Capítulo 18

304 Words
Desde alguns meses antes do término do segundo namoro, minha parceira havia entrado num vazio, provocado ainda por aquele sentimento de 13 anos atrás – aquele maldito sentimento de falta, de não se encaixar, de uma angústia e uma tristeza tão fortes que ela nem comia nem bebia nada por dias. Uma vez, se bem me lembro – uma única –, ela tentou, contra minha vontade, se expressar por meio de um poema que havia encontrado em alguma rede social. Enquanto o lia, lágrimas rolavam de seus olhos, sua voz ficou trêmula, e eu desejei poder abraçá-la e acalentá-la, mas tudo que pude fazer por ela, foi esconder seu rosto. Sua mãe, se havia notado, ignorou, enquanto dava ordens para a filha parar de ler besteiras e de “rabiscar” coisas desnecessárias. Novamente, não havia muito que podíamos fazer – que eu podia fazer por ela.  E assim, seguimos os próximos meses. Em algum momento entre este episódio e seus 20 anos, sua mãe descobrira sua insatisfação em um dia, gerar filhos, e seu desejo de interromper a vida de quem está em estado terminal. Ao que me compete falar sobre – e ao que me foi permitido ter conhecimento, ou ao menos que consegui extrair de sua cabeça –, foi o pior monólogo que ela já ouvira de alguém, de forma que esta acabou por ser sua última tentativa de tentar se encaixar na família. Nunca tive coragem de encara-la e perguntar o que aconteceu, pois acredito que ela acabou por esquecer onde trancou esta informação, e, se existia uma chave deste cofre, ela a arremessou no abismo mais profundo que encontrara, para que eu nunca pudesse resgatá-lo. Se ela fez isso para que ninguém tomasse conhecimento, por vergonha ou vontade de proteger quem quer que fosse, eu jamais descobri.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD