Já percebeu como o ar é mais pesado e a gravidade passa de dez metros por segundo ao quadrado na segunda-feira de manhã? É pelo desconforto das pessoas na segunda-feira que eu acordo sempre muito empolgada. Todo mundo cansado e de m*l humor...
– Bom dia, Bindy. – Derek me abraçou. Ele é bem mais alto que eu, acho isso um saco. Eu não sou muito grande, mas faço um bom estrago, então tudo bem.
– Bom dia, babaca. – Ele boceja ao me ouvir.
– Eu odeio segunda-feira, sabia? – Ele tentou beijar meu cabelo que estava preso em dois coques no topo da cabeça. Eu desviei.
– E eu odeio o fato de você achar que pode tocar em todas as garotas que quiser, Derek. – Me afastei dele.
Entrei na sala de aula de ciências. Sentei no meu lugar e peguei meu caderno de anotações, começando a escrever algumas coisas. Quando levantei meus olhos, vi a p***a da loirinha se aproximando de mim.
– Oi. Tem alguém sentado aqui? – Ela questionou.
– Tá reservado. – Falei. Ela se sentou ao meu lado mesmo assim.
– Que pena. – Ela retrucou e começou a tirar seu caderno da bolsa. Que menina insolente.
– Você não tem um pingo de noção, né, novata? – Falei. Ela me olhou com um sorriso nos lábios.
– Eu acho melhor você controlar os seus hormônios e me aguentar do seu lado, Bindy. Eu sei quem você é e você ainda me deve um favor. – Girei os olhos.
– Termos conexões é r**m para o seu favor. Você é muito burra, loirinha. – Ela negou com a cabeça.
– Eu preciso que você me responda muita coisa ainda... – Eu estava nervosa. Eu estava nervosa?
– Aqui não, fofa. Depois a gente conversa, o professor entrou na sala. – Falei.
Ela se ajeitou na cadeira e prendeu o cabelo com um lápis... O cheiro do cabelo dela era bom. Por que eu tô com vontade de enfiar a cara no cabelo dela?
O professor começou a aula de anatomia humana e eu acompanhava fingindo que nunca havia visto como um corpo humano é por dentro. Já vi, foi bem bizarro mas muito legal. A pessoa que eu estripei morava em uma fazenda, então eu joguei seu corpo para os porcos. Não tive trabalho nenhum em me desfazer já que ele era dono de um matadouro e tem sangue pra todo lado. Foi uma morte interessante.
Enquanto eu fazia algumas anotações, prestei atenção na forma como a chata da Andie batia a borrachinha que fica em cima do lápis próximo ao lábio inferior dela. Ela tava completamente focada na aula. Não sou de elogiar pessoas, mas ela é uma garota realmente bonita. Hoje ela estava com um vestido florido azul. Gosto de azul, afinal, é a cor do meu cabelo.
Bateu o sinal. Finalmente eu iria pra longe dela, ou pelo menos eu pensava. Quando eu fui levantar da mesa, ela segurou minha mão.
– Bindy... Por favor. Conversa comigo. Eu preciso... – Foi no exato momento em que ela segurava minha mão que o mundo girou.
É isso aí, o mundo girou. Essa p***a dessa menina tá me fazendo perder o controle de mim mesma e isso nunca aconteceu antes.
– Ah! Agora eu entendi porque você não me dá atenção! Você gosta de meninas, Bindy! – Derek deu um berro pra sala inteira.
– Eu gosto de qualquer um que não seja você, Derek. – Resmunguei e girei meus olhos. Ele se aproximou de nós duas, que ainda estávamos de mãos dadas, e passou um braço por cada uma de nós, nos abraçando.
– Adoraria levar as duas pra cama. Se eu couber no meio da brincadeira de vocês... – Ele nos soltou e saiu rindo. Virou para trás, fez um sinal de "paz" com os dedos e colocou a língua no meio, insinuando sexo oral.
– Meu Deus, esse cara é ridículo. – Andie resmungou.
– Precisava segurar minha mão na frente desse babaca? – Ainda estávamos de mãos dadas. Olhei para isso e percebi que eu estava usando o anel que roubei do tio dela, como souvenier.
– Por que não soltou minha mão, Bindy?
Sinceramente, é uma excelente pergunta. Eu não sei.
– Não sei. – Ela deu os ombros ao me ouvir.
– Tanto faz. Vai me dar atenção ou não? – Girei meus olhos ao ouvir a loira.
– Vou, mas não pode ser aqui, menina. Nós precisamos conversar fora da escola. – Ela concordou. – Eu te encontro na sua casa para fazer a lição de ciências hoje. E me deixa em paz, tá?
– Não liga de entrar aonde você cometeu um assassinato de novo? – Ela me olhava com deboche.
– Vai querer minha ajuda ou não, c*****o?
– Tá, já entendi. Te espero em casa.
Era umas três da tarde quando cheguei na casa da Andie. Entrei pela janela do quarto dela e ela levou um p**a susto, se encolhendo feito um cachorro no quatro de julho.
– Por que você não entrou pela porta da frente como uma pessoa normal? – Eu apenas dei os ombros.
– Força do hábito. Então, o que quer saber? – Me joguei na cama dela, com os pés cruzados. Coloquei os dois braços atrás da cabeça e respirei fundo.
– Quando vai ser? Como vai ser? Eu posso participar? – Ela parecia eufórica. Isso me preocupa.
– Não sei, não posso te contar e não, você não pode. – Ela cruzou os dois braços e sentou do meu lado na cama.
– Bindy... Por favor.
– Andie, o negócio é o seguinte: A única coisa que eu quero de você, é que me ajude a provar que ele é uma pessoa inútil às sociedade. Tem provas do que ele fez com você? Ótimo, isso acelera o processo. Agora... Se você não tiver, eu vou ter que passar um tempo seguindo ele. – Os olhos dela marejaram.
– Ele me estuprou quando eu tinha treze anos. Várias e várias vezes. Eu contei pra minha mãe esse ano porque achei que estava grávida... Mas não era. Isso não é o suficiente pra você? – Respirei fundo, me sentei na cama e olhei para ela.
– Não, não é. Eu quero provas. Se não, vou ficar de tocaia até ele fazer de novo com alguém. Olha só, eu sigo um código moral e não posso sair dele, porque se não, eu perco o controle e posso matar qualquer um... Entendeu? Então, me arruma uma prova do que ele fez com você ou com outra pessoa... E eu faço o que eu tenho que fazer. – Me levantei da cama. Lágrimas silenciosas escorriam pela bochecha branca de Andie. – Mais alguma coisa, princesa?
– Você não acredita em mim como todo mundo. – Ela disse.
Não se compadeça, Bindy... Não se compadeça... p***a, o que eu tô fazendo?
Eu estava em pé pronta para pular a janela quando eu dei a meia volta e a abracei. Ela é um pouco menor que eu, e agarrou minha cintura com força. Dei-lhe um beijo na testa e a olhei, afastando um pouco minha cabeça da dela mas ainda mantendo o abraço.
– Acredito em você. Mas para eu matar alguém, preciso de provas. E eu acreditar em você não é uma prova, entendeu?
Ela concordou com a cabeça. Me afastei dela e saí pela janela, pensando no porque diabos eu quis abraçar ela por livre e espontânea vontade.
Que merda, Bindy. Que merda.