Capítulo 1

859 Words
Helena A porta de vidro se fechou atrás de mim com um barulho suave, quase elegante demais para combinar com meu estado interno. Respirei fundo, tentando acalmar o coração acelerado enquanto observava o saguão silencioso da Lancaster Corporation. Tudo ali parecia brilhante, frio e impecável. Uma perfeição que não combinava com a bagunça do meu mundo. Era meu primeiro dia. E, honestamente, eu já me sentia fora do lugar. — Helena Duarte? — uma voz feminina chamou. Virei-me e encontrei uma recepcionista sorridente demais para aquela manhã cinzenta. Confirmei com a cabeça, e ela me entregou um crachá com a logo da empresa com a cor prata. Só o toque no metal gelado já me fez entender que eu estava entrando em um universo que nunca foi feito para mim. — O senhor Lancaster já está no edifício — ela acrescentou, quase como um alerta. Meu estômago revirou. Damian Lancaster. O CEO. Meu novo chefe. O homem cuja reputação soava como uma tempestade prestes a cair sobre qualquer um que ousasse cruzar seu caminho. Peguei o elevador até o trigésima andar, que é o último. O andar parece ser todo dele. As portas se abriram para um corredor amplo, silencioso e luxuoso demais para ser real. Mármore escuro, paredes em vidro fosco, cheiro de café recém passado. Senti minhas mãos suarem na mesma hora. A certeza de não pertencer àquele lugar me atravessou como um arrepio. A primeira pessoa que vi foi ela. — Então você é a novata — disse Beatriz, parada atrás de uma mesa branca impecável. Seus olhos percorreram meu corpo como se avaliassem cada defeito. — Espero que não atrapalhe. — Eu só… vim para começar meu trabalho — respondi, tentando manter a voz firme. — Todos dizem isso — ela rebateu, com um sorriso venenoso. — O senhor Lancaster não tem paciência para erros. Ótimo. Exatamente o que eu precisava. Beatriz apertou um botão no telefone. — O senhor Lancaster? A nova assistente chegou. Silêncio. Eu estava prestes a perguntar se era para entrar quando a porta do escritório abriu. E ali estava ele. Damian Lancaster. Alto, impecavelmente vestido, cabelos escuros arrumados de forma quase artística e olhos que não deveriam ser permitidos a ninguém, profundos, intensos, analíticos… perigosos. Ele não simplesmente me olhou. Ele me estudou. Meu coração parou. Ou falhou. Eu só sei que eu quis fugir pela porta de emergência. — Srta. Duarte — ele disse, com uma voz grave que parecia envolver o ar ao redor. — Entre. Beatriz se afastou, como se a simples presença dele mudasse a temperatura do ambiente. Entrei no escritório e a porta se fechou atrás de mim, silenciosa, mas com o peso de uma sentença. Damian caminhou até sua mesa — uma peça de madeira escura que parecia mais um trono moderno, e se recostou na cadeira de couro preto, os dedos entrelaçados. — Você chegou cedo — ele observou. — Achei apropriado no primeiro dia — respondi. — De fato. — Ele inclinou levemente a cabeça. — Gosto de pontualidade. E de pessoas que sabem seu lugar. Engoli seco. Ele não sorriu. Não piscou. Apenas me observou. A intensidade daquele olhar fazia parecer que ele estava descobrindo coisas sobre mim que eu mesma ainda não sabia. — Trouxe seu currículo? — perguntou. — Sim. Entreguei. Ele nem olhou. Apenas deixou sobre a mesa. — Eu já sei tudo o que preciso saber sobre você. A frase caiu sobre mim como um balde de água fria. Como assim? — Mas… nos conhecemos hoje — arrisquei. Damian sorriu pela primeira vez. Um sorriso pequeno, perigoso, arrogante. — Todos dizem isso. Por um momento, senti que a sala ficou menor, o ar mais denso. Como se ele estivesse me puxando para algum tipo de campo gravitacional invisível. — A partir de hoje, sua mesa será aqui, ao lado da minha porta , ele continuou, apontando para a mesa vazia no canto. — Quero você acessível. Acessível? Para quê? — Eu… Sim claro — respondi. Ele então se levantou. Foi a pior coisa que poderia ter acontecido. De pé, ele parecia ainda maior, ainda mais poderoso. Cada passo em minha direção parecia calculado para abalar minhas defesas. Ele parou a menos de um metro de distância. — Uma última coisa, Helena — disse meu nome como se estivesse testando sua textura na boca. — Eu não tolero deslealdade. Nem segredos. Senti a pele do pescoço arrepiar. — Algum problema? — ele perguntou, inclinando levemente o rosto para me observar de perto. Minha respiração travou. — N-não, senhor Lancaster. — Ótimo. Porque eu sempre descubro quando alguém mente para mim. Ele passou por mim, a poucos centímetros, e o perfume dele , escuro, amadeirado, masculino — me envolveu como um aviso silencioso. Enquanto ele saía, percebi que minhas mãos ainda tremiam. Primeiro dia. E eu já entendia perfeitamente tudo. Aquilo não era um trabalho. Era um território proibido. E Damian Lancaster era o tipo de homem que não apenas estabelecia as regras… Ele as quebrava quando queria. E, o pior ainda, fazia questão de testar quem ousasse entrar no seu jogo. E eu, sem querer, já tinha entrado.
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