Capítulo Único - Apenas adolescentes
"Seres humanos são tão desprezíveis, sempre pensam que estão certos, quando, na verdade, estão errados, sempre querem aquilo que não podem ter e o pior de tudo é que aparentam ser o que, realmente, não são.
O que mais me irrita é que eles obrigam quem os rodeia a ser como eles.
Escondem as suas imperfeições por debaixo do tapete e quando não conseguem escondê-las, apagam quem as conhece.
Talvez eu seja desprezível, embora reconheça...
... Não tive escolha, afinal, eu sou um ser humano..."
Hélia Esteves
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— Vem cá gatinha! — Do que eu estava a espera para não atravessar uma faca na garganta desse i****a? Hã, já sei!
— Ei! — Ele o empurrou contra a parede. — Se voltares a tocar nela eu vou garantir que não acordes mais! — Não, eu não esperava por ele, se é isso que você pensou.
Após a ameaça ele o soltou, e nós fomos em direção a nossa mesa. Mesa essa que era intitulada como a mesa dos rejeitados. Quem somos nós? Talvez isso não interesse, ainda assim vou contar.
— Pensamos que não vinham mais… — Itachi Uchiha, alto, moreno e o típico quebra corações.
Eu não entendo o porquê das outras garotas se derreterem por ele, mas eu não ligo para isso.
O importante é: por que ele está aqui?
A resposta? Simples. Ele foi acusado de matar o próprio pai. Claro que ninguém acredita que ele tenha feito isso, principalmente porque não teve nenhuma pista sobre o assassinato. Mas nós sabemos a verdade. Ele o matou porque aquele homem maltratava o seu irmão mais novo. No entanto, o Itachi não está aqui apenas por isso, ele está aqui porque teve sangue-frio o suficiente para isso e porque as pessoas não se atrevem a desafiá-lo.
Na verdade, ninguém se atreve a desafiar nenhum de nós sem pagar caro.
— Tiveram algum problema no caminho? — Perguntou, já era algo habitual.
Kisame Hoshigaki, também moreno e alto. Porém, ao contrário do Itachi, ele costuma dar medo nas garotas, e de igual modo, eu não entendo por quê, ele não parece ser assustador.
E sim, ele está aqui porque gosta do mesmo que todos nós, e ele consegue isso de uma forma diferente…
Como?
Bem, digamos que ele procura quem mais tem medo dele e faz o serviço. Eu não me importo com isso, afinal, suas vítimas não passam de pessoas preconceituosas.
— Nada que eu não vá resolver depois. — Disse puxando uma cadeira para mim, me incentivando a sentar. Coisa que eu não tinha a mínima vontade.
— Separei isso para ti. — O ruivo entregou-me um pote de mirtilos. — São os teus preferidos, não são?
Eu simplesmente abanei a cabeça para concordar e ele voltou a mexer nos seus bonecos. Muita gente acha assustador, mas eu acho infantil.
De quem eu falo? Sasori Akasuna. Ele parece ser o mais novo do grupo, o que não condiz com a verdade, ele só é mais novo que o Kakuzu. Possui um gosto por marionetes incrível, e quando criança fez experiências em um moleque que pensava ser seu melhor amigo. Infelizmente essa “experiência” não deu muito certo e o rapaz acabou por morrer. O Sasori só não foi preso porque ele era menor de idade, o conselho tutelar queria o deixar em um reformatório, ou em um hospício, mas a avó não deixou e hoje é ela quem “cuida” dele.
— O que achas Deidara? — Perguntou enquanto mostrava o seu novo brinquedo ao companheiro de arte que também mexia em algumas coisas.
— Hum... É uma bela peça, mas ficaria melhor com isso... — Ele foi interrompido.
— Nem pensar! Da última vez você explodiu a minha marionete com essas tuas coisas. — Reclamou.
— Mas a arte é isso mesmo! — Tentou justificar-se.
Deidara, apesar de ser excelente nisso, ele não liga para a química. Ele só aprendeu isso para fazer bombas. Como alguém pode ser tão fanático por explosões? Eu não sei, a única coisa que sei é que aprecio a sua arte. E está aqui justamente por isso.
O Deidara causa explosões simplesmente porque gosta e apesar das punições ele dá sempre um jeito de explodir alguma coisa por aí.
Uma vez ele explodiu o braço de um ex-colega. Ninguém sabe que foi ele, ninguém que não pertença a esse grupo.
Suspeitas? Todo mundo suspeita dele, mas ninguém tem coragem de fazer nada.
— Jashin um dia irá perdoar vocês e as vossas ações insignificantes.
Hidan, esse cara não se cala com o seu Deus, ele pensa que essas coisas são inúteis e que tudo o que fazemos tem que ser de acordo a “Ele”. O cara faz qualquer coisa por ele, oferece qualquer sacrifício, nem que tenha que matar.
E é nesses momentos que eu prefiro ouvir o Deidara.
— O Tobi acha isso um absurdo! — Rebateu.
— Absurdo?! — E lá vamos nós, começar mais uma discussão por causa do Tobi.
Ninguém sabe muito sobre ele, nem mesmo nós, tudo o que sabemos é que ele é extremamente irritante e... Psicopata.
Mas quem aqui não é?
— O que vamos comer Zetsu branco? Que tal um Hambúrguer Zetsu preto?
Não se preocupem, ele já é assim desde que o conheço. Zetsu Otsutsuki tem uma coisa que se chama “Transtorno dissociativo de identidade”, normalmente ele é tímido, não fala muito e não se mete em encrencas. Mas às vezes ele muda completamente, ele fica mais rigoroso, mais agressivo, mais indiferente e mais maníaco. Por esse motivo nós chamamos a parte boa dele de Zetsu branco e a parte má de Zetsu Preto, ele mesmo acabou adotando esse sistema. Acredito que isso o deixou mais louco.
— Hoje és tu que pagas, chefe. — Kakuzu, o mais velho do grupo, está sempre metido em negócios escuros.
Que negócios? Bem, ele faz tudo que o dê dinheiro, inclusive vender drogas para os adolescentes desse internato. Apesar de tudo eu não o julgo, ele tem que sobreviver sozinho, ninguém cuidou dele, ninguém se importou com ele, o nosso grupo é a única família que ele tem.
E sim. Para você que ainda não percebeu, nós somos apenas adolescentes. Maioria tem 17 anos, acho que o Deidara e o Hidan são os únicos que ainda têm 16.
E quem sou eu?
Eu sou aquela que aqui é conhecida como “O anjo de deus” não sei por quê, afinal quem me protege é ele...
Quem é esse “deus”? Eu respondo, ele é o líder desse grupo, aquele que ninguém, nem mesmo eu, sabe o seu verdadeiro nome. Aquele que tal como nós, foi moldado pela dor. E por quem estou perdidamente apaixonada!
— Sim, eu vou pagar... — Ele olhou diretamente para mim com aquele olhar sério e assustador, olhar que me deixava cada vez mais rendida. — Come alguma coisa meu anjo.
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— Já está tudo pronto?
— Só falta o Hidan e o Sasori. — Ele deu aquele sorriso problemático que sempre dá quando a sua arte vai ser reconhecida. Acho que ele aprendeu isso com o Sasori. — Vai ser a minha melhor obra de arte!
Eu também acabei sorrindo ao pensar no resultado.
— Deidara, avisa a todos que quero eles no local de encontro em uma hora!
— Sim! — Ele estava realmente feliz, pois não reclamou.
— O que te deixa assim tão feliz? — A questão foi para mim, mesmo ele sabendo que eu não responderia, eu só falava palavras como sim e não, ainda assim ele insistia.
Não apenas ele, esse grupo também. Na verdade, eles são os únicos que nunca desistiram de mim, é por isso que eu não vou desistir deles.
Do que eu falo?
Hum... De nada importante.
Mas digamos que eu sou uma garota muito “sortuda”. Órfã de pai e mãe, quase fui adotada várias vezes, mas ninguém quis uma garota “muda”.
Não, eu não sou muda, mas após ver a minha mãe morrer nas mãos de um traficante, a garota tímida e isolada tornou-se ainda mais isolada. Consegui fugir das mãos daqueles malditos, porém eu estava acabada, física e psicologicamente. E saber que o meu pai deixou-nos para trás para servirmos de isca, sem se importar com o que poderia acontecer connosco, destruiu-me ainda mais.
Se ele está vivo eu não sei, a única coisa que sei é que para mim ele morreu no dia em que nos abandonou.
Mas não é por isso que eu sou “sortuda”. Eu sou sortuda por ser filha adotiva de alguém que fingiu que eu não existo assim que a sociedade me rotulou como “estranha”. Meu novo “pai” deixou-me neste internato, para dizer que eu sou normal, para não ser julgado por me abandonar, para não ser rotulado...
Sim... Eu continuo a ser órfã mesmo sendo adotada...
E as coisas não param por aí.
Até aqui todo mundo me abandonou. Já sofri bullying, já fui ameaçada e já fingiram que eu não existo.
“Seria mais fácil se eu não existisse”.
Era o que eu pensava. Até que um dia ele estendeu a mão para mim. Mais que isso, ele prometeu que mais ninguém iria passar por cima de mim, e ele está cumprindo sua promessa.
Olhei para o corredor uma última vez antes de indicar a porta da arrecadação para ele.
Porta essa que ele abriu. Após isso arqueou uma sobrancelha assim que viu o cadáver do mesmo i****a que tentou me assediar há seis meses.
— Qual dos garotos fez isso? — Perguntou, mas como sempre ele sabia que eu não iria responder. No entanto, apenas sorri e ele aproximou-se de mim e beijou a minha testa. — Queria ter sido eu a fazer isso.
Às vezes pergunto-me como eu vim parar aqui.
Como eu me tornei nisso?
Eu era apenas a garota calada, aquela com quem ninguém falava. Aquela que sabia de tudo e de todos. Mas que não revelava nada.
A misteriosa Konan. Aquela que foi abandonada por todos. Família e amigos… Ninguém se importava comigo.
Mas guardar segredos de pessoas perigosas, faz com que eu esteja em perigo. Porém.
Conviver com pessoas perigosas. Me torna igualmente perigosa.
— Vamos? — como sempre, a sua voz me deixa completamente arrepiada... Ele pegou a minha mão e levou-me até ao local combinado. — Vais ter saudades deste sítio? — Abanei a cabeça para negar. Ninguém do nosso grupo teria saudades desse internato. Ninguém! — Sabe... — Continuou sem soltar a minha mão e sem olhar para mim. — Nenhum de nós gosta deste local. Mas de uma coisa eu sou grato aos estudantes dessa miséria. E essa coisa é o nosso grupo... — Eu o entendo perfeitamente... — Eu pensava que eu era estranho por ser diferente, por gostar de coisas diferentes e por ter necessidades diferentes. Mas estou feliz por não ser o único, e estou ainda mais feliz por fazer todos os que nos fizeram m*l pagarem. — Eu encolhi-me no braço dele e ele olhou para mim. — Lembras-te do que eu prometi quando nos conhecemos? — Sim, eu lembro... — Agora eu vou cumprir essa promessa, ninguém mais irá nos ameaçar, nos julgar ou nos chamar de monstros. — Os outros integrantes juntaram-se a nós aos poucos, todos estavam com sorrisos de satisfação nos lábios. — Agora eles vão saber quem nós somos!
— Haha! Eu queria ver a cara dos idiotas dos meus pais quando descobrirem sobre isso! — Temos progresso, pela primeira vez o Hidan não menciona o seu deus.
— Aqui está... — E é a primeira vez eu vejo o Itachi realmente feliz por fazer algo dessa dimensão.
— Muito bem. Quero que saibam que a partir de hoje a nossa vida vai mudar completamente e... — Ele foi interrompido.
— Blá Blá Blá! Nós já sabemos de tudo isso! Agora despacha-te! — O Zetsu disse já impaciente, o que acabou por aliviar a tensão do ar.
— Está bem... — Ele revirou os olhos. — Adeus, internato depressivo!
Ao apertar o botão do controle que o Itachi o entregou, o som de explosivos foi a única coisa que ouvimos e chamas, foram as últimas coisas que vimos.
— Tobi acha incrível! — Incrível? Não, acho que é melhor que isso.
— Isso... Isso, sim, é arte... — Ele parecia comovido e mais uma vez eu tenho que concordar.
— Dessa vez eu tenho que concordar contigo... — Até o Sasori concordou com ele?
— Jashin deve estar satisfeito! — Estava demorando…
— Se vendermos essas coisas vamos ganhar muito dinheiro...
— Sim... A partir de hoje vamos precisar... — Sim Kisame. Agora não temos onde ficar…
Felizmente todos esses miseráveis estão como deveriam estar.
— Mortos... — Eles olharam para mim surpresos.
— Ela falou, ela… — Foi interrompido.
— Sim meu anjo, eles estão mortos. Todos os que nos julgaram, todos... — Eu o interrompi com um sorriso.
— Obrigada... — Agradeci e ele sorriu para mim.
— Ihi o chefe ganhou na loteria!
— Cala a boca, Kisame! — Voltou a olhar para mim. — Já agora, quem matou o Dion?
Ninguém disse nada. Claro! Ninguém sabia de nada.
— Eu o matei... — Dessa vez os olhos do Pain brilharam. — Ele descobriu tudo...
— Fizeste bem. Ele estava no nosso caminho... — Os outros concordaram. — Vamos embora, não temos mais nada a fazer aqui...
— Isso foi por tudo o que passamos. — Sim Itachi, isso foi por tudo o que passamos...
Ninguém mandou os nossos “encarregados” nos abandonarem.
Eles nos abandonaram aqui simplesmente porque não conseguiam cuidar de nós, eles não conseguem encarar a realidade, não aceitam que nós somos assim. Tentam esconder as nossas verdadeiras personalidades e todo mundo acredita nessa falsa realidade simplesmente por ser o melhor para eles pois suas mentes não estão preparadas para aceitar quem nós realmente somos.
“Eles são apenas crianças.”
“Eles estão a aprender a viver.”
“Eles não fazem m*l a uma mosca.”
“Eles são tão puros.”
Sim, é isso que eles pensam de nós, mas não é bem assim.
Eles pensam que somos adolescentes normais, mas esquecem que ninguém é normal.
Cada um tem as suas anomalias, os seus gostos e os seus fetiches. Nós também temos os nossos, mas eu diria que os nossos são... Totalmente problemáticos!
Deve ser por isso que essa é a nossa marca, a nossa regra e a nossa tradição. Sangue, é isso que significa o vermelho das nossas nuvens, nuvens essas que significam desapego.
Nós nos desapegamos das pessoas que nos magoaram, nos abandonaram, nos julgaram e nos rotularam.
Os únicos laços de que precisamos são os que criamos e fortalecemos juntos.
Nós temos corações negros, corações que batem ao som da dor. Ouvir os vossos gritos, sentir o vosso medo e ver o vosso sangue, é isso que nos torna vivos, é isso que nos torna felizes.
E acima de tudo, é isso que nos faz viver.
É por isso que nós somos os adolescentes mais perigosos e problemáticos do momento.
Quem nós somos?
Akatsuki!