Helena
Helena ficou ali, imóvel, com a foto da mãe entre os dedos, enquanto o mundo parecia silenciar ao redor.
A imagem não era recente — pelo contrário, era antiga, de quando sua mãe ainda era jovem.
Mas não era isso que a assustava.
Era o detalhe no canto inferior.
Um carimbo.
Antigo.
Desbotado.
Do mesmo grupo empresarial que Damian comandava hoje.
O mesmo prédio onde ela estava agora.
A mesma empresa onde trabalhava há menos de um mês.
O coração dela bateu forte, quase dolorido.
Ela olhou de novo a foto, virando-a para o verso.
E ali, quase apagado, havia um número escrito à mão.
Um código.
Algo que claramente não pertencia a uma foto de família.
— O que você está escondendo de mim…? — ela sussurrou para si mesma.
Mas sabia que a resposta tinha um nome.
E esse nome era Damian Navarro.
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O escritório parecia diferente aquela manhã
Quando Helena saiu da sala do chefe, a sensação de que todos sabiam alguma coisa que ela não sabia se intensificou.
Alguns funcionários olharam rápido demais.
Outros desviaram o olhar rápido demais.
Como se ela fosse parte de um segredo maior.
E estivesse entrando em território proibido.
Ela tentou agir normalmente enquanto organizava documentos, mas sua mente estava presa na foto.
Preso em Damian.
Na forma como ele a tocara mais cedo.
Na forma como sua voz parecia prometer devoção e ameaça ao mesmo tempo.
Eu já fiz coisas piores.
Ecoava dentro dela sem parar.
Helena tentou afastar os pensamentos, mas o elevador abriu e o som da voz dele veio nítido, cortante, como sempre.
— Helena. — Não era um chamado.
Era uma ordem velada.
Ela respirou fundo e caminhou até a sala dele.
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Damian estava sentado, mas havia algo errado
Ele parecia mais tenso que o normal.
A mão segurava uma caneta com força demais.
O olhar estava fixo no vidro, como se encarasse algo que só ele conseguia ver.
Assim que ela entrou, ele levantou os olhos.
— Feche a porta.
Ela obedeceu… mas sua postura era diferente.
Não mais a assistente tímida do começo.
Ela estava furiosa.
Confusa.
Apavorada.
— Quero saber por que você tem uma foto da minha mãe dentro de uma pasta com meu nome — ela disse direto, sem rodeios.
A mandíbula de Damian travou.
Um músculo pulsou em seu rosto.
Ele respirou fundo… e levantou da cadeira.
— Você não deveria ter visto isso — ele disse.
Helena ergueu o queixo.
— Mas eu vi. E agora você vai me explicar.
Damian caminhou até ela, devagar, como um predador tentando acalmar a própria fome.
Chegou tão perto que ela sentiu o calor dele antes do toque.
— Não mexa no que eu não te dei permissão.
— Não sou sua prisioneira. — Ela manteve a voz firme, apesar do tremor sútil em suas mãos. — Você não tem o direito de vasculhar minha família.
O olhar dele escureceu.
Não de raiva — de dor.
Uma dor violenta, profunda, escondida atrás de camadas de controle.
— Helena… — a voz dele saiu baixa, quase suplicante. — Eu fiz isso por você.
Ela sentiu o peito apertar.
Mas não recuou.
— Então me explica. —
Silêncio.
Um segundo.
Dois.
Três.
— A sua mãe trabalhava aqui — Damian disse finalmente.
Helena piscou, confusa.
— Como assim?
— Antes de você nascer. Quando a empresa ainda era comandada pelo meu pai.
Helena arregalou os olhos.
— Isso não faz sentido. Minha mãe nunca mencionou…
Damian aproximou o rosto do dela.
O olhar dele era intenso, quase hipnotizante.
— Ela não te contou porque o que aconteceu aqui destruiu sua família.
E eu estava lá.
O chão de Helena pareceu sumir por um segundo.
— Como assim… “lá”?
Damian respirou fundo, quase como se confessar fosse torturante.
— Eu vi tudo.
Eu estava presente no dia em que sua mãe desapareceu da empresa.
E no dia em que ela foi acusada de algo que não fez.
Helena sentiu o sangue gelar.
— Você está insinuando que minha mãe… esteve envolvida em um crime?
Damian não respondeu de imediato.
E essa pausa foi pior do que qualquer resposta.
— Eu não posso dizer tudo ainda — ele confessou, a voz baixa. — Não enquanto isso puder te colocar em risco.
Helena recuou um passo.
— Então é verdade. Você está escondendo algo enorme. Algo que envolve a minha família.
— Eu estou te protegendo — ele rebateu, a voz carregada de um sentimento que ela não conseguia decifrar.
— Você está me controlando — ela devolveu, com um fio de voz. — Está me usando.
A expressão dele mudou.
Enureceu.
Se fechou.
— Eu nunca usaria você.
— Está fazendo isso agora!
Ele avançou um passo.
Ela recuou.
Cada movimento deles era uma batalha — poder contra liberdade, desejo contra medo.
Damian segurou o queixo dela, firme, mas não agressivo.
— Eu só preciso de tempo para te contar tudo — ele murmurou, os olhos queimando nos dela. — Mas quando eu contar… você nunca mais vai olhar para mim da mesma forma.
Helena sentiu o ar faltar.
— Então comece agora.
Damian a encarou por longos segundos.
A tensão s****l entre os dois estava tão intensa que parecia eletricidade estática no ar.
Mas, por baixo dela, havia algo mais escuro.
Algo doloroso.
— Helena… — ele disse enfim, a voz quase quebrada — o crime que destruiu sua mãe…
— …foi cometido pelo meu pai.
E eu ajudei a encobrir.
O mundo parou.
Helena recuou, sem conseguir respirar.
Ele deu um passo à frente, mas ela levantou a mão impedindo-o.
— Não. Fique longe de mim… por favor.
Damian fechou os olhos, como se a frase tivesse sido uma facada.
E então ela saiu da sala, sem olhar para trás.
Mas enquanto caminhava pelo corredor com o coração em pedaços, não percebeu o homem encostado na parede oposta, observando-a com um sorriso estranho.
Um homem que não deveria estar ali.
Um homem ligado ao passado de sua mãe…
E ao crime que Damian tentou esconder.
Alguém que agora sabia que Helena estava perto demais da verdade.
E que precisava ser silenciada.