrete de que estava entrando no território deles, no ponto onde a traição se desenrolava longe dos olhares do mundo. A mulher que entraria naquele hotel não era mais a ingênua Linyin que sorria para Lin e Minay; era alguém com memórias afiadas, com um objetivo e com a frieza necessária para alcançá-lo. Quando as portas se abriram, o saguão do Hotel Pier se revelou impecável e sofisticado, com lustres de cristal, carpetes aveludados e um aroma discreto de flores frescas. Havia hóspedes distraídos, recepcionistas em uniforme e garçons servindo café. Mas Linyin não estava ali para admirar a decoração. Seus olhos vasculhavam cada canto, procurando padrões, movimentos suspeitos, sinais de uma conspiração. Ela deslizou pelo salão principal, fingindo naturalidade, equilibrando-se nos saltos com a precisão de quem treinara cada passo mentalmente. Cada sorriso que oferecia aos transeuntes era uma máscara, cada gesto parecia casual, mas a atenção dela era intensa. Ela sabia onde encontrar evidências — e se Lin e Minay acreditavam que poderiam enganá-la, estavam prestes a se surpreender. No canto de um corredor, ela percebeu dois vultos discutindo baixinho. A voz masculina era inconfundível: Lin Hayato. A voz feminina, doce e melodiosa, era de Minay. Seus corpos próximos, os gestos íntimos e a tensão entre eles confirmavam a suspeita que Linyin já nutria. Cada palavra captada, cada suspiro, cada gesto cúmplice era uma prova que se gravava em sua mente. Mas Linyin não se precipitou. Sabia que precisava de mais do que suspeitas; precisava de evidências concretas. Seu olhar percorreu o ambiente e encontrou uma porta entreaberta que levava a uma sala de reuniões privativa. Com passos silenciosos, aproximou-se, observando através da fresta. Documentos, papéis e agendas estavam espalhados pela mesa. Ela reconheceu rapidamente os logotipos das empresas que Lin e Minay usavam para disfarçar encontros, negócios e, secretamente, a relação deles. Respirou fundo, controlando o impulso de entrar imediatamente. Cada detalhe observado naquele corredor e naquela sala aumentava a certeza de que tinha finalmente encontrado a prova. O coração de Linyin batia firme, mas a mente permanecia fria e metódica. Cada passo seria calculado, cada movimento planejado. Ela agora ditaria o ritmo da história. Enquanto o brilho do sol matinal entrava pelas janelas do hotel, iluminando a sala com tons suaves, Linyin sentiu uma onda de determinação. Dessa vez, não haveria engano, não haveria traição que passasse despercebida. Lin e Minay haviam subestimado a menina que um dia fora fraca e ingênua. Mas aquela Linyin não existia mais. Ela sussurrou baixinho para si mesma, com um sorriso gelado: — Hoje, a verdade vai aparecer. E eu vou decidir o que fazer com ela. Linyin fechou a porta do quarto com cuidado, os dedos ainda sentindo o frio da maçaneta. A sala era elegante, perfumada por perfume alheio, um cenário perfeito para segredos. Respiração contida, ela avaliou o espaço: a escrivaninha, a luminária antiga, a cadeira junto à janela. Escolheu o local com a frieza de quem já planejou cada movimento — atrás do vaso de porcelana, onde a câmera poderia permanecer oculta sem despertar suspeitas. Tirou do bolso um pequeno dispositivo compacto, discreto e moderno, quase imperceptível. O peso dele parecia nada comparado ao que carregava no peito. Colocou a câmera dentro do vaso, ajustando a posição para que a lente ficasse levemente inclinada em direção à cama. Testou o angulo com um movimento rápido do pulso e, satisfeita, fechou o vaso com naturalidade. Ninguém olharia duas vezes para um objeto decorativo. Antes de sair, ligou o dispositivo e programou a gravação com um atraso calculado: a câmera começaria a filmar meia hora após sua saída, dando tempo para que Lin e Minay chegassem e se acomodassem, confiantes e descuidados. Sabia que precisava de imagens claras, não de sombras e sussurros. Configurou também o envio automático dos arquivos para um endereço seguro — um pequeno gesto de tecnologia que esquivaria a necessidade de contato posterior, mas ela preferia ter o controle direto. Colocou a câmera numa bolsa pequena, acto teatral para despistar, e saiu do quarto como quem vai somente tomar ar no corredor. Caminhou pelo corredor iluminado, os saltos fazendo um tic-tac discreto que marcatava cada segundo de sua audácia. No lobby, observou os funcionários: discretos, rotineiros, alheios aos dramas alheios. Avistou um garçom jovem, de olhos atentos e passos leves — perfeito para uma tarefa arriscada. Aproximou-se dele com naturalidade, oferecendo um sorriso que não chegava aos olhos. Em segredo, deslizou um envelope gordo, com notas perfeitamente alinhadas, e falou baixo: “Preciso que entregue algo do quarto 412 daqui a duas horas. Não abra. Diga que é para um depósito na sala de bagagens e que depois me traga o comprovante.” O garçom hesitou apenas um segundo, avaliando; o dinheiro falou mais alto. Concordou com a cabeça, o rosto impassível. Antes de se afastar, Linyin deixou um cartão com um número e uma instrução curta: “Se algo acontecer, procure-me neste endereço.” Não poderia correr riscos com intermediários sem retorno. Ela observou o garçom subir as escadas e desaparecer pelos corredores. O plano era simples e c***l: a câmera filmaria a traição; o garçom faria o transporte discreto; ela receberia a prova sem sujar as próprias mãos. Ao se afastar do hotel, sentiu uma mistura de adrenalina e calma. A noite que antes parecia inevitável agora se transformava numa oportunidade. Cada passo era um movimento ensaiado num tabuleiro em que ela já conhecia as peças. Minay e Lin acreditavam controlar o jogo. Linyin sabia o contrário. Enquanto Linyin caminhava pelo lobby do hotel, o olhar atento de alguém do outro lado da sala a acompanhava sem que ela percebesse. Um homem de terno impecável, postura confiante e expressão ligeiramente divertida observava cada movimento seu. Ele era CEO de uma empresa próxima, mas não apenas isso: havia algo naquele comportamento calculado e discreto que o intrigava. Ele inclinou-se levemente para frente na poltrona de couro, apoiando o queixo na mão, olhos fixos em Linyin enquanto ela interagia com o garçom. Cada gesto dela, cada passo nos saltos, cada sorriso cuidadosamente medido — tudo era fascinante. Não era apenas a beleza dela que chamava a atenção, mas a firmeza, a presença silenciosa e o controle que emanava de cada movimento. “Interessante…” murmurou para si mesmo, quase com um riso contido. “Ela não é uma garota comum. É estratégica, e sabe exatamente o que está fazendo.” O CEO segurou um copo de café, girando-o lentamente entre os dedos, mantendo o semblante calmo. Observá-la agir era como assistir a uma peça em que todos os atores acreditavam controlar a cena, mas apenas ela parecia perceber as regras do jogo. A forma como lidava com o garçom, a naturalidade com que passava pelo saguão, a discrição ao esconder intenções — tudo apontava para alguém que dominava mais do que apenas aparências. Ele sorriu levemente, divertido com a situação. “Vamos ver até onde ela vai…”, pensou. Era raro alguém despertar esse nível de curiosidade e admiração silenciosa nele. Normalmente, as pessoas ao redor apenas executavam ordens, se moviam com pressa, ou agiam sem pensar. Linyin era diferente. Cada ato seu parecia medido, mas natural, sem esforço aparente. Decidiu, então, permanecer ali, observando cada detalhe. Não se aproximaria ainda; a graça estava em vê-la agir sem saber que era observada. Cada gesto que ela fazia, cada interação que completava com precisão silenciosa, era um prazer raro de testemunhar. Ela caminhava pelo hotel como se cada corredor, cada olhar alheio e cada pessoa fosse apenas parte do cenário, e ele, do lado de fora, era o espectador privilegiado daquela coreografia silenciosa. Enquanto Linyin se afastava em direção à saída do hotel, o CEO permaneceu sentado, copo em mãos, atento a cada movimento. Ele sabia que algo estava prestes a acontecer, mas a melhor parte, pensou, era observar sem interferir. Seria divertido, interessante — e possivelmente revelador — ver até onde aquela garota conseguiria ir sozinha. E assim, enquanto ela desaparecia pela porta, ele permaneceu, sorrindo levemente, já planejando continuar acompanhando aquela história.
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