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1818 Words
Zara Los Angeles é enorme, não é possível que eu não ache um emprego nesse lugar.  Enquanto estava no táxi, minha mente voltou até o encontro inesperado de algumas noites atrás. Não tinha nenhum tipo de contato com ele, não trocamos número de telefone, era difícil achar que haveria algo além daquilo, até porque, ele só decidiu me ajudar e pronto. Peguei meu celular e abri o **, decidindo olhar o feed e o deixar fora da mente, mas, como uma boa mentirosa, eu fui até a aba de pesquisa e digitei seu nome. Bom, é claro que existe mais de um Sebastian McCarthy no mundo, porém, não demorei muito para achá-lo.  Caí com a cara no chão quando o identifiquei e vi que seu perfil era privado. Por que caras bonitos não mostram ao mundo que são lindos? Conforme fui olhando, foquei em sua biografia, e lá também não dizia muita coisa, mas o que falava, bastava.    Agora eu sei que ele é britânico, e totalmente sem sotaque! Meu Deus, cadê o glamour de falar diferente de um americano? Enfim, deve ter vindo para cá muito novo. Dizia que era nascido em Londres, morava em Los Angeles, nada sobre sua vida pessoal e nem mesmo se tem cachorro. Que sem graça! Resolvi que deveria procurar mais alguns McCarthy, só para ver se ele não era um psicopata que matava membros da família. Nunca se sabe… Olhei para um usuário que dizia “kmccarthy”, quando entrei, era perfil aberto. Quase comemorei em voz alta, quase. O táxi parou em frente ao restaurante em que eu almoçaria, paguei pela corrida e fui ainda olhando o celular. Assim que me sentei e vi que, mais uma vez, Spencer estava atrasada, decidi ir mais a fundo no perfil da tal K McCarthy.  Sorri internamente quando olhei a garota ruiva — e muito bonita por sinal — estampada em minha cara. Sua biografia dizia que era nova iorquina, morava em Los Angeles e também que nas horas vagas assistia filmes ruins de suspense e terror com qualidade questionável. Fui até as publicações, vendo suas fotos de paisagem e café da manhã. Uma delas me chamou a atenção, eram olhos azuis de duas crianças diferentes, uma ao lado da outra, a legenda dizia: “você era uma praga. Irritante ainda é, vamos concordar, mas eu te amo. Feliz vida, McCarthy mais velho, amo você, irmão”. Claro, abri os comentários, e já no topo havia um comentário de Sebastian: “amo você, pequena fogueira, seremos para sempre S&K. Obrigado por tudo, inclusive pelas meias de aniversário!”. Acho que eu não precisava de mais nada para comprovar que os dois eram irmãos. Antes que eu saísse do perfil da garota e fechasse a tela, Spencer falou próxima de mim:  — Que moça bonita, quem é? — eu quase pulei da cadeira. — Te assustei? — riu e se sentou em minha frente. — Foi m*l, e desculpa o atraso também. — Eu já estou super acostumada. E, respondendo sua pergunta, ninguém em especial, vi no explorar e resolvi entrar no perfil. — ela não precisa saber que estava investigando a vida do loiro bonitão, né? — Como você está?  Spencer suspirou, descansando sua bochecha na palma de uma mão. — Estou um pouco cansada, o trabalho anda puxado, muita papelada. E você? Mais nada sobre o loiro bonitão?  Contei para ela sobre Sebastian, mas que ficou somente naquilo, o que não é uma mentira.  — Mais nada, só sei o que ele disse na noite.  — Huh, ele é misterioso, tem toda essa pegada de Bruce Wayne e é lindo. O garçom chegou até nós e anotou os pedidos, se assustando um pouco quando pedi pimenta extra no molho para o pão. Voltei a falar do loiro bonitão quando o rapaz deu as costas. — Bem, tentei achá-lo no **, mas a conta é privada. — Ah, isso aí mata qualquer uma!  — Uma parte de mim morreu quando descobriu. — Soltei um gemido de cansaço. — Mudando o assunto, não consigo arranjar um emprego.  As  bebidas chegaram junto com o pão e o molhinho apimentado, e depois de morder um pedaço, parecia que tudo estava melhor. — Posso ver com Brian se tem vaga na empresa ou se conhece alguém. — Não quero te dar trabalho, de verdade, mas na atual situação que me encontro, vou aceitar. — Ótimo! Se me der um currículo, eu entrego para ele.  — Me lembra de te entregar quando for em casa, os que eu tenho estão contados para hoje.  O almoço havia chegado, e enquanto comíamos, fofocamos sobre coisas aleatórias e edificantes no mundo feminino. • Na próxima semana seria minha última trabalhando para a empresa que me fez repensar sobre homens na frente do trabalho. Por sorte, eu nasci com a paciência que poucas teriam no meu lugar, e também não as julgo, às vezes realmente merecem.  Com a cara colada no notebook, ainda pensando em arranjar trabalho, percebi que estava cansada demais e que a minha missão de vida era arrumar um trabalho melhor do que eu estava, de qualquer forma, isso não deveria tomar o meu dia todo, né?  Pensando nisso, fechei o notebook e caminhei até minha geladeira, pegando um pote de sorvete na parte do freezer. Qualquer seriado bobo deveria me animar, pelo menos é o que estou tentando me fazer acreditar. Me sentei no sofá e procurei alguma coisa, parando em um seriado de provas de vestido de noiva. Enquanto assistia as mulheres com cada gosto peculiar, meu telefone tocou, vibrando em minha perna. — Oi! — deixei o pote de sorvete na mesinha de centro. — Zara! — Spencer estava animada. — Acho que tenho um lugar para você tentar, mas ainda não é certo, só precisamos de mais alguns dias. Ai, caramba!  — Sério? Onde?  — Isso eu ainda não sei, Brian só disse que tinha um lugar para tentar. Em mais alguns dias eu te dou o nome e todas as informações. Fiz uma careta, eu não saberia nem o suposto lugar? Decidi confiar, já que o namorado dela era também um ótimo empresário. — Tudo bem, eu espero. — me deitei no sofá. — Tenho uma entrevista na terça. — Wow! Já temos um começo, não é?  — É, temos. Tenho que pensar que vou arrasar nas entrevistas, pensar negativo já é demais. — Mesmo sendo sua cara… — resmungou. — Ei! Eu não sou negativa, ok? Sou realista, é diferente. — Spencer me imitou com uma voz forçada. — Eu não falo assim! Ela riu, me arrancando um sorriso. Mas ainda não concordo com sua fala. — Enfim, como anda a vida social?  Outro suspiro, outro assunto. — Na mesma: sozinha com uma gatinha sem pelos e sorvete.  — Nada m*l! — eu ri daquilo. — Aham, nada m*l. — debochei. — Por que não arranja um encontro? Quem sabe assim você não consiga um cara legal.  Eu deveria acatar essa ideia porque é realmente o que se faz quando se está na seca e não sai com ninguém por meses? Sim, era exatamente o que eu deveria, mas algo ainda me impedia de dar esse passo. — Zara, você é uma mulher incrível e muito talentosa, qualquer cara adoraria te conhecer melhor. Você pode não ter muita sorte nessa parte de amor, mas uma hora tudo tem que se ajeitar, não é? Se nunca tentar, nunca vai saber se pode amar alguém de verdade. Ela tem toda razão, isso é fato e eu sei bem disso, só não consigo dar esse passo e me jogar de cabeça. às vezes acho que fico tão inerte com minha vida no trabalho que esqueço dos pequenos detalhes. Não me leve a m*l, nunca me dei bem com o amor.  — Eu não faço a mínima ideia de como é não ter um dedo podre.  — E nunca vai saber como é ter um namorado bom o suficiente se nunca tentar!  Spencer estava ganhando até agora.  — Ok, ok! Eu me rendo, minha querida!  — Perfeito! — riu. — Mas não é porque eu me rendo que significa que vou sair procurando alguém, não ache isso.  Houve uma pausa, Spencer ficou em silêncio, já sabia o que ela diria. — Quantos caras te abordaram em lugares aleatórios nas últimas semanas?  Me conhecia demais, sabia até o que poderia acontecer durante minha semana e o que eu poderia ocultar.  — Alguns por aí.  — Zara, pare de se fazer de rogada e me conta: quantos deles você se sentiu insegura para trocar número de telefone?  — Todos? — Na verdade, eu não sabia e não sei como agir quando algum cara me aborda em lugares por aí, foi assim que conheci o meu trauma para os relacionamentos.   — Julgou todos como seu ex-namorado?  Pensei um pouco, mais como uma reflexão, para falar a verdade.  — Julguei meu ex-namorado tão bem na época que hoje julgo todos por como ele estava quando tudo acabou.  — Você pode estar se privando de caras incríveis e… — Sendo egoísta comigo mesma. — completei.  Houve outra pausa, dessa vez um pouco mais longa.  — Chances de mandar solicitação?  Eu gargalhei. Aquilo não seria possível. — Não, sem chances, minha autoestima até que está boa, sabe? Prefiro mantê-la assim, sem achar que ele vai pensar que estou desesperada por ele, e não estou.   — Você quem sabe! Mas eu ainda acho que vocês deveriam marcar de se verem.  — Spencer!  — O que é? Só estou dizendo!  Soltei uma risada alta, essa mulher sabia como me fazer parar de ser tão pessimista. Entretanto, continuo me achando apenas realista.  — Sendo assim, eu declaro meu sono para o fim do dia! — bocejou do outro lado.  — Certo, também já vou. — desliguei a TV e peguei o pote na mesinha. — Brian não vai estar aí hoje?  — Não, ele saiu com uns amigos depois do trabalho e eu vim para casa. Guardei o sorvete no freezer novamente e deixei a colher na pia. — Arg, relacionamento saudável! — escutei a risada nasalada dela. — Todos merecemos nossa vez. — Ah, é, para isso eu preciso me permitir sair com caras.  — Obviamente, sua procrastinadora! Não custa nada um encontro de vez em quando.  Deitei em minha cama junto com a Thiana, entrando de baixo do edredom.  — Eu prometo tentar.  — Quer que eu arrume um cara para isso?  — E se o que você escolher for um doido que só sabe falar de si mesmo?  — Que isso, Brian não tem amigos assim.  — Ah, algum amigo do Brian é solteiro? Achei que todos já tivessem suas damas.  — Aparentemente, alguns deles não possuem. — assenti. — Quer que eu tente ele, bonitinha? Hm, hm? — ri nasalado. — Quem sabe um dia, hm?
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