Chapter XII

2516 Words
Episódio: Lar - Por que está aqui?  A voz de Harry ressoou no quarto. Louis imediatamente sorriu. Estava claro o local, permitindo ter a visão de um Harry sentado com as pernas de índio em sua cama brincando com os próprios dedos distraidamente. - Ué. Vim te visitar. - Louis deu de ombros como se não fosse nada de novidade ou demais, porque afinal para ele não era.. Mas para Harry isso significava algo. Siginificava muito. Foram poucas as vezes que alguém já o visitou. Normalmente só via Zayn e os médicos e psiquiatras durante seus turnos... E mais ninguém. Portanto, Louis vindo vê-lo fora de seu tempo obrigatório é um motivo para melhorar seu humor. - Ah. Okay. - Harry murmurou tímido e baixou a cabeça, escondendo o rosto prestes a corar. Louis notara o comportamento estranho de Harry. Estranho não, diferente. Sim, diferente.. Porque, bem, antigamente Harry se demonstrava tão inabalável e sem reações para quaisquer tentativas de aproximação... E agora o menino ficava envergonhado com sua presença. Isso seria um bom sinal? Sim? Não? Talvez? Louis estava confuso, mas lembrou-se de que Liam o advertira sobre estar se ligando emocionalmente com Styles - o que era proibido por uma das normas da Uni - e que ele devia parar antes que sentisse mais afeto ainda (por mais difícil que a tarefa soasse). No entanto, era óbvio que ele jamais mudaria seu tratamento com Harry. Conquistou muita confiança do encaracolado para simplesmente desistir. - Olha o que eu te trouxe! - Louis afirmou entusiasmado enquanto se aproximava do corpo sentado na cama. Harry levantou um olhar curioso para Louis que escondia algo em suas costas. Tomlinson sempre teve essa alma animada, que transmite brilho e alegria. Ele só queria transmitir metade disso para Harry da maneira que fosse. De repente de trás de si puxou seus braços, revelando um saquinho vermelho e branco de balas. - O que é isso? - Harry questionou confuso. - Fini Tube Azedinha! A melhor bala do universo! Você vai adorar!  Ao escutar a palavra bala um sorriso se puxou nos cantos dos lábios do cacheado. Harry assimilava doces como coisas divinas, desde que era fã dos saquinhos de M&Ms que Louis o trazia ocasionalmente. Talvez parecesse bobo ao olhar de outros, entretanto para Louis Harry era tão único. Esse seu brilho de criança ingênua e vulnerável misturado com o jeito de armadura de ferro inatingível o transformavam em uma incógnita impossível de se decifrar. Era desafiador. Possuía adrenalina mascarada, como se para conhecê-lo melhor você ganhasse um convite o qual lhe diria "venha e se arrisque em mares profundos, cujos seus marinheiros ou morrem afogados ou desvendam a ilha fantástica, sonho dos terráqueos". Este era Harry. Ora afundando tudo a sua volta, ora dando-os contato com a alma mais maravilhosa do universo, sendo este sonho. Isso enlouquecia Louis de um jeito bom, embora ele nunca fosse capaz de admitir porque estava muito concentrado na lei do "não crie vínculos sentimentais com pacientes". ... - Não Louis! Pare de insistir! - Harry disse sério, rolando os olhos. - Eu só te dou a bala se você for comigo! - Então não a de. - Ah, qual é, Styles? De domingo os pacientes ficam livres pra andar por ai, até na área externa você pode ficar, por que não quer aproveitar a chance de irmos lá fora e vermos o pôr do sol como fizemos da outra vez? - Porque eu gosto mais de ficar aqui. - falou simples e direto, não se permitindo ceder durante as trinta vezes que Tomlinson insistira. - Af! E por quê? - Louis fez um beicinho adorável como uma verdadeira criança birrenta que insiste algo para os pais. O fato é: ele queria levar Harry para andar, espairecer. Tirá-lo daquele recinto que quase nunca saía. - Por que você gosta tanto daqui? É abafado, meio escuro, fechado- - Porque é confortável pra mim! - Harry argumentou com uma voz confiante e alta (e machucada) - Isso.... - gesticulou o ambiente ao seu redor - Isso é tudo que eu tenho. Essa é minha casa, Louis. E ela pode ser abafada, escura, fechada e mil outras coisas que talvez a sua não seja, mas... Esse quarto é onde eu vivo e vou viver pra sempre, então isso tem que ser confortável o suficiente pra eu chamar de lar.  E pronto. Louis arregalou seus olhos completamente extasiado. Não necessariamente assustado, mas sim perplexo... Porque essa foi a primeira vez que Harry "explodiu" e desabafou sobre qualquer sentimento. Por mais que o sentimento de dor ainda não estivesse tão explícito, Harry o deixou claro para qualquer um ver.. Estava misturado em sua confissão.  E ele percebeu o quão chateado o encaracolado estava. Ele percebeu Harry imediatamente se encolhendo em torno de si e abraçando os próprios braços provavelmente a procura de alguma proteção. Ele havia desmanchando um dos pilares da barreira que construíra ao seu entorno a fim de se exilar. Ele permitira Louis escutar um pouco da sua voz exaltada em um tom que não era monótono e nem o fazia soar como um robô. Ele havia permitido Louis a perceber que Harry era só um ser-humano facilmente abalável e sensível. E ele se sentia desamparado, porque nunca fizera isso antes... Nunca demonstrara muito de seus reais sentimentos. Saber das fraquezas das pessoas é a maior arma que você pode adquirir contra elas. Esta lhe dá o poder de feri-las e causar cicatrizes que quiçá pendurem por longas décadas. Harry sabia que revelando um pouco de si estaria provendo liberdade aos outros de o machucarem mais e o fazerem sofrer. Entretanto, esconder-se de Louis era impossível.  E ele não tinha certeza se estava com raiva por ser tão bobo a ponto de permitir que seu "eu" sentimental se revelasse a Tomlinson, ou se odiava Tomlinson por tornar as coisas tão difíceis sendo uma pessoa irresistivelmente carinhosa, legal, irritante e persistente. E Louis, por ora, ficara também impressionado que Harry estava sendo Harry. E ele nem soava como seu paciente que sofria de esquizofrenia. Ele soava como um menino triste e ferido de bons argumentos. Pra ser honesto, Louis estava uma mistura de surpresa, choque, tristeza e solidariedade. Mas não queria ter pena, porque entendia que ninguém gosta quando sentem pena de si, te faz ter a sensação que você é muito fodido enquanto os outros estão vivendo bem melhor. Louis Tomlinson novamente se aproximou. Ele não ligava mais para a merda do "mantenha distância física dos pacientes quando não houverem seguranças por perto ou há risco de sofrer agressões". Ele estava ali como visitante, e não um auxiliar psiquiatra... O que o cedia total liberdade para interagir como bem entendesse com Styles. Sem normas e regras e tais baboseiras. Portanto, ele sentou na ponta da cama e foi ficando mais e mais próximo. Harry estava sentado com as costas apoiadas na parede, as pernas contra seu peito, seu queixo apoiando sobre os joelhos enquanto seus olhos estavam desfocados e encarando algum ponto do chão a frente. Louis fez o que nem ele mesmo esperava.  Ele simplesmente se sentou ao lado, rente ao corpo de Harry, e enfiou sua mão entre seu cabelo, afagando seus cachos suavemente. Harry de primeira prendeu a respiração completamente assustado, encarando Louis com uma expressão de alerta. Entretanto, em seguida, ele se acalmou com o carinho, ele se deixou levar pelas sensações aconchegantes e confortáveis que o toque da mão quente do menor provocavam ao roçar em sua nuca e puxar lentamente seus fios. Carinho era a melhor coisa que existia para Harry, embora ele jamais admitisse alto. Louis escovava as madeixas de Harry tranquilo enquanto se focava em desvendar as reações que Styles teria sobre aquilo, se isso estava o agradando ou o incomodando. E dado pelo modo que o cenho franzido de Harry se desfez, sua expressão facial relaxou, e um suspiro suave saiu de suas narinas, Louis pôde dizer que o resultado fora positivo.  O garoto estava praticamente entregue ao seu carinho. - Me desculpe, Harry.  - Tudo bem. - Styles disse encarando suas orbes azuis. Ele queria demonstrar sinceridade. - Tudo bem. - repetiu (mais para si próprio). - Bom. - Louis ficou pensativo, querendo animar ou interagir mais com o garoto. - Se formos seguir sua ideologia, teremos que a área externa do hospital é na verdade o seu jardim.  Harry arqueou uma das sobrancelhas, não compreendendo onde Louis queria chegar com aquilo. - E...? - E que também faz parte do seu lar, Harry. Isso tudo faz. Você não mora só nesse quarto. Tudo que tem no hospital também é pra você, também é seu. E, sejamos sinceros, aquela grama é linda, você devia gostar de ficar sentado nela, admirando tudo! - Louis proferiu animado, como se houvesse acabado de concluir alguma tese importante. - você tem a chance de assistir o pôr do sol de uma área extensa e deliciosa! No meu condomínio, m*l consigo ver o céu da janela minúscula que há na sala. Harry não se aguentou e soltou uma breve risada.  Parte porque a ponta dos dedos de Louis roçaram em uma região sensível de sua nuca e o provocaram cócegas, e parte porque ele achava Louis realmente irritante, persistente, teimoso e engraçado. Louis ficou em uma espécie de transe admirando o belo sorriso com covinhas de Harry.  - Mas você não desiste mesmo, não é? - Harry comentou ainda rindo. Oh, que bela melodia para os ouvidos de Louis. - Desistir é uma palavra inexistente no meu dicionário, belo terráqueo. Harry corou pela parte "belo" e tratou de disfarçar isso pingaterreando e direcionando o rosto para baixo. Respirou fundo por segundos, hesitante no que iria dizer. - Certo. Você venceu, vamos logo. ... - Harry, você já comeu quatro tubinhos! Vai ficar diabético! Sem mais doces pra você! - Louis o advertiu, estendendo o braço para o alto a fim de que Harry não alcançasse o saquinho dos doces. Ambos haviam sentado na grama da área livre da maneira que Louis queria. Um de frente ao outro ignorando a existência dos cidadãos ao redor. Harry - obviamente - amara aquelas balas cheias de açúcares e riscos para sua saúde. Se Zayn os visse agora, mataria Louis com uma facada no peito, perfurando sua caixa torácica sem dó e cortando ao meio seu coração. - Não vou não! - Harry disse convicto tentando ganhar mais daquela guloseima deliciosa enquanto Louis cumpria o papel de pai responsável que não quer que a sua criança desenvolva diabetes.  Os pacientes daqui tomavam remédios demais que afetavam seus organismos, se eles consumissem uma quantidade elevada de glicose poderia ficar com vários problemas.  Portanto, Louis teria a fama de chato irredutível (mesmo que o olhar pidão de Harry derretesse-o por inteiro). Harry aliás usava seus dons de ser fofo ao seu favor. Não economizava no olhar inocente e beicinho que fazia. - Na na ni na não! - Louis cantarolou evitando manter contato com a expressão facial adorável do maior. - Só mais uma, Lou!  Que?! 'Lou'? Louis escutou direito?? Bem, provavelmente sim, a julgar a maneira que Harry logo notou o que falou e ficou o mais vermelho possível que algum dia já ficara. Ele estava com muito embaraço. Muito mesmo. A ponto de cavar um buraco na maldita grama e se enterrar ali pra sempre. Deus, não! Harry queria se matar. Ele olhava pra todos os cantos tentando disfarçar o que fez, mas seu rubor quase roxo entregava-o de bandeja. Louis sorriu internamente e se proibiu de esboçar qualquer emoção por fora. Ele entendeu que Harry estava se sentindo m*l com aquilo e que estava com uma vergonha e arrependimento tremendos, assim, não faria alarde sobre o apelido imprevisível.  Não o deixaria mais desconfortável, fingiria que foi algo normal que não o afetou. ( Mas sim, seu interior estava borbulhando de felicidade e fofura ). - Bom. Acho que uma última bala está o suficiente, certo? - Yeah, Louis cedeu. Óbvio que cederia. - Mas tem que prometer que se contentará com metade dela porque eu não vou te dar inteira. Essas coisas são muito longas pra caber na sua boca tudo de uma vez. Harry engasgou com a própria saliva. E Louis não entendera o porquê até retomar sua frase e perceber a ambiguidade dela. Oh merda. Louis você é um i****a. Essa foi a vez de Louis ficar sem graça e corar. Harry tentou se controlar mas não foi capaz e começou a disfarçar um riso intenso, escondendo o rosto entre as mãos porque ele também havia corado demais e sentia constrangido tanto quanto. Louis então conhecera uma parte de Harry que ninguém sabia da existência... Esse garoto também tinha malícia, afinal, quem não? - Bem, vou fingir que nunca disse nada que pudesse ser levado ao lado sujo da coisa, porque eu não esperava isso de você, Harry. Esperava mais! - Louis aderiu a risada do cacheado e começou a gargalhar. - Então, essa é aquela famosa hora que a gente esquece os momentos anteriores e segue a vida! Louis informou pegando o maldito tubinho açucarado e dividiu ao meio, estendendo metade para Harry e enfiando a outra metade na própria boca. O clima estava tão leve e descontraído entre os dois que Louis esquecera até que Harry não costumava ser assim: risonho; Que na verdade acontecia o contrário e Harry sempre escondia esse seu lado divertido. E agora, nesse instante, ele parecia tão perfeitamente bem com a vida que ficava difícil assimilar que Louis era o responsável pela felicidade efêmera. Ambos estavam em uma bolha, se isolando do mundo. E era confortável. Para Harry, era até mais confortável que seu quarto. - Ah, Louis??! - uma voz estranha cortou o clima silencioso que Louis e Harry haviam instaurado.  Louis se virou e se deparou com Matthew vestido com seu jaleco branco, uma prancheta em mãos e um sorriso simpático. - Ah, Oi! - cumprimentou-o. - Oi! - Matt riu. - Oi também Harry! - saldou o maior, que voltava gradualmente para sua forma original de anti-social. - O que faz aqui em pleno domingo, Louis? - Vim visitar Harry. - Louis disse simples. - Isso é ótimo. Na verdade, perfeito. - Matthew coçou a nuca sem graça. - Porque o que eu queria falar com você seria proibido durante a semana, já que é totalmente anti-ético...  Louis estava confuso. - Mas.. Vamos considerar que hoje é domingo e você não é o Louis estudante, e sim Louis Tomlinson em sua hora vaga. Então talvez seja menos pior se eu fizer isso agora... - Matt estava morrendo de vergonha, batendo seus pés contra a grama. - Fazer o quê? - Louis torceu o nariz sem compreender nada, mas com uma curiosidade genuína. Ele até que achou adorável o modo envergonhado de Matthew, considerando que ele costuma ser bem confiante em tudo como um doutor recém-formado mas respeitado. - Te convidar pra sair...  Um engasgo foi ouvido depois disso. E não veio nem de Louis e nem de Matthew.  
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