Capítulo 6

1805 Words
A vitória de Lucifer e seus irmãos, Caim, Leviatã, Baal e Dehemont, se espalhou como um incêndio pelas cinco cidades de exílio, cada uma delas vibrando com a notícia de que os filhos de Zayn Romanov haviam esmagado qualquer tentativa de rebelião com brutalidade e eficiência implacáveis. Enoque, a cidade sob o domínio de Lucifer, estava em festa, celebrando o retorno do comandante mais temido e respeitado das terras devastadas. As ruas estavam tomadas por uma multidão que gritava e pulava, ovacionando o grande herói como se ele fosse um rei, seu nome reverberando por cada canto. Lucifer andava por ali com a postura de um conquistador, de um homem cujo poder não conhecia limites. Os outros homens de Enoque olhavam com reverência, enquanto as mulheres, muitas delas com o olhar fixo nas figuras de poder, se preparavam para aproveitar a chance de estarem próximas ao vencedor. Dino, seu novo escravo, estava em pé ao lado de Lucifer, aguardando pacientemente seu comando, como um simples espectador da grandiosidade que se desenrolava. O rapaz, ainda desorientado com as reviravoltas que sua vida havia tomado, m*l podia acreditar que estava agora tão perto de uma figura tão poderosa. As luzes douradas das velas iluminavam os rostos ao seu redor, mas seu olhar estava sempre voltado para o chão, em uma tentativa de evitar ser notado. Ele estava ali por pura sobrevivência. Mas ao lado de Lucifer, como seu escravo, havia algo de simbólico naquela posição. Ele sabia que, apesar de estar em pé, observando a glória que outros recebiam, sua própria existência era mínima diante da magnitude do poder de Lucifer. Lucifer sentou-se em um grande trono, decorado com almofadas de veludo e bordados dourados. O salão estava repleto de calor e risadas, enquanto a música animada continuava a tocar. Logo, Dino, como parte de seu novo papel, se aproximou e preencheu a taça de Lucifer com o vinho, que refletia o brilho das chamas próximas. O comandante de Enoque ergueu a taça e sorriu, olhando para a festa ao seu redor, como um rei que agora governava não apenas a cidade, mas os corações de todos ali presentes. As vozes ecoavam, gritos de adoração e celebração, como se a vitória deles tivesse sido uma espécie de milagre. Mas o ápice da noite estava por vir. Três mulheres entraram no salão com a elegância de quem era habituada a andar entre os poderosos. Elas eram conhecidas em Enoque, e não por sua bondade ou nobreza, mas pela beleza e pelos serviços que prestavam aos homens ricos e poderosos. As mulheres de Lucifer eram o tipo de luxo que, muitas vezes, era adquirido por meio de favores da cidade principal. Elas eram as joias do império, o que mais se aproximava do privilégio para os habitantes de Enoque. Salomé, Raquel e Esther eram suas nomes, e, embora muitas outras mulheres pudessem ser admiradas, elas possuíam algo de inatingível. Elas se aproximaram de Lucifer, sentando-se ao seu lado como se fossem estrelas do próprio espetáculo. O ambiente parecia se intensificar ainda mais com a presença delas, e o olhar de todos os presentes se voltou para o grupo que se formava em torno do comandante. Salomé, a mais ousada e cheia de curvas, foi a primeira a beijar Lucifer, com um sorriso provocador. Raquel, mais silenciosa, mas igualmente linda, posicionou-se ao lado dele, acariciando-lhe o braço com um toque delicado. Esther, a mais jovem das três, se inclinou para beijar Lucifer no pescoço, e ele sorriu, deixando-se envolver pelo momento de celebração. Dino, observando a cena, não pôde deixar de achar engraçado o modo como Lucifer lidava com aquelas mulheres. Para ele, elas não passavam de mais uma prova do quão diferentes eram suas vidas. Mulheres em Enoque, especialmente aquelas ao redor de Lucifer, eram quase como um artigo de luxo. Muitas delas eram adquiridas da cidade principal ou faziam parte das trocas que eram comuns nas terras do império de Zayn. Para Dino, elas pareciam mais peças de um jogo de poder, e não seres humanos. Mas ainda assim, não podia negar a beleza inegável de Salomé, Raquel e Esther. Elas eram o retrato da perfeição, e todos os homens ao redor babavam por elas, incapazes de tirar os olhos do trio. A festa continuava a todo vapor. Música, risos e dança preenchiam o ambiente enquanto as taças de vinho eram constantemente reabastecidas. Dino, de olhos baixos e movimentos rápidos, continuava a encher as taças de Lucifer e das mulheres com vinho, tentando se manter o mais invisível possível. Mas, ao fazer isso, ele não pôde deixar de perceber a maneira como as mulheres, especialmente a mais bonita, Salomé, olhavam para ele com um olhar de desdém. Ele sentia a diferença que existia entre aqueles que estavam no centro da festa e ele, que era apenas um escravo, movido por ordens. Foi então que Salomé, com um sorriso malicioso, se virou para Lucifer e perguntou, quebrando o silêncio momentâneo da sala: — E quem é essa coisinha m*l alimentada que está ao seu lado? — Ela disse, apontando com um gesto despretensioso para Dino. Lucifer olhou para Salomé com um olhar que estava longe de ser rude, mas também não tinha traços de carinho. Sua expressão era como a de um homem acostumado a ser venerado, mas que já estava cansado das perguntas e provocações vazias. — Esse é Dino, meu novo escravo — Lucifer respondeu, com a voz baixa e firme. Ele não parecia interessado em mais explicações, como se aquilo fosse o suficiente para encerrar qualquer dúvida. Salomé soltou uma risada debochada, um som que ecoou pelo salão e fez a atenção de todos se voltar para o pequeno drama que se desenrolava ali. Ela olhou para Dino, que estava ao lado de Lucifer, com um sorriso irônico, como se o simples fato de ele estar ali, naquele ambiente de luxo e riqueza, fosse algo absurdo. — Que coisa feia — disse Salomé, com um sorriso malicioso. — E totalmente desengonçada, não? Parece mais uma criança perdida do que um homem. Como Lucifer pode ter um servo tão… tão sem graça? A risada dela se espalhou pela sala, e algumas pessoas que estavam mais próximas começaram a rir também, alimentando o desprezo de Salomé. Dino sentiu suas bochechas queimarem com a humilhação, mas manteve-se em silêncio, como Lucifer ordenara. Ele estava ali para servir e, por mais que suas mãos tremessem ao segurar a taça de vinho, ele não poderia deixar transparecer o quanto aquilo tudo o afetava. Lucifer, que até então estava curtindo a festa e a companhia das mulheres, fez uma pausa. Ele olhou para Salomé com um olhar penetrante, mas não era um olhar de raiva. Era uma expressão que indicava uma leve exasperação, como se ele estivesse apenas aguardando o momento certo para pôr fim àquela provocação. — Deixe o menino em paz, Salomé — disse Lucifer, com a voz grave, mas sem perder a calma. — Ele está fazendo o que é necessário para manter esta festa em andamento, e você, como sempre, está se ocupando de desrespeitar aqueles que não têm seu status ou beleza. As palavras de Lucifer foram suficientes para que a risada de Salomé morresse em sua garganta. Ela olhou para ele por um momento, um pouco surpresa com a resposta, mas logo recobrou o sorriso, como se estivesse apenas brincando. Afinal, o poder de Lucifer nunca foi algo que ela desafiaria de forma direta. Ela sabia que ele era implacável, mas também tinha seus próprios métodos para lidar com ele — e seu charme estava entre eles. Raquel e Esther, por outro lado, permaneceram em silêncio, observando a cena com uma expressão de curiosidade, mas sem se meter na conversa. Raquel deu um olhar rápido a Dino, talvez sentindo um pouco de pena dele, mas logo desviou o olhar para Lucifer, como se estivesse esperando algum tipo de resposta mais interessante de seu lado. O silêncio se instalou por um momento. Lucifer tomou um gole de seu vinho, pensativo, enquanto Salomé continuava a encará-lo. Finalmente, ele soltou um suspiro e se recostou na cadeira, uma postura de quem já estava farto da conversa, e virou-se para Dino. — Vá servir as mulheres — Lucifer ordenou, a voz firme. — E faça o seu trabalho direito, como prometido. Dino, sentindo o peso das palavras de Lucifer, não hesitou. Ele sabia que seu lugar não era o centro da atenção, mas sim nas sombras, servindo aos outros sem questionar. Ele se virou e caminhou até as mulheres, sua mente em um turbilhão de pensamentos. Ele não queria olhar para elas, não queria ser parte dessa cena de luxo e frivolidade, mas sabia que precisava seguir as ordens. Salomé, Raquel e Esther estavam distraídas com as conversas e gargalhadas entre elas. Enquanto isso, Dino se apressava a encher novamente as taças de vinho, tentando se manter o mais invisível possível. Salomé não o olhou mais diretamente, mas ainda o observava de relance, como se estivesse aguardando que algo de errado acontecesse para se divertir mais. A festa seguiu seu ritmo, e a noite foi preenchida por risos e música, a celebração da vitória de Lucifer ainda reverberando por todo o lugar. Para muitos, era um momento de glória, de sentir o peso do poder sobre os outros, de admirar a presença de Lucifer. Mas para Dino, era uma noite marcada por humilhação silenciosa e um medo constante de que sua posição, ao lado de Lucifer, fosse mais uma prisão do que uma chance de algo melhor. Lucifer parecia estar confortável, cercado pelas mulheres, ignorando as provocações e apenas curtindo o momento de seu triunfo. Mas mesmo em meio à festa, ele sentia que, por trás das comemorações e da adulação, havia algo faltando. Algo que ele não sabia exatamente o que era, mas que, de alguma forma, o incomodava. Enquanto a noite se estendia, com vinho e risadas que se espalhavam pelo salão, Dino começou a questionar sua própria posição. Ele não sabia o que o futuro lhe reservava, mas, por um momento, sentiu que talvez, naquele jogo de poder e escravidão, havia mais em jogo do que simplesmente ser o servo de Lucifer. Algo dentro dele se rebelava contra a ideia de ser apenas um peão nesse tabuleiro. Mas ele sabia que, por enquanto, sua sobrevivência dependia da obediência. Ele teria que ser paciente, pelo menos até entender mais profundamente o que se passava naquele mundo tão implacável e cheio de manipulações. O que ele não sabia era que sua jornada ao lado de Lucifer, marcada por sua escravidão e humilhação, estava prestes a mudar, de uma forma que ele jamais imaginou. Mas isso ainda estava muito distante de sua compreensão. Por ora, ele apenas cumpriria seu papel, sempre em silêncio, enquanto a festa continuava ao redor dele.
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