Capítulo 2

719 Words
Helena Achei que meu primeiro dia tinha sido suficiente para me deixar abalada, mas nada, absolutamente nada, me preparou para o segundo. Cheguei cedo, como sempre faço quando quero evitar confusão. O prédio ainda estava meio vazio, silencioso, iluminado pela luz fria da manhã. Respirei fundo ao entrar no elevador, repetindo para mim mesma que aquilo era só mais um emprego, só mais um chefe… e que eu precisava aprender a não tremer cada vez que ouvia o nome dele. Damian Crawford. Meu chefe. O homem que não parecia real de tão intenso. O elevador abriu no andar da diretoria, e eu segui para minha mesa. Tudo parecia tranquilo, papéis para organizar, e-mails para responder, relatórios esperando minha atenção. A normalidade perfeita… até que o ar pareceu mudar. Uma presença atrás de mim. Forte. Pesada. Como se o ambiente inteiro se curvasse a ela. Virei devagar, sem respirar. E lá estava ele. Damian. Apoiado no batente da porta, terno escuro, gravata perfeitamente alinhada… mas era o olhar que paralisava. Profundo, analítico e carregando algo que eu não sabia decifrar, mas sentia de forma perigosa demais. — Bom dia, senhor Crawford — murmurei, tentando parecer profissional, mesmo que meu coração estivesse martelando como se quisesse escapar do meu peito. Ele inclinou a cabeça, os olhos percorrendo meu rosto, depois meu corpo, como se memorizasse cada detalhe. — Helena. — A forma como disse meu nome… arrepios imediatamente subiram pela minha nuca. — Você está cedo. — Tenho muito trabalho acumulado. Um leve levantar de sobrancelhas, como se ele apreciasse minha dedicação. Ou como se estivesse avaliando algo por trás das minhas palavras. Ele deu alguns passos para dentro da sala. Lentos. Precisei me forçar a não recuar quando ele parou ao meu lado, tão perto que o perfume dele, amadeirado, marcante, me envolveu como um toque invisível. — Sobre ontem — ele disse, baixo demais. — Você lidou bem com a pressão. Eu engoli seco. Ontem ele havia sido frio, direto… e, ao mesmo tempo, havia me observado como se estudasse uma presa. — Obrigada, senhor. Os olhos dele baixaram até meus lábios por um segundo, um segundo longo demais, antes de voltarem aos meus. — Quero que me chame de Damian — ele disse. A frase soou como uma ordem, não como um pedido. — É… mais apropriado manter a formalidade — tentei argumentar, mesmo sabendo que isso provavelmente ia irritá-lo. E irritou. A linha da boca dele endureceu um pouco, a expressão fechada e sombria. — Eu disse Damian, Helena. As palavras brotaram como seda… mas havia aço por baixo. Meu corpo inteiro respondeu—não com medo, mas com aquela estranha eletricidade que vinha sempre que ele estava perto demais. A mesma sensação de perigo que me atraía sem permissão. — Certo… Damian — respondi, o nome saindo hesitante, quase proibido. Um brilho satisfeito cruzou os olhos dele. Não era sorriso, mas era pior… porque era satisfação pura, dominadora. — Muito melhor — murmurou. Ele se aproximou ainda mais, inclinando-se sobre minha mesa. O calor do corpo dele tocou o meu mesmo sem contato. — Hoje teremos uma reunião importante — ele disse, sem desviar o olhar. — Estarei observando você. Quero ver como reage sob pressão real. A palavra observando pareceu grudar na minha pele. — Claro — respondi, tentando soar firme. Mas ele percebeu minha reação. Claro que percebeu. Ele percebia tudo. Damian deu meio passo para trás, não o suficiente para me deixar respirar, mas o suficiente para quebrar o momento. — E, Helena… — ele chamou, fazendo meu estômago virar. — Quando eu olhar para você… não desvie. — P-por quê? Finalmente, um sorriso. Lento. Perigoso. Devastador. — Porque gosto de ver o que você tenta esconder. E saiu. Simples assim. Deixando meu coração correndo, meus pensamentos embaralhados e a sensação estranha de que aquele homem estava desvendando partes minhas que nem eu conhecia. Naquele dia, durante a reunião, ele fez exatamente o que prometeu. Ele olhou. Cada vez que eu falava, cada vez que anotava algo, cada vez que respirava. Não piscava. Não desviava. Ele me prendia com os olhos como se fosse uma propriedade que ele já reivindicava. E foi ali que percebi: Aquele olhar não mudava tudo. Aquele olhar me mudava. E eu não sabia se estava pronta para isso.
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