Desde alguns meses antes do término do segundo namoro, minha parceira havia entrado num vazio, provocado ainda por aquele sentimento de 13 anos atrás – aquele maldito sentimento de falta, de não se encaixar, de uma angústia e uma tristeza tão fortes que ela nem comia nem bebia nada por dias. Uma vez, se bem me lembro – uma única –, ela tentou, contra minha vontade, se expressar por meio de um poema que havia encontrado em alguma rede social. Enquanto o lia, lágrimas rolavam de seus olhos, sua voz ficou trêmula, e eu desejei poder abraçá-la e acalentá-la, mas tudo que pude fazer por ela, foi esconder seu rosto. Sua mãe, se havia notado, ignorou, enquanto dava ordens para a filha parar de ler besteiras e de “rabiscar” coisas desnecessárias. Novamente, não havia muito que podíamos fazer – que eu podia fazer por ela.
E assim, seguimos os próximos meses.
Em algum momento entre este episódio e seus 20 anos, sua mãe descobrira sua insatisfação em um dia, gerar filhos, e seu desejo de interromper a vida de quem está em estado terminal. Ao que me compete falar sobre – e ao que me foi permitido ter conhecimento, ou ao menos que consegui extrair de sua cabeça –, foi o pior monólogo que ela já ouvira de alguém, de forma que esta acabou por ser sua última tentativa de tentar se encaixar na família. Nunca tive coragem de encara-la e perguntar o que aconteceu, pois acredito que ela acabou por esquecer onde trancou esta informação, e, se existia uma chave deste cofre, ela a arremessou no abismo mais profundo que encontrara, para que eu nunca pudesse resgatá-lo. Se ela fez isso para que ninguém tomasse conhecimento, por vergonha ou vontade de proteger quem quer que fosse, eu jamais descobri.