08

1563 Words
BILL NARRANDO Eu estava parado na frente da casa da Bianca. Ela olhava para mim como se pudesse enxergar através da máscara. — Confia em mim? — Ela questionou. — O que pretende fazer? Bianca se aproximou de mim, levou as mãos até minha máscara, e eu a segurei com brutalidade. — Eu não vou tirar sua máscara. Não inteira... — Ela respondeu, e por algum motivo, senti sinceridade. Bianca levantou minha máscara, apenas até descobrir minha boca. Deu-me um selinho, mas eu a puxei pela cintura e não deixei que saísse. Ela levou as duas mãos até meu pescoço. Estava entregue ao beijo, de olhos fechados. Quando terminamos o beijo, eu abaixei a máscara. Por baixo dela, eu estava sorrindo. — Até mais, Bianca. — Eu falei, e montei na minha moto. Depois de alguns minutos dirigindo, cheguei ao meu apartamento. Ele fica no subúrbio, e eu tenho um terreno próximo a ele, onde tenho um galpão que deixo alguns computadores muito mais potentes no subsolo. A única pessoa que tem acesso a isso além de mim, é o Brad. Ele é um bom hacker, mas prefere trabalhar com hardware. Ele me completa nessa parte, porque eu não sou tão bom com hardware, não como ele. No meu galpão, eu tenho três carros e minha moto, todos com meu sistema de modificação de placa. Você aperta um botão, e a placa magicamente muda. Vantagens de saber mexer com tecnologia... Eu nunca roubei dinheiro para mim, mas não tenho essas coisas por acaso. Tudo que conquistei foi fazendo trabalhos pedidos na darkweb. — E aí, Brad. — Falei, entrando no subsolo do galpão. Brad estava comendo comida japonesa enquanto montava um pequeno equipamento que pedi. — Fala, rapaz. Como estão as coisas? — Questionou. — Faz tempo que não te vejo por aqui. — Eu precisei de um tempo depois do último ataque. Estava planejando o próximo. — Ah, assim que eu gosto. — Ele disse, sorrindo maliciosamente. — Qual seu plano? — É bem louco. Mas eu aposto que você vai se divertir tanto quanto eu. — O sorriso malicioso do Brad foi contagiante, porque eu sorri do mesmo jeito. Contei todo o plano para Brad. Ele ficou alucinado. O plano não tem furos, não tem erro. E além de causar uma comoção, chamar a atenção e não derramar uma gota de sangue, vai limpar os cofres dos maiores bancos de San Andreas. — Mano, você é completamente doido. Eu adoro isso! Eu estou dentro, você não tenha dúvidas de que eu estou dentro! — Ele disse, animado. — Preciso terminar de planejar as coisas. Precisamos montar as armas e achar as pessoas certas. — Ele concordou e começou a andar de um lado para o outro. — E se a gente lançasse um desafio na darkweb? Quem conseguir hackear, vai receber a mensagem e conseguir entrar em contato... E aí analisamos as pessoas. — Brad falou. — Eu não vou poder criar um programa não-hackeável então. — Rimos. Meus códigos são impossíveis, mesmo. — Exatamente. Crie algo bom... Mas com um jeito de hackear. Precisamos de pessoas corajosas, inteligentes, sem ficha na polícia e que estejam dispostas... — Ele concluiu. — Dispostas a serem presas, sem medo. Elas vão sair? Vão. Mas não imediatamente, só depois do pagamento da fiança. — Temos dinheiro para isso? — Brad perguntou. — Eu vou conseguir uns oito mil dólares com isso aqui. — Apontou para o hardware que estava montando. — Eu vendi um material recentemente na internet, um sistema de segurança para uns traficantes brasileiros. Consegui um bom dinheiro nisso. Então, temos. — Brad sorriu. Batemos nossas mãos uma na outra. — Vamos derrubar essa p***a de sistema, Bill. — Vamos, p***a. — Respondi. Sentei no grande computador, com várias telas, enquanto Brad voltou para seu equipamento de hardware. Ele me entregou uma caixinha com alguns sushis, que havia encomendado para mim também. Comecei a programar o que usaríamos de teste para os hackers que nos ajudariam... E algumas horas depois, terminei. — Chega aí, Brad. — Falei. — O que acha disso aqui? A postagem para chamar atenção dos hackers na darkweb era a seguinte: “O dinheiro mantém o poder. E para ter poder, precisamos roubá-lo. Encarar a morte nos olhos.” Essa frase em questão, era inspirada no filme do Robin Hood. Em anexo, depois da frase, havia um programa onde quem hackeasse, encontraria um chat para falar comigo. — Acho que ficou excelente. — Então vamos botar pra f***r. — Falei e introduzi o conteúdo em uma página conhecida da darkweb. Agora, precisávamos esperar. Se as pessoas certas aparecerem, as coisas ficarão loucas... Trabalhamos quase a madrugada toda. Como não somos burros, temos alguns suprimentos básicos, camas e roupas limpas no galpão. Eu tomei um banho e fui direto para a faculdade, para não chegar atrasado. Levei um copo enorme de café para não morrer no meio da aula. Minha primeira aula era com a Bianca. E com aquele arrombado do professor Marcos, que está achando que com o pouco que sabe, vai me parar. Até parece. Bianca dormia em cima da mesa, esperando a aula começar. Eu me sentei ao lado dela, em silêncio. Quando ela despertou e levantou a cabeça, estava com a bochecha com marca do espiral de seu caderno. Eu dei risada. — Bom dia, dorminhoca. — Falei, brincando. — Bom dia... — Ela disse, um pouco sonolenta. — Pelo visto, alguém precisa mais disso do que eu. — Entreguei meu copo de café para ela, e ela imediatamente deu um gole. — Eu programei meu jogo a noite inteira, estou exausta. — Disse, e eu sorri. — Também trabalhei bastante essa noite. Mas nós escolhemos essa vida, não é mesmo? — Ela concordou com a cabeça. — Eu me diverti demais. Acredita que ontem eu finalmente consegui terminar a programação das palavras do meu jogo? — Ela sorriu. — Incluí quase um dicionário de palavras para crianças. Agora eles vão soletrar um milhão de coisas. — Isso é muito bom. — Afirmei. — Olha, todo mundo sabe o que eu estou programando, mas eu não sei qual é o seu trabalho de final de curso. O que você tá fazendo? — Eu tenho que fingir que sou normal. Então, criei um projeto bem simples para entregar. — Estou desenvolvendo um site que conecta trabalhadores imigrantes com pessoas que querem seus trabalhos. Pedreiros, faxineiros, eletricistas... Essas pessoas que não são tão valorizadas, entende? E coloquei um valor específico para cada serviço, que é o justo. O trabalhador pode cobrar a mais, mas não a menos. Talvez isso gere algum tipo de igualdade... Não sei. — Bianca sorriu e olhou para baixo. — Um pouco utópico. Mas bem interessante. Acha que alguém realmente vai usar esse site? Porque é muito mais fácil você encontrar um coitado na rua e dar uns trocados para a realização de um serviço assim. — Prefiro pensar que as pessoas não são filhas da p**a. — Menti. — Você é sonhador. Que fofo. — Ela passou a mão no próprio cabelo e voltou os olhos para o caderno. — Eu já matei meus sonhos faz um bom tempo. — Por que isso? Você é jovem, bonita, tá dando pro Robin Hood... — Ela gargalhou ao me ouvir. — Eu vim do Brasil, cara. Você não sabe a revolta interna que eu tenho contra o sistema. Não existe ninguém honesto. Desde o cargo mais baixo, ao mais alto. Não existe. Todo mundo dentro do sistema tem um preço. — Ela falou. — Talvez nem todos tenham um preço, Bianca. — Você acha? Eu também tenho um preço. Se alguém ameaçasse fazer m*l para alguém que amo, eu romperia meus princípios e cruzaria aquela linha que ninguém quer cruzar. — Afirmou, confiante. — E eu aposto que você também tem seu preço. — Touché. Não acredito que soltei essa maldita palavra. Bianca recuou com o corpo imediatamente e se levantou da cadeira. Ficou alguns segundos com os olhos estatelados, parada. — Você é ele. — Afirmou. — Do que você tá falando? — Fingi que não estava entendendo. Tentei manter a calma. — Você... Você tem muita coisa pra me explicar, seu filho da p**a! Tem que me responder muita coisa! — Bianca tá surtando. E com razão. — Eu não estou entendendo nada, Bianca. Você quer que eu te responda algum tipo de questionário? — Cretino. — Disse. — Bianca, as pessoas tão olhando você discutindo comigo, isso não é legal. — Ela me olhou feio e cruzou os braços. — Por que diabos você não me disse isso antes? — Ela girou os olhos e saiu da sala. Eu não aguentei, tive que ir atras. — Bianca, dá pra você parar e me explicar o que eu fiz de errado? — Falei, enquanto ela andava com pressa para fora da faculdade. Quando estávamos no pátio, ela virou para minha frente e olhou no fundo dos meus olhos. — Você é o Robin. — Ela disse, convicta. — Por que você tá falando isso? — A altura bate, o tamanho dos músculos... A palavra “touché”. Você achou que ia conseguir esconder isso de mim por quanto tempo? Você dormiu comigo, Bill. — Ela disse. O pior, é que eu não sabia como negar. E estava tentando, mas estava difícil.
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