Murilo:
Estar na presença de July é uma experiência tão naturalmente maravilhosa, que me faz perder completamente a noção do que acontece ao meu redor. Observo-a com uma mistura de admiração e incredulidade, incapaz de compreender como Túlio pode tratá-la com tamanha indiferença. Cada gesto descuidado dele para com ela, só intensifica o desejo que sinto de cuidar dela, um sentimento que me perturba profundamente. Pois, apesar de saber que não devo nutrir tais pensamentos sobre July, não consigo evitar; ela simplesmente se infiltra em minha mente sem que eu perceba.
E agora, aqui estamos nós, com ela segurando firmemente minha cintura, enquanto seguimos de moto para sua casa. Confesso, secretamente, que gostaria que essa viagem fosse mais longa do que realmente foi, mas, infelizmente, logo chegamos ao nosso destino e é hora de nos despedirmos.
Ela desceu da moto com uma graça cautelosa, enquanto eu tirava meu capacete. Ela me devolveu o capacete que usara, um sorriso meigo iluminando seu rosto.
“Se ela soubesse o quanto eu adoro vê-la sorrir, talvez sorriria mais" pensei, um calor agradável espalhando-se em meu peito.
— Muito obrigada, Murilo. Você não sabe o quanto eu precisava sair de lá. Já não estava mais no clima da festa — ela disse, seus olhos expressando uma gratidão sincera.
— Para mim hoje também já deu — respondi, guardando o capacete que ela me entregou e colocando o meu no guidão da moto. — Mas você está mesmo bem?
— Estou — ela suspirou, uma sombra de dúvida cruzando seu rosto. — Ao menos eu acho — ela adicionou, sua voz calma, mas seus olhos revelavam uma história diferente.
— Você sabe que se precisar, pode me ligar a qualquer momento — ofereci, e ela me respondeu com um sorriso tímido.
— Posso ser bem sincera com você? — Ela perguntou, hesitante.
— Claro que sim, July — incentivei, observando-a respirar fundo.
— Nesse momento, eu só preciso daquele abraço — ela falou, sua voz suave e cheia de carinho. Eu sorri, peguei sua mão e a puxei suavemente para mais perto.
Ela se aproximou, enquanto eu continuava sentado na moto. Entrelacei nossas mãos e, ao fazer isso, ela levantou o olhar, encontrando os meus olhos com um sorriso doce e reconfortante. Havia uma luz suave em seu olhar, refletindo uma mistura de gratidão e vulnerabilidade. Com um movimento delicado e quase hesitante, ela se aproximou ainda mais e se aconchegou em meus braços, buscando um refúgio seguro.
Foi um abraço demorado, carregado de emoções não ditas e repleto de significados que palavras não poderiam expressar. Ficamos ali, envolvidos nesse momento, perdidos no tempo. Eu respirava profundamente, inalando o perfume dela, uma fragrância delicada e cativante, que me envolvia em uma sensação de paz e conforto. Era uma essência maravilhosa, tão agradável e reconfortante, que eu desejaria poder permanecer ali, sentindo-a, pela eternidade daquela noite.
Aquele abraço, na simplicidade de seu gesto, revelava muito mais do que qualquer conversa poderia. Era um momento de pura conexão, onde, mesmo em silêncio, dizíamos tudo o que nossos corações guardavam.
Meu coração batia descompassado, uma mistura de alegria e receio, fazendo-o pulsar forte em meu peito, como se quisesse saltar pela boca. Apesar da culpa que me consumia por dentro, por desejar July de uma maneira que não deveria, naquele momento, eu simplesmente não consegui resistir ao impulso de aproveitar aquele instante tão puro.
Com delicadeza, beijei o alto de sua cabeça, e ela ergueu os olhos para mim. Suavemente, deixei um beijo em sua testa, e ela respirou fundo, fechando os olhos. Percebi o alívio verdadeiro que esse gesto simples lhe trouxe, e isso me encheu de uma sensação reconfortante. Quando ela abriu os olhos novamente e os fixou nos meus, sorri de forma tranquila e sincera, ela respondeu com um sorriso que fazia seus olhos brilharem intensamente.
Nossos rostos permaneciam próximos, a tensão entre nós carregada de um desejo não verbalizado. Movido por um impulso incontrolável, levei minha mão ao seu rosto, afastando delicadamente uma mecha de cabelo para trás de sua orelha. Então, beijei novamente sua testa, em um gesto que expressava carinho e respeito. Ela sorriu de maneira tímida e se afastou levemente.
Desviei o olhar, engolindo em seco diante da intensidade do momento. Mas quando nossos olhos se encontraram novamente, ali estavam aqueles olhos apaixonantes que eu tanto amava, revelando uma conexão profunda e inegável.
— Obrigada, você não sabe o quanto sua companhia me faz bem, é como se você fosse meu porto seguro — July falou com uma sinceridade tocante, seus olhos refletindo uma gratidão genuína.
— Fico feliz em saber que se sente assim ao meu lado. Eu também valorizo muito a sua companhia — respondi, sentindo uma conexão especial entre nós.
— Você não quer entrar? Conversar um pouco? — Ela perguntou, uma leve hesitação em sua voz.
— Você parece cansada, não quero te incomodar.
— Na verdade, eu não estou cansada. Só não queria mais ficar na festa. Mas entendo se você precisar descansar, não se preocupe — ela respondeu, mas antes que ela pudesse reconsiderar, interrompi.
— Eu só estava tentando escapar das investidas da Mia. Você se importa se eu guardar a moto aqui?
— Claro que não, até prefiro — ela disse com um sorriso e se dirigiu ao portão.
Estacionei a moto na garagem, perto do portão, e segui July até dentro de casa.