CAPÍTULO 3

914 Words
Algumas horas depois, com o envelope em mãos, eu dirigia até o endereço indicado. Chego em um prédio antigo, em uma parte da cidade que eu nunca frequentava. As janelas cobertas, o silêncio cortante. Ao entregar o envelope ao homem que me esperava, ele apenas assentiu e disse: — O senhor Navarro agradece. Nada mais. Nenhuma explicação. Mas, ao virar as costas para ir embora, algo me chamou atenção — um selo vermelho no canto do envelope. Um símbolo estranho, quase como uma marca de família ou uma assinatura secreta. Senti um arrepio percorrer minha nuca. E, pela primeira vez, me perguntei se Damian estava realmente me protegendo...ou apenas me usando em algo muito maior do que eu podia entender. Quando voltei ao escritório, ele já me esperava, parado diante da janela, de costas. — Fez o que pedi? — perguntou sem se virar. — Sim. — Boa menina. — disse, e aquela frase me atingiu como uma faísca no peito. Havia carinho e controle estranho. Um doce e perigoso ao mesmo tempo. Ele se virou, o olhar escuro, indecifrável. — A partir de agora, Helena... você trabalha só para mim. E naquele momento, percebi que meu destino estava selado. Não importava o quanto eu quisesse resistir — já estava presa no jogo dele. Um jogo de poder, segredos e desejo. E Damian Navarro era o tipo de homem que nunca perdia. ++++++++++++++ Cheguei em minha casa muito cansada, só tomei banho e fui a cama. Dormir naquela noite foi impossível. Cada vez que fechava os olhos, eu via o rosto dele , o olhar, o tom de voz, a forma como segurou meu pulso antes de me soltar. Damian Navarro tinha me deixado com muitas perguntas e poucas respostas. Na manhã seguinte, o ambiente na Navarro Corp parecia mais silencioso do que o normal. As pessoas falavam baixo quando ele passava. Algumas desviavam o olhar. E eu... ainda sentia o peso do envelope que entreguei, como se algo tivesse mudado dentro de mim desde aquele momento. Quando cheguei à minha mesa, havia uma pequena caixa preta me esperando. Sem remetente, sem bilhete. Dentro, um colar delicado — uma corrente fina com um pingente de obsidiana escura. Linda. Fria. Misteriosa. Assim como ele. — Gostou? — A voz de Damian soou atrás de mim, firme, baixa, quase rouca. Virei, surpresa, e o encontrei parado, observando-me com aquele olhar indecifrável. — Foi você quem deixou aqui? — Uma forma de agradecer pelo que fizeste ontem. — Ele deu um passo à frente. — A maioria das pessoas não teria cumprido aquela tarefa sem questionar. — Eu pensei em perguntar — admiti. — Mas imaginei que você não responderia. Um sorriso discreto se formou em seus lábios. — Inteligente. Curiosa, mas disciplinada. Gosto disso em você. Meu coração disparou. Damian se aproximou devagar, o perfume amadeirado preenchendo o espaço. Ele ergueu a mão e, sem pedir permissão, tocou o pingente sobre meu pescoço, fazendo o metal gelado roçar minha pele. — Combina com você — murmurou. — Escura, delicada… e impossível de ignorar. Eu devia me afastar dele. Devia correu daqui. Mas meus pés pareciam colados ao chão, e meu corpo, traidor, reagia ao toque dele como se fosse fogo. — Damian… — sussurrei, tentando recuperar o ar. — Isso não é apropriado. Ele inclinou a cabeça, os olhos mergulhando nos meus. — Nada entre nós será apropriado, Helena. Mas isso não me impede de querer. O mundo pareceu parar por um instante. As palavras dele tinham um poder perigoso — uma promessa e uma ameaça misturadas. — Está me testando de novo? — perguntei, tentando manter firmeza. Ele sorriu, um sorriso de predador. — Sempre estarei. ++++++++++ Mais tarde, fomos juntos a uma reunião com os investidores. Damian era outro homem ali dentro — frio, afiado, impenetrável. O CEO que todos temiam. Mas a cada vez que nossos olhares se cruzavam, eu sentia aquele mesmo fio invisível que nos unia, como se o ar entre nós carregasse algo elétrico, e vivo. Depois da reunião, ele me chamou novamente à sala. Desta vez, a tensão não era apenas palpável — era sufocante. — Há algo que preciso que saiba, Helena. — Ele se apoiou na mesa, os olhos sombrios. — Aqui dentro, existem segredos que custam caro. Se continuar ao meu lado, vai acabar se envolvendo neles, queira ou não. — Está tentando me afastar? — Não. — Ele se aproximou. — Estou te avisando. Havia um peso em sua voz que me fez estremecer. Ele tocou meu rosto com os dedos, de leve, como se testasse os meus limites. — Eu não perdoo traições. — sussurrou. — E também não sei amar pela metade. Antes que eu pudesse responder, o interfone tocou. Damian se afastou com um movimento brusco, como se nada tivesse acontecido. — Pode sair. Mas quando cheguei à porta, ele falou, sem olhar para mim: — Use o colar. Sempre. Saí dali tremendo de medo, sem saber se era medo, desejo ou uma mistura dos dois. O colar pesava sobre minha pele como uma marca. E, por algum motivo, eu sabia que o presente não era apenas um agrado... Era um símbolo de posse. Naquela noite, quando cheguei em casa, a luz da rua refletia no pingente, e algo me chamou atenção — havia um número gravado na lateral, quase invisível: 12-09-09. Uma data. O que significava aquilo? E, mais importante, o que exatamente eu estava começando a descobrir sobre Damian Navarro?
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