Assim que entramos na cozinha, Cristine se aproximou falando baixinho, enquanto eu buscava alguma bebida. Com um brilho nos olhos e uma excitação palpável na voz, ela começou:
— Não acredito que finalmente aconteceu! Preciso saber se ele beija bem — falou, quase pulando de entusiasmo. Olhei para ela, incrédula, ainda tentando processar meus próprios sentimentos. — Não precisa nem responder, aposto que ele beija super bem. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde isso ia acontecer. Vocês dois estavam super na vibe um do outro. E, olha, vocês formam um casal lindo! Ele é um gato, e você também é maravilhosa — ela tagarelava, empolgada. — Deus, estou tão nervosa... mas você tem que me contar, July, ele tem aquela pegada?
Ela pegou a cerveja que eu tinha aberto para mim e começou a beber. — Responde, July, por favor, ele tem pegada?
— Essa era minha, sua folgada — brinquei, tentando desviar do assunto e peguei outra cerveja.
— Responde, amiga — ela insistiu.
— Cristine, para de surtar, sério, você está viajando.
— July, eu total apoio vocês, mas precisa ser mais discreta, amiga. Quando isso acontecer de novo, me chama pra fazer a guarda! Não pode ser assim, no meio de todo mundo. Primeiro aqueles olhares descarados, agora isso... Se alguém vê? E se fosse o Túlio, hein? — Ela falava, me fazendo revirar os olhos e rir, enquanto eu a puxava para um canto mais reservado.
— Cristine, não rolou nada, tá? Fica tranquila e para de viajar — tentei tranquilizá-la, mas ela estava em sua própria onda de especulações.
— Amiga, se fosse o Túlio que tivesse visto? Eu não ligo para aquele babaca, quero mais que ele se f**a, mas tenho medo do que ele possa fazer com você — ela olhou ao redor, visivelmente preocupada. — Ele é um i****a, mas se ele descobre algo assim... nessas condições, não é bom arriscar.
— Amiga, respira por favor. Você não viu nada porque realmente não aconteceu nada — ela me olhou confusa, com minha convicção. — Você chegou bem na hora, antes que algo pudesse acontecer — disse, tentando manter a seriedade, mas um sorriso escapou, enquanto eu levava a cerveja aos lábios para dar um gole.
Minha resposta inesperada fez Cristine parar por um instante, a surpresa estampada em seu rosto. Ela bateu a mão na mesa, demonstrando sua frustração.
— Não acredito que eu atrapalhei! — Ela exclamou, desapontada. Eu, tentava conter um sorriso, mas não conseguia parar de rir da situação.
— Pois é, você chegou bem na hora — falei, ainda rindo, enquanto tomava um gole da cerveja. Cristine continuou, ainda incrédula com o que tinha feito.
— Droga, eu não queria estragar nada.
— Olha, de qualquer forma, foi melhor assim. O Murilo é amigo do Túlio, e isso não deveria acontecer. Eu ia cometer uma loucura — confessei, falando com mais seriedade agora.
Cristine, sempre direta, sugeriu:
— Então, termina com o Túlio e fica com o Murilo.
Fiquei chocada com a sugestão dela, ela fazia parecer tudo tão simples.
— Você ficou maluca? O Murilo não quer isso — respondi, tentando manter a firmeza na minha voz, mas sem muita convicção.
— Tem certeza disso? — Insistiu Cristine, com um olhar questionador.
— Por favor, não me confunda mais — pedi, sentindo a confusão tomar conta de mim.
Cristine olhou para mim com uma expressão séria.
— July, você sente algo pelo Murilo? Não só amizade, mas atração mesmo? — Respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos.
— Eu não posso sentir isso por ele, Cristine. Imagina a confusão que seria.
— Mas você sente, não é? — Ela perguntou, já sabendo a resposta. — Que pergunta estúpida a minha, é claro que sente — ela afirmou e bebeu sua cerveja.
— Ele é legal, me ouve, me entende... mas é só isso — insisti, embora não estivesse completamente convencida das minhas próprias palavras.
— Então porque você estava tão pertinho dele e toda derretida? — Ela indagou, sorrindo.
— É carinho. O Murilo é um grande amigo — tentei me explicar, mas meu coração dizia outra coisa. — Agora vamos lá para fora e chega dessa conversa — ela sorriu.
— Difícil esquecer — afirmou, divertida.
— Vamos curtir a festa e esquecer essa confusão toda, amiga — insisti.
— Combinado! Mas sem olhares e sorrisos para o Murilo, hein? A gente não quer causar problemas — ela disse, passando o braço ao redor do meu pescoço, pronta para encarar a festa novamente.
Com Cristine ao meu lado, voltei para a festa, tentando afastar qualquer pensamento confuso sobre Murilo. Eu precisava me distrair e aproveitar a noite, sem mais complicações.
À medida que nos encaminhávamos para fora, meus olhos rapidamente encontraram os de Murilo. Ele estava sentado próximo a Marcelo e Túlio, e o contato visual que compartilhamos foi breve, mas intenso. Distraidamente, levei minha cerveja aos lábios e me aproximei do grupo, enquanto Cristine se juntava às outras garotas para dançar.
Túlio me surpreendeu, puxando-me para sentar em seu colo. Sua voz soou descontraída:
— Está mais calma agora?
— Eu não estava nervosa, você que foi um e******o — respondi, mantendo a calma, mas não pude evitar lançar um olhar rápido para Murilo, que tentava disfarçar seu interesse na conversa.
— Desculpa, não quero brigar. Estamos de boa? — Túlio perguntou, tentando suavizar a situação com um carinho no meu rosto.
Apenas assenti, desconfortável com a proximidade dele. Túlio tentou beijar-me, mas desviei, levando novamente a cerveja aos lábios. Seu olhar confuso encontrou o meu:
— Estamos ou não de boa?
— Não é tão simples assim, depois do modo como você me tratou — falei, levantando-me e sentando em uma cadeira ao lado, buscando um pouco de espaço.
— Só quero curtir a noite, sem brigas. Pode ser? — Ele pediu, sua mão deslizando pela minha coxa de forma reconfortante.
— Acho que precisamos conversar. Que tal irmos embora e depois você volta para curtir sua noite? — Sugeri, sentindo a necessidade de esclarecer as coisas entre nós. Já não era possível continuar com nosso namoro; fingir que tudo estava bem, havia se tornado insustentável. Eu estava exausta de lutar sozinha, de constantemente perdoar as inúmeras falhas e ofensas de Túlio.
— Quero curtir com você — ele insistiu, segurando meu rosto com uma ternura que não condizia com a pressão de suas mãos. — Vamos curtir a noite e conversamos depois.
— Eu quero conversar agora, Túlio.
— Depois, July — ele sorriu, mas seus olhos e o aperto em meu rosto transmitiam uma tensão oculta. Resignei-me com um aceno de cabeça, e ele tentou me beijar novamente, mas virei o rosto discretamente.