Episode: Mantenha Distância
- Então... Você quer sair comigo? - Matthew perguntou com o olhar cheio de esperança e expectativa, mordendo o lábio inferior como uma garotinha que acabou de convidar seu crush para um encontro (o que no fundo não foi muito diferente disso).
Louis sabia que seu rosto estava quente. Ele geralmente não sentia vergonha de chamar as pessoas pra sair, mas ser chamado pra sair era totalmente diferente, porque a decisão não está na mão do outro e sim na sua.
Um pouco distante da conexão deles estava Harry, sentado com os olhos congelados sem saber como reagirem. Ele nem conseguia piscar de tanto que olhava fixamente para Louis.
Os membros de seu corpo haviam entrado em uma espécie de paralisia e seu coração desacelerara os batimentos cardíacos.
Louis não tinha uma resposta concreta.
Ao mesmo tempo que ele queria ele também não queria.
Ele por parte queria porque, convenhamos, Matthew era muito bonito esteticamente e simpático, e Louis era humano, oras.
Entretanto parte dele estava hesitante e desconfortável.
Alguma parte insconsciente estava pensando em como era constrangedor isso acontecer com Harry de plateia. Não que houvesse nada entre os dois - obviamente - mas não deixava de ser estranho, afinal, Styles ainda era seu paciente.
Outra mínima parte mais inconsciente ainda estava retomando o nome Nicholas. Louis sabia que Nick ainda sentia algo por ele, entretanto Tomlinson não era capaz de devolver os sentimentos. Mas, ao mesmo tempo, ele tinha medo de alimentar as esperanças de Matthew e não sentir nada mais do que atração.. Fazendo com que Matt se torne mais um Nick em sua vida.
Havia muito a se ponderar, por isso sua resposta foi um tanto quanto inusitada:
- Ahm... Eu venho andando meio ocupado ultimamente, mas faz assim: vamos trocar nossos números de telefones e combinamos por lá.. Okay? - sugeriu com relutância.
O sorriso de Matt falhou mas logo foi recomposto. Ele parecia satisfeito com a proposta.
- Certo. Anote seu número nesse papel e depois eu te mando uma mensagem! - Matthew informou estendendo a prancheta que segurava e apontava um espaço no papel branco para que Louis anotasse seu telefone.
Entregou-o uma caneta enquanto olhava cheio de expectativa Louis anotando o número.
Ao terminar, Matt recolheu os objetos e saiu.
- Bem, onde estávamos mes- se virou enquanto conversava com Harry.
Ou pelo menos achava que conversava com Harry.
Louis imediatamente travou ao não encontrar o garoto mais ali.
Suas veias não transportavam mais sangue, e sim pavor.
...
Após percorrer todo o perímetro do hospital- inclusive o quarto 302- em uma busca implacável por Harry, Louis resolveu procura-lo em seu quarto novamente.
Adentrou incerto se o encontraria dessa vez sentado na cama mas foi em vão, sua esperança se esvaiu assim que seus olhos pousaram no colchão vazio e retilíneo sem aquele corpo angelical depositado sobre sua superfície.
Entretanto um ruído puxado para tosse fraca foi escutado por Louis, e este vinha do pequeno "banheiro" do quarto.
Geralmente os pacientes não possuíam um banheiro. As privadas e pias era misturadas com o resto da mobília naquele mesmo espaço quadricular. Contudo, por ser um interno de longa data e extremamente comportado e obediente, Harry havia ganho o direito de ter sua privada e torneira em um sub-espaço que divergia de um cantinho do quarto.
Não seria considerado um segundo cômodo por não haver uma porta que separasse-o do dormitório normal, entretanto a privada ficava mais escondida naquele buraco então quem estivesse no quarto não o presenciaria fazendo suas necessidades biológicas.
E óbvio que Louis não tinha procurado-o por lá porque nunca flagrou Harry em seu "banheiro particular", mas assim que escutou o curto barulho escoando entre as paredes sabia que o cacheado estava ali.
- Harry? - chamou-o.
Louis estava muito confuso pela reação de sumiço do maior. Mas, talvez, ele só estivesse com vontade de fazer cocô em paz não é mesmo?
- Ahm, eu já vou sair daqui, deve ser desconfortável pra você... Só preciso que me diga algo ou dê um sinal de que está vivo e bem que eu vou. - Louis proferiu já caminhando em direção a porta.
Ele não invadiria o banheiro de Styles. Até porque seria extremamente indelicado de sua parte.
Contudo, Louis arregalou os olhos, pois o que ele ouviu não foi um "estou bem, Louis" ou "cai fora" ou "sai daqui quero cagar em paz" da maneira que esperava.
Tomlinson na verdade escutou algo parecido com alguém vomitando.
Merda.
Louis nem pensou duas vezes antes de voar para aquele espaço privado em busca de Harry.
Ele o encontrou sentado no chão de frente pra privada, abraçando-a. Cabeça enterrada entre as bordas e seu estômago eliminando tudo aquilo que havia ingerido no dia.
O som era angustiante, o cheiro era horrível, e geralmente quando seus amigos passavam m*l de tanto beber ele saía de perto com nojo, mas, se tratando de Harry, ele nem ao menos sentiu isso ou se importou, tudo que ansiava era levá-lo para enfermaria e cuidar do rapaz.
Por isso, agachou-se no nível dele com uma feição de preocupação.
- Harry? - chamou-o delicadamente ao que o cacheado parara de vomitar e só encostara sua testa no tampo da privada branca e enferrujada nas pontas.
- Eu estou bem, Louis. - Harry afirmou com uma voz muito mais rouca que o normal e forçada.
- Não. Não, está. Eu vou ficar aqui um pouco e depois te levarei pra enfermaria.
- Louis, sai daqui, por favor.
- Não! - Tomlinson falou irredutível. - Não vou sair daqui nem por um segundo.
Nesse mesmo instante a garganta de Harry se dilatou para jorrar mais de sua bile.
O garoto se inclinou para frente botando pra fora todo o líquido nojento.
E Louis, como para provar seu ponto, não se afastou. Ele literalmente se aproximou e suavemente embolou os cachos de Harry entre seus dedo, puxando-os para trás em um coque de modo que não se sujasse enquanto o outro vomitava.
- Louis. É sério vai embora. Eu só comi algo estragado.
- Não.
- Não quero que me veja assim. - Harry confessou escondendo a cara mais ainda no vaso sanitário, como se a qualquer hora fosse enfiar o rosto na sua própria sujeira e se afogar ali de tanta vergonha.
Louis sorriu com isso.
Essa coisa adorável em Harry fazia seu coração aquecer e o menino parecer que de alguma forma se importava com o que Louis achava dele... Embora fossem somente elogios incríveis.
- Nossa Harry, realmente, você está vomitando. Que coisa mais anormal na vida. Jesus, nunca vi ninguém vomitar... Tem certeza que não é um alien? - Louis questionou sarcasticamente com os cantos labiais puxados em um sorriso divertido.
Harry rolou os olhos. Ele sorriria se não estivesse em uma situação tão deplorável.
Depois de alguns minutos com os dois parados na mesma posição esperando Harry ter certeza de que não vomitaria mais, Louis estendeu sua mão ao cacheado e o ofereceu apoio para levantar.
- Vem. Vamos na enfermaria, vou cuidar de você.
...
E essa foi a tarde de domingo de Tomlinson.
Sentado na cadeira desconfortável de plástico do ambulatório do hospital aguardando terminarem as avaliações em Harry.
Graças a Deus não era nada.
Os exames não constataram nada de grave senão uma pressão um pouco abaixo do normal e falta de ferro e vitamina no sangue, anemia.
Obvio que o consumo de doces agravou a situação e ocasionou os vômitos.
(E convenhamos, outras coisas também).
O doutor recomendou que o garoto se hidratasse bastante e ingerisse grande quantidade de frutas e legumes.
Nesse meio tempo em que Harry ficaria algumas horas em observação Louis correu em direção ao ponto de ônibus e se dirigiu para o supermercado mais próximo do campo.
Lá comprou vários Gatorades e barrinhas de cereais frutados, alguns com chocolates e granolas.
Gastou provavelmente o dinheiro que tinha pra jantar inteiro e nem ao menos se importou.
Ao retornar pro hospital o tempo de visitações havia se esgotado mas ele aproveitou a distração de Zayn e entrou no quarto.
- Você voltou? - Harry afirmou em tom de questionamento, levantando-se da cama.
- Nah! Fica sentadinho ai, você tem que descansar. Trouxe várias coisas legais pra você comer, mas temos que começar a criar um esconderijo pra elas antes que Zayn flagre isso e me condene.
- Debaixo do colchão. - Harry sugeriu corado.
Louis assentiu e estendeu um Gatorade azul pra Harry.
- Essa é minha cor favorita. - Harry comentou enquanto observava o líquido vívido.
- Você está melhor, meu bem?
O corpo de Styles se encolheu um pouco diante o apelido porém logo relaxou e o garoto tentou esconder seu sorriso.
- Uhum. Você... É.. - Harry mordiscou o lábio inferior hesitante se perguntaria ou não.
- Vá em frente. - Louis incentivou-o.
- Você vai sair com ele?
- Oh. - Louis não sabia. De fato. - Não tenho ideia pra falar a verdade. Matthew até é bonito e gentil, mas eu não estava muito procurando por isso no momento.
- Oh. - Styles balbuciou concordando.
Nenhum deles tocou mais no assunto apenas ficaram em silêncio enquanto Harry bebericava sem pressa seu isotônico azul.
- Isso te incomodaria? - Tomlinson indagou-o sem nem entender a razão. Talvez a demonstração homoafetiva causasse alguma repulsa em Harry, nunca se sabe. - Eu ser.. Ahm.. Bissexual?
Harry imediatamente o encarou nos olhos transmitindo total honestidade.
- Não! - disse mais alto e depressa do que gostaria. - Eu não me importo com as orientações sexuais das pessoas de verdade. Como poderia? Eu também sou...
Harry coçou a palma da mão que suava frio.
Abrir-se era um grande passo pra ele e Louis entendia completamente.
- Também é o que?
- Eu, ahm, sou... - Harry fechou os olhos e respirou fundo. Tinha medo de ser julgado como sempre. - Também sou gay.
Isso afetou Louis mais do que ele imaginaria.
Não pelo motivo de seu paciente gostar de homens, mas sim por confessar algo tão pessoal a ele. Era incrível a confiança que ele teve no menor para admitir esse tipo de informação.
- Tudo bem. - Louis afirmou sorrindo.
- Você não vai se afastar de mim agora, né?
- Obvio que não. Você ser gay não muda nada entre a gente. - Louis riu. - Aliás, posso até te indicar uns homens bem bonitos que eu conheço.
Harry arregalou os olhos e sentiu um rubor profundo tingir todo seu rosto e pescoço.
Louis ultrapassou o nível de i********e e nem percebeu.
- E-Eu não.. Eu não quero.
- Oras, Styles. Por quê? Você precisa disso, é normal na nossa idade. - Louis comentou casualmente, querendo mostrar ao garoto que não havia o porquê de se envergonhar. Ele precisava aproveitar mais a vida.
- Ninguém iria querer alguém que, bem, mora num hospício. Ninguém quer ficar com um louco. - Harry falou com sua voz cheia de mágoa. Os muros de confiança e segurança desabando-se gradualmente.
- Harry, deixe de bobagem. Não é porque você mora aqui que está impedido de ser feliz. As pessoas não ficam contigo pelo seu lar, elas tornam você o lar delas quando se apaixonam.
- Você acredita em amor?
- Não. - Louis respondeu simples e curto. - Mas isso não influencia você a não acreditar. Varia de opinião.
Harry pareceu chocado com a resposta e estremeceu. Era estranho saber que Louis nem sequer cogitava a ideia de se apaixonar.
Não que ele fosse algum dia fazer isso, porque claro, Harry evitava qualquer sentimento humano, mas... Algo doía dentro de seu peito.
- E você, Harry? Já se apaixonou?
- Louis, eu.. Não quero falar disso. Por favor.
- Ah. Okay. A gente muda de assunto. Mas, antes de finalizar, vale lembrar que foi assim que meus pais se conheceram.
- Oi?
Louis suspirou. Ele não sabia se estava pronto pra contar uma história que guardava no fundo de seu coração.
- Minha mãe, Johanna, morava numa clínica de psiquiatria, igual a essa. E meu pai era doutor por lá. Eles acabaram se conhecendo e e se apaixonando. E ai sabe, ficaram juntos e tudo. Meu pai usou seu certificado e profissão para ganhar o direito de tira-la do hospital e tratar dela em casa. Os dois casaram, eu e meus irmãos nascemos.. E, é, é isso.
- Não. Não é só isso. - Harry informou convicto. - Eu posso ver nos seus olhos que têm mais.
- Bem.. Alguns anos atrás meu pai sofreu um acidente. E tudo meio que desmoronou. Mas eu não quero falar disso agora também. Estamos muito felizes pra isso, Harry. Ok?
Styles concordou compreensivo.
- Ok.
- Agora venha, vamos comer os cereais.