As ruas de Enoque estavam vibrando, repletas de vida e alegria. O som das risadas e dos gritos de celebração preenchia o ar quente da tarde, enquanto a cidade se enchia de um frenesi de movimentos. As pessoas dançavam, pulavam, batiam palmas e se empoleiravam nas portas e janelas, todas ansiosas para ver o grande Lucifer voltando de mais uma de suas cruzadas vitoriosas. Seus olhos, sempre intensos e implacáveis, agora estavam tomados por uma energia quase... sagrada para os habitantes da cidade. Eles o viam como um homem imbatível, o senhor absoluto das suas vidas. As ruas estavam tomadas por uma euforia que, para muitos, parecia ser a única maneira de se manterem vivos nesse mundo destruído. A vitória de Lucifer significava uma pequena centelha de esperança para eles, mesmo que, no fundo, soubessem que essa esperança fosse efêmera e que a opressão voltaria logo.
No entanto, entre toda aquela celebração, havia uma figura que se destacava, não pela animação, mas pela tensão em seu corpo. Dinah, que agora se passava por Dino, estava totalmente em contraste com o resto da cidade. Ela se sentia como uma estranha no meio daquela festa. Enquanto todos estavam imersos nas vibrações da vitória, ela apenas queria distância daquelas ruas, daquele lugar que agora a assombrava ainda mais. A sua mente estava repleta de pensamentos frenéticos, enquanto o medo de ser reconhecida a paralisava. O que faria se algum daqueles homens que se aproveitaram de sua mãe visse quem ela realmente era? O que aconteceria se alguém soubesse que a filha da mulher que morreria em suas mãos estava agora na mesma cidade, sob o domínio de Lucifer? Seu medo crescia a cada passo.
Com os passos rápidos e a respiração abafada pela ansiedade, Dinah se envolveu em uma capa escura, deixando apenas seus olhos visíveis. Não queria que ninguém olhasse para ela, não queria ser reconhecida. Cada esquina, cada rosto, a fazia temer o pior. Ela se movia entre os outros, tentando ser invisível, esgueirando-se pelas sombras das grandes construções e pelas vielas escuras. Ela não era mais uma menina sem rumo, mas uma escrava, e isso a fazia sentir o peso da vergonha, da humilhação. Ela não sabia quanto tempo duraria sua disfarçada existência, mas sentia que precisava se esconder.
Quando chegaram à grande casa de Lucifer, as celebrações da cidade pareciam ter um fim, mas para Dinah, era o início de sua verdadeira prisão. O edifício à sua frente era imponente, um monumento do poder de Lucifer e do regime de Zayn Romanov. Era um palácio de pedra, com detalhes esculpidos que pareciam capturar a frieza do líder da cidade. Ele olhou para Dinah, seu olhar fixo e firme, e disse sem mais delongas:
— Dino será meu servo pessoal — afirmou Lucifer, sua voz forte e autoritária. Os homens que o acompanhavam assentiram, sem questionar. Eles sabiam que quando Lucifer falava, a palavra dele era a única que importava.
Com um gesto impessoal, ele apontou para Dinah, como se fosse apenas uma ferramenta em seu império. Um servo pessoal, uma propriedade. Não havia espaço para dúvidas ou discussões. Ela agora estava à disposição de Lucifer, e isso significava que sua vida tomaria um rumo que ela não poderia controlar.
Sem qualquer compaixão ou explicações, Lucifer virou-se e ordenou que as criadas a levassem até os aposentos. Elas a guiaram por corredores longos e silenciosos até um pequeno quarto no fundo da casa, que, apesar de ser simples, exibia um conforto inesperado para uma escrava. A cama, embora modesta, tinha um colchão macio e lençóis limpos. No fundo, aquilo representava um luxo comparado ao que ela já havia conhecido. Para alguém como Dinah, isso parecia um privilégio, mesmo que fosse dado como parte de seu novo destino sombrio.
Enquanto as criadas se preparavam para ajudá-la, Dinah se sentiu um pouco desconfortável. Ela estava agora em um estado de vulnerabilidade, em um lugar onde, embora pudesse ter algum conforto, ela não tinha liberdade. Sentiu-se observada, como se estivesse sendo avaliada, e tudo em sua pele gritava para fugir. Mas não havia para onde ir.
Quando as criadas tentaram tirar suas roupas, Dinah se sentiu invadida, como se aquela fosse a última dignidade que lhe restava. Ela se recusou a permitir que as mulheres tocassem nela. Suas mãos se ergueram, afastando-as com um gesto firme. Havia algo em sua alma que não permitia ser tocada daquela maneira. Não agora. Não por ninguém.
— Eu vou tomar banho sozinho — disse com a voz baixa, mas com uma firmeza que surpreendeu as criadas. Elas a olharam por um momento, mas, sem questionar, assentiram e saíram do quarto, deixando-a sozinha.
Sozinha, Dinah se despiu de suas roupas sujas e se dirigiu até a pequena bacia de água. O ambiente simples, mas limpo, dava-lhe uma sensação de aconchego, mas também fazia com que ela sentisse o peso de sua transformação. Ela não era mais a menina que caminhava pelas ruas com medo da vida, mas uma escrava em um império que agora a controlava. O banho, simples e rápido, foi como um pequeno alívio. A água quente se misturava à sua dor, e ela sentia a sensação de purificação em sua pele. Mas a verdade era que, mesmo lavando seu corpo, sua alma permanecia suja, marcada pela c***l realidade que a cercava. O banho não apagaria o que aconteceu, não apagaria a perda de sua mãe, nem sua prisão.
Quando terminou o banho e se vestiu com as roupas limpas que as criadas haviam deixado, sentiu um leve alívio, mas também o peso da submissão. As roupas eram simples, mas confortáveis, e ela se olhou brevemente no espelho improvisado. Sua aparência agora era de um servo, alguém que havia sido tirado da margem da sociedade e colocado no centro de uma nova prisão. No entanto, ela ainda tinha o olhar de alguém que não havia se entregado por completo.
As criadas voltaram para levá-la até o quarto, e, em silêncio, a conduziram até o espaço destinado a ela. O quarto, embora simples, era um lugar isolado, onde Dinah poderia ficar sozinha com seus pensamentos, longe da euforia da cidade e do grande poder de Lucifer. Quando entrou no quarto, percebeu que a cama era confortável. Era mais do que poderia ter esperado para alguém na sua posição. Era um sinal de que, apesar de tudo, Lucifer não a trataria com a crueldade absoluta que ela esperava. Talvez ele a considerasse mais útil do que uma escrava qualquer.
Ela se sentou na cama e respirou profundamente, tentando organizar os pensamentos confusos que a atormentavam. O cheiro da sopa que traziam até ela, junto com o pão, foi uma surpresa. Era um alimento simples, mas nutritivo. Ela estava faminta, e, de algum modo, a refeição pareceu reconfortante, mesmo que ela soubesse que era apenas uma migalha comparado ao que ela já havia experimentado antes.
A sopa era quente, com um gosto simples, mas satisfatório. O pão estava macio e farto, e, enquanto ela comia, uma parte dela tentava afastar a dor de sua condição. Mas havia uma sensação de desgosto que se formava dentro de si. Ela estava ciente de que sua vida agora era controlada, que a sua liberdade havia sido roubada, e que, a partir daquele momento, ela não poderia mais se dar ao luxo de viver como antes. Ela era propriedade de Lucifer, e isso significava que tudo em sua vida estava prestes a mudar para sempre.
Enquanto comia, os pensamentos se misturavam com os sentimentos conflitantes que estavam brotando em seu peito. Aquele momento de aparente conforto parecia quase irônico. Ela estava viva, sim, mas a que custo? A sua alma estava sendo moldada por uma força que não podia combater, e ela sabia que estava em um ponto sem retorno. A única coisa que restava era sobreviver.
Com a última colherada de sopa, Dinah terminou a refeição. Ela se reclinou na cama, observando o teto simples, mas limpo, e pensou, sem querer se enganar, que sua vida, afinal, não estava tão r**m assim. Ela estava viva. Ela estava segura, pelo menos por enquanto. Mas sabia que essa segurança era frágil, e que, no fim, ela teria que lutar para manter o pouco que restava de si mesma.
Enquanto fechava os olhos e deixava o sono a envolver, uma parte dela ainda acreditava que havia uma chance de escapar, de ser mais do que apenas uma escrava. Ela não sabia como faria isso, mas algo dentro dela ainda se recusava a ser quebrado.
A noite passou lentamente, e, com ela, o peso da nova realidade. Dinah estava em um novo capítulo de sua vida, e o que viria a seguir seria decidido não apenas por Lucifer, mas por ela mesma. Ela não se deixaria perder, não tão facilmente.