Capítulo 4

2273 Words
Brendon — Isso é tudo? — O peso dessas três palavras do meu pai, Maksim Romanov, apaga os últimos trinta e oito anos da minha vida. De repente, eu tinha nove anos e estava olhando para suas costas largas, com meu boletim escondido atrás do corpo. O peso das suas expectativas tem sido esmagador desde que eu era criança, mas ele sempre fez coisas grandiosas pela nossa família — e por todas as outras famílias russas sob nossa tutela. O jeito dele funciona. Então, quando ele deixou o cargo de Pakhan há seis meses e me passou o legado dos Romanov, eu sabia que ele jamais seria apenas um conselheiro silencioso. As pessoas podem vir até mim em busca de liderança e respostas agora, mas tudo o que faço ainda acontece sob o olhar atento do meu pai. Ele está aposentado só no papel. — Sim — digo, mantendo as mãos cruzadas atrás das costas. Embora minha postura de pernas afastadas possa parecer relaxada, estou tão tenso quanto uma corda esticada, esperando que ele levante o olhar para mim. — Tenho por escrito que a família com quem negociei no Canadá garantiu várias rotas comerciais para nós. Nosso estoque da Europa chegará em portos canadenses, longe dos olhares curiosos do cartel, e de lá será escoltado para o sul, onde nosso pessoal tomará conta dos caminhões na fronteira. Coloquei vários de nossos homens infiltrados na alfândega de lá, para que apenas gente nossa verifique a carga e mantenha as aparências. Também vai funcionar como um posto de controle para assegurar que nenhuma mercadoria tenha perdido qualidade no trajeto. Meu pai permanece em silêncio, a cabeça baixa, e por um instante eu imagino que ele esteja testando a força do gelo no copo. O tilintar sutil dos cubos batendo no cristal preenche o silêncio entre nós. — Também consegui garantir mais seis clientes bem pagos no Oriente Médio. O contato que você me passou está impaciente para que entreguemos virgens até o verão. Considerando o estado deste país — digo, soltando uma risada baixa e seca — eu disse a ele que podemos garantir isso, e já tenho olheiros em todas as universidades num raio de 3.200 quilômetros. Ele ergue o queixo, me estudando com aqueles olhos de aço. — Eles querem comida americana? — pergunta meu pai. — Sim — respondo, sem hesitar. — Eles perderam a fé no mercado europeu e acreditam que os americanos têm qualidade superior. Vou presenteá-los com um lote europeu primeiro, para que vejam que garantimos excelência independentemente da origem. Isso é vital. Eu sei que é. Meu pai passou anos tentando conquistar a confiança desses clientes do Oriente Médio, mas sempre havia algo que os fazia hesitar — quase sempre o desejo de terem apenas produtos europeus. Bastou um mês para eu contaminar sutilmente as entregas europeias que eles recebiam, criando a ilusão de que a qualidade já não correspondia mais aos padrões que eles exigiam. Agora eles confiam em nós. É um passo colossal, mas não sinto isso como vitória ainda. Não enquanto meu pai não confirmar. Minha vida inteira — cada decisão que tomo — depende das suas palavras. Cresci assim, moldado pelas expectativas dele, pela necessidade de provar que sou digno do nome que carrego. Ele me deu tudo: a vida, a proteção, a força para governar. Mesmo sem ser mais Pakhan, a sua palavra continua sendo a lei. Finalmente, meu pai se afasta do armário de bebidas e vem até mim com dois copos na mão. Cada um contém uma esfera translúcida de gelo e, presumivelmente, vodca — ele não bebe mais nada. Para bem na minha frente e me examina, e eu imediatamente endireito os ombros. — Impressionante, Brendon. Um ótimo negócio — diz ele, entregando-me um copo antes de erguer o outro e brindar. — É bom ver que você levou a sério o conselho sobre o Oriente Médio. A tensão nos meus ombros se dissipa como massa quente descansando em uma tigela. Finalmente, permito-me um pequeno sorriso. — Seus conselhos são a chave do nosso sucesso — respondo, tomando um gole rápido e forte da vodca. A queimação me lembra que a vitória sempre vem com um preço. — Seu sucesso — corrige meu pai, e pela primeira vez parece que ele realmente quer dizer isso. — Afinal, estou aposentado. Se eu fosse mais ousado, brincaria dizendo que ele ainda tem controle demais para estar aposentado. Mas nosso mundo não permite esse tipo de provocação — não ainda. Ele veria como um insulto. E eu ainda não tenho coragem suficiente para enfrentar sua ira. Mas ele parece satisfeito, especialmente quando sorri depois de beber, e sinto um raro calor crescer no peito. Talvez hoje eu tenha provado ser digno do seu legado. E enquanto penso em minha próxima jogada, permito-me um segundo de satisfação antes de mergulhar novamente no jogo dele — no jogo que sempre será dele. — Fale. — Meu pai parece perceber que tenho mais a dizer, e sua ordem vem enquanto ele se afasta da mesa e afunda na cadeira de couro. — A Yakuza japonesa — começo. — Eles têm uma presença crescente nos Estados Unidos e acho que deveríamos fazer algo a respeito. Se formássemos uma aliança forte com eles, isso poderia nos dar uma posição no Leste. Isso abriria o acesso à Austrália e além, o que só pode nos fortalecer, considerando os turistas prontos para... — Não. Paro de falar e o encaro. A palavra do meu pai é lei, e sempre foi. Mas a Yakuza é algo em que venho trabalhando há semanas, e não poder apresentar minha ideia completa me faz sentir incompleto e frustrado. — Não? — pergunto cautelosamente, sabendo que estou arriscando abrir uma caixa de Pandora ao questionar meu pai. — Agora não é o momento certo — diz ele, levantando o olhar do livro à sua frente. — Portanto, a resposta é não. — Ele então desvia o olhar, sinalizando que a conversa acabou. Como Pakhan, se eu decidir agir, tenho poder para isso. Milhares de homens sob meu comando, centenas de famílias dispostas a obedecer. Controlamos o tráfico de pessoas como ninguém, somos mais ricos que os irlandeses com suas drogas. Meu sobrenome, Romanov, é respeitado — e temido. A Yakuza teria razão em me ouvir. Mas meu pai disse não, e isso mata a ideia. Abaixo a cabeça, termino minha bebida e saio da sala com meu guarda-costas, Conor, atrás de mim. — E então? — Conor insiste enquanto caminhamos pela mansão. — Você contou a ele sobre a Yakuza? — Sim. — E? — Há esperança nos olhos de Conor. Ele me protegeu por anos, sempre foi um ouvido confiável para qualquer problema ou ideia que precisei testar antes de falar em voz alta. — Ele disse não. — O quê? — A resposta alta de Conor chama a atenção de alguns guardas que se alinham nos corredores, e olhares curiosos se voltam para nós enquanto passamos. — Ele disse não e é só isso. — Ele disse o por quê? — Claro que não — zombo. — Mas ele tem os motivos dele, e são sempre bons. Agora não é a hora. Conor revira os olhos e afrouxa a gravata. — Ele ao menos ouviu a ideia inteira? — Não. — Então como ele… — Conor — corto. — Ele disse que não. Então é um não. Vou ter que pensar em outra coisa. — Então, quando a Yakuza aparecer na nossa porta com seus produtos químicos e armas insanas, o que vamos fazer? — Conor murmura. Eu paro no mesmo instante. — Você está duvidando dele? A irritação no rosto de Conor some imediatamente quando ele para ao meu lado. Ele balança a cabeça. — Não, senhor. — Ótimo. Então traga o carro. As notícias sobre o Oriente Médio foram bem recebidas, e eu quero comemorar. Há poucos lugares nesta cidade onde posso ir sem ser reconhecido. Como filho de Maksim Romanov, sou conhecido por associação em nossos círculos — e também pelos inimigos do meu pai, que têm o hábito de mantê-lo sob vigilância pública. O mais recente foi um julgamento de assassinato que durou meses. Poderíamos ter usado nossas conexões para libertá-lo imediatamente, mas meu pai prefere provar que é intocável. Isso nos colocou sob os holofotes do público, forçando-nos a navegar no império com ainda mais cuidado. Preciso ser cauteloso em público, e esta noite não é diferente. Quero ficar bêbado e comemorar, mas sei que meus movimentos são vigiados. Conor se torna ainda mais atento como minha sombra, e temos vários guardas discretamente posicionados ao redor do clube para me manter seguro. Eles são bons no que fazem — quase invisíveis — e não vejo nenhum deles quando chego ao bar pela terceira vez e peço outra vodca pura. A música bate tão alto que sinto as vibrações no peito, e o chão treme sob meus pés. Luzes de neon piscam, pintando rostos felizes e corpos suados em cores pulsantes. O barman me entrega a bebida com um sorriso, e eu grito por mais uma rodada, garantindo que Conor também seja incluído, apesar de sua negativa enfática. — Não posso te proteger enquanto estou bêbado! — ele grita no meu ouvido, tentando compensar a música ensurdecedora. — Esta noite você é meu amigo, não meu guarda-costas — grito de volta, empurrando a bebida na direção dele. — Então beba! — De jeito nenhum! — Tem vários outros olhos em mim — grito. — Viva um pouco! Conor revira os olhos, murmura algo no botão de comunicação no pulso e, por fim, esvazia o copo. Ele o joga no balcão. — Outro! Rimos, bebemos e dançamos. Então eu a vejo. É como sentir um osso se quebrar e se encaixar de novo. O barulho da boate desaparece — tudo some, exceto ela. Uma mulher deslumbrante, tão linda que parecia um sonho. Ela se aproxima do bar com um sorriso e grita algo para o barman. Seu vestido preto de látex parece ter sido pintado em seu corpo esguio, e cachos castanhos escorrem por seus ombros, contrastando com a pele pálida e os lábios cor de ameixa. Como uma mariposa atraída pela chama, sou imediatamente puxado para ela. Conor aperta meu braço quando começo a me mover, mas quando ele a nota um segundo depois, ele me solta sem questionar. Eu me aproximo, empurrando as pessoas para o lado, e percebo cada detalhe: o brilho nos ombros nus dela, a gota de suor escorrendo entre os s***s, o modo como ela infla as bochechas e se abana com a mão ao pegar sua taça de vinho. — Deixa que eu atendo — digo, segurando seu pulso antes que ela pague. Aproximo meus lábios do ouvido dela, evitando gritar. Ela se vira e nossos olhos se encontram. Um sorriso. — Tudo bem — ela diz, aceitando. — Não vou recusar uma bebida grátis. — Excelente. — Pago com um toque no relógio de pulso e ela pega a bebida, seus olhos percorrendo meu corpo, medindo-me de cima a baixo. — Obrigado! — Disponha! Não consigo desviar o olhar. — Qual é o seu nome? — Charlotte. E o seu? — Brendon. — respondo, sem ceremonias — O que te traz aqui hoje? — Estou comemorando! — Ela ergue a taça, o sorriso iluminando seu rosto. — E você? — Também. — Sério? — Ela toma um gole de vinho, e seu lábio inferior brilha. Ela lambe os lábios e sorri. — O que exatamente está comemorando? — Uma coisa de trabalho — digo vagamente. — Você sabe como é. — De jeito nenhum! — Charlotte ri. — Eu também! — Você não está dizendo isso só para me agradar? — Não! — Ela ri de novo, e sua mão pousa em meu antebraço. — Recebi uma notícia incrível e, pela primeira vez, estou ansiosa para trabalhar. — Essa é uma boa notícia — rio. — Se eu dissesse que estou na mesma situação, você me acusaria de mentir? — Não — ela diz, — mas eu diria que deveria me pagar outra bebida para comemorar. — Tenho uma ideia muito melhor. — Como é? — Ela inclina a cabeça para me ouvir melhor, os cabelos escorrendo pelos ombros. Eu me aproximo tanto que meus lábios roçam sua orelha e a sinto estremecer, abrindo espaço entre nós. — Eu disse que tenho uma ideia muito melhor. — Qual é? Posso ver sua garganta se contrair quando engole em seco. O calor em seu corpo me atinge como um soco. — Eu preferiria muito mais te f***r nesse vestido. — O quê? — Charlotte ri e suas bochechas coram imediatamente. — Eu peço desculpas por ser tão direto, mas já bebi um pouco e você é gostosa pra c*****o. Vi o jeito que me olhou. — Então, o que me diz? Ela me empurra de leve, rindo, mas mantém a mão no meu ombro. — Essa não é a maneira de cortejar uma mulher! — Verdade. Mas e se eu dissesse que vou te fazer gozar tão alto que todo mundo vai ouvir, mesmo por cima da música? Charlotte morde o lábio, os olhos brilhando de desejo. — Uma promessa ousada. — Deixe-me provar — rosno. Ela inclina a cabeça, desafiadora. — Então vá em frente. Saímos tropeçando pelo beco, puxando as roupas um do outro entre beijos quentes. Meu p*u lateja com necessidade. Empurro-a contra a parede fria e sinto seu corpo quente sob minhas mãos, a música distante e abafada. A noite parece nos pertencer. E é só o começo.
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