06

1510 Words
BILL NARRANDO Entrei no meu quarto pela janela. Removi minha máscara e respirei fundo, a jogando no chão. Fechei a janela do quarto e passei as duas mãos em meu próprio cabelo. A única coisa que eu conseguia pensar era: Que caralhos que eu fiz? Desde que a Bianca entrou na faculdade, eu fiquei obcecado por ela. Não sei dizer o motivo, talvez seja o fato dela ter um rosto delicado que quando sorri revela uma covinha linear. Talvez seja seu cabelo castanho com as pontas mais claras, ou as roupas que usa. Talvez seja a combinação de inteligência e delicadeza ou o fato dela querer desenvolver jogos educativos que serão utilizados para a reintegração de crianças à sociedade, depois do transtorno de estresse pós-traumático. Eu não sei. Talvez seja o fato dela ler compulsivamente todos os livros que eu li durante minha vida inteira... Deslizei as costas pela parede e sentei no chão. Olhei para o meu quarto, bastante escuro, e comecei a lembrar do que aconteceu no quarto dela. Como eu queria ter tirado aquela venda... Como eu queria ter feito mais. E ao mesmo tempo, como eu queria não ter ido naquela casa... Isso pode comprometer todo o meu plano, mas eu não hesitei ao pensar que poderia vê-la pessoalmente totalmente na minha. Isso é uma porcaria. Alguns dias se passaram desde o encontro que tive com ela. Aquilo foi uma loucura e ao invés de eu ficar andando atrás dela como eu sempre fico, decidi me afastar. Talvez ela lembrasse das sensações, do meu cheiro, eu não sei... Eu só não posso em hipótese alguma ser descoberto. Como fica meu plano? Aonde eu vou parar se a minha vingança não se concretizar? Provavelmente na cadeia. Estou sentado no refeitório, milagrosamente sozinho. Geralmente estou acompanhado por motivos óbvios: Eu preciso manter minha aparência de filhinho de político. Essa faculdade só tem maluco, e eu não duvido que uma hora ou outra desconfiem de mim. Dei uma mordida na minha maçã e continuei mexendo no meu notebook, programando um pendrive para um cara brasileiro. É um tal de Tubarão, postou na darkweb o serviço que queria e eu peguei porque eles querem derrubar um babaca corrupto. — Oi, Bill! Tá ocupado? — Assustei ao ouvir aquela voz. Era Bianca, e ela parecia realmente animada. — Oi, Bia. Não estou ocupado não, senta aí. — Falei e ela se sentou. — Faz tempo que a gente não conversa. Tá fugindo de mim, Bill? — Questionou de um jeito sagaz. Eu não duvido que ela descubra logo quem eu sou, depois da merda que fiz. — Estou. — Me inclinei na mesa, com um sorrisinho brincando em meus lábios. — Porque você é bonita demais, e eu tenho um problema com garotas bonitas. — Um problema? Não consegue segurar o p***o dentro das calças? — Ela deu risada. Outra coisa que me impressiona na Bianca, ela não tem papas na língua e é autoconfiante. Autoconfiante o suficiente pra deixar um hacker desconhecido subir pela janela do seu quarto e t*****r com ela. — Mais ou menos isso. — Falei, sorrindo de forma maliciosa. Bianca riu, abriu a bolsa e tirou uma pilha de folhas dali. — Eu prefiro pensar do jeito tradicional, e como você não entrou em contato... Eu esbocei todo o trabalho sobre o Robin Hood. Está aqui. — Ela me deu as folhas. — Meu Deus, Bianca... Você escreveu umas vinte folhas a mão? — Tem um hacker a solta, você acha que eu salvo as coisas importantes no computador? Eu não seria burra a esse ponto. — Ergui as sobrancelhas. O que essa garota está escondendo? — É brincadeira, bobo. Eu realmente gosto de fazer anotações a mão. E agora que eu fiz, você digita e coloca o que achar que faltou. — Deixa comigo. — Meus olhos percorreram o rosto de Bianca, e depois, olhei para seu pescoço. Percebi uma mancha roxa ali, e eu sabia que foi eu quem havia deixado isso ali. Ou melhor... Robin Hood. — E essa marca no seu pescoço, Bianca? Tem mais alguém dentro da faculdade que não tá guardando o p***o dentro das calças? — Dei risada, cruzando meus braços em frente ao peito. — Tem. Eu dei pro Robin Hood. E foi bom. — Não sei o que responder depois dessa. Filha da p**a. — Conta outra! — Tentei disfarçar. p**a que pariu. — Se não acredita... Ele entrou pela minha janela com aquela máscara e eu fiquei completamente excitada. — Ela se levantou e piscou um dos olhos. Se eu não soubesse que isso realmente aconteceu, acharia que era uma simples provocação por ter tentado invadir a vida pessoal dela ao perguntar da mancha em seu pescoço. — Você é muito engraçada, Bia. E muito inteligente, nossa. Desse jeito eu vou entrar pela sua janela também. — Brinquei. — Foi uma excelente história. Bianca deu os ombros e saiu rindo. A presença dela é magnética. Eu só precisava chegar em casa e esquecer que a vi. Porque se não, eu acabaria indo encontrá-la de novo, por não conseguir "guardar o p***o dentro das calças". Mas Bianca tinha outros planos para mim naquele dia. Lá estava eu, programando algumas coisas e planejando meu próximo ataque. O chat que criei para mim e para ela estava em silêncio desde que nos vimos a primeira vez, porque nunca mais o abri. Quando o abri, vi que ela havia enviado algumas mensagens. Bianca: "É necessária a desgraça para provocar certas minas misteriosas ocultas na inteligência humana; é precisa a pressão para fazer estourar a pólvora." Bianca: Sinto sua falta. Olhei o chat por alguns instantes. Aquela frase pertence à um livro de Alexandre Dumas, um dos meus escritores favoritos. E ela sabe disso. Eu hesitei em digitar. Eu sabia onde isso terminaria... Por que caralhos eu estou me arriscando tanto? Robin: Alexandre Dumas. Foi o que consegui digitar. Essa menina está me deixando louco. Eu sei que Bianca está programando seu jogo e que ela verá minha mensagem. Bianca: Sempre lembro de você quando leio. Robin: Você não devia pensar tanto em um criminoso, Bianca. Bianca: Eu gosto de pensar que existem dois lados errados. E eu escolhi estar do seu. Robin: Literalmente ou metaforicamente? Bianca: Se você quisesse estar do meu lado literalmente... Você sabe que eu estaria, Robin. Robin: Você não devia deixar estranhos entrarem no seu quarto, Bianca. Bianca: Então não precisa ser no meu quarto. Bianca não para. Talvez eu deva assustar ela, para ela fugir. Mas ao mesmo tempo, tenho a impressão de que isso só a atrairia mais. Ela gosta disso. Robin: Hoje, às vinte e duas horas, quando a biblioteca estiver fechando... Se esconda dentro do banheiro masculino da biblioteca, dentro do armário de suprimentos, pois ninguém vai te achar. As vinte e duas e quinze, você vai me encontrar no corredor de livros do Robin Hood. Bianca: Eu vou. Robin: Até lá. Passei as duas mãos por meu cabelo, mais uma vez. Essa garota está me deixando louco. Vinte e duas e quinze. Eu estou de moletom, encostado em um pilar, com as mãos no bolso e parado em frente ao livro de Tristão e Isolda. Eu acho que estou deixando migalhas demais para ela. Estou de máscara, como sempre. A biblioteca já estava vazia e com as luzes apagadas. A pouca luz que vinha das enormes janelas acabava iluminando mais o chão do que o restante do local. Ouvi passos. Levantei os olhos, e enxerguei Bianca vindo de longe, com a faixa que usei para vendá-la nas mãos. Ela levantou a faixa como eu fiz quando fui na casa dela no outro dia. Ela se virou de costas, ajeitando a faixa em seu próprio rosto. Eu só tive o trabalho de amarrar a fita, e checar se estava tudo certo. — Já sei que você não vai me deixar te ver. Eu não vou mais insistir. — Ela disse. — Me mostre seu rosto quando estiver pronto. — Não será hoje. — Falei, com meu modulador de voz ligado. Tirei a máscara, as luvas, e as deixei em uma prateleira vazia na biblioteca. Virei Bianca para minha frente, levei as duas mãos até sua cintura e meu rosto, agora livre da máscara, até seu pescoço e o beijei. Ela inclinou o rosto para o lado oposto, me dando mais espaço. Deslizou ambas as mãos por meus braços, até alcançar meus ombros. Essa filha da p**a gosta de me sentir. Eu não aguentei apenas beijar o pescoço dela, e a encostei no pilar que antes eu estava encostado. Ataquei os lábios dela com os meus, empurrei minha língua contra a dela e a apertei com meu corpo contra o pilar. Agarrei o rosto dela com certa brutalidade, enquanto a beijava. — O que caralhos você tá fazendo comigo, Bianca? — Sussurrei, contra os lábios dela. — O mesmo que você está fazendo comigo. — Respondeu, sussurrando também. E aí, eu voltei a beijá-la. Nós estamos deixando um ao outro louco. É isso.
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