CAPÍTULO 4

891 Words
O número gravado no pingente me perseguia como uma sombra. 12-09-09. Uma data. Mas é data de quê? Será que é de Aniversário? Ou de uma Morte de alguém? Ou talvez pode ser um código de algum? Fiquei horas tentando esquecer aquela data de sei lá o que. Mas quanto mais tentava me lembrar, mais sentia um peso sobre o meu peito — frio, silencioso, quase como se me observasse. E , lá no fundo, eu sabia: nada em Damian Navarro era apenas o que parecia ser. Tudo tinha que ter um propósito, e essa data com certeza é algo que talvez eu tenha visto. Na manhã seguinte, cheguei mais cedo ao escritório antes de todo mundo. O sol m*l despontava sobre os vidros altos da Navarro Corp. A cidade ainda despertava, e eu queria alguns minutos de paz antes que o caos começasse. Mas como sempre, ele já estava lá. Damian estava de pé, diante da janela panorâmica para a cidade, um terno escuro perfeitamente alinhado, uma taça de café nas mãos e um olhar distante — esse homem que parece ser feito de ferro e segredos. — Você chegou cedo hoje— disse sem virar o rosto. — Costumo gostar de silêncio pela manhã— respondi. Ele sorriu de canto, o reflexo do vidro me mostrando aquele sorriso frio e quase imperceptível. — Silêncio é perigoso, Helena. É nele que os pensamentos ganham voz. — Então talvez eu precise ouvir os meus. Damian se virou devagar, o olhar cravado em mim. — E o que eles dizem? Desviei o olhar. — Que eu devia ficar longe de você. Ele se aproximou, passo a passo. — E por que não fica? Engoli seco. — Porque ainda não consegui entender por que não quero. O silêncio que se seguiu era denso demais. O som do relógio de parede parecia um coração batendo alto demais. Damian parou à minha frente, tão perto que o perfume dele me envolveu por completo. Estendeu a mão e tocou o colar. — Usou — murmurou, satisfeito. — Boa menina. Senti um arrepio na espinha. — Damian… o que essa data significa? — perguntei num sussurro. Por um instante, ele congelou. O olhar endureceu, a respiração se alterou — o controle dele vacilou por uma fração de segundo. Mas então o sorriso retornou, frio, ensaiado. — Uma lembrança minha— respondeu. — De algo que não quero esquecer. — Algo bom? — arrisquei. — Nem sempre o que marca a gente é bom. — A voz dele soou mais baixa, quase um sussurro. — Às vezes, são as feridas que definem quem nos tornamos. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ele se afastou. — Hoje à noite, jantaremos com alguns investidores. Preciso que esteja presente. — Está me convidando? — Ordenando. — Ele olhou por cima do ombro, o olhar perigoso. — Às sete. Vista algo preto. E discreto. ++++++++++ O restaurante era caro, discreto, iluminado por luzes douradas. Damian me esperava em uma das mesas reservadas ao fundo, de costas para a maioria das pessoas — uma posição que lhe permitia ver tudo sem ser visto. Quando me aproximei, ele se levantou. O olhar percorreu cada centímetro de mim com um misto de aprovação e desejo contido. — Perfeita. — Foi tudo o que ele disse. Durante o jantar, ele era outro homem. Educado, encantador, de sorriso calculado e respostas afiadas. Os investidores o admiravam — e o temiam. E, por algum motivo, eu também. Mas entre uma taça de vinho e outra, percebi algo. Um dos homens mencionou discretamente a fusão com a Falcon Industries, e por um segundo, o olhar de Damian escureceu. Foi rápido, mas eu vi. Aquela data — 12-09-09 — pareceu brilhar de novo na minha mente. Depois do jantar, no carro, ele estava em silêncio. O motorista nos levava de volta, e a tensão dentro do veículo era sufocante. — Você não gostou do comentário sobre a Falcon — ousei dizer. Damian virou o rosto lentamente, os olhos fixos nos meus. — Aprendeu a observar. Cuidado com isso. Nem sempre é seguro ver demais. — Por quê? — Porque, às vezes, quem vê… acaba se tornando cúmplice. O olhar dele desceu até minha boca, e o ar pareceu sumir. O silêncio entre nós pulsava de forma quase dolorosa. E então ele se inclinou um pouco, a voz rouca demais, baixa demais: — Você tem ideia do que está fazendo comigo, Helena? — Eu… não. — Está me tirando do controle. — Os dedos dele roçaram a minha mão. — E eu odeio perder o controle. O carro parou em frente ao meu prédio, mas nenhum dos dois se moveu. Ele se aproximou mais, o rosto a centímetros do meu. — Vá — murmurou, os olhos queimando. — Antes que eu faça algo que não posso desfazer. Desci do carro tremendo, o coração disparado. Mas, ao olhar para trás, vi Damian ainda ali — parado, observando, como se lutasse contra algo dentro dele. Naquela noite, antes de dormir, tirei o colar e deixei sobre a mesa da cabeceira. Mas ao acordar pela manhã, não o encontrei e percebi que estava no meu pescoço novamente. O ar gelou. E então percebi: Damian não era apenas um chefe obcecado. Ele era alguém que sempre encontrava um jeito de ter o que queria.
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