O número gravado no pingente me perseguia como uma sombra.
12-09-09.
Uma data.
Mas é data de quê? Será que é de Aniversário? Ou de uma Morte de alguém? Ou talvez pode ser um código de algum?
Fiquei horas tentando esquecer aquela data de sei lá o que. Mas quanto mais tentava me lembrar, mais sentia um peso sobre o meu peito — frio, silencioso, quase como se me observasse.
E , lá no fundo, eu sabia: nada em Damian Navarro era apenas o que parecia ser.
Tudo tinha que ter um propósito, e essa data com certeza é algo que talvez eu tenha visto.
Na manhã seguinte, cheguei mais cedo ao escritório antes de todo mundo.
O sol m*l despontava sobre os vidros altos da Navarro Corp.
A cidade ainda despertava, e eu queria alguns minutos de paz antes que o caos começasse.
Mas como sempre, ele já estava lá.
Damian estava de pé, diante da janela panorâmica para a cidade, um terno escuro perfeitamente alinhado, uma taça de café nas mãos e um olhar distante — esse homem que parece ser feito de ferro e segredos.
— Você chegou cedo hoje— disse sem virar o rosto.
— Costumo gostar de silêncio pela manhã— respondi.
Ele sorriu de canto, o reflexo do vidro me mostrando aquele sorriso frio e quase imperceptível.
— Silêncio é perigoso, Helena. É nele que os pensamentos ganham voz.
— Então talvez eu precise ouvir os meus.
Damian se virou devagar, o olhar cravado em mim.
— E o que eles dizem?
Desviei o olhar. — Que eu devia ficar longe de você.
Ele se aproximou, passo a passo. — E por que não fica?
Engoli seco. — Porque ainda não consegui entender por que não quero.
O silêncio que se seguiu era denso demais.
O som do relógio de parede parecia um coração batendo alto demais.
Damian parou à minha frente, tão perto que o perfume dele me envolveu por completo.
Estendeu a mão e tocou o colar.
— Usou — murmurou, satisfeito. — Boa menina.
Senti um arrepio na espinha.
— Damian… o que essa data significa? — perguntei num sussurro.
Por um instante, ele congelou.
O olhar endureceu, a respiração se alterou — o controle dele vacilou por uma fração de segundo.
Mas então o sorriso retornou, frio, ensaiado.
— Uma lembrança minha— respondeu. — De algo que não quero esquecer.
— Algo bom? — arrisquei.
— Nem sempre o que marca a gente é bom. — A voz dele soou mais baixa, quase um sussurro. — Às vezes, são as feridas que definem quem nos tornamos.
Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ele se afastou.
— Hoje à noite, jantaremos com alguns investidores. Preciso que esteja presente.
— Está me convidando?
— Ordenando. — Ele olhou por cima do ombro, o olhar perigoso. — Às sete. Vista algo preto. E discreto.
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O restaurante era caro, discreto, iluminado por luzes douradas.
Damian me esperava em uma das mesas reservadas ao fundo, de costas para a maioria das pessoas — uma posição que lhe permitia ver tudo sem ser visto.
Quando me aproximei, ele se levantou.
O olhar percorreu cada centímetro de mim com um misto de aprovação e desejo contido.
— Perfeita. — Foi tudo o que ele disse.
Durante o jantar, ele era outro homem.
Educado, encantador, de sorriso calculado e respostas afiadas.
Os investidores o admiravam — e o temiam.
E, por algum motivo, eu também.
Mas entre uma taça de vinho e outra, percebi algo.
Um dos homens mencionou discretamente a fusão com a Falcon Industries, e por um segundo, o olhar de Damian escureceu.
Foi rápido, mas eu vi.
Aquela data — 12-09-09 — pareceu brilhar de novo na minha mente.
Depois do jantar, no carro, ele estava em silêncio.
O motorista nos levava de volta, e a tensão dentro do veículo era sufocante.
— Você não gostou do comentário sobre a Falcon — ousei dizer.
Damian virou o rosto lentamente, os olhos fixos nos meus.
— Aprendeu a observar. Cuidado com isso. Nem sempre é seguro ver demais.
— Por quê?
— Porque, às vezes, quem vê… acaba se tornando cúmplice.
O olhar dele desceu até minha boca, e o ar pareceu sumir.
O silêncio entre nós pulsava de forma quase dolorosa.
E então ele se inclinou um pouco, a voz rouca demais, baixa demais:
— Você tem ideia do que está fazendo comigo, Helena?
— Eu… não.
— Está me tirando do controle. — Os dedos dele roçaram a minha mão. — E eu odeio perder o controle.
O carro parou em frente ao meu prédio, mas nenhum dos dois se moveu.
Ele se aproximou mais, o rosto a centímetros do meu.
— Vá — murmurou, os olhos queimando. — Antes que eu faça algo que não posso desfazer.
Desci do carro tremendo, o coração disparado.
Mas, ao olhar para trás, vi Damian ainda ali — parado, observando, como se lutasse contra algo dentro dele.
Naquela noite, antes de dormir, tirei o colar e deixei sobre a mesa da cabeceira.
Mas ao acordar pela manhã, não o encontrei e percebi que estava no meu pescoço novamente.
O ar gelou.
E então percebi:
Damian não era apenas um chefe obcecado.
Ele era alguém que sempre encontrava um jeito de ter o que queria.