Helena
A cidade parecia mais cinza naquela manhã, como se reflectisse a tempestade que Helena carregava dentro do peito.
Ela não dormiu, não conseguiu. A revelação de Damian ecoava em cada pensamento, em cada memória, em cada sombra do seu quarto.
Seu pai. O pai dele. O homem poderoso que dominava a empresa antes dele. O homem que — segundo Damian — destruiu a vida de sua mãe. E Damian… ajudou a encobrir.
A mente de Helena rodava, tentando encaixar peças que ela nem sabia que existiam.
E, ao mesmo tempo, algo nela se recusava a aceitar que aquilo era toda a verdade.
Mas uma coisa era certa: ela não estava segura.
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O metrô estava cheio, abafado, mas Helena sentia uma presença diferente.
O tipo de sensação que arrepia os braços, que pesa na nuca. A sensação de estar sendo observada.
Olhou discretamente ao redor. Pessoas comuns. Rostos cansados. Gente indo trabalhar.
Mas a sensação não passou. Pelo contrário — aumentou.
Quando saiu na plataforma, apertou o ritmo dos passos. Subiu as escadas quase correndo, respirando rápido demais.
Só quando chegou à rua que percebeu. No outro lado da avenida, parado, imóvel, um homem observava-a.
Alto. Casaco escuro. Óculos escuros. O rosto parcialmente coberto pela sombra da marquise.
Ela piscou. E ele desapareceu.
O coração dela batia tão rápido que parecia prestes a explodir.
"Calma, Helena… é só paranoia. É só pelo choque do que ouviu."
Mas ela sabia. Aquilo não era paranoia. Alguém estava observando. Alguém que sabia do que Damian confessou. Alguém que não queria que ela chegasse mais perto da verdade.
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Na Navarro Corp, quando atravessou o hall de entrada, Helena já estava tremendo.
E foi aí que viu Damian.
Ele estava parado ao lado dos elevadores, tenso, como se estivesse esperando por alguém.
Quando a viu, os olhos dele escureceram de puro alívio… e medo.
— Helena. — Ele deu um passo em sua direção, mas ela se afastou imediatamente.
— Eu não quero falar com você — ela disse, firme, mesmo com a voz trêmula.
Damian franziu a testa. O olhar dele percorreu rapidamente o corpo dela, avaliando.
— O que aconteceu? — Ele não estava perguntando como chefe. Nem como homem. Estava perguntando como alguém desesperado.
— Nada. — Helena tentou seguir, mas Damian segurou levemente seu braço.
Não apertou. Não machucou. Mas a energia que passou entre eles foi forte o suficiente para a respiração dela falhar.
— Me solta, Damian.
Ele soltou. De imediato. Mas não afastou os olhos.
— Você está assustada — ele disse com a voz baixa. — E não foi por minha causa. O que aconteceu?
Helena respirou fundo. — Não é da sua conta.
Damian estreitou os olhos, o controle dele claramente rachando.
— Tudo que diz respeito a você é da minha conta.
— É isso que você acha. Não é a verdade.
Helena virou de costas e caminhou até seu escritório, deixando Damian parado atrás dela, respirando duro, segurando as rédeas do próprio instinto para não ir atrás.
Ele queria protegê-la. Ele precisava protegê-la. Mas não podia dizer o porquê. Ainda.
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Ainda eram nove da manhã quando o telefone tocou.
Número desconhecido.
— Alô? — ela atendeu, tentando manter a voz firme.
Nenhuma resposta. Só respiração. Lenta. Pesada. Masculina.
— Quem é?
Mais respiração. E então:
— Você está mexendo onde não deve.
Helena gelou.
— Quem é você?!
— Se continuar cavando… vai acabar como ela.
A ligação caiu.
Helena deixou o telefone cair sobre a mesa.
O ar sumiu. As mãos tremiam. Os olhos se encheram de lágrimas involuntárias.
Mas ela não podia entrar em pânico. Não agora.
Precisava pensar. Precisava entender. Precisava…
— Helena.
Ela se virou.
Damian estava na porta.
Ele viu o rosto dela. Ele viu o medo. E todo o autocontrole que ele vinha mantendo desde o dia anterior simplesmente desapareceu.
Ele entrou na sala em passos longos, fechou a porta atrás de si e segurou o rosto dela entre as mãos, com uma delicadeza desesperada.
— O que aconteceu? — ele perguntou, a voz rouca de tensão. — Quem te ligou?
Helena tentou afastá-lo. Mas quando o toque dele a envolveu, todo o medo que ela estava segurando explodiu.
Ela não chorou. Mas respirou fundo, quebrada.
— Disseram que eu vou acabar como minha mãe.
Damian fechou os olhos, como se aquilo tivesse rasgado algo dentro dele.
Quando abriu… havia uma fúria sombria queimando.
— Helena — ele disse, com uma calma que era mais ameaçadora que gritos — você não vai a lugar nenhum sem mim. A partir de agora.
— Você não manda em mim.
— Não se trata de mandar. — Ele encostou a testa na dela, a respiração pesada.
— Se trata de manter você viva.
Helena sentiu o corpo tremer. Não de medo. E não só de desejo.
Mas de confusão.
Damian parecia realmente preocupado. Realmente desesperado. E isso… a desarmava.
— Me conta o que você está escondendo — ela sussurrou.
Damian ficou em silêncio por alguns segundos.
— Eu conto… — ele murmurou, os olhos presos aos dela — mas você tem que prometer que não vai me odiar.
Ela não respondeu. Não podia prometer.
E, antes que qualquer um dissesse outra palavra…
O vidro do escritório vibrou. Um estrondo seco.
Como se algo tivesse batido… ou sido atirado.
Damian girou o corpo imediatamente, posicionando-se entre Helena e a janela.
O medo voltou.
Desta vez, para os dois.