7. ENTRE PIXELS E SENTIMENTOS

1122 Words
Depois daqueles dias tensos, a tela do celular de Clara voltou a acender com a familiaridade que ela tanto sentia falta. Lucas retomou as conversas com a mesma intensidade de antes, e o alívio que tomou conta dela foi palpável. Ela já ansiava por aquele “bom dia” carregado de carinho especial. Lucas: Bom dia, Clara! Como está seu dia? Um sorriso iluminou o rosto dela. Ela respondeu rápido: Clara: Bom dia, Lucas! Tava morrendo de saudade do seu “bom dia”, sabia? Lucas: Eu também senti falta do seu! Estava aqui esperando. O coração de Clara acelerou. Parecia que haviam retomado a rotina como se nada tivesse acontecido, mas havia algo diferente no ar , uma sutileza que se tornava cada vez mais óbvia. Lucas começou a enviar vídeos: cenas de filmes românticos, declarações públicas, casais em momentos de pura doçura. Num desses dias, ele mandou um vídeo com uma legenda que dizia: “A vida é curta demais para deixar de amar alguém só porque ela é casada.” O rosto de Clara esquentou. Ela hesitou, abriu a conversa e, em vez de encarar diretamente, respondeu com uma figurinha de vergonha e uma frase curta: Clara: Lucas... não vou comentar isso. Silêncio por um instante, carregado, pesado e cheio de possibilidades. A cena do vídeo ecoou como uma declaração sutil de Lucas para ela, um convite silencioso para um território novo e perigoso de sensações. Clara, com o coração apertado e um sorriso bobo no rosto, entendeu imediatamente. Embora nunca tivessem se visto pessoalmente, a conexão entre os dois era quase inexplicável. Conversavam há pouco tempo, mas era como se se conhecessem há anos; essa familiaridade instantânea deixava Clara à vontade para se abrir. Clara: Ai, Lucas, hoje não estou me sentindo muito bem. Lucas: Calma, Clara, respira. Me conta, nos mínimos detalhes. Às vezes falar ajuda. E ela contou, despejando as palavras como se fossem um alívio, os dedos voando pela tela. Outra vez, ela compartilhou um sonho antigo: Clara: Sabe, Lucas, sempre quis ser famosa… mas acho que é bobagem, né? Lucas: Bobagem? De jeito nenhum! Se é teu sonho, corre atrás. O que te segura? Foco, força e fé, mulher. Vai lá e arrasa! As risadas eram constantes. Quando Clara soltava uma piada sem graça, Lucas sempre achava um jeitinho de rir ou de devolver uma resposta que a fazia gargalhar. Eles trocavam fotos dos lugares onde estavam, marcavam quem os acompanhava, comentavam pequenas banalidades do dia , pareciam, às vezes, um casal que namorava à distância. Essa relação digital, nascida e alimentada por mensagens, vídeos e emojis, fazia um bem imenso a Clara. Ela se redescobria: mais viva, mais confiante, sentindo-se amada de um jeito novo e inesperado. A atenção de Lucas trazia à tona camadas dela que a rotina havia ofuscado. Mais tarde, ainda imersa nas trocas com Lucas, Clara pegou o celular e enviou uma mensagem para Otávio, tentando puxar conversa sobre o dia: Clara: Oi amor, como tá o trabalho hoje? Vamos jantar juntos mais tarde? Ela viu as duas setinhas azuis aparecerem ,ele visualizou. Minutos se passaram, e nada. Nenhum “oi”, nenhum emoji. Clara franziu a testa, olhando para a tela. Comparou, inevitavelmente, com Lucas: mesmo chateado nos dias anteriores, ele sempre respondia rápido, com atenção genuína, como se cada palavra dela importasse. Otávio? Nem um sinal. Aquilo a deixou pensativa, o peito apertando com uma mistura de frustração e tristeza. Enquanto isso, no trabalho, Marina se aproximou de Otávio na copa da empresa, o ar condicionado zumbindo ao fundo e o cheiro de café fresco no ar. Ela, com seu vestido justo e cabelos curtos morenos emoldurando o rosto, inclinou-se contra a bancada, os olhos fixos nele como se estivesse avaliando. Notou o anel no dedo dele e sorriu, um sorriso calculado e charmoso. “Otávio, né? A gente m*l se conhece, mas ouvi falar que você é o cara das planilhas aqui,” disse Marina, a voz aveludada, aproximando-se um passo a mais, o perfume doce invadindo o espaço dele. Otávio ergueu o olhar do copo de café, surpreso, mas com um meio-sorriso. “Sim, sou eu. Marina, certo? Bem-vinda à equipe. Precisa de ajuda com algo?” Ela riu baixinho, tocando levemente o braço dele. “Ah, sempre preciso de ajuda de alguém como você. Mas me conta, esse anel aí… casado há quanto tempo? Parece que você tem uma vida bem estável fora daqui.” Otávio hesitou, mas o flerte dela o desarmou um pouco. Ele deu de ombros, olhando para o anel como se o visse pela primeira vez. “Faz mais de quinze anos que sou casado com Clara, minha esposa. Por quê?” Marina se inclinou mais de perto, os olhos brilhando com curiosidade fingida. “Curiosidade minha. Vocês parecem um casal daqueles de comercial, sabe? Mas me diz, como é? Ainda tem aquela faísca do começo, ou é mais rotina agora? Eu adoro histórias reais.” Otávio bufou uma risada amarga, baixando a voz como se confidenciasse um segredo. “Faísca? Que nada. No começo era bom, mas agora… ela é tão sem graça, sabe? Sempre no mesmo ritmo, reclamando de tudo. Não sinto mais t***o nela, pra ser sincero. É como se a gente vivesse no automático. Trabalho o dia todo, chego em casa e é só isso.” Marina ergueu uma sobrancelha, o sorriso se aprofundando. “Sério? Uma pena. Um cara como você merece mais empolgação. Mas ei, se precisar desabafar mais… tô aqui. Quem sabe não ajudo a colocar um pouco de fogo nessa rotina?” Otávio riu, desconfortável mas lisonjeado, e eles continuaram conversando, o flerte dela manipulando o ar com charme e carisma, chamando sua atenção para longe de casa. Como sempre, Otávio chegou tarde da noite, com o relógio marcando quase meia-noite. Clara ouviu a chave na porta, ao som dos passos pesados no corredor. Ele entrou no quarto sem acender a luz, jogou a roupa no chão e foi direto para o banheiro. O chuveiro correu por alguns minutos, o vapor escapando pela porta entreaberta. Quando saiu, enrolado na toalha, deitou-se na cama ao lado dela sem uma palavra , nem um “boa noite”, nem um beijo na testa. Virou-se para o lado oposto, as costas formando uma barreira silenciosa, e logo o ronco baixo indicou que havia dormido. Clara ficou ali, de olhos abertos no escuro, o celular ainda na mão com as mensagens não respondidas. Aquilo a deixava cada vez mais pensativa, o silêncio da casa ecoando como um espelho de sua vida. Enquanto Lucas a fazia sentir viva, Otávio a fazia questionar tudo. O que acontecerá com esses dois? Você descobrirá nos próximos capítulos.
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