Um ano depois.
— Estou dizendo, tenha fé, vai dar tudo certo. – Eva afirmou.
— Eu tenho, Eva, só por isso eu ainda estou aqui. – comentei.
O dia estava nublado, como se fosse um dia triste, mas eu gosto de dias nublados, eles me lembram que eu preciso manter o foco e não desanimar. Mesmo que esteja tudo escuro, minha mente precisa estar clara e estável.
Quando chegou a hora de voltarmos aos quartos, eu estava inquieta, tentei descansar e acalmar minha mente, mas estava difícil, virei de um lado a outro na cama, quando eu finalmente consegui descansar e tentar dormir, ouvi a porta do meu quarto abrindo.
Mas não era a enfermeira, era um dos seguranças do lugar, eu acho, ele se aproximou de mim e eu levantei rápido, quando abri a boca para gritar, ele fez sinal de silêncio com o dedo indicador, eu me tremia inteiramente, parecia uma folha balançada pelo vento. Ele me segurou pela mão e me levou para fora do quarto.
Quando cheguei lá fora, percebi que estava tudo escuro, havia um carro estacionado mais abaixo do terreno, era para lá que o homem estava me levando.
— Por favor, não...
— Shh, vai acordar os seguranças, cale a boca. – ele ordenou sério.
Quando cheguei no carro, Eva estava sentada no banco de trás e me encarava com olhos brilhantes, parecia ansiosa.
— Deu certo, ele acertou. Vamos embora. – uma voz masculina disse ao lado dela, mas como estava escuro, eu não consegui ver direito seu rosto.
— Meu Deus, como você conseguiu, para onde estamos indo? – perguntei a ela.
— Faça perguntas depois, estamos indo para casa primeiro. – ela disse.
O cara com o uniforme de segurança voltou ao prédio e o motorista saiu com o carro dali, deixando-o para trás. Olhei pelo vidro do carro e vi que o lugar ficava cada vez mais distante, eu senti um misto de emoções, olhei para o lado e Eva estava com a cabeça encostada no ombro do homem ao lado dela, como não dava para ver, imagino que seja seu marido.
Ela segurou em minha mão, oferecendo conforto naquele momento difícil. Quando o carro sumiu da vista do terreno do hospital psiquiátrico, respirei fundo, eu quis chorar, mas estava rodeada de estranhos e me segurei o máximo que pude, encostei a cabeça no vidro do carro e deixei que o alívio tomasse de conta de mim.
Nós chegamos em uma casa, em um bairro desconhecido, eu não sabia exatamente onde estava, não fazia ideia de ainda era em meu país, nós descemos do carro e eu aguardei que Eva viesse me dizer o que era para fazer. Quando ela desceu, veio até mim e me abraçou, pela primeira vez desde que saímos daquele lugar.
— Eu disse que daria certo. – ela falou feliz.
— Como você sabia? – indaguei.
— Eu não sabia, eu apenas tinha fé e torcia para dar certo. – falei.
O vidro baixou e ela falou alguma coisa com o homem dentro do carro, mas ele não ficou ali, o carro arrancou e subiu a rua, Eva segurou em minha mãe e entramos dentro do lugar. Era uma casa normal, de uma família de classe média, não parece ser um país diferente.
— Eva, você sabe onde estamos? – perguntei.
— Sim, não sei o lugar exato, só sei que estamos em Vermont, foi o que Darius me disse. – ela explicou. – Vamos passar a noite aqui, amanhã ele vai voltar e nos buscar. Vamos, ele disse que tem roupas e toalhas nos quartos.
Ela nem esperou eu absorver a informação e já me levou para cima, subindo a escada, ela abriu a porta do primeiro quarto e me fez entrar. Quando eu fiquei sozinha, pensei em todas as coisas que eu passei naquele lugar, fiquei me perguntando se alguém mais foi salvo de lá. Sentei na cama por um momento, olhei para os lados e fiquei tentando organizar meus pensamentos.
Foi horrível quando todo aquele peso do que aconteceu finalmente caiu sobre mim, antes que eu percebesse, as lágrimas molharam meu rosto e minha garganta fechou, a minha vontade era de gritar, eu queria gritar e colocar tudo aquilo para fora, para longe de mim.
Ouvi batidas na porta depois de um tempo e Eva apareceu, estava com outras roupas e o cabelo molhado.
— Você vai gostar de tomar um banho e vestir roupas novas. – ela comentou.
— Oh, sim, eu... — tentei raciocinar.
— Rose, querida, tenha o tempo que precisar, pode chorar, a verdade sobre tudo está caindo não é? – ela se aproximou de mim.
— Eva, não consigo entender, como ele pôde fazer isso comigo? E mais do que isso, como a minha família não decidiu procurar por mim? – indaguei. – Eles simplesmente se esqueceram que eu existo?
Ela suspirou bem fundo e sentou ao meu lado na cama, por ser uma senhora, Eva é muito forte, acho que os anos de vida e aprendizado a deixaram muito estável mentalmente. Ela segurou em minha mão e falou:
— Bom, eu descobri que as pessoas pensam que eu sumi, então, e se a sua família também pensou assim? — ela questionou.
— Mas, eles tem muito dinheiro, poderiam investigar, não sei... quero falar com eles primeiro e depois eu vejo o que fazer da minha vida. – afirmei.
— Então, tome um banho e durma, amanhã nós voltaremos para Los Angeles. – ela explicou. – E aí você pode viajar para sua terra, vou pedir que Darius compre passagens para você. – ela falou.
— Eu agradeço, quando eu puder, devolvo o dinheiro, ainda preciso acessar minha vida, contas, documentos, tudo. – falei pensativa.
— Uma coisa de cada vez, tudo vai dar certo, querida. – ela afirmou. – Bom, eu também vou descansar, até mais.
— Eva – eu a chamei.
Ela me olhou e levantou a sobrancelha, esperando que eu falasse.
— Obrigada por tudo, você foi uma amiga muito importante, só estou longe daquele lugar porque conheci você. – afirmei emotiva.
— Sabe, Rose, tenho a sensação de que você vai ser mais do que uma amiga. – ela riu.
Quando ela saiu do quarto e fechou a porta, eu finalmente fui ao banheiro, pude me ver no espelho, um limpo e grande, acabei perdendo peso, nem pareço a mesma, meu cabelo está enorme e sem brilho, minha sobrancelha está quase se unindo... vi uma série de defeitos físicos, fora os mentais.
Tirei a roupa e entrei no box, amei aquela água quente, mesmo que no hospital eu tivesse também, essa aqui parece diferente, uma que tirou toda a sujeira do eu corpo, praticamente lavando minha alma. Não sei quanto tempo eu passei ali, mas fiz tudo com calma. O cansaço tomou de conta e eu m*l saí do banho, apenas me sequei e deitei na cama, puxei um cobertor quentinho e deixei que o sono me abraçasse.
Quando eu acordei, não parecia ser tão cedo, procurei roupas nos armários e encontrei várias, vesti a que mais serviu em mim, lavei meu rosto e escovei os dentes, quando desci a sala, ouvi várias vozes lá embaixo, no topo da escada, eu vi, quatro homens, estavam rodeando Eva, ela parecia muito feliz.
Pigarreei e desci devagar.
— Oh, Rose, que bom que acordou, venha, estamos prontos para ir embora. Esses são meus filhos, Blake, Erik e Darius, que você viu no carro comigo. — ela falou.
Olhei diretamente para cada um deles, Blake parecia o mais novo e também o mais sorridente, ele foi o primeiro a estender a mão para mim, logo em seguida Erik que também sorriu e Darius, que fez um aceno de cabeça e se manteve sério. Então era ele, olhei sem perceber, encarando seu rosto, o homem é uma escultura, cabelos na altura da orelha, olhos castanhos bem claros, ele tinha uma pose de boss que me deixou envergonhada.
— Prazer em conhecê-los – consegui dizer. – Obrigada por me resgatarem também. – falei.
De repente todos eles fecharam a cara. Então, tentei consertar.
— Quero dizer, eu estava lá, eu só quero agradecer porque...
— Sabemos, não estamos chateados com você, e sim com a situação, é inaceitável o que ele fez, ele vai pagar por tudo isso, mãe. – Blake respondeu olhando para ela.
— Bom, trataremos de assuntos familiares em casa, vamos. – Darius falou e sua voz me fez encará-lo mais uma vez.
Como eu não tinha nada, saí da casa junto com eles, eu fui no carro com Blake e Erik, eles dois são muito gentis e engraçados, eu nem lembro a última vez que eu sorri tanto, nem parecia que estávamos na situação em que estávamos.
— Nossa, faz tempo que eu não sorria assim. — comentei.
— Que bom, mas não se deixe enganar, só estamos assim porque entendemos o que você e minha mãe passaram, vamos estraçalhar a pessoa que fez isso com ela. – Erik afirmou com a voz perfeitamente controlada.
— Entendo, de toda forma, obrigada. – falei mais uma vez.
Eles me levaram direto para o aeroporto. Eva se despediu de mim e disse que iria entrar em contato muito em breve, eu a abracei apertado e acabei chorando. Eles me entregaram uma pequena bolsa e dentro tinha dinheiro e uma identidade falsa, não entendi o motivo de não terem ligado para o meu pai. Mas decidi não perguntar, eles já estavam fazendo muito por mim.
— Eva, obrigada. Eu vou retribuir, prometo. – afirmei.
— Não pense nisso, mas venha me visitar assim que puder, por favor. – ela riu.
Eu olhei para o homem atrás dela, seu filho Darius, ele me encarou e fez novamente um aceno com a cabeça, eu o agradeci também, nervosamente, e virei as costas, quando cheguei ao embarque, tive medo de algo dar errado, mas consegui embarcar, finalmente verei minha família de novo.