... nunca imaginei que poderia ser mais feliz na vida, aqui nunca falta água, luz, a grama é sempre verde, acredito que não haja mulher mais feliz no mundo, sempre vou as compras, escolho o que quero das exposições, as damas são bastantes amorosas, me convidam para chás, eventos beneficientes, o Vanelli sempre me dá presentes e jóias, quando levanto cedo, ele sempre pede para que eu volte para cama, não precisa se precupar mamãe, o meu marido é um homem muito gentil, carinhoso, mas achamos cedo demais para termos filhos agora, estamos no nosso terceiro ano de casamento e por mais que os vovôs estejam ansiosos para segurar os netos nos braços... — Droga! Droga, ela não vai acreditar nisto Hunter!
Largo a caneta chateada, vendo o mordomo de pé a me olhar, ergo os olhos para ele. — Desculpa Ana, mas é o que a senhora Vanelli mandou que escrevesse, a sua mãe não para de dizer que quer vim lhe visitar... — Não consigo segurar o olhar nele, mais uma vez submetida a escrever invenções da minha cabeça as lágrimas descem, molhando o meu rosto, pingando no papel.
— Nenhuma notícia dele? — Pergunto chorando, completamos três anos de casado semana passada, e eu nunca pus os olhos sobre o meu esposo, não sei dizer se ele é mais bonito ou mais feio que na foto. — Não, infelizmente a senhora Vanelli não disse nada sobre o senhor. — Mais uma vez meu coração se aperta, em saudade, em desejo, a três anos morando sozinha nesta casa fria.
E apesar de ser uma mulher casada no papel, dormir numa cama para dois, a minha vida é de uma mulher solteira, sem flores, sem elogios, sem um marido de verdade, tudo que tenho são imaginações e uma foto de Liam Vanelli. — Não vou suportar mais, tente convecê-la a deixar alguém da minha família vir, por favor, por favor Hunter. — Ergo os olhos suplicando ao mordomo, sendo o único amigo que tenho aqui. — Uma das minhas irmãs...— Levanto em sua direção a pedir.
— Você sabe que não pode, sua mãe já falou em cancelar a união duas vezes, talvez o melhor... — Olho para o homem de pé no terno preto, blusa da mesma cor me olhando de maneira formal, a assistir as minhas lágrimas descer. — ... infelizmente deve colocar nesta carta que já está esperando um filho, Ana! — Lhe olho diretamente, deixando as lágrimas correrem, enquanto movo a cabeça a negar. — Não, como posso? Isso é loucura! É uma vida, como posso inventar uma vida?
O vejo lamentar, o homem de cabelos loiros, rugas na face apenas lamenta enquanto passo o meu antebraço na face; buscando limpar. — E o que acha que vai acontecer se não for isto nesta carta? A senhora Vanelli foi bem clara quando disse que quer ler um conto de fadas neste papel! — Negando quase a fechar os olhos, sentindo mais e mais lágrimas virem aos meus olhos me recuso. — Não, eu jamais mentiria a este ponto para a minha família, ela vai querer vir para cuidar de mim, do neto.
O vejo mudar um passo a minha frente, afirmando. — Sim, tens razão, conte as mesmas mentiras de sempre, porque não fala do cachorro que ele lhe mandou? O maldito cão não para de latir. — Malmente havia pego a caneta para detalhar quando a solto novamente, emitindo um baixo som sobre a mesa. — Acha mesmo que o senhor Vanelli mandou este cão, Hunter? — As lágrimas ameaçam descer outra vez.
— Mas é claro, Ana, sempre escrevo nas cartas o quanto você é maravilhosa, acredito que a sua sogra deve fazer o mesmo, porque não? É meiga, carinhosa, além de ser a única a suportar aquele demônio! — Rolo os olhos ao lhe ouvir, e n**o com certeza. — Não o chame assim, se realmente foi o senhor Vanelli que me deu deve querer o seu bem, também. — O homem de cara fechada, semblante sério apesar das rugas em seu rosto, apenas sorri. — Creio que ele deve esta ansioso para encontra-la querida, terão filhos, valorizará a esposa que tem.
Hunter mais do que eu, talvez saiba que este é o meu sonho, e mais uma vez imaginando como será quando o meu esposo chegar, escrevo uma carta cheia de amor para a minha mãe, lhe entreguo para que mande a minha família, claro que sempre com a supervisão da minha sogra, em três anos algumas coisas mudaram, o meu pai está infermo, acamado, as minhas duas irmãs mais velhas já se casaram foram embora de casa.
Enquanto a terceira está grávida, embora minha mãe não saiba de quem é, meus irmãos também se foram, dois deles para estudar, restando apenas o nosso mais velho que se tornou pastor, mora na cidade. Tudo que me lembro da minha região é seca, o barro que voa a poeira em qualquer ventânia, mas éramos felizes apesar da fome, tudo era motivo para rir ou chorar, se uma criança nascesse era motivo para comemorar, casamento também, até mesmo para a morte havia comemorações, sinto tanta falta disto, esta terra é fria, e as pessoas geladas.
Após entregar mais uma carta a Hunter fico sentada imaginando como estaria a minha terra, a pobreza nunca mais sentou a nossa mesa, embora os homens dos Vanelli tenha feito mudanças, aplicado métodos para gerar lucro nas nossas terras, coisas que nunca procurei saber ao certo e minha mãe nunca soube explicar, mas a generosidade deles nunca foi algo contestado, e isso me faz admirar os Vanelli apesar de serem estranhos.
— Então? — Viro para o homem de pé ainda lendo a carta com os olhos. — O que? — Sorri fraco vindo para a mim. — Vai hoje para a empresa? Senhorita Nsoki? — Pus a lingua nos dentes superiores ao escutar, a risada dele já indicando saber. — Sim, irei, enquanto o meu esposo espalha gentileza pelo mundo a fora, é o mínimo que posso fazer para não enlouquecer. — Hunter apenas dobrou a carta, selando por fim.
— Quando vai fazer aquela torta Ana? Nunca mais tivemos o prazer de nós deliciar. — n**o lhe olhando, vendo me olhar. — Quando os pés carregarem de franboesas? — Ri sem humor, se há que é diferente das minhas terras é a fertilidade por aqui, os campos sempre verde, as pastagens, junto aos pés fartos de folhas ou frutas.
Era apenas mais um dia comum, em que vou para o meu quarto, enquanto Hunter leva a carta para o motorista, olho-me no espelho vendo uma mulher de vinte e um anos no espelho, nos primeiros dias e meses esperei ansiosamente pela chegada dele, mas agora tento esconder o meu egoísmo, enquanto fico desejando a sua companhia, sua presença, meu marido é um homem ocupado, separo entre as calças jeans, um jeans de lavagem clara, a blusa branca de mangas até o ombro, a gola verde da empresa.
E apesar de ser uma Vanelli pela lei, lá sou apenas Anaya Nsoki a técnica administrativa, penteio os meu cabelo num costumeiro r**o de cavalo, coloco os brincos dourados a orelha em formato de argolas, coloco perfume até que os latidos chegaram aos meus ouvidos. — ISAFÉ! ISAFÉ a mamãe está aqui! — O chamo, sabendo que os seus latidos é a minha procura, e como previr, o mesmo vem, correndo e grande como é, malmente entra no quarto já vem vindo para cima de mim.
— Ei garotão, calma, Isafé! — Digo perdendo o controle quando o grande cachorro vem para cima de mim, tentando me abraçar e lamber a todo custo, é a minha distração uma maneira de me mantér perto do homem que me casei e nunca se quer escutei a voz, após uma hora de lambidas e tentativas de sair de casa, conseguir, vou para a empresa mergulhando em digitar textos, relatórios a tarde passa, e como este, uma semana passa, mais uma vez estando no trabalho, a digitar um formulário para a minha chefe.
— Ana sabe a da nova fofoca? — Ergo a cabeça deixando a tela do computador de lado, olho Kali apoiada a tela me olhando com ambos olhos redondos castanhos. — O que? — Quem não gosta de uma fofoca? Eu amo, embora saiba que é pecado. — Dizem que um novo chefe irá comprar a empresa... — Ergo as sombrancelhas ao ouvir, sabendo que a Louzzly está no vermelho. — E o que mais?— Mas a minha amiga apenas maneia a cabeça de um lado a outro.
— Soube que vamos sofrer nas mãos dele, você não está sabendo de nada? — n**o voltando a escever, para agilizar meu trabalho. — Não, estou sabendo por você disso, será verdade? — Indago enquanto trabalho. — Deve ser. — Dá de ombro enquanto fala sem ter certeza, e como eu, Kali é mais uma funcionária aqui, voltando as suas atividades em seguida, a única amiga que tenho, já que as demais não parecem interessadas em ter amizade.