Eu contei uma semana desde que cheguei aqui e ainda não sei que maldito lugar é esse, minha mente está confusa e completamente bagunçada, algumas informações não fazem sentido, todo dia, duas vezes ao dia a maldita enfermeira vem e me faz beber aquele remédio que me faz dormir por horas.
Hoje foi diferente, ela me ajudou a caminhar para fora, sinto que minhas pernas estão cansadas, tenho comido pouco porque odeio a comida daqui. Ela me levou a um banco no meio do jardim, o dia estava quente, minha pele gostou do contato com o sol.
— Não faça nada, aproveite o sol, ou os seguranças vão leva-la novamente para o quarto. – ela avisou e deu as costas.
Eu só queria saber que droga de lugar é esse que ela não me disse. Agora eu acredito mais ainda que alguma coisa estava errada. Uma senhora sentou ao meu lado e disse:
— O dia está bonito, não é?
Eu a encarei, ela parece diferente dos outros, parece mais saudável e lúcida.
— A senhora sabe onde eu estou? – perguntei.
— Sei, querida, infelizmente em um lugar que não conseguirá sair. – ela afirmou.
— Como assim? – indaguei.
— Aqui é um hospital psiquiátrico, num lugar desconhecido, não consegui descobrir o local exato, só sei que é um hospital psiquiátrico. – ela afirmou.
— O que? Como assim? Mas, eu não sou doida. – afirmei nervosa.
— Fique calma ou vai chamar atenção dos seguranças. – ela falou baixinho.
- Por que eu estou aqui? Preciso dizer ao pessoal que cometeram um engano. – levantei.
Ela prontamente segurou em meu braço e me encarou séria.
— Se fizer isso vai ser pior, eles sabem que você não é louca. – ela afirmou.— Alguem colocou você aqui.
Eu deslizei lentamente de volta ao banco, minha cabeça me levou novamente ao dia do meu acidente, será que isso está ligado? Não poderia... Não, Kurt não teria coragem de me colocar aqui sem motivo, ou teria?
— Mas... – falei perplexa.
— Alguém está pagando para deixa-la aqui. Querida, agora sente-se e ouça meus conselhos. — ela pediu. — Não tome o remédio que eles dão, isso só vai piorar o seu quadro, se eles souberem que você está resistindo aos remédios, vão fazer de outra forma, então sempre que a enfermeira ou funcionários daqui chegar perto de você, finja que está dopada, ok? Tome cuidado, tente se acostumar com a comida ou vai morrer de fome. – ela finalizou.
— Como a senhora sabe disso tudo? – questionei.
— Estou aqui há muitos anos. – ela afirmou.
— Eu sinto muito.
— Não sinta, em breve eu sou sair daqui, pelos meus cálculos, só mais um ano e vou conseguir sair. – ela falou olhando para cima.
— Um ano? Por favor, me ajude a sair também, preciso falar com minha família. – comentei triste.
— Por enquanto, faça o que eu disse, se sobreviver até lá, eu te ajudo. Tome cuidado, não deixe a enfermeira saber que você não está tomando os remédios. — ela avisou.
— Tudo bem, darei um jeito. — afirmei. – Qual o nome da senhora?
— Eva, me chamo Eva Zordick. – ela disse.
— O quê? — perguntei assustada. – A senhora é...
— Você me conhece? – ela indagou.
— Sim, quer dizer, não pessoalmente, mas todo mundo sabe que a famosa senhora Zordick desapareceu anos atrás, em uma viagem, tem quase dez anos.. oh meu Deus, você está aqui esse tempo todo? – perguntei horrorizada.
— Sumi? Noticiaram meu sumiço? – ela perguntou confusa.
— Bem, a senhora é a matriarca da família Zordick, não tem como não ter sido notícia. – afirmei. – Vocês são bem famosos, seu filho...
— Qual deles? — ela perguntou.
— Eu não acompanho muito, mas um dos seus filhos é piloto de fórmula 1, não é ?
— Erik, ele sempre gostou de carros, então meu filho realizou seu sonho — ela falou de cabeça baixa e triste.
— Eu sinto muito, senhora Eva. — falei e toquei no ombro dela.
— Tudo bem, não devemos chorar pelo que já passou, mas e você? Qual o seu nome? – ela questionou.
— Eu sou Rose Armstrong. Talvez já tenha visto falar de mim. – afirmei sem muita esperança. — Meu pai é...
— Seu pai é Zeno Armstrong? – ela indagou.
— Isso.
— Eu conheço vocês, mas não são desse país, o que faz aqui? – ela questionou.
— Me casei com um homem que fez parceria com minha família, eu o amava, mesmo o casamento tendo sido um acordo entre as famílias. – comentei triste.
— Então, devo supor que...
— Sim, não tem outra explicação, acho que foi meu marido que me colocou aqui, eu só não entendo o motivo. – falei perdida.
— As vezes não vale a pena saber os motivos, seja forte, Rose, ou esse lugar vai acabar com você, poucos conseguem sair daqui, então seja paciente e forte. – ela deu essa dica.
— Entendo, farei o meu melhor. – prometi.
E foi aí que começamos nossa amizade, todos os dias desde que Eva Zordick me conheceu, eu aprendia coisas novas, ela me deu muitos conselhos não somente que eu usaria aqui dentro, mas também lá fora, quando eu saísse, porque sim, eu vou sair daqui algum dia.
Eu passei a comer mais, mesmo ainda odiando o gosto da comida, parei com os remédios, eu jogava o comprimido no vaso e dava descarga logo após a enfermeira sair e sempre fazia cara de abatida e perdida quando ela entrava no quarto ou quando eu passava por algum funcionário pelos corredores.
Os dias, as semanas, meses foram passando e o que Eva disse é real, a gente perde a noção do tempo, eu parei de contar e nem sei mais que dia é hoje, ou que mês, não sei se já passou um ano, só sei que os dias passam e tudo acontece novamente no mês seguinte.
Em um desses dias eu fui novamente ao jardim, onde costumava encontrar ela lá.
— Está chegando o momento. – ela disse.
— Como assim? – perguntei.
— Voce vai saber, mas vamos sair daqui em breve. – ela afirmou com convicção.
— Espero que sim, Eva. – falei.
Não nos tratamos mais pelos sobrenomes, nos tornamos grandes amigas a cada dia que passava, mesmo ela sendo uma mulher mais velha.
Uma vez, sem querer eu deixei o comprimido cair na garganta e tive que vomitar, acho que a maldita enfermeira percebeu e achou que eu estava doente, então fui levada para outro quarto onde me examinaram. Felizmente não fui descoberta e logo voltei ao meu quarto normal e continuei com meu plano de não beber nenhum comprimido.
Me lembro que eu faria aniversário em breve, mas não sei dizer se já passou, pela quantidade de amanhecer que já vi, deve ter passado há muito tempo. Eva começou a alertar outras pessoas e cada vez que chegava um novato ela fazia a mesma coisa, dava os mesmos conselhos e assim nós fomos fazendo, tentando livrar as pessoas de realmente ficarem loucas.
Os dias foram cansativos, mas eu tinha a certeza de que um dia ou outro eu sairia dali, daria certo. Tudo o que eu tive que fazer foi esperar, eu me odiei por ter caído no papo do meu marido que muito em breve se tornaria meu ex marido, meus irmãos me disseram que eu não era obrigada a casar, mas Kurt foi tão bom e cavalheiro comigo que eu acabei me apaixonando por ele. Achei que estava fazendo um bem enorme a minha família, mas agora vejo que não.
Quando eu sair daqui, vou atrás da minha família e depois vou acabar com Kurt e quem mais for responsável pela minha ruína. Isso é uma promessa, mas antes desse dia chegar, vou trabalhar minha mente para ser capaz de suportar tudo, se eu for forte mentalmente, com certeza superarei qualquer adversidade. Seja o que for.