Chapter III

2416 Words
Episode: Jack & Rose - Mas sério, eu ainda não acredito nisso. - Liam murmurou frustrado, batendo as mãos contra sua testa. Louis e Liam haviam dirigido até um Starbucks perto de seu apartamento - porque sim, desde que os dois foram estudar na Universidade de Pittsburgh há três anos atrás eles dividiam o aluguel de um apartamento perto do campus. - com a conclusão de que ambos necessitavam de algum café forte para digerir todas as novidades. - Não é possível que seja tudo isso, Payne. - Estou te falando, Lou! Minha paciente é completamente insana. Ela se jogou em mim, começou a me abraçar e perguntar por que raios Jack não permaneceu com Rose no filme Titanic! E então ela também começou a me chamar de Jack e afirmar que seu nome era Rose. Céus!  Louis apenas gargalhava da desgraça de Liam. - Oh, não reclame Senhor-aluno-perfeição. Liam revirou os olhos diante ao apelido e bebericou de seu cappuccino, promovendo um sorriso ladino. - Mas e você, Louis, como foi com seu paciente?  - Fiquei com Harry. Um garoto mais conhecido como peixe morto humano.  - Isso soou contraditório. - Acredite: chamá-lo de um cara desligado seria eufemismo. Ele está mais para um zumbi. - Louis Tomlinson! Você não pode falar coisas assim. Não se esqueça que eles todos estão no manicômio porque têm doenças. E são elas que determinam eles. Louis parou para ponderar e percebeu que Liam fez um bom ponto. Um ponto óbvio, na verdade. - Tá. Eu só preciso descobrir um meio de quebrar aquele olhar frio e corpo sem alma do garoto. Me recuso a permitir que sua esquizofrenia sugue minha sanidade junto. E também.. Como raios vou fazer um relatório se o enfermo não faz nada além de respirar e sobreviver?! - Tomlinson se agoniava cada vez mais com a situação. - Hey! Se acalme, pequeno. Você precisa dar um tempo a ele. Dê um tempo pro rapaz se acostumar com você e quem sabe ele resolva se abrir melhor? - Ele vai é arruinar minha experiência. Mas você está certo. As coisas ficarão em seus lugares. Basta eu não pressiona-lo... -.-.-.- E, bem, as coisas não deram muito certo. Ao longo daquela semana "progresso" foi uma palavra inexistente no vocabulário de Louis. Ele ia lá toda a manhã.  Encontrava-se com Zayn. Ambos deixavam a refeição matinal de Harry em seu quarto (cela) e então o esperavam termina-la. Nessa hora Louis geralmente entrava para fazer algumas perguntas que enchessem seu caderno de anotações com.. Relatórios. O que nunca aconteceu. E então durante a tarde Harry ficava na área pública de lazer com todos os outros internos... Mas ele não se relacionava, permanecia parado sentado em um dos sofás com os olhos vagos. Ao pôr do sol os pacientes recebiam suas jantas no refeitório comunitário - a todo instante sob supervisão - para assim retornarem aos seus quartos, ou às vezes à sala de observação. E ... Eba!... O relatório de Louis possuía menos de duas páginas enquanto o de Liam e do resto da turma passavam de dez. Louis insistia. Ele realmente insistia que Harry desse sinais de existência ou qualquer progresso para que ele anotasse em sua planilha. Mas por mais que o de olhos azuis formulasse e repetisse várias vezes as mesmas perguntas... Ele não obtia respostas. Era tudo em vão. Harry não lhe daria uma réplica caso ele perguntasse se "estava tudo bem". Ele somente continuaria estático ignorando a presença de Tomlinson e se divertindo com a parede branca - porque sim, aparentemente observar as paredes brancas era algo muito mais divertido do que conversar ou dar atenção a Louis. E Louis estava exausto! Exausto de escutar as aventuras da Senhora Amelia - a velha que Liam acompanhava - e como seus comportamentos eram engraçados enquanto Louis tinha apenas um peso morto sobre suas costas. Zayn o permitiu ser assistente de Harry porque percebeu que o encaracolado não o odiava completamente. Porém Louis com certeza se arrependia dessa estúpida decisão, pois no fundo ele estava quase amarelando e exigindo que trocassem seu paciente. Mas se ele fosse um Doutor de verdade não haveria essa opção, portanto ele se acostumava com as condições.. Ou se acostumava mesmo. - Sério, Li! Estou cansado! - Louis proferiu através do telefone, sentado em uma cadeira dentro do dormitório de Harry, esperando o menino acordar para entregar seu café da manhã (já que Zayn estava ocupado demais em alguma outra ala, porque apesar de Harry ser seu caso principal, ele cuidava de mais alguns outros). - Louis! Respire! Eu tenho certeza que se você estivesse com Amelia e ela pulasse e agarrasse seu pescoço do nada você correria de volta na mesma hora para atender Harry. - Liam tentou conforta-lo. - Além do mais, minha paciente está acordada e você está tomando meu tempo com essa ligação desnecessária! Se vire ai! - Eu preciso de uma aberração mais divertida. Quero trocar de paciente para algum que seja algo a mais do que uma planta! - Louis praticamente berrou.  Silêncio. - Eu não vou nem te responder! Reveja suas palavras, seu i****a egoísta. Você não tem jeito, Louis! Urgh! Tchau! - e Liam desligou. Silêncio. Louis batucava com os pés naquele piso retilíneo enquanto observava a paisagem mórbida daquela cela, preenchida apenas por uma cama alta - a qual Harry dormia virado para a parede, um criado mudo com uma minúscula gaveta, e este sofá-cadeira que Louis estava sentado. E fim. Não havia nada além disso ou da pequena passagem para um banheiro que provavelmente estaria sujo e nojento. De repente Louis notou Harry se remexer em sua cama. Sem saber direito o que fazer ele pegou a bandeja com o café da manhã de seu colo e caminhou para perto de onde Styles estava. - Er, bom dia? - Louis proferiu. Suspirou profundamente tentando resgatar paciência e animação. Harry... O ignorou. Nada de novo aí. Ele apenas se sentou na cama, pegou a bandeja das mãos de Louis e apoiou sobre seu próprio colo, enquanto o olhar era direcionado para o chão e o silêncio se tornava ensurdecedor na sala. A novidade foi quando Harry subitamente soltou: - Fale com Zayn. E Louis congelou. Essa era a primeira vez que ele escutava sua voz há muitos dias. - Espere, o quê? - Fale com Zayn. - Harry tornou a repetir sem nenhuma entonação ou vida dentro de suas palavras. - Ele consegue arranjar algum outro paciente para você. Louis o observou com o cenho franzido. Harry ainda estava de cabeça baixa encarando suas torradas. Os pequenos raios de sol que escoava pela minúscula janela no alto da parede refletiam em sua pele pálida, adornando-a como se fosse feita de uma porcelana oriental daquelas delicadas e lisas.  Os cachos de cor chocolate se assemelhavam à espirais infinitas e macias embora os xampus oferecidos fossem uma merda. Suas roupas não se consistiam em nada mais do que uma espécie de "veste" azul clara que o próprio hospital psiquiátrico os obrigava a usar. E ele parecia tão pequeno. Encolhido em seu canto. Alheio da realidade mas não alheio da dor. Por mais que seus olhos frios negassem qualquer exposição de sentimentos, a dor estava lá. E para Louis ela era quase paupável. Quase como uma espécie de sombra: você pode enxerga-la projetada atrás de seu corpo, embora seja intocável, porque bem, no fundo é somente um reflexo de si.  E para Louis, a dor era um reflexo oculto de Harry. Mas também: provavelmente todos que sofrem de depressão ou estão presos em um manicômio devem estar submissos a isso. Afinal, esta é a vida deles. E só então Louis percebeu estar divagando num devaneio horroroso e que esqueceu de responder a Harry. O menor meneou a cabeça perplexo. - Ahm? Da onde tirou isso, Harry? E - como um milagre - os olhos de Harry encontraram os de Louis. Talvez eles estivessem frios e sem emoção, mas Tomlinson enxergou que no fundo deles havia uma espécie de agonia e tristeza, como se Harry houvesse baixado a guarda por um segundo e naquele segundo ele fosse apenas um filhote de gatinho vulnerável e exposto. Mas o segundo se passou e ele logo retomou sua pose gelada. - Você precisa de uma aberração mais divertida. - Harry murmurou com a voz pequena. - Troque para um paciente que não seja uma planta igual a mim. E boom. Tomlinson ficou sem reação de primeira. E de segunda. E de terceira. E de quarta. Tudo que ele sabia fazer era permanecer boquiaberto fitando Harry ao que o mesmo picotava suas torradas com os dedos, deixando-as em pedaços cada vez menores para por fim leva-los à boca graciosamente. E p***a! Que merda Louis fez?! Louis estava estático e com um peso na consciência engolindo-o por inteiro. Ele estava suposto a auxiliar seu paciente e não deprecia-lo. E merda Harry escutou tudo que ele estava falando pelo telefone. Escutou-o chamando ele de aberração e planta morta. Isso era realmente demais para ele. Louis não poderia lidar com o peso do remorso naquela hora então sacudiu os ombros e deu passos vacilantes para trás. Ele sim era uma aberração egoísta e antiética.  E salvo pelo gongo, Zayn adentrou no quarto naquele instante. Alheio da tensão. - Bom dia, Harry. Hoje é sua seção de terapia. Daqui há uns trinta minutos esteja pronto. Louis aproveitou a presença de Zayn ali para dar o fora. Ele escapou pela porta sem promover barulhos ou despedidas. -.-.-.-.-.- Depois do incidente, Louis faltou alguns dias. Alegava que estava doente e com gripe e que não poderia cumprir o expediente. Não é como se sua planilha fosse obter acréscimos com ele indo ou não, principalmente agora que fez a maior burrada do século e Harry provavelmente não olharia mais em sua cara. Liam ficou de queixo caído quando ele o contou sobre o desastre. Liam o chamou de i****a, e******o, cuzão, filho de uma p**a, cabeça de merda... Mas não é como se Louis já não estivesse se xingando da mesma forma. Foi aí que ele entendeu que aquilo era demais e que Harry seria um caso muito difícil para ele lidar. O melhor seria aceitar que Louis era um babaca completo incapaz de cuidar de alguém que necessitasse de uma atenção redobrada. Pois então decidiu que realmente conversaria com Zayn naquela segunda-feira e trocaria de paciente.  Mas primeiro.. Ele precisava se desculpar com Harry pelas bostas que falou. E isso não seria fácil. Suas mãos estavam soando frio conforme ele abria a maçaneta do quarto de Harry. Zayn estava monitorando outra pessoa então Louis teve a brilhante ideia de ir levar o café da manhã para Harry. Ele se aproximou do expositor onde haviam várias bandejas que deveriam ser entregues aos pacientes e pegou uma. Antes de adentrar na "cela", Louis colocou disfarçadamente um saquinho de M&M's entre as torradas, escondendo-o lá e rezando para as câmeras não terem captado essa cena. Assim que rodou a chave e passou pela porta ele se deparou com um Harry sentado na cama, virado para frente, cedendo uma imagem de seu perfil, extremamente cansado. Louis trancou o quarto e se sentou na cadeira. Harry pareceu um pouco surpreso ao nota-lo lá. - Pensei que não viesse mais. - foi o que o encaracolado murmurou enquanto mordia o interior da bochecha. - Eu.. Eu não devia mesmo. Não depois do que fiz pra você. - Louis afirmou. Ele estava nervoso. Muito nervoso. Não pedia desculpas frequentemente mas seu coração parecia latejar sempre que recordava o que fez, e se ele não se desculpasse certamente se diluiria num poço de culpa e vergonha. Vamos Louis. Fale logo. Louis encarava seus próprios dedos meio que desejando usá-los para circundar o próprio pescoço e se enforcar. Ele odiava essas situações embaraçosas.  - Ok. Eu fui um i****a. É isso. Eu sempre sou um i****a na verdade mas aquela hora eu ultrapassei o limite da idiotice.  Silêncio. - Você não é uma aberração ou uma planta morta. Eu sei que falei aquilo mas sinceramente eu sim sou uma aberração sem cérebro que merece levar um tiro na testa. Silêncio. - Talvez até Rose tenha sido um pouco mais esperta do que eu, mesmo que ela tenha deixado Jack se afogar naquele mar congelante quando ela poderia ter cedido um espaço e compartilhado sua salvação, o que pra ser sincero foi ridículo! Enfim! Eu ultrapassei isso! Eu sou um monstro, me desculpe, Harry. Sou eu que não mereço ser seu assistente. Silêncio. Okay. Foi o melhor que sairia de sua boca inútil. Louis se levantou e deixou a bandeja com os alimentos - composta por torradas, suco de laranja, maçãs e M&M's - ao lado do garoto que estava sentado com as pernas cruzadas estilo índio, cutucando os lençóis brancos da cama. - Tudo bem. - Harry proferiu quase inaudível por fim. E as entranhas de Louis rapidamente se reviraram e dançaram em seu estômago enquanto seu pescoço se virava imediatamente pra flagrar Harry puxando a bandeja para si. Os olhos de Styles quase se iluminaram ao notar o saquinho de M&M's entre as torradas. E Louis podia jurar que viu o cantinho do lábio de Harry se curvar minimamente durante uma curta fração de segundos. E estava ali. O projeto de um sorriso. E p***a de repente isso fez o dia de Louis ficar melhor, porque soube que deixou alguém "relativamente feliz". - Tudo bem. - Louis repetiu as palavras de Harry, sorrindo amplamente. Os raios de sol iluminavam as costas de Styles ao que ele abria o saquinho de chocolates. De algum modo a presença de Louis assistindo-o comer aquelas bolinhas estava o constrangindo. Então Louis se tomou por satisfeito e optou por dar alguma privacidade ao grandão.. Caminhando determinado em direção à porta. - Obrigado. - foi o que escutou exatamente no instante que saiu e fechou a porta. Espere.. Harry disse obrigado?! Cara.. Com uma coisa tão simples como M&M's ele alegrou o dia de merda de Harry. Tem como se sentir melhor ou contente consigo mesmo? Para Louis a resposta era definitivamente não. Então no fundo... Talvez houvesse alguma possibilidade de isso dar certo, de ele continuar supervisionando Harry e trazendo-o chocolates escondidos que o deixasse alegre. - Louis, posso te ajudar? - Zayn se aproximou perguntando. - Na verdade, não. Está tudo ótimo. - ele respondeu, afirmando parte para si próprio. - Está tudo ótimo.
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