capitulo 10

1033 Words
Helena Helena ficou ali, imóvel, com a foto da mãe entre os dedos, enquanto o mundo parecia silenciar ao redor. A imagem não era recente — pelo contrário, era antiga, de quando sua mãe ainda era jovem. Mas não era isso que a assustava. Era o detalhe no canto inferior. Um carimbo. Antigo. Desbotado. Do mesmo grupo empresarial que Damian comandava hoje. O mesmo prédio onde ela estava agora. A mesma empresa onde trabalhava há menos de um mês. O coração dela bateu forte, quase dolorido. Ela olhou de novo a foto, virando-a para o verso. E ali, quase apagado, havia um número escrito à mão. Um código. Algo que claramente não pertencia a uma foto de família. — O que você está escondendo de mim…? — ela sussurrou para si mesma. Mas sabia que a resposta tinha um nome. E esse nome era Damian Navarro. ----- O escritório parecia diferente aquela manhã Quando Helena saiu da sala do chefe, a sensação de que todos sabiam alguma coisa que ela não sabia se intensificou. Alguns funcionários olharam rápido demais. Outros desviaram o olhar rápido demais. Como se ela fosse parte de um segredo maior. E estivesse entrando em território proibido. Ela tentou agir normalmente enquanto organizava documentos, mas sua mente estava presa na foto. Preso em Damian. Na forma como ele a tocara mais cedo. Na forma como sua voz parecia prometer devoção e ameaça ao mesmo tempo. Eu já fiz coisas piores. Ecoava dentro dela sem parar. Helena tentou afastar os pensamentos, mas o elevador abriu e o som da voz dele veio nítido, cortante, como sempre. — Helena. — Não era um chamado. Era uma ordem velada. Ela respirou fundo e caminhou até a sala dele. ------ Damian estava sentado, mas havia algo errado Ele parecia mais tenso que o normal. A mão segurava uma caneta com força demais. O olhar estava fixo no vidro, como se encarasse algo que só ele conseguia ver. Assim que ela entrou, ele levantou os olhos. — Feche a porta. Ela obedeceu… mas sua postura era diferente. Não mais a assistente tímida do começo. Ela estava furiosa. Confusa. Apavorada. — Quero saber por que você tem uma foto da minha mãe dentro de uma pasta com meu nome — ela disse direto, sem rodeios. A mandíbula de Damian travou. Um músculo pulsou em seu rosto. Ele respirou fundo… e levantou da cadeira. — Você não deveria ter visto isso — ele disse. Helena ergueu o queixo. — Mas eu vi. E agora você vai me explicar. Damian caminhou até ela, devagar, como um predador tentando acalmar a própria fome. Chegou tão perto que ela sentiu o calor dele antes do toque. — Não mexa no que eu não te dei permissão. — Não sou sua prisioneira. — Ela manteve a voz firme, apesar do tremor sútil em suas mãos. — Você não tem o direito de vasculhar minha família. O olhar dele escureceu. Não de raiva — de dor. Uma dor violenta, profunda, escondida atrás de camadas de controle. — Helena… — a voz dele saiu baixa, quase suplicante. — Eu fiz isso por você. Ela sentiu o peito apertar. Mas não recuou. — Então me explica. — Silêncio. Um segundo. Dois. Três. — A sua mãe trabalhava aqui — Damian disse finalmente. Helena piscou, confusa. — Como assim? — Antes de você nascer. Quando a empresa ainda era comandada pelo meu pai. Helena arregalou os olhos. — Isso não faz sentido. Minha mãe nunca mencionou… Damian aproximou o rosto do dela. O olhar dele era intenso, quase hipnotizante. — Ela não te contou porque o que aconteceu aqui destruiu sua família. E eu estava lá. O chão de Helena pareceu sumir por um segundo. — Como assim… “lá”? Damian respirou fundo, quase como se confessar fosse torturante. — Eu vi tudo. Eu estava presente no dia em que sua mãe desapareceu da empresa. E no dia em que ela foi acusada de algo que não fez. Helena sentiu o sangue gelar. — Você está insinuando que minha mãe… esteve envolvida em um crime? Damian não respondeu de imediato. E essa pausa foi pior do que qualquer resposta. — Eu não posso dizer tudo ainda — ele confessou, a voz baixa. — Não enquanto isso puder te colocar em risco. Helena recuou um passo. — Então é verdade. Você está escondendo algo enorme. Algo que envolve a minha família. — Eu estou te protegendo — ele rebateu, a voz carregada de um sentimento que ela não conseguia decifrar. — Você está me controlando — ela devolveu, com um fio de voz. — Está me usando. A expressão dele mudou. Enureceu. Se fechou. — Eu nunca usaria você. — Está fazendo isso agora! Ele avançou um passo. Ela recuou. Cada movimento deles era uma batalha — poder contra liberdade, desejo contra medo. Damian segurou o queixo dela, firme, mas não agressivo. — Eu só preciso de tempo para te contar tudo — ele murmurou, os olhos queimando nos dela. — Mas quando eu contar… você nunca mais vai olhar para mim da mesma forma. Helena sentiu o ar faltar. — Então comece agora. Damian a encarou por longos segundos. A tensão s****l entre os dois estava tão intensa que parecia eletricidade estática no ar. Mas, por baixo dela, havia algo mais escuro. Algo doloroso. — Helena… — ele disse enfim, a voz quase quebrada — o crime que destruiu sua mãe… — …foi cometido pelo meu pai. E eu ajudei a encobrir. O mundo parou. Helena recuou, sem conseguir respirar. Ele deu um passo à frente, mas ela levantou a mão impedindo-o. — Não. Fique longe de mim… por favor. Damian fechou os olhos, como se a frase tivesse sido uma facada. E então ela saiu da sala, sem olhar para trás. Mas enquanto caminhava pelo corredor com o coração em pedaços, não percebeu o homem encostado na parede oposta, observando-a com um sorriso estranho. Um homem que não deveria estar ali. Um homem ligado ao passado de sua mãe… E ao crime que Damian tentou esconder. Alguém que agora sabia que Helena estava perto demais da verdade. E que precisava ser silenciada.
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