Chapter II

2042 Words
Episode: M&M's Louis estava definitivamente divagando entre nervoso, apreensivo e relutante. Enquanto descia as escadas daquela sala infestada por câmeras e um canto de observação de vidro - no qual Zayn o observava- ele permanecia se perguntando se deveria mesmo se arriscar naquilo. E em uma decisão rápida ele chegou na conclusão que SIM. ÓBVIO. Era exatamente isso que ele queria para seu futuro. Era exatamente esse tipo de situação que enfrentaria diariamente quando fosse mais velho. Sem falar que Louis não fez todas aquelas provas teóricas de merda pra amarelar agora, não é? Enfim, ele respirou fundo e terminou de descer os degraus, observando o que havia a sua volta. A sala era um tanto deprimente. Paredes cinzas, pouca mobília - um conjunto de sofás e uma mesa com "brinquedos" em cima (daqueles de encaixar adequados pra crianças de dois anos). Sentado de costas em uma cadeira daquela mesa estava um indivíduo alto, com cabelos encaracolados.. Sim, encarando a parede. Conforme Louis se aproximou - bem vagarosamente e rezando para o rapaz não se virar de repente com os olhos revirados pra cima cantando uma canção satânica em latim (oras, vai saber!) - os baques da sola de seus Vans contra o piso liso tornaram-se audíveis. Harry Styles não se moveu. Continuou de costas. Continuou imóvel. Ufa. Louis respirou mais uma vez e prosseguiu, mas foi quando estava relativamente perto do garoto - na distância que o instrutor recomendou (dois metros longe) - que... Harry deixou um de seus braços cair do colo e o esticou para a direita, permanecendo com ele esticado num ângulo de noventa graus. A esse ponto Zayn já não podia observa-los daquela parede de vidro (embora garantira que o local possuía várias câmeras e que se Harry fizesse algo os cuidadores interviriam imediatamente) e o medo de Louis apenas aumentou. Ele congelou. Alguns minutos se passaram em silêncio com um 302 de braço suspenso no ar.. Até que ele por fim se virou um pouco a fim de observar Louis. Ao passo que seu corpo foi se curvando para trás Louis pode observar sua parte frontal. E - DEUS - isso não era nada do que ele esperava. O enfermo de 20 anos expunha uma mandíbula bem definida, olhos grandes, cabelos da cor de chocolate caídos em cascatas, boca fina, tronco robusto,... Harry nem ao menos se assemelhava com um paciente. Claro, se não levasse em conta sua cor pálida, as bolsas arroxadas embaixo de suas pálpebras, a expressão cansada e principalmente o olhar vazio. Louis já notara que a maioria dos pacientes tinham aspecto vazio.. Como se suas almas estivessem realmente desaparecidas e o que lhes restaram foram seus corpos exaustos de tomar tanto remédio e viverem aprisionados nessa clínica. Mas Harry.. Harry era todo perfeito. No entanto suas íris esverdeadas - num tom que divagava o de gramas no verão com um verde de lagoas limpas e claras - apresentavam nada menos do que: nada. Eram olhos mortos. Olhos cegos sem emoção que pareciam fixos em Louis mas ao mesmo tempo vagando em algum universo paralelo. Louis sentia que Harry estava e simultaneamente não estava ali. Era o que restara dele. Uma versão robótica. Harry arqueou uma sobrancelha provavelmente confuso por nunca ter visto aquele funcionário antes... E Louis percebeu que a boca de Styles se mexeu embora ele não tenha escutado nada porque estava perdido na figura peculiar de sua frente. - Ahm?- Louis balbuciou confuso, tentando arduamente compreender o que aquele menino estava dizendo, porque, bem, Harry ainda estava com o braço estendido, porém agora era na direção do menor. - Você não vai aplicar os remédios? - ele perguntou seco, com a voz também robótica e curta. Louis imediatamente retornou à realidade e negou com a cabeça.  A atitude de Harry só o fez refletir que ele provavelmente é submetido à uma quantidade excessiva de remédios já que associa a presença humana à uma nova aplicação. Esta daria uma boa anotação em seu relatório. Harry abaixou o braço e o deixou cair ao lado de seu corpo, com o rosto livre de emoções ou qualquer sinal de vida. - É hora de sair?- retornou a perguntar, pronto para caminhar para fora daquela sala. - Não, não! Eu não sou um enfermeiro, relaxe! - Louis afirmou exasperado, balançando com as mãos para frente. A verdade era: Tomlinson ainda estava inerte com todos os acontecimentos recentes. E assustado para um c*****o julgando Harry algum tipo de aberração. Ele estava fodidamente com medo que o garoto o violentasse, mas.. Parecia o contrário. Parecia que ele era totalmente inofensivo e fraco e vulnerável. Apesar de sua reputação não ser das melhores. Harry concordou e voltou a se sentar, dessa vez virado de frente pra Louis. Louis sabia que - como todos os doentes daquele manicômio - Harry provavelmente vivia perdido em sua própria realidade existencial, talvez em outra galáxia ou planeta em que- - Que horas são? - sua voz carregada cortou o silêncio. O estudante piscou rapidamente para recobrar sua consciência até olhar no relógio do celular. - Quase cinco da tarde. - afirmou com o tom vacilando. Um tom de puro pavor. Mas bem, vejamos, Louis era estudante de psiquiatria e precisava superar essa sua insegurança i****a se quisesse: 1- provar a Zayn que ele era capaz de supervisionar Harry. 2- provar a si mesmo que ele era capaz de sobreviver a um manicômio. 3- provar ao seu tio que ele não era um caso perdido. O problema consistia em como Louis se aproximaria de Harry se o menino estava morto em seu olhar e recluso no próprio canto. E - que de acordo com Zayn - ele não fazia questão alguma de estabelecer relação com qualquer funcionário. Louis em passos tortos e cheios de relutância puxou uma cadeira do lado oposto a que Harry estava sentado e se sentou. Esta proximidade estava errada. O instrutor deixou bem claro pra manterem uma distância segura do paciente (dois metros!) - mas Louis nunca seguia regras e avisos e agiu pelo impulso. Afinal, Harry e os pacientes são humanos, e não uma espécie de alienígena que te engoliria vivo. Esse movimento não assustou Harry, honestamente foi o inverso, ele desprendeu seu olhar do horizonte e o cedeu à Louis, demonstrando uma fração de curiosidade imersa em algum canto daquela expressão morta. Isso foi definitivamente um avanço à Tomlinson. Ele forçou um sorriso calmo e gentil- certamente falhando e saindo mais como uma careta horrorosa. Harry permaneceu com a feição parada, o estudando, o observando, não se movendo. - Er.. Meu nome é Louis. Louis Tomlinson. - disse na melhor entonação que podia.  - Eu sei ler crachás. - Harry o respondeu rapidamente. Sim. Essa resposta foi seca. Mas incrivelmente não soou como se a intenção do encaracolado fosse ser rude e grossa. Ele apenas afirmou simples. Louis engoliu a seco. - É.. Pois é... Eu estou no último ano da Pitt e acho que você vai ser a minha cobaia. E pronto. Antes que percebesse já havia usado o pior termo possível: "cobaia". Que tipo de i****a é você, Tomlinson?' Ele tapou a boca com os olhos arregalados, balançando a cabeça. - Meu Deus! Eu não quis dizer cobaia! Eu disse cobaia? Era pra ter ido experimento. E a situação só piora. Nota para a personalidade de Louis: ele não trabalha sob pressão. - Não! Experimento não! É paciente. Paciente que eu quis dizer! Jesus, me perdoe! - Louis finalmente proferiu angustiado, querendo enterrar a cabeça no buraco de areia mais próximo que houvesse.  Que vergonhoso! - Enfim. Eu vou trabalhar com você. Diariamente. Silêncio. - Ahm.. Vejo que tens uma bela casa, Harry! É adorável! Ele partiu para a bajulação ilusória, porque, como Robin disse, os pacientes associam e imaginam esse lugar como casas, como se fossem residências normais.. Como se aqui existisse uma cozinha, e afins. - Isso é um centro de observação. - Harry logo o cortou. E ele não esperava essa. Harry tinha plena noção de onde estava. Ele não criava uma realidade paralela em sua mente. Louis mordeu o interior da bochecha estonteado. Notou o quanto as olheiras de Harry estavam marcadas, o cedendo uma aparência de exaustão completa. - Está com sono? - questionou o óbvio. Harry ficou quieto. Silêncio. Olhos vagos. - Fome? Nada. - Eu sei que devo estar sendo irritante agora. E que fui bem rude minutos atrás. Peço perdão.  Silêncio. Rosto ausente de expressão.  Corpo ausente de alma. - Okay. Aonde eu estava com a cabeça?! Eu não sou adequado o suficiente pra isso. Eu m*l consigo cuidar do meu próprio r**o. - Louis desabafou frustrado, levando os dedos ao seu cabelo e bagunçando-o. Simplesmente caiu a ficha de que nada daria certo mesmo que ele insistisse. E então resolveu desistir. Contaria pra Zayn do seu fracasso e alteraria-se para um paciente mais fácil de se lidar. Assim ele se levantou da cadeira e se afastou em direção as escadas. Ao menos até escutar um fraco - quase inaudível - sussurro. - Espere. E ele parou. Sua respiração se prendeu com ele surpreso pela interferência e demonstração de existência daquele ser vivo-não-vivo. Louis o encarou. Harry estava olhando fixamente para a mão do menor. - O que é isso? - de repente perguntou, com a voz baixíssima e pequena. Louis franziu o cenho e olhou para onde o rapaz fitava. Oh. Ele andou calmamente até Harry. - O que? Isso? - indagou-o chacoalhando a embalagem pequena de M&M's com a mão direita. Harry não respondeu ou se movimentou, mas permaneceu com o olhar preso naquilo, o que deveria significar um "sim". - Isso é uma caixinha de mini-chocolates a qual eu não poderia ter trazido, porque é proibido entrar com comida, mas que eu esqueci de guardar e trouxe. - Louis explicou pacientemente, colocando o pacote em cima da mesa e percebendo uma pequena curiosidade genuína em Harry. - Você quer um pouco? Quer experimentar? - ofereceu. Harry e seus olhos frios o olharam. Sem expressão. Mas de alguma forma Louis sentiu que o garoto estava apenas relutante e com vergonha de aceitar. Algo mascarado por trás dos olhos cegos pareceu como uma resposta à sua oferta. Ele decididamente jogou algumas das bolinhas coloridas de chocolate na palma da mão e estendeu a mesma à Harry. - Não são.. Remédios? - Harry perguntou um tanto desconfiado e extremamente frágil. Porque sua vida era baseada em remédios. E essa seria uma maneira inteligente de obriga-lo a tomar uns. - Não! - Louis garantiu. - Eu prometo! É bom, você vai gostar.  Mas então um fato lhe veio no cérebro. As câmeras. Elas estariam o filmando e claro que era proibido alimentar os residentes do manicômio. Principalmente com chocolate. E logo quando Louis conseguira desbravar alguma reação em Harry Zayn desceu correndo pelas escadas, desesperado. - O que pensa que está fazendo? - questionou-o alarmado. Louis esticou os braços no ar em sinal de rendição. - Okay, okay, eu esqueci e me enganei e quase fiz merda. Foi só um deslize. Me perdoe. - Louis! Se a gerência vê isso eles te mandam uma advertência e com três advertências você é expulso da experiência. - Eu sei. Foi um erro. - Certo. De qualquer forma já deu seu horário aqui e os alunos vão assistir alguma palestra ou sei lá. Você precisa ir. - Entendido. - Louis concordou seguindo Zayn à saída. Mas bem, Louis é Louis, e sendo Louis é óbvio que ele havia dado um jeito de entregar um punhal daquele chocolate nas mãos de Harry enquanto levava a bronca de Zayn. E conforme caminhava às escadas, reparou no garoto de cabelos castanhos olhando curioso para o que havia em sua palma esquerda, formando uma concha com a mão onde Louis arremessara os M&M's depressa. Logo em seguida, Harry cortou o olhar de sua mão e redirecionou-o à Louis que subia os degraus. E por mais que as esferas verdes estivessem vazias, Louis reconheceu que aquilo seria sua expressão mais próxima de um "obrigado". E isso o deixou satisfeito consigo mesmo, porque morar num hospital de loucos deve ser um inferno, e ele faria de tudo para tornar a vida de seu paciente um pouco menos pior.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD