Capítulo 3

2009 Words
Charlotte — Você precisa fazer um pedido? É claro que eles não têm interesse em flores, mas é a única coisa que consigo pensar em dizer enquanto o menor dos quatro homens coloca suas mãos grandes e pesadas sobre o balcão. — Não exatamente — ele responde, e seu sorriso torto se alarga, puxando um lado da boca para cima como se quisesse alcançar a orelha. Há um sotaque irlandês em sua voz, e cada passo dele faz meu coração bater mais rápido. Os outros três homens começam a se espalhar pela loja, derrubando vasos, flores e potes no chão de pedra. Vidro e argila se estilhaçam, espalhando cacos em todas as direções. — Ei! Que p***a vocês estão fazendo?! — Minha raiva explode, e eu avanço enquanto vejo meu ganha-pão virar um playground para esses brutamontes. Mas, assim que dou um passo à frente, o quarto homem reage. Ele se choca contra mim, agarrando meu rosto com uma das mãos carnudas e colocando o antebraço sobre meu peito, me empurrando contra a parede. — Não tão rápido, garotinha. Ofego, e meu corpo inteiro se contrai de medo quando bato na parede, imobilizada pelo peso e pela força daquele homem. Lágrimas quentes começam a brotar dos meus olhos enquanto agarro seu cotovelo, tentando encontrar algum ponto de apoio para me soltar. Seus dedos cravam em minhas bochechas, forçando meus lábios a um sorriso macabro. Meu coração dispara, a cada som de destruição na loja, como se ele quisesse saltar para fora do meu peito. Esses homens são perigosos. Eu sei que são. Estou me escondendo de um homem perigoso há três anos. Esses homens... são capangas dele? Ou têm ligação com a sombra que paira sobre minha vida? Meus pensamentos se perdem entre a pressão esmagadora no meu peito e o cheiro de fumaça que sai da boca dele. — Por favor — imploro com as bochechas esmagadas sob seus dedos. — Me diga o que você quer. Talvez eu possa ajudar. Pare de destruir minha loja! — Ele ri, um som frio e desagradável. — Você é do banco? É por causa dos meus pagamentos atrasados? — O homem ri ainda mais alto, a boca escancarada e o hálito quente contra minha pele. — Parecemos banqueiros, p***a? Não, não somos do banco. Seus olhos cinzentos descem lentamente pelo meu corpo, e um calafrio diferente percorre minha espinha. Seu olhar é tão intenso que sinto como se estivesse me despindo, violando cada pedaço meu. Tento me mexer, mas a pressão dele aumenta. O nojo me faz querer vomitar, mas continuo tentando afastá-lo. Ele não gosta disso. De repente, solta meu queixo e, antes que eu possa reagir, a mão dele voa de volta, estalando contra minha bochecha com força. Um calor abrasador explode no meu rosto, e meu ouvido zune. Ele me arrasta para longe da parede e me empurra sobre o balcão, pressionando seu corpo enorme contra o meu até eu ficar sem ar. — Espere! — imploro, tonta de dor. — Não, por favor, não! Uma das mãos dele prende minha cabeça, esmagando minha bochecha quente contra a superfície fria do balcão. Sua perna grossa força minhas coxas a se abrirem, me mantendo completamente imobilizada. — Por favor, por favor, não. Não, não, não, NÃO! — imploro, como um mantra desesperado, enquanto ele segura a bainha da minha blusa e a puxa para cima, expondo minha barriga. Um segundo depois, sinto a ponta fria e cortante de uma lâmina pressionar meu umbigo. O ar se recusa a entrar nos meus pulmões. Engasgo, incapaz de chorar e respirar ao mesmo tempo. — Agora, vamos conversar — diz o homem, inclinando-se até seus lábios encostarem na minha bochecha. — Meu nome é Steven e você nos deve uma porrada de dinheiro. E eu não saio daqui até receber. — O quê? — ofego, minha voz rouca de terror. Tento me mexer, mas meu corpo inteiro está trêmulo e fraco, como se fosse feito de vidro prestes a se partir. — Você está surda, p***a? — Ele agarra meu cabelo e puxa minha cabeça para cima, apenas para bater de novo no balcão. Grito de dor, e então sinto seus dedos grossos enfiando-se na minha boca, arranhando minha garganta até me fazer engasgar. Não consigo nem morder; meu maxilar dói como se estivesse sendo quebrado. Meu corpo se contorce contra o dele, e ele ri baixinho, se divertindo com minha luta. — Agora ouça, sua v********a, e ouça bem — ele murmura. — Sou um homem paciente, mas a paciência está se esgotando. Seu irmão nos deve dinheiro, entendeu? Tanto dinheiro que poderia comprar cem dessas floriculturas de merda. Mas não conseguimos encontrá-lo. É como se ele tivesse desaparecido no ar. Só que nós encontramos você, mocinha. Ele estala os lábios, e meu estômago se revira de puro horror. Meus pensamentos ficam embaçados, misturados com o gosto metálico do sangue que escorre da minha boca. Só consigo pensar em Nate… Isso tudo é por causa dele? — O Nate trabalha pra gente. Você sabe quem somos, Charlotte? — Sua voz parece uma faca rasgando meus ouvidos. Tento balbuciar algo, mas tudo que sai são soluços. Steven ri. — Acho que ela não sabe, rapazes. Com os olhos marejados, vejo os outros três homens se aproximando do balcão, e um medo ainda maior me invade, sufocante. Eles vieram cobrar a dívida do Nate. E se decidirem que eu sou parte do pagamento? — Somos membros da Máfia Irlandesa — Steven diz, a voz cheia de satisfação. — E seu irmão trabalha para nós. O problema é que ele ficou viciado no nosso produto. Uma cheirada aqui, uma agulhada ali… quem liga, certo? Mas o Nate ficou convencido. Ele desapareceu com um carregamento. Um carregamento que eu confiei nele pra entregar. Era a chance dele subir na hierarquia, mas sumiu. Levou minhas drogas. Ele empurra a faca ainda mais contra minha pele, me forçando a me afastar da lâmina e me colar ainda mais ao seu corpo. — Você sabe onde está o carregamento, Charlotte? Ou onde está seu irmão? — Tudo que consigo fazer é gargarejar um som sufocado. Steven fica em silêncio por um segundo antes de soltar uma risada maliciosa. — Ah, merda. — Ele finalmente tira os dedos da minha boca, e eu tusso, cuspindo sangue na bancada. — Eu não sei de nada! — soluço, minha voz falhando. — Eu nem sabia que o Nate tinha um trabalho. Eu não o vejo há meses, por favor, estou dizendo a verdade! Steven ergue a cabeça, aproximando sua bochecha da minha. — Veja bem, normalmente eu não acreditaria em você, mas eu tenho estado de olho em você nos últimos dias. Vi aquela menininha linda que você tem. Mas o seu irmão? Nem sinal. Um medo completamente diferente toma conta de mim, quente e paralisante, latejando nos meus ouvidos como um alarme. — Então, aqui está o que eu estou pensando. Se o Nate não pode nos pagar, a culpa é sua. — Minha? — É. Com tudo que o seu irmão canalha roubou, mais a remessa que ele desviou, e a indenização por eu ter que vir a uma floricultura — e arriscar minhas alergias — acho que o total chega a setecentos e cinquenta. Ele quer dizer setecentos e cinquenta? É muito dinheiro, mas talvez eu pudesse pegar um empréstimo, pagar rapidinho, negociar alguma coisa… — É só isso? Não é minha intenção soar sarcástica, mas as palavras saem rápido demais, impulsionadas pelo pânico. E Steven não gosta do tom. A faca contra meu abdômen desliza bruscamente para o lado, e um fogo cortante queima minha pele enquanto a lâmina rasga um talho superficial, mas doloroso. Um grito me escapa, e as lágrimas brotam de novo, quentes e salgadas. — Setecentos e cinquenta mil — diz ele pausadamente, cada sílaba martelando meu peito. — O quê? — grito, a voz rouca de medo. — Eu não tenho esse dinheiro! Nunca vi esse tanto de dinheiro! Você é louco. Essa loja não vale nem perto disso! Meu corpo treme enquanto eu tento me soltar, a cabeça girando com pensamentos de que tudo isso deve ser algum tipo de pesadelo. Mas a dor é muito real para que seja apenas um sonho r**m. Steven me puxa de volta para ele, tão perto que posso sentir o cheiro metálico de sangue em suas mãos. Ele segura meu rosto, quase como se fosse um amante gentil — um toque tão perverso que me faz estremecer ainda mais. Mas o carinho falso logo é substituído pela ponta gelada da lâmina, que se encosta na minha garganta, e eu congelo de medo. — Eu já sei disso — diz Steven, sua voz quase suave, como se conversasse sobre a previsão do tempo. — Eu sabia desde o momento em que entrei aqui que você não tem esse dinheiro. Mas não se preocupe, Charlotte. Eu sou um homem de negócios. Um dos outros homens ri baixo atrás dele, um som grave e zombeteiro que faz minha pele se arrepiar. — Então, estou te dando uma escolha. Uma escolha simples, mas eu quero que você se divirta pensando nela — a menos que saiba onde o Nate está? Eu poderia contar. Poderia dizer que ele está se escondendo no meu apartamento, que ele fica lá como um rato acuado. Mas então me lembro do rosto dele, das promessas de que ia se recuperar, das mentiras que eu quis acreditar. E, além disso, quem são esses homens? Eles podem estar mentindo, brincando comigo como um gato brinca com um rato antes de devorá-lo. — Eu não sei onde ele está — sussurro, a voz trêmula e fraca. Tento recuar da lâmina, mas não há para onde fugir. Steven sorri, seus dentes amarelados e irregulares me dando náuseas. — Bem, então aqui está o que eu estou pensando. Ou eu corto seus órgãos um por um até que você me dê setecentos e cinquenta mil em órgãos, ou eu vendo o que está entre suas lindas pernas para algum milionário num leilão pessoal que eu mesmo organizo. — Você não pode estar falando sério — rebato, engolindo em seco. — Como isso é uma escolha? — Sou um homem justo — diz Steven, quase num sussurro — mas minha paciência tem limites. Então, como vai ser? Eu pego seus órgãos ou algum porco rico passa horas com você? Você não faz ideia de quanto eles pagam por uma mulher tão bonita quanto você. Bastariam umas dez noites e eu estaria pago. Meu estômago se revolta e não posso mais segurar a bile que sobe queimando minha garganta. Steven recua no momento exato em que me dobro para a frente e vomito no chão de pedra. O gosto ácido me faz tossir e meus olhos ardem com as lágrimas que não param de cair. Ele se agacha ao meu lado, batendo de leve na minha bochecha com o dorso da faca. — Ou, se eu quiser facilitar, vendo sua filha. Um gelo cortante percorre minha espinha e eu levanto o olhar turvo para o rosto divertido de Steven. Aquele sorriso frio e satisfeito me faz tremer dos pés à cabeça. — Você é um monstro — digo com a voz falha. — Talvez — ele admite, sem sequer piscar, como se fosse apenas uma opinião controversa. — Mas eu quero o meu dinheiro, Charlotte, e não ligo para como vou consegui-lo. Não há escolha de verdade aqui. Não há outra saída. Há apenas um caminho que me mantém viva — que mantém minha filha viva. — Tudo bem — suspiro, minha voz rasgada e quase inaudível. — Mas fique longe da minha filha. Eu… eu vou estar no leilão. O sorriso de Steven se estica, um arco perverso e satisfeito que faz meu estômago revirar. — Resposta certa, florzinha. E enquanto ele se levanta, percebo que qualquer esperança que eu tinha de resistir morreu ali, junto com a pequena parte de mim que ainda acreditava em finais felizes.
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