Charlotte
— Natanael! — O tempo paralisa. Estou paralisada, olhando para o corpo do meu irmão. Não consigo pensar. Não consigo respirar.
Ele teve uma overdose? Será que dormiu? Será que está tão chapado que nem faz ideia de que estou aqui?
Ele está morto?
Ele está grudado no sofá como uma das minhas plantas favoritas. Uma queimação ácida sobe pela minha garganta enquanto absorvo a cena à minha frente. Nicky se contorce em meus braços, irritada com a minha atitude de esconder o rosto, e começa a chorar. Isso me faz entrar em ação. Imediatamente saio da sala de estar, com lágrimas se formando nos meus olhos.
— Mamãe! — ela diz. — Me solta! — Ela começa a se contorcer nos meus braços como uma cobra, mas eu a mantenho agarrada a mim enquanto corro para o quarto. No momento em que a coloco no berço, ela começa a chorar de novo.
— Não, mamãe! Não é hora de dormir! —
— Eu sei, querida, eu sei — digo rapidamente, alisando seus cachos rebeldes. — Mas o tio Nate está doente, então preciso cuidar dele. Depois a gente come pizza, prometo.
— Não, mamãe! — grita Nicky. — Não é hora de dormir!
Beijo sua cabeça e ela imediatamente me empurra, começando a chorar antes de se jogar de cara na cama. Anseio por ficar com ela, mas preciso ver como Nate está. Com um último olhar para minha filha chorando, corro de volta para a sala e caio de joelhos na frente do meu irmão inconsciente.
— Natanael? — O medo me agarra com garras afiadas enquanto estendo a mão para ele com dedos trêmulos. Esperando encontrar frio, sinto uma onda de alívio ao tocar o calor da pele de Nate.
Não está morto, só está chapado. Baixo a cabeça por um instante enquanto meu coração bate descontroladamente sob as costelas. Então me obrigo a agir.
Retiro a agulha do braço de Nate e a coloco de lado. Então, agarro-o pela camiseta encharcada de suor e o puxo para cima. Apesar de ser mais velho e alto, ele está tão magro e doente que carregá-lo não é muito diferente de erguer sacos pesados de adubo. Ele grunhe quando seu braço bate na mesa de centro, e há uma faísca de consciência quando sua cabeça rola, mas ainda não é o suficiente para acordá-lo. Passando um braço flácido em volta dos meus ombros, meio que tropeçamos, meio caímos em direção ao banheiro. Consigo carregá-lo até a porta, então ele começa a cair para a frente e eu perco o controle sobre seu corpo. Me jogo para a frente para segurar sua cabeça antes que bata nos azulejos.
Nate geme, então seu corpo convulsiona e ele começa a engasgar. Rangendo os dentes, eu o arrasto para os joelhos, apoiando-o com meu corpo enquanto o puxo para o banheiro no momento em que um jato de bile ácida jorra de sua boca.
Desvio o olhar, lutando contra a vontade de vomitar. Espero até que o vômito pare. Nate tosse fracamente e depois geme de novo. A partir daí, levá-lo para dentro da banheira é exaustivo. Quando consigo, estou ofegante, e ele baba o vômito no meu cabelo, mas pelo menos finalmente está lá dentro. Abro a torneira de água fria e passo a mão na minha testa suada, observando as gotas do chuveiro baterem em seu rosto. Finalmente, arranco dele uma palavra.
— Charlotte?
— Seu babaca de merda — sibilo, levantando-me. — Seu filho da mãe fraco e egoísta.
Os olhos de Nate se fecham mais uma vez e ele suspira, virando o rosto para longe do fluxo de água.
Quantas vezes já estive nessa situação? Quando eu era mais jovem, tentava entender o uso de drogas do meu irmão. A vida era difícil e nossos pais frequentemente se esqueciam de nós. Nate me dizia que a única maneira de sentir algo era se estivesse chapado. Mas, quando meus estudos começaram a correr bem e meu futuro parecia promissor, percebi que Nate era tão terrível quanto nossos pais.
Então tentei salvá-lo.
Quando completei 21 anos, eu o havia arrastado para inúmeros centros de reabilitação e palestras de recuperação. Nenhum deles funcionou. Eu podia contar nos dedos de uma mão quantos anos meu irmão permaneceu sóbrio em seus 27 anos de vida.
Não importava o que eu dissesse ou fizesse, não importava quantas fichas de sobriedade ele ganhasse, as drogas sempre venciam. A cada ano que passava, voltando para casa e encontrando outro ninho de agulhas cravado em seu braço, mais desolada eu ficava.
As coisas mudaram quando engravidei da Nicky. Toda a minha perspectiva sobre o Nate mudou. Ele não era mais meu irmão mais velho sofredor, mas um homem fazendo escolhas autodestrutivas que não deveriam ser minha responsabilidade consertar. Nicky se tornou minha prioridade, mas Nate permaneceu no meu coração como a única outra família que eu tinha.
Mas foi só quando ele apareceu na minha porta, sem-teto, que percebi o quão r**m as coisas estavam. Eu sabia que mandá-lo para a rua o teria matado. Então, eu o acolhi.
E é assim que ele me retribui. Eu não deveria ter que guardar Narcan no meu armário junto com todos os outros medicamentos.
Continuo me assegurando de que, quando meu negócio der certo, conseguirei tirá-lo desse buraco e viveremos felizes para sempre. Embora, no fundo, eu não tenha certeza se ele quer ser arrastado para fora.
— E aí, mana — Nate fala arrastado, acima do barulho do chuveiro e dos gritos de Nicky no quarto. — Não ouvi você chegar em casa.
— Claro que não — retruco, usando o copo de rato da Nicky para pegar um pouco de água da pia. — Você está chapado de novo, Nate.
— Não, não estou — ele responde, rindo, os olhos pesados.
Dizem que não se deve gritar com alguém chapado porque isso pode desencadear um pico de adrenalina, mas manter a calma é impossível quando estou tão cansada.
— Sim, você está, p***a! E na minha casa! Nate, eu deixei claro que você não pode fazer essa merda aqui. Não quero esse seu hábito nojento perto da minha filha, ouviu?
Ele me encara com as pupilas dilatadas como pires.
— O quê?
— Você me prometeu que ia melhorar — digo, a voz baixa mas firme.
— Do que você está falando? — Ele balbucia lentamente, confuso.
— Você... — Sei que é como falar com uma parede agora. Inclino-me sobre a banheira, seguro a cabeça dele, lambuzada e molhada, e a ergo para que possa beber. — Beba.
— Não. — Ele vira o rosto, mas eu forço de volta.
— Beba.
Ele obedece, engole alguns goles, e então largo sua cabeça, que cai para trás, exausta.
— Quantos dedos estou mostrando? — pergunto, erguendo três dedos.
Nate pisca devagar e suspira, a fala arrastada. — Sei lá... três, eu acho?
— Certo. — Suspiro. Copo descartado, minha cabeça gira com alívio e cansaço. Pelo menos ele não está em perigo imediato — só completamente chapado. Depois de alguns minutos longos e sufocantes, ligo a água quente. — Não vá a lugar nenhum.
A risada rouca de Nate ecoa até o quarto, onde Nicky chora até ficar rouca. Ela grita quando me vê, e meu coração se quebra ao ver tanta aflição. Ela se debate nos meus braços quando me sento na cama para segurá-la. Leva quase meia hora para acalmá-la, enquanto mantenho um ouvido atento ao banheiro. Mas as lágrimas dela recomeçam quando desmarco nosso plano de pizza e filme. Não consigo fazer isso e cuidar de Nate ao mesmo tempo.
Passo a noite alternando entre os dois. Nicky ganha um jantar rápido de espaguete e um pouco de tempo no iPad antes de desmaiar de cansaço. Nate, por outro lado, me faz acordá-lo a cada trinta minutos para ter certeza de que ainda respira. Quando finalmente coloco Nicky na cama e dou um beijo em sua testa suada, Nate está mais lúcido.
Depois do banho, levei-o de volta para a sala. Limpei seu vômito, descartei as agulhas e os saquinhos de remédio que encontrei, e lavei a banheira, tentando apagar a bagunça de ontem. Ajudei-o a vestir roupas limpas, e depois me permiti um instante para mim. Entrei no chuveiro, tentando tirar o vômito do meu cabelo e a desesperança que parecia impregnada na minha pele. Ele é exaustivo.
Eu estou exausta.
Quando finalmente fecho os olhos, o sol já se põe, pintando o céu de rosa e laranja. Quarenta minutos é tudo que me resta antes do despertador me arrastar para mais um dia. Sem tempo de sobra, levanto Nicky, lavo-a, alimento-a, visto-a, tudo antes de Nate aparecer.
Ele surge na cozinha, bocejando e gemendo, com a mão no peito como se doesse. Nicky o cumprimenta com um sorriso sonolento e a boca cheia de cereal. Ele acena de volta, mas não sorri.
— Oi, mana — diz baixinho.
— Não. — Minha voz é firme, mas meu sorriso é falso. — Agora não. Não na frente da Nicky.
Ele suspira, mas insiste:
— Olha, sinto muito, tá? Você sabe como eu fico quando estou m*l. Eu não consigo me controlar, você sabe disso. Eu não estou no controle.
— Natanael — aviso, tampando as orelhas da Nicky. — Eu disse que não quero falar sobre isso agora. Cheguei em casa e você estava desmaiado. Pensei que estivesse morto! Estou enojada só de pensar no que poderia ter acontecido se eu tivesse mandado a Nicky para cá sem verificar antes!
— Eu sei — murmura ele. — Eu sei e sinto muito. Mas você não sabe como é... esse monstro dentro de mim toma conta, e eu não tenho controle. Recebi uma notícia r**m e... estava em queda livre. Você não estava aqui, e eu só... — Ele para, pisca, os olhos ainda vidrados. — Mas não vai acontecer de novo. Essa foi a última vez, eu juro.
É sempre a última vez.
— Que más notícias? — pergunto, mas balanço a cabeça logo em seguida. — Esquece. Não quero saber. Não agora.
Eu me repito como um mantra: não vou cair nessa. Mas Nate domina essa arte. Ele finge estar quebrado, e parte de mim ainda quer acreditar que meu irmão está lá, escondido atrás dessa máscara — o garoto que puxava minhas marias-chiquinhas e brincava de esconde-esconde comigo por horas para me distrair da fome.
Claro que quero que ele viva, que fique bem. Mas não essa casca vazia que fala com a voz dele.
Infelizmente para ele, a raiva vence.
— Nate. Eu sei que você está sofrendo, mas você colocou a Nicky em risco. Eu não posso te perdoar por isso. Preciso ir trabalhar, mas se quiser ficar aqui, me mostre que está recebendo ajuda. Entendeu?
— Mas esses lugares são caros — diz ele, com tristeza.
Eu respiro fundo, segurando a paciência que está se esvaindo.
— Bem — suspiro — encontre um com um plano de pagamento.
— Charlotte.
— Eu tenho que ir.
Na loja, o cheiro de flores e plantas não me traz conforto como de costume. Deixei Nicky na casa da babá, prometendo buscá-la mais tarde.
Acordei cedo para pedir desculpas à Larissa pelo caos de ontem. Ela foi gentil como sempre, mas ainda assim, carrego o peso da culpa. Não gosto quando minha vida transborda para os outros — a de Nate já transborda tanto para a minha que não sobra espaço para mais ninguém.
Acendo as luzes e caminho até a estufa, desviando cuidadosamente das caixas do Nate. Meu tornozelo lateja quando as vejo — um lembrete da noite anterior. No meio de tudo, esqueci completamente da Marília, então não é surpresa quando vejo treze e-mails e três chamadas perdidas. Ela amou várias flores, quer os Amores-Perfeitos Angel Amber Kiss no centro da decoração. Felizmente, tenho o suficiente para hoje, mas vai levar dias para atender o restante do pedido.
Respondo aos e-mails e largo o telefone, fazendo uma pausa. A exaustão pesa nos meus ombros, um torpor doloroso atrás dos olhos. Sinto como se tivesse esgotado tudo de mim — não sobra nada além de cansaço. Entre cuidar da Nicky, manter essa loja e lidar com Ant, não existe espaço para mim.
Meu círculo social diminuiu tanto que já não tenho para quem ligar para tomar um coquetel ou dividir o silêncio. Talvez seja até melhor assim.
Passo a mão pelos cabelos, sentindo os nós formados pela noite passada. Tão ocupada cuidando de todos que esqueci de cuidar de mim. Talvez eu saia para almoçar mais cedo hoje.
Deixo as preocupações com Nate de lado e mergulho no trabalho. Replanto algumas flores em vasos maiores, onde possam respirar e crescer. É um trabalho silencioso, mas mesmo exausta, sinto um vislumbre de paz ao ver a fileira de plantas recém-plantadas.
Quando termino, a campainha da porta toca. Tiro as luvas, limpo a sujeira do avental e corro para o balcão.
— Bom dia! — digo, sorrindo. — Como posso te ajudar?
Mas minha voz falha quando vejo quem entrou.
Quatro homens grandes e musculosos, todos de jeans escuros e jaquetas de couro pretas. O pescoço de um deles parece tão largo quanto a cabeça. Outro, completamente careca, brilha sob a luz.
— Srta. Hamilton? — O menor deles, de rosto marcado pela varíola e luvas de couro, se aproxima. — Você é a Srta. Charlotte Hamilton, certo?
Confirmar meu nome de repente parece um erro terrível. Meu coração bate tão forte que quase posso ouvi-lo.
— Eu... sim — digo, a voz rouca. — Sou eu.
— Excelente — responde ele, sorrindo.
Atrás dele, o homem careca se move para a porta e, para meu horror, vira a placa para “Fechado” e desliza o ferrolho no lugar.
— Estávamos procurando por você.