LAYLA...
Anos depois tentei tirar a minha própria vida, já que eu não conseguia fugir, ao menos podia acabar com tudo, com todo este sofrimento... Eu estava exausta, cansada de viver neste inferno, sozinha, eu nem sei o que é feito dos meus pais, eu tenho muitas perguntas, sem respostas... Quero saber o porquê fizeram isso comigo... Roubei uma faca da cozinha e fiz algo inapropriado, e perdi a consciência no meu quarto, mas o maldito do Malik encontrou-me a tempo, e sacudiu-me tão forte que abri os olhos lentamente, com a visão turva e fraca, ouvi a voz dele ao fundo, cheio de posse: Quantas vezes tenho que te lembrar que és minha, a tua vida me pertence, não tens o direito de desaparecer sem que eu te dê permissão...
Era como um demónio que sussurrava-me ao ouvido, e minhas lágrimas desceram, e cuidaram de mim... mas assim que melhorei, ele me mostrou o que era dor, deu-me 10 chicotadas nas costas, que tenho marcas de cicatrizes até hoje. Depois disso desisti, desisti de lutar, de fugir, de morrer, passei a ser o que ele queria, um robô, uma peça de decoração, um objecto a ser usado, uma marioneta obediente, é mais fácil do que sentir...
Quando eu vi A amira pela primeira vez, vi-me nela, quando cheguei, apesar dela ser um pouco mais velha do que quando cheguei... Senti empatia, queria tanto ajudá-la, a fugir, mas se nem eu tive sucesso, quem dirá ela. Mas olhar para ela e pensar que o Malik vai destrui-la era demais. Queria avisá-la do que a espera, mas as palavras ficaram presas na minha garganta. Então comecei a evitá-la, a desviar o olhar, tinha medo, medo do que sentia, da minha covardia...
Depois da festa... Eu desci do sótão o sol já estava alto, o meu corpo doía por ter dormido no chão duro, a minha respiração estava pesada... Encontrei Malik, que me olhou com furia, mas não disse nada só passou por mim... Então fui me lavar, depois fui a cozinha buscar as refeições e vi a Amira, a lavar os legumes e estava diferente, com o ar pesado, e quando nossos olhares se cruzaram, o olhar dela estava apagado, vazio, como o meu, e isso me partiu de vez, já sabia que o Malik havia tocado nela...
Eu quis correr até ela para abraça-la, para chorar com ela, mas eu não podia, como poderia? Olhei-a por mais um pouco, tentando transmitir talvez mentalmente que eu a entendo, que eu sei o que ela está a passar, depois saí.
Fechei a porta da cozinha atrás de mim e deixei as minhas lágrimas rolarem, e pensei: eu sou só uma sombra, e as sombras não salvam ninguém... Essa incapacidade é dolorosa... Vê-la assim como um fantasma ambulante, e demais...
AMIRA...
Mexo as coisas devagar, os legumes parecem que perderam a cor, não consigo diferencia-las. Tudo parece pesado demais assim como o meu corpo, a cada passo é uma carga enorme para mim, queria simplesmente desligar-me... Faço tudo no automático... É como se eu estivesse trancada atrás dos meus próprios olhos, como se minha alma tivesse me abandonado... Dói existir, dói lembrar, dói saber que ainda estou aqui...
Quando ouço a porta da cozinha abrir, meu coração aperta, de medo, medo de ouvir a voz dele, sentir aquele cheiro de novo, que ainda continua grudado na minha pele, mesmo depois de tanto esfregar...Não olho, não viro, até sentir passos leves e respiração leve. É a Layla, reconheçi aquele cheiro, aquele silêncio cheio de palavras não ditas, cheio de segredos presos na garganta. Senti o olhar dela sobre mim, e a olhei, quando nossos olhos se cruzaram, senti como ela prendeu o choro na garganta, talvez ela tenha percebido algo diferente, agora pensando nisso.
É possível que ela tenha passado pelo mesmo, e o agir dela, tenha tentado me avisar, mas como sempre aqui ninguém pode nada, até as nossas vozes pertencem a Malik... E dentro de mim só ficou um buraco vazio, enorme vazio... Eu senti o olhar dela, como se tivesse a me transmitir calor, empatia, compreensão, um abraço imaginario... E eu sorri mentalmente porque é a única que transmitiu algum tipo de sentimento para mim, mesmo sem dizer nada...
E quando ela sai, eu continuo com as minhas tarefas, enquanto corto os legumes começo a olhar para a fica e minha mente começa a ter pensamentos insanos... Mas, expulso-os rapidamente... Quando termina o meu trabalho vou para o meu quartinho, e por sorte ninguém me veio chamar, ou acordar, tentei dormir mas não conseguia... passei a noite em claro... E quando amanheceu eu fui trabalhar, mas fui chamada, e o meu corpo enrijeceu com a possibilidade de viver aquilo tudo de novo... Mas o Malik apenas me mostrou o meu novo quarto na Mansão, era maior e mais bonito, mas aquilo não me animava, assim eu estaria mais perto dele, algo que eu não queria... E disse que agora não trabalho mais na cozinha... Fiquei surpresa, mas não perguntei nada, só disse que arranjaria algo para eu fazer em breve e disse: descansa...
Então ele saiu, e sentei-me na cama... a olhar para o nada...
MALIK...
Vejo Layla pelas câmeras na cozinha, os olhos dela, sempre atentos, olhando para Amira, ela sabe, ela sente, o que aconteceu. Mas isso não me preocupa, eu faço o que eu quero com o que é meu... Mas o que me irrita é a forma como ela olha para Amira, como se quisesse crescer asas para protegê-la, hum! Como se ela fosse capaz disso, não consegue proteger a ela mesma quem dirá aos outros...
Em todo caso, não vou permitir qualquer tipo de ligação entre elas, nesta mansão ninguém é amigo de ninguém, estão aqui para cumprir suas funções, não quero montis debaixo do meu teto... Duas meninas juntas podem ser um problema sério, e não quero ter que lidar com isso. Tenho que colocar as duas longe uma da outra e deixar claro que não quero vê-las juntas a não ser que seja, necessário... Sorrio de canto, ao lembrar da momento com a Amira, eu quero ela de novo, e de novo...