Narrado por Murilo Ferreira ( Dias depôs ) Fazia dias que eu não subia ali. Nem lembrava mais como era respirar sem o peso do mundo nas costas. A boca rodando. Os menor na função. O rádio tocando as quebradas. E eu, no automático. Mas naquela noite... Eu larguei a peça no colchão. Disse pro Neguim que ia só dar um rolê. Ele quis falar alguma coisa. Engoliu. Pulga ergueu a sobrancelha, desconfiado. Faísca me seguiu com o olhar até a escada. Gargalo nem precisou dizer — o silêncio dele falou. Subi. Degrau por degrau, como se cada um me puxasse de volta pro tempo em que a gente ria ali em cima. Cheguei na laje. A mesma laje. A mesma vista da cidade tentando brilhar lá longe. Mas não tinha brilho nenhum dentro de mim. Sentei na beirada. Olhei pro céu. Ou melhor… fitei o nada

