Capítulo 2

1491 Words
-Então nossos pais eram amigos. -Ele disse assim que começamos a caminhar mais uma vez. -É o que parece. -Falei sem olha-lo. -Você está bem? O olhei e vi que o mesmo estava me encarando. -É... é difícil estar bem depois de tudo o que passei nas últimas semanas. -Sim, eu imagino. Assim que chegamos de frente para uma porta de ferro, ele a abriu e deu espaço para eu entrar primeiro. Passamos por diversos lugares bem estranhos, se posso dizer assim. Alguns tão escuros que eu tive que ir passando a mão na parede pra não cair. Chegamos em um lugar onde estava escrito bem grande "Bloco C". -Vem, vou te apresentar algumas pessoas. O segui e ele pigarreou para chamar a atenção das pessoas aqui presente. Todos nos olharam. -Bom, essa é a Sofia. Ela vai ficar com a gente daqui pra frente. Todos concordaram com a cabeça e eu abaixei o olhar um pouco envergonhada. -Esses são Daryl, Maggie, Glenn, Beth e Hershel. -Oi, seja bem vinda. -Disse a mulher de cabelos castanho curto. -Obrigada. -Bom, agora eu vou te mostrar aonde você pode ficar. Ele saiu caminhando em direção as celas e eu o segui. -Você vai gostar daqui. -Falou enquanto caminhava. -São pessoas boas. -Como se conheceram? Foi depois disso tudo acontecer ou já se conheciam? -Quando ficamos sabendo desse vírus, eu, meu pai e minha mãe, fugimos para a chácara de meu avô. Mas quando estávamos nos aproximando da casa, os zumbis nos cercaram, então fomos para uma chácara mais próxima. Foi lá que conhecemos eles. -E pensaram em ficar em uma prisão? -Na verdade não. Uma semana depois, algo causou um incêndio na chácara, nos fazendo voltar pra cidade e procurar um lugar seguro. -Vocês realmente tiveram uma ótima ideia. -Somos um gênio, eu sei. -Não posso negar, vocês foram mesmo. Ele começou a rir e entramos em uma das celas. -Bom, é aqui que eu fico. Eu durmo sozinho. Se você quiser, pode ficar. Mas se preferir ficar com uma menina, tem a Beth. -Ah, eu prefiro ficar aqui. Eu nem conversei com ela direito, então... -Vai ser bom ter um pouco de companhia. -Ele se jogou na cama de baixo da beliche. -Você pode ficar na parte de cima. -Tirei a mochila das costas e joguei em cima da mesa. -Eu preciso tanto de um banho. -Falei e prendi o cabelo em seguida. -O banheiro fica no Bloco E, posso ir com você se quiser. -Não precisa, obrigada. -Peguei uma peça de roupas na mochila e saí. ### Enquanto voltava para a cela, vi que o garoto não estava mais aqui. Então eu subi e me deitei em minha nova cama. Não consigo acreditar que enfim irei poder dormir sem me preocupar. Estava olhando para o teto quando ouvi o portão da cela sendo aberto, me virei e vi que era o garoto. -Olha só, parece até outra garota. -Fiz uma careta e ele sorriu. -Qual é o seu nome mesmo? Me esqueci. -Digo rindo. -Carl. Carl Grimes. Mas e então, no que estava pensando antes de eu chegar? Você parecia bem perdida. -Ele perguntou vindo para perto de mim. Se sentou ao meu lado. -Ah, sei lá... em tudo... aconteceu tanta coisa. Perdi meus pais, minha vida antiga, tudo. -Eu entendo, é difícil de acreditar em tudo o que está acontecendo. As coisas mudaram tanto de uma hora pra outra. -Sim, e eu ainda não estou sabendo lidar com isso. -Falei e abaixei minha cabeça. -Pelo menos agora você está em um lugar seguro. -Ele sorriu sem mostrar os dentes. -Graças a você.- Falei e encarei-o. Ele permaneceu em silêncio como se estivesse surpreso por minha resposta. -Eu... tenho que desfazer minha mochila. -Olhei para a mesa. -Quer ajuda? Neguei e agradeci. Levantei e peguei ela. Sentei na cadeira e coloquei tudo sobre a mesa. Ele deitou em minha cama e ficou olhando em minha direção. Vi que havia sobrado bastante enlatado e tinha uns 2 litros de água ainda. Peguei meu celular e vi que ele estava descarregado. Depois daquele dia, não consegui mais falar com Luke. Peguei minhas roupas e guardei no armário. Quando estava indo guardar minha mochila em um canto, vi que a a**a do meu pai ainda estava lá dentro. A peguei e coloquei em cima da mesa. Guardei tudo em um canto e fui em direção a minha cama. Carl estava deitado na sua já. -Está com sono? -Sim. Estou tão cansada. A muito tempo não durmo o suficiente. -Então descanse. Eu ainda não estou com sono. Vou deixar você sozinha. Concordei e me arrumei melhor na cama. -Boa noite, Sofia. -Boa noite. Virei para o lado e dormi. [...] Abri os olhos e olhei ao redor. Está escuro. Olhei para a parte debaixo da beliche e vi Carl dormindo. Estou completamente perdida no tempo. Levantei e comecei a andar pela prisão, pensando no que posso fazer para passar o tempo, já que sei que se eu me deitar novamente vou ficar rolando de um lado para o outro. Saí para a parte onde há grama no pátio e me sentei na mesma, sentindo aquelas folhas completamente macias tocarem minhas pernas. Hoje o céu está bem estrelado, diferente dos outros dias. Eu amo tanto as estrelas, elas são capazes de me fazer acalmar até mesmo nos dias mais difícieis. Olhando assim para cima, só consigo pensar em meus pais. Ah, eu sinto tanta falta. -Tanta falta. -Falei e soltei um suspiro. -Eu estou tão sozinha nesse mundo estranho. Já nem sei mais o que estou fazendo. Tenho tentado ser fortes todos os dias desde quando perdi vocês mas está sendo tão difícil, tão difícil. -Senti lágrimas brotarem em meus olhos. -Queria ter podido manter vocês a salvo, queria tanto ter podido aproveitar mais os momentos que eu tinha com vocês. Só que eu estava tão apavorada que m*l conseguia me defender sozinha. E agora... eu me arrependo tanto disso. Ao sentir uma lágrima escorrendo, a deixei cair e abaixei a cabeça. -Eu sou tão inútil. Alguém pigarreou atrás de mim então me virei assustada. -Eu não queria te atrapalhar, mas me senti m*l de ficar aqui e não te dar nenhum apoio. Sequei meu rosto e voltei a olhar para frente. -Há quanto tempo estava aí parado? -Não muito. -Ele se sentou ao meu lado. Não o olhei. -Você está... bem? Neguei levemente e suspirei para impedir que as lágrimas saíssem mais uma vez. -Eu não... eu não tinha que estar aqui agora. -Peguei na grama e a senti entre meus dedos. -Talvez se eu tivesse morrido logo no começo... -Por favor, não fala isso. -Ele pegou na grama ao lado de minha. -Você é forte, Sofia. Olha até onde você chegou sozinha. Permaneci em silêncio. -Não deve ter sido fácil viver lá fora com o jeito que as coisas estão, ainda mais na sua idade. -É. -Falei. -Não se culpe por uma coisa que você n******e mudar. Olhei de canto de olho pra ele e o vi observando o chão. -Obrigada, Carl. -Não fica se preocupando com isso. Um vento frio passou sobre nós então instintivamente passei as mãos sobre o braço. -Aqui. -Ele começou a tirar sua jaqueta jeans. -Não, não. Tá tudo bem, sério. -Pega, Sofia. Carl a pegou nas mãos e a estendeu em minha direção. -Carl. -Pega logo. -Ele riu. Quando percebeu que eu não ia fazer isso, ele a colocou sobre meus ombros. Sorri e arrumei a jaqueta melhor. -Obrigada. -Então... me fala um pouco sobre você. Me virei na direção dele e o peguei a tempo retirando seu chapéu da cabeça. -Bom, o que quer saber? -Como era sua vida antes disso tudo? -É... -Comecei a pensar. -Eu estava no segundo ano do ensino médio e tinha a intenção de me formar em gastronomia. -Sorri. -Eu também tinha um melhor amigo chamado Luke, ele era tudo o que eu tinha. Engoli seco ao me lembrar que talvez nunca mais eu o veja. -Ele... ele me presenteou com esse colar antes de tudo acontecer. -Toquei meu pescoço. -É lindo. -Falou. -É sim. Ficamos em silêncio durante um curto período de tempo. -Mas e a sua vida? -Puxei assunto. -Não tenho muito o que contar. Eu era super tímido e não conversava com quase ninguém. Bom, em r*****o a gostar de alguém, também não tinha ninguém. -Ele sorriu. -Não tive essa mesma sorte que você. -Não tinha um sonho em se formar em alguma coisa? -Quando eu era menor queria ser policial, igual meu pai, mas com o passar do tempo... sei lá, perdi essa v*****e e decidi ser veterinário. -Veterinário, ótima escolha. Sorri e ele também. -É uma pena que não possamos fazer o que tanto queríamos. -Falei em seguida. Ele concordou. -Mas agora vamos ter que nos acostumar com a ideia de que nada mais vai voltar a ser como era antes. -É, talvez você tenha razão.
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